Translate

01 julho 2020

Perguntas e Respostas no escândalo da Wirecard

Segundo o Financial Times (via aqui) a empresa de auditoria EY preparou um roteiro para conversas sobre o trabalho de auditoria realizado na Wirecard. Recentemente revelou-se que a empresa alemã não tinha 1,9 bilhão de euros. O roteiro é dizer que o objetivo da fraude era enganar os investidores e a EY. A empresa de auditoria destacou dois executivos para responder dúvidas das discussões.

O jornal inglês revelou na última semana que os auditores da EY falharam em solicitar, por três anos, informações sobre a conta bancária da empresa em um banco da Cingapura, onde deveria ter pelo menos 1 bilhão em dinheiro.

Balanço da Fundação IFRS

Sairam as demonstrações do exercício de 2019 da Fundação IFRS. Uma análise permite notar que a Fundação está cada vez menos dependente das Big Four - que em 2019 doaram quase 4 milhões de libras esterlinas. Parte desta redução da dependência deve-se ao aumento da receita obtida com publicações, um caminho já trilhado pelo Fasb. O Brasil contribuiu com mais de 70 mil libras, sendo que a Fundação CPC (leia-se CFC) e o Banco Central contribuíram com mais de 25 mil libras.

Destaco que o termo Covid foi citado 14 vezes. E no final do documento, uma homenagem a Paul Vocker, que faleceu em 2019, autor dos dizeres abaixo:

Bancos Europeus e a Crise

Segundo Daniel Lacalle (via aqui) existem três fatores que podem provocar uma crise no setor bancário europeu: aumento nos empréstimos vencidos, deflação e taxa de juros dos bancos centrais negativa. Estes três fatores deve reduzir substancialmente a lucratividade e solvência dos bancos.

Essa combinação de três problemas ao mesmo tempo pode gerar um risco de crise financeira criada pelo uso massivo do balanço dos bancos para tratar do resgate de todos os setores possíveis. Pode desfazer toda a melhoria no balanço patrimonial das entidades financeiras alcançada lenta e penosamente na última década e destruí-la em alguns meses.

Enfraquecer o balanço dos bancos e ocultar maiores riscos a taxas mais baixas em seus balanços pode ser uma política extremamente perigosa a longo prazo. Os governos pressionaram os bancos a conceder empréstimos a empresas e famílias com condições financeiras muito desafiadoras e isso pode voltar como um boomerang e atingir a economia europeia, onde 80% da economia real é financiada pelo setor bancário, de acordo com o BCE.


Estas condições parecem similares ao caso brasileiro, talvez exceto pela presença do estado no setor bancário, o que aumenta a tentação de usar os bancos na concessão de empréstimos de maior risco. Além disto, a redução da lucratividade gerada pelos títulos públicos pode ser um problema. No setor bancário é importante atentar para o contágio que eventualmente os bancos europeus podem provocar aqui. Nunca é demais lembrar que entre os cincos maiores bancos que atuam no Brasil temos um de origem europeia.

Rir é o melhor remédio

Acabei de descobrir sobre impostos.. Não é pra mim, mas obrigada 

30 junho 2020

Regulador Alemão e Wirecard

Sobre os problemas com a empresa Wirecard, a Bloomberg faz uma análise crítica do regulador alemão - BaFin:

A BaFin falhou em acompanhar rapidamente seu trabalho, apesar de receber dicas de um denunciante e reclamações de outras autoridades reguladoras. Em vez disso, apontou o dedo para o outro lado: proibir temporariamente a venda a descoberto de ações da Wirecard e abrir uma investigação aos repórteres do FT. (...) Felix Hufeld, chefe do BaFin, pediu desculpas, mas também disse que o Wirecard era considerado uma empresa de tecnologia e não uma instituição financeira - uma tentativa bizarra de corrigir a culpa, uma vez que o Wirecard possuía seu próprio banco. Olaf Scholz, ministro das Finanças da Alemanha, disse inicialmente que "as instituições de supervisão trabalharam muito e fizeram o seu trabalho". Desde então, ele mudou de rumo, exigindo repensar a estrutura regulatória da Alemanha. (...) A Comissão poderia dar seguimento a sua própria investigação formal. Desde que esses inquéritos tenham dentes, eles mostrariam que mesmo a Alemanha não está além do escrutínio da UE. A Comissão deve também acelerar os planos de revisão da ESMA [European Securities Markets Authority]. No momento, é pouco mais que uma coleção de reguladores nacionais, sem poderes reais. Sem surpresa, a ESMA não conseguiu captar o que estava acontecendo na Alemanha.

Foto: Focus

Palavras e Dinheiro

A forma como comunicamos pode significar mais ou menos dinheiro. Isto é meio óbvio, mas  mesmo quando algo é óbvio isto não significa que não possa ser de interesse dos cientistas.

Em muitos casos a leitura de uma pesquisa é atrativa pela forma como o cientista desenhou o método. Este é o caso de um artigo publicado no Journal of Language and Social Psychology. O seu autor, da escola de jornalismo da University of Oregon, comprovou como a escolha de certas palavras pode significar dinheiro. Como ele fez isto? Ele pegou 19.569 propostas de financiamentos de pesquisas que foram submetidas ao National Science Foundation e analisou as palavras utilizadas. E ele encontrou que a forma como o texto era escrito poderia aumentar o sucesso da aprovação do financiamento.

Eis o que ele descobriu: texto mais longos, com palavras menos comuns e escritos com mais certeza verbal geralmente recebem mais dinheiro da NSF. E isto é contraditório, já que as entidades de ciência, entre as quais a NSF, fazem um esforço para que a comunicação científica seja mais clara. Mas recompensam as propostas com linguagem menos acessível.

Leia: Markowitz, David. What Words are Worth: National Science Foundation Grant Abstracts Indicate Award Funding. Journal of Language and Social Psychology, 2019, vol 38(3) 264-282.

Como descobrir fake news?

Você já deve estar cansado de receber notícias que não são verdadeiras. Nic Fleming, em Coronavirus misinformation, and how scientists can help to fight it, apresenta oito regrinhas que mostram como isto está sendo combatido pelos cientistas. Fiz uma breve adaptação, baseado na minha experiência pessoal, de apontar "fake news" nas mensagens que recebo.

Fonte suspeita. Fontes vagas e não rastreáveis, como "médico amigo de um amigo" ou "cientistas holandeses", devem tocar o alarme. Além disto, aquele irmão (ou conhecido) que tradicionalmente manda "fake news", mesmo sendo avisado constantemente, deve ser sempre um suspeito. Memorize quem costuma mandar fake news.

Má linguagem. A maioria das fontes confiáveis ​​são comunicadores regulares; portanto, a ortografia, a gramática ou a pontuação inadequadas são motivos de suspeita.

Contágio emocional. Se algo o deixa com raiva ou muito feliz, fique atento. Diversos sabem que as mensagens que desencadeiam emoções fortes são mais compartilhadas. Tome especial cuidado com aquela mensagem que tem o selo "encaminhada".

Notícias de ouro ou ouro de tolo? Pérolas genuínas são raros. Se as informações forem relatadas por apenas uma fonte, tenha cuidado - especialmente se sugerir que algo está sendo oculto de você. Tome cuidado com as "conspirações".

Contabilidade falsa. O uso de contas falsas de mídia social, como @BBCNewsTonight é um truque clássico. Procure também imagens enganosas e endereços da web falsos. Tome cuidado com alguns sites ou contas que não são confiáveis.

Oversharing. Se alguém pede que você compartilhe as notícias sensacionais, ele pode querer apenas uma parte da receita resultante da publicidade. Desconfie da mensagem que vem com um "compartilhe" ou algo do gênero.

Siga o dinheiro. Pense em quem pode ganhar com você acreditando em reivindicações extraordinárias.

Verificação de fatos. Vá além das manchetes e leia uma história até o fim. Se parecer dúbio, pesquise sites de verificação de fatos para ver se ele já foi desmascarado. Esta é uma boa dica. Geralmente quem passa notícia falsa é um preguiçoso, que meramente copia e cola a notícia, sem se dar ao trabalho de verificar. Vá no Google, escreva parte da mensagem entre aspas e depois digite "boato". Há grande chance de ter um resultado, onde uma fonte confiável desmascarou a fake news.

Constatado a Fake News não deixe de replicar, para quem encaminhou, sua descoberta, indicando o link do site. Quem sabe um dia esta pessoa ficará mais atenta.

(Observação final: apesar dos cuidados, é muita fácil ser vítima. Recentemente tinha postado aqui algo - que por coincidência aparece no texto de Fleming - sobre leões sendo usado por Putin na Rússia. A Isabel, atenta, retirou a postagem e me alertou. Vergonha)