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01 junho 2020

Ligação entre partes do Balanço - 2


Para entender qual seria a melhor alternativa, sob a ótica do usuário, três pesquisadores conduziram um experimento, onde as três alternativas de divulgação de itens com ligação entre si no balanço, poderiam ser consideradas. O experimento neste caso permite que seja possível ao pesquisador analisar de perto algo, simulando uma situação real.

Em um artigo do Journal of Accounting and Economics, Lisa Koonce, Zheng Leitter e Brian White verificaram como a apresentação de informações que estão ligadas no balanço pode afetar a capacidade do usuário de analisar as informações. Os autores usaram as três possibilidades de apresentação em dois experimentos. No primeiro, somente a segunda forma, onde a ligação era apresentada, é que os usuários conseguiram perceber mais claramente uma operação de hedge. No segundo experimento, em um contexto de empréstimo, novamente a opção segunda permite uma percepção mais adequada do risco envolvido na operação.

Lisa Koonce, Zheng Leitter e Brian White. Linked balance sheet presentation. Journal of Accounting and Economics.

Ligação entre as partes do balanço

Quando um evento acontece em uma entidade, as contas que o representam estão vinculadas através do débito e do crédito. Esta vinculação pode ser provisória, mas em vários casos pode continuar existindo ao longo do tempo. Uma aquisição de material de consumo, que será usado no próximo mês, deve produzir um débito de material de consumo e um crédito da conta bancos da entidade. Esta ligação é tênue e logo depois o ativo será consumido nas atividades da empresa.

Mas o mesmo não ocorre com uma compra de um terrno através de um financiamento. O vínculo entre o débito (Terrenos) e o crédito (Financiamento) irá persistir por meses ou anos. O usuário que olhar o balanço pode não perceber a ligação entre este ativo não circulante e o passivo. Mas este vínculo pode ser importante no estudo da imobilização e da estrutura de financiamento da entidade.

Quando duas contas estão vinculadas, o balanço pode não conseguir mostrar, de forma adequada esta ligação. Em termos contábeis, o vínculo entre duas contas pode ser expresso de três maneiras diferentes. A primeira opção é simplesmente não mostrar esta ligação. Este é o caso da compra de um terreno, através de um financiamento, por parte da empresa. Neste caso, tem-se um ativo, registrado no longo prazo, e um passivo, o financiamento. Para o usuário, esta ligação pode não ser fácil de ser percebida, mesmo quando existe uma nota explicativa detalhando a operação.

A segunda forma de mostrar o vínculo entre duas contas é colocando-as junto, de modo que a ligação fique nítida no próprio balanço. No caso da máquina, poderíamos imaginar a seguinte apresentação:

Terrenos 100
- Financiamentos (70)

Isto parece estranho e deslocado da contabilidade como nós praticamos. Mas se o leitor considerar como exemplo a venda de recebíveis por parte da empresa, é possível considerar o ativo de Valores a Receber e deste sendo subtraído o montante que foi entregue na operação:

Valores a Receber 40
- Desconto (25)

Ao mostrar o ativo desta forma, saberemos que parte do volume de valores a receber da empresa foi descontado. Veja que esta apresentação pareceu natural quando usamos este exemplo.

A terceira maneira de mostrar este vínculo é fazer a apresentação líquida dos valores, sem detalhar cada um dos itens. Assim, considere o caso de valores a receber. Em lugar da apresentação sugerida anteriormente, a contabilidade pode optar por apresentar da seguinte forma:

Valores a Receber 15

E, eventualmente, detalhando a composição de Valores a Receber em notas explicativas.

Qual deveria ser a escolha contábil? Sabemos que na prática, é possível usar a primeira forma (separada, como fazemos com a compra de terreno financiada), a segunda (valores a receber e a operação de desconto) ou a terceira (valores a receber, pelo montante líquido). Para responder a esta questão, talvez fosse interessante olhar para o usuário, que o “cliente final” da contabilidade. Qual das três opções seria a melhor? Se o objetivo é mostrar da melhor forma possível a situação da empresa, seria interessante verificar com qual das três situações o entendimento seria melhor para o usuário. A opção de separar as contas parece, a priori, reduzir a chance que o usuário possa ver a ligação entre as contas. Na realidade, quanto mais próxima estiver os grupos que possuem ligação, mais fácil será a capacidade do usuário de perceber o vínculo entre as contas. Assim, a opção de reduzir de terrenos o financiamento vinculado não deve ser descartado, somente pelo fato de ser “estranho”.

Outros aspectos também devem ser considerados. A relevância da informação é algo importante aqui. De qualquer forma, as três possibilidades de apresentar duas contas que estão vinculadas precisam ser consideradas na apresentação do balanço de uma entidade. Para o normatizador, esta é uma questão importante na definição da evidenciação de situações como hedge, impostos, receitas etc.

Veja o caso dos impostos. Uma empresa pode ter impostos a pagar ou impostos diferidos. No primeiro caso, temos um passivo; no segundo, um ativo. Considerando a primeira opção, em evidenciar de forma separada, os dois serão apresentados no balanço. No segundo caso, seria possível colocar um subtraindo o outro. Ou então, como terceira opção, somente considerar o valor líquido, seja ele a pagar ou diferido.

Seminário

O Congresso da UnB está organizando um conjunto de palestras. A primeira foi na semana passada. Esta é a segunda palestra. A inscrição pode ser feita no site da Enap até quarta.

Auditoria em tempos de Covid

Um documento do IAASB comenta sobre o relatório do auditor diante do atual ambiente do Covid-19. Destaco o seguinte trecho:

Nas atuais circunstâncias, as divulgações assumem uma importância cada vez maior. Os usuários esperam maior transparência por meio de divulgações relacionadas aos efeitos materiais da pandemia do Covid-19. Essas divulgações podem abordar o impacto da volatilidade do mercado financeiro, problemas de deterioração do crédito ou da liquidez, intervenções do governo (como subsídios do governo) e mudanças decorrentes de reduções na produção e reestruturação, entre outros assuntos.

Foto: Aqui

Fake News

Por que notícias falsas se espalham tão rapidamente nos dias atuais? Eis uma resposta interessante:

Os pesquisadores monitoram o fluxo de informações on-line há anos e têm uma boa noção de como os rumores não confiáveis começam e se espalham. Nos últimos 15 anos, a tecnologia e as normas sociais em constante mudança removeram muitos dos filtros que foram colocados em informações, diz Amil Khan, diretor da agência de comunicações Valent Projects em Londres, que trabalhou na análise de informações erradas para o governo do Reino Unido. Os rumoreiros que poderiam ter sido isolados em suas comunidades locais podem se conectar com céticos com ideias semelhantes em qualquer lugar do mundo. As plataformas de mídia social que eles usam são executadas para maximizar o envolvimento do usuário, em vez de favorecer informações baseadas em evidências. Como essas plataformas explodiram em popularidade na última década e meia, também cresceram o partidarismo político e as vozes que desconfiam das autoridades.

Se antigamente uma comunidade poderia isolar uma pessoa fofoqueira e mentirosa, nos dias atuais isto é muito difícil. Imagine um grupo de Whatsupp com cem pessoas; a identificação de um membro que espalha constantemente notícias falsas é mais difícil, assim como a exclusão do grupo. Mais ainda:

Para agravar:

Um estudo em 2018 sugeriu que as notícias falsas geralmente viajam mais rápido do que as notícias confiáveis no Twitter. 

O gráfico mostra a correção de notícias falsas relacionadas com o Covid ao longo do tempo: 
Sendo a contabilidade um fonte que busca produzir informações confiáveis sobre uma entidade, a perspectiva de utilização errônea ou uma interpretação inadequada precisa ser considerada pelos reguladores.

Hipótese dos Mercados Inelásticos

Xavier Gabaix, professor de Economia de Harvard, propõe uma nova teoria para explicar a razão dos mercados financeiros serem tão voláteis: a Hipótese dos Mercados Inelásticos (IMH)


Rir é o melhor remédio