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02 julho 2020

Questões sobre estrutura conceitual - parte 2

Fizemos uma postagem sobre a Estrutura Conceitual. No texto, discutimos que a EC não se confunde com a Teoria da Contabilidade e existem algumas questões relevantes sobre o assunto. O primeiro ponto é que existem duas abordagens: a receita-despesa e a ativo-passivo, sendo esta adotada pelos reguladores neste momento. Isto significa que a definição mais relevante para a EC é do ativo (e do passivo). Também comentamos a razão da necessidade de existir uma EC e a razão da sua importância. Na verdade, questionamos se a EC realmente é um documento relevante.

Existem uma série de assuntos que poderiam ser tratados na EC e não o são. Ou são tratados de maneira bastante superficial, sem a devida relevância. Em alguns casos, arriscaria alguma possível explicação. Vamos listar seis destes itens, que na quarta edição do livro de Teoria da Contabilidade, chamamos de premissas.

Unidade de medida - todos nós sabemos que a unidade de medida da contabilidade é a unidade monetária. No passado, o CFC expressava isto de forma bem clara nos seus princípios. Isto parece muito óbvio, mas talvez não seja. Há muitos anos que se discute a importância das medidas não financeiras. E que existem muitos fatos que a moeda não consegue traduzir de maneira adequada. Por exemplo, as medidas que compõe o balanço social são tipicamente não financeiras. Aqui talvez o raciocínio do regulador seja de que não seria adequado fechar uma porta para melhorias nas informações empresariais. Afinal, nos seus primórdios, a contabilidade era feita tendo por base unidades físicas.

Periodicidade - qual seria a periodicidade adequada para as demonstrações contábeis? O mercado de capitais parece ter uma preferência pela periodicidade trimestral; já as autoridades bancárias pensam em uma periodicidade mensal (já mostramos no Blog que historicamente a periodicidade mensal das informações contábeis é uma exigência legal no Brasil oriunda do século XIX). Mas talvez uma pequena empresa consiga sobreviver muito bem somente com a informação anual. Além disto, a periodicidade esconde algumas armadilhas e contradições. Em alguns países admite-se uma periodicidade diferente da anual, vinculada ao ciclo das operações da empresa, o que não deixa de ser um conceito bem subjetivo. Em alguns lugares, o encerramento coincide com o ano civil. Mas o próprio ano civil é diferente no mundo. Talvez esta seja uma questão que a EC evita para não trazer mais discussões.

Regime de Competência - o assunto é tratado de forma bem rápida na EC. Parece óbvio, mas nem tanto. Ainda nos dias atuais muitas entidades usam o regime de caixa ou o regime de caixa disfarçado. Este é um ponto complicado para o setor público, por exemplo. Talvez o regulador não quisesse fechar a possibilidade de que certas transações pudessem ser registradas pelo regime de caixa. Ou considerasse isto uma questão já resolvida.

Entidade - A entidade já foi considerada no Brasil um "postulado". O que significa isto? Seria como se fosse uma verdade universal. Entre os anos 70 até 2008 acreditava que isto seria muito importante. Entretanto, a discussão de entidade possui algumas considerações interessantes, que merecem uma grande reflexão por parte da contabilidade.

Continuidade - este termo é lembrado no relatório do auditor, para as empresas em dificuldades. Há considerações na EC sobre a continuidade e sabemos que isto afeta questões sobre reconhecimento e mensuração.

Evidenciação - tarefa crucial da contabilidade, não era uma preocupação constante no desenvolvimento e discussão dos princípios contábeis. Observe que esta discussão também está vinculada a questão da periodicidade, ao regime de competência, a continuidade, a entidade ... Em muitos casos, a questão da evidenciação está subentendida. Veja o exemplo da ordenação dos itens do ativo. No Brasil, a ordem é do mais líquido para o menos líquido; na Inglaterra, a ordem é inversa. Mas a evidenciação diz respeito a muito mais do que isto.

Parece pouco, mas temos mais. Enquanto redigia este texto, lembrei do método. Como assim? O método pode ser partida simples, partidas dobradas ou até mesmo partidas triplas. Até o início do século XX, na nossa contabilidade pública, utilizávamos as partidas simples. A partida tripla, proposta por Ijiri no final da década de 60, ainda não foi usado (até onde sei) na prática. É óbvio o uso das partidas dobradas?

Uma possível explicação para estes itens listados sejam menosprezados na EC é evitar uma discussão "desnecessária". 

Auditores caem nas mesmas armadilhas


https://www.ft.com/content/b4c3db1c-b2a6-4679-a413-6de8eda5feb1

Last week, payments firm Wirecard admitted that €1.9bn of its cash probably never existed — and then it collapsed. It turns out that the German group’s auditors had failed for at least three years to request crucial account information from a Singapore bank where Wirecard said it had up to €1bn. Instead, EY relied on documents and screenshots provided by a third-party trustee and Wirecard itself. 


 To some, the story sounded remarkably familiar. In 2003, questions were swirling about Parmalat, a big Italian food group. Back then, Bank of America said that a document purporting to show that one of Parmalat’s offshore affiliates held €3.9bn in its account had been forged. Days later, Parmalat went into administration. Deloitte, the group’s main auditor from 1999 until its collapse, later agreed to pay $149m to the company and $8.5m to investors. But that was not the only time a big auditor had displayed a remarkable lack of curiosity about how and where big companies keep their money. In 2010, JPMorgan Chase admitted to mixing up to $23bn in client money with its own funds in an unsegregated account for seven years. 

Auditor PwC, which had repeatedly certified that the bank was properly handling client money, was later fined £1.4m, a record for a UK accountancy firm at the time. Meanwhile, the UK branch of the fourth member of the Big Four, KPMG, has been mired in scandal over its work for failed construction group Carillion. It was sanctioned in 2018 by the UK’s accounting watchdog for an “unacceptable deterioration” in audit quality. It is easy to blame the auditors after the fact. In Wirecard’s case, EY says “third parties, with a deliberate aim to deceive, provided EY with false documentation in connection with its 2019 Wirecard audit . . . Professional standards recognise that even the most robust and extended audit procedures may not uncover a collusive fraud”. But short sellers had been raising questions about the company for years and James Freis, Wirecard’s new chief executive, is said to have told board members that basic checks should have been enough to undercover the scandal.  The profession does have a built-in problem. The vast majority of transactions are legitimate, and most managers are basically honest. Usually, executives and investors want audits done quickly and cheaply, with minimum fuss, so that the company can release its results and move on. 

 “The Big Four consider it a successful audit if they can run some checks and sign off. They want to find no problems,” argues Richard Brooks, author of Bean Counters. “They refer to their audit practices as ‘assurance’ — that’s what they want to provide.” The structure of the audit business exacerbates this problem. Firms are hired and paid by the companies they audit — rather than by investors or regulators who might prefer a more sceptical approach. For the Big Four, audit is also just one arm of a larger business that provides lucrative consulting and tax services to the same companies that are potential audit clients. There have been several efforts since the early 2000s to reduce these conflicts of interest. The UK and US have tried limiting the other work that can be done for audit clients. 

The Financial Reporting Council, the UK watchdog, has also asked the Big Four to voluntarily ringfence the costs and profits of their audit work from the rest of the business. But that plan, and the legislation that would give a new audit regulator the power to force a break up, have been put on hold during the coronavirus pandemic. The Wirecard scandal suggests that the problems go well beyond the Anglo-American sphere. And splitting audit from consulting will not fundamentally change the incentives that prompt auditors to cut costs and corners, and accept management’s word. “If you are going to audit a brewery, you don’t just count the barrels of beer. 

You should wiggle them to see if they are full,” says Sharon Bowles, former chair of the European Parliament’s economic and monetary affairs committee. “But no one thinks they will be the unlucky one and get caught out.” I am tired of reading these stories. It is time to rethink the whole model. We already know that when bank regulators become captured, the public pays the price. Auditors are never going to willingly bite the hands that feed them.

Fonte: aqui

Custos médicos reduziram?

Eis uma pesquisa interessante sobre os custos médicos nos Estados Unidos: quando a pandemia começou existia uma previsão de que os custos aumentariam substancialmente. A razão é que os pacientes do Covid teriam hospitalizações mais longas e caras. Entretanto, parece que isto não está ocorrendo; pelo contrário, os custos estão caindo. A razão, segundo uma pesquisa, seria a redução dos custos com outras doenças, que caíram substancialmente. Muitos pacientes foram atendidos somente em casos de doenças após longa triagem. Isto é um fator mais surpreendente quando se sabe que os gastos com saúde possuem uma tendência exponencial crescente (Lei de Baumol)

Parte da assistência médica não prestada nos dias atuais pode ser postergada; mas talvez uma grande parte não. Outra explicação, triste é verdade, é que muitos pacientes morrem antes de consumirem cuidados médicos. Nos Estados Unidos isto significou a eliminação de 42 mil empregos no setor de saúde. Finalmente, o setor de saúde pode ter uma mudança drástica na forma de prestação dos serviços, nos modelos de pagamento e no atendimento médico para diversas populações. Alguém já foi atendido de forma não presencial por um médico?

Na nossa realidade, isto seria válido? Boa parte do atendimento médico no Brasil é feito através da rede pública. Isto significa que não apresenta custo direto para o usuário, mas indica um custo para sociedade. Uma boa discussão e pesquisa futura.

EY e Wirecard

A associação, conhecida como Schutzgemeinschaft der Kapitalanleger (SdK), disse que é inaceitável que demore 11 anos e uma investigação especial da KPMG para a EY aceite que falta 1,9 bilhão de euros no balanço da empresa de pagamento alemã [Wirecard].

Alega-se nas últimas semanas que os auditores não obtiveram confirmações de saldo de dois bancos com sede nas Filipinas nos anos de 2016 a 2018.

"Esse comportamento é incompreensível e levanta inúmeras questões", afirmou SdK em comunicado. "Verificar a existência de saldos bancários é uma das tarefas mais fáceis de um auditor e o procedimento é claramente regulamentado." (...) 

Ações judiciais privadas foram iniciadas na Alemanha e outro grande investidor no Wirecard, o conglomerado japonês SoftBank, também planeja processar a EY, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. A SoftBank Investment Advisers, a subsidiária que administra o Vision Fund de US $ 100 bilhões da SoftBank, se recusou a comentar. (...) 

"Esse tipo de fraude não é novidade", disse Brian Fox, fundador da Confirmation, que permite que auditores e bancos certifiquem eletronicamente os saldos das contas. "Alguns auditores ainda estão usando procedimentos e técnicas de auditoria de 100 anos, desatualizados e facilmente manipuláveis ​​que permitem que a fraude escape pelas falhas".

Os principais bancos e instituições financeiras contam com trilhas de papel e tecnologias facilmente manipuladas para confirmar bilhões de dólares em ativos e recebíveis, disse Fox, tornando-os mais suscetíveis a fraudes e manipulação.

"Quando uma empresa deseja aumentar a receita registrando receitas falsas em suas demonstrações financeiras, a contrapartida deve ser" Dinheiro "ou" Contas a receber "", disse Fox.

"Nesse caso, com a Wirecard, eles registraram a entrada falsa de compensação em 'Cash' e contornaram os procedimentos de confirmação bancária dos auditores. Isso foi feito orientando os auditores a enviarem a confirmação do banco a uma pessoa que eles sabiam que responderia com as informações do saldo falso para corresponder ao que a empresa havia fornecido aos auditores. ”


Se encobrir a fraude, o autor usará contas bancárias falsas que realmente não existem, disse Fox à AccountingWEB. "O auditor acaba confirmando um saldo em dinheiro que eles consideravam legítimo e confirmado por um banco, mas na verdade era o fraudador interno que usava uma conta falsa".

Fonte: Aqui. Outro texto interessante está aqui. O autor toma grandes empresas dos EUA que tiveram boa parte da sua auditoria realizada pela EY da Alemanha. E lança dúvidas sobre os números reportados, já que a filial alemã foi enganada de forma, digamos, primária. 

Competição na política faz bem

Uma pesquisa analisou o que aconteceu com os municípios brasileiros durante a ditadura militar. O governo militar, tentando reduzir o poder das elites locais, aumentou a concorrência e estes municípios eram mais ricos em 2000. Eis o resumo:

This paper analyzes how changes in the concentration of political power affect long-run development. We study Brazil’s military dictatorship whose rise to power dramatically altered the distribution of power of local political elites. We document that municipalities that were more politically concentrated prior to the dictatorship in the 1960s are relatively richer in 2000, despite being poorer initially. Our evidence suggests that this reversal of fortune was the result of the military’s policies aimed at undermining the power of traditional elites. These policies increased political competition locally, which ultimately led to better governance, more public goods, and higher income levels.

Rir é o melhor remédio

Vida como conhecemos