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14 abril 2020

Eletrobras e o planejamento em tempos do Covid

No início de março, a Organização Mundial de Saúde decretou uma pandemia global. Nos dias seguintes, diversos governadores dos estados adotaram severas restrições para a movimentação das pessoas, incluindo o fechamento da maioria dos estabelecimentos comerciais e industriais. Um ambiente como este significa uma mudança em qualquer perspectiva do que esperamos para o futuro. Algumas estimativas sobre o comportamento da economia fala na maior recessão da economia brasileira. O mundo mudou.

É interessante que diante desta situação no dia 27 de março a Eletrobras tenha realizado uma reunião do seu Conselho de Administração. Em geral, nos dias atuais, quando isto ocorre é para suspender uma assembleia previamente convocada ou tomar medidas para preparar a empresa para os dias atuais. No caso da Eletrobras não foi bem este o caso. A empresa aprovou o "novo Plano Diretor de Negócios e Gestão para o período de 2020 a 2024". Parece temerário, já que é praticamente impossível planejar na atual situação.

Mas não foi bem isto. O documento traz um alerta interessante:

A Companhia esclarece que o PDNG 2020-2024 foi elaborado antes do surto do COVID-19 no Brasil e, portanto, não contempla seus possíveis impactos nos negócios da Companhia, que foram objeto de esclarecimentos de outro Fato Relevante também divulgado ao mercado, nesta data, especificamente sobre este tema.

Faz sentido? É bem verdade que a empresa, em outro documento, faz uma exposição sobre o impacto do Covid concluindo que:

Não obstante o exposto acima, devido ao cenário atípico e de características potencialmente imprevisíveis, não é possível prever com exatidão os cenários que poderão se materializar nos próximos meses nas operações da Companhia. Ainda não estão suficientemente claros os efeitos na economia mundial e, em particular no Brasil, nem por quanto tempo estes efeitos irão perdurar. Além disso, as medidas anticíclicas, sem precedentes, que estão sendo adotadas no mundo todo podem contribuir para a redução dos impactos econômicos da pandemia.

Rir é o melhor remédio

Quem está por trás do Covid-19

13 abril 2020

Projeções

Ao mesmo tempo que divulgava um fato relevante dizendo que não iria divulgar projeções, a Gol Linhas Aéreas divulgou outro fato relevante com a seguinte frase:

A pandemia de Covid-19 começou a afetar as operações da Gol em meados de março de 2020 e, portanto teve efeito limitado no desempenho do primeiro trimestre.

Pode ser que a bola de cristal da empresa seja boa, mas meados de março significa 1/6 do trimestre. Acho que os efeitos serão significativos.

Pesquisas com Covid-19

Parece que a ciência está atenta a maior necessidade do mundo atual. No site do NBER, nos working-papers da semana, 13 estão relacionados com a doença.

Em Polarization and Public Health: Partisan Differences in Social Distancing during the Coronavirus Pandemic, os pesquisadores Hunt Allcott, Levi Boxell, Jacob C. Conway, Matthew Gentzkow, Michael Thaler e David Y. Yang investigam a questão política na reação à doença. Usando dados de celulares, os pesquisadores descobriram que áreas tradicionalmente republicanas apresentaram menos distanciamento social.

Triage Protocol Design for Ventilator Rationing in a Pandemic: Integrating Multiple Ethical Values through Reserves, de autoria de Parag A. Pathak, Tayfun Sönmez, M. Utku Unver e M. Bumin Yenmez mostra como é feita a divisão dos equipamentos médicos em diferentes locais nos Estados Unidos. Os autores propõe um modelo através de reservas como um processo de triagem do equipamento para solucionar o problema.

George J. Borjas, em Demographic Determinants of Testing Incidence and COVID-19 Infections in New York City Neighborhoods, descobriu, usando dados do código postal da residência, que pessoas residentes em locais mais pobres são menos prováveis de serem testadas com o Covid-19, embora exista mais chance do resultado ser positivo.

U.S. Economic Activity During the Early Weeks of the SARS-Cov-2 Outbreak, de autoria de Daniel Lewis, Karel Mertens e James H. Stock acompanha o índice de atividade econômica semanal e verificaram que a queda na atividade econômica começou na semana terminada em 21 de março.

A pergunta sobre a mortalidade da doença é o ponto relevante do texto de Andrew Atkeson, em How Deadly Is COVID-19? Understanding The Difficulties With Estimation Of Its Fatality Rate. Há uma discussão se esta taxa é 0,1% ou 1% ou um número intermediário. Atkeson afirma que somente com testes aleatórios de larga escala é possível responder a esta questão.

O texto Firm-level Exposure to Epidemic Diseases: Covid-19, SARS, and H1N1, de Tarek Alexander Hassan, Stephan Hollander, Laurence van Lent e Ahmed Tahoun é de grande interesse para área contábil-financeira. A partir de dados de trabalhos anteriores, os autores determinam quais empresas esperam ganhar ou perder com uma doença epidêmica e quais são as mais afetadas pela incerteza associada à medida que uma doença se espalha em uma região ou ao redor do mundo. Além disto, os autores descobriram que as principais preocupações das empresas estão relacionadas ao colapso da demanda, ao aumento da incerteza e à interrupção nas cadeias de suprimentos.

A Simple Planning Problem for COVID-19 Lockdown, os autores Fernando E. Alvarez, David Argente e Francesco Lippi desenvolvem uma modelagem para uma política de quarentena, incluindo o momento mais adequado para a redução das restrições.

Lesley Chiou, Catherine Tucker analisaram o efeito da internet em Social Distancing, Internet Access and Inequality. Segundo as autoras, quanto maior a velocidade da internet e a renda da pessoa, maior a propensão de ficar em casa. As autoras usaram dados de celulares e os movimentos físicos das pessoas.

COVID-Induced Economic Uncertainty, de Scott R. Baker, Nicholas Bloom, Steven J. Davis, Stephen J. Terry usaram medidas de incerteza para avaliar o impacto econômico do Covid

Em Optimal Mitigation Policies in a Pandemic: Social Distancing and Working from Home, Callum J. Jones, Thomas Philippon, Venky Venkateswaran é mostrado o efeito do trabalho em casa em uma situação de pandemia. Isto reduz a taxa de mortalidade, mas há uma queda no consumo, que chega a 25% inicialmente.

A pesquisa em Covid19 and the Macroeconomic Effects of Costly Disasters, de Sydney C. Ludvigson, Sai Ma, Serena Ng focou o impacto econômico da doença. Ao contrário dos desastres naturais, o covid19 é um choque de vários meses, que afeta o mercado de trabalho e o bem-estar social e físico das pessoas. Os efeitos do evento, segundo os autores, duram de dois meses a mais de um ano, dependendo do setor da economia.

O foco da pesquisa How Are Small Businesses Adjusting to COVID-19? Early Evidence from a Survey, de Alexander W. Bartik, Marianne Bertrand, Zoë B. Cullen, Edward L. Glaeser, Michael Luca, Christopher T. Stanton são as empresas pequenas. Os autores descobriram que 43% das empresas estão temporariamente fechadas e as empresas reduziram o número de funcionários em 40%. Esta empresas são financeiramente frágeis: uma empresa mediana tem mais de US $ 10.000 em despesas mensais e menos de um mês de reserva em dinheiro.

Finalmente, The Geographic Spread of COVID-19 Correlates with Structure of Social Networks as Measured by Facebook, de Theresa Kuchler, Dominic Russel, Johannes Stroebel, mostraram existir uma relação entre os laços sociais fortes e a expansão da doença. Assim, dados das mídias sociais podem ser usados para prever a propagação da doença.

Covid e a Assembleia

Em meio aos problemas de saúde e a velocidade dos acontecimentos, um fato interessante ocorreu com a CCX Carvão da Colômbia, uma empresa em processo de liquidação. No final de março, a empresa divulgou a seguinte informação:


A CCX CARVÃO DA COLÔMBIA S.A. – EM LIQUIDAÇÃO (“CCX” “Companhia”), em atendimento ao artigo 157, parágrafo 4º, da Lei nº 6.404/76, na forma da Instrução da Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”) nº 358/02, informa aos seus acionistas e ao mercado em geral que:

1. Diante da quarentena decretada no estado do Rio de Janeiro (cf. Decreto nº 47.006 de 27 de março de 2020), onde se encontra a sede da Companhia, e conforme as recomendações emitidas pelo Ministério da Saúde (cf. Protocolo de Manejo Clínico para o Novo Coronavírus e Recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa para a Operação Regresso), e conforme autoriza o artigo 1º da Medida Provisória nº 931, de 30 de março de 2020, a Companhia decidiu adiar a realização da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária de 2020 (“AGOE de 2020”), que inicialmente ocorreria em 30 de abril de 2020, para o dia 1º de junho de 2020.

(..) 3. Em linha com tal posicionamento, e considerando que Assembleias Gerais são eventos essencialmente caracterizados pela aglomeração de pessoas, a Companhia concluiu por adiar a AGOE de 2020 para 1º de junho de 2020. A Companhia destaca, ainda, que o principal objetivo da referida medida é proteger e resguardar seus acionistas neste momento tão sensível.


4. Some-se a isto o fato de que a circulação interestadual e intermunicipal de pessoas tem se tornado cada vez mais difícil, tendo em vista a imposição de restrições de deslocamento e também de redução da disponibilidade de meios de transporte. Desse modo, a alteração da data da AGOE de 2020 é a medida mais adequada para garantir aos acionistas a possibilidade de comparecer à AGOE de 2020 e exercer plenamente seus direitos.


Até aqui tudo bem. A empresa fez o que muitas outras também fizeram: mudar a data da assembleia. Mas chama atenção o próximo item:

5. Nesse sentido, a Companhia orienta os seus acionistas e o mercado em geral a desconsiderarem o Edital de Convocação publicado hoje no jornal Monitor Mercantil e no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, que convocava a AGOE para o dia 30 de abril de 2020.

Resumindo: a empresa publicou um edital de convocação para uma assembleia no dia 30 de março e no mesmo dia desmarcou a assembleia. Muito rápido.

Rir é o melhor remédio

Reunião virtual, com ou sem vídeo

Alocação dinâmica de ativos com atenção aos tributos

Resumo:

We consider dynamic asset allocation problems where the agent is required to pay capital gains taxes on her investment gains. These are very challenging problems because the tax owed whenever a security is sold depends on the cost basis, and this results in high-dimensional problems, which cannot be solved exactly except in the case of very stylized problems with just one or two securities and relatively few time periods. In this paper, we focus on exact and average cost-basis problems, make the limited use of losses (LUL) assumption and develop simple heuristic trading policies for these problems when there are differential tax rates for long- and short-term gains and losses. We use information relaxation-based duality techniques to assess the performance of these trading policies by constructing unbiased lower and upper bounds on the (unknown) optimal value function. In numerical experiments with as many as 80 time periods and 25 securities we find our best suboptimal policy is within 3–10 basis points of optimality on a certainty equivalent (CE) annualized return basis. The principal contribution of this paper is in demonstrating that while the primal problem remains very challenging to solve exactly, we can easily solve very large dual problem instances. Moreover, dual tractability extends to standard problem variations, including problems with random time horizons, no wash sales constraints, intertemporal consumption and recursive utility, as well as the step-up feature of the U.S. tax code, among others

Martin Haugh, Garud Iyengar, Chun Wang (2016) Tax-Aware Dynamic Asset Allocation. Operations Research Published online in Articles in Advance 24 Jun 2016 . http://dx.doi.org/10.1287/opre.2016.1517