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08 abril 2020

2020: 500 bilhões de déficit

O déficit primário de 2020, no momento estimado em R$ 429 bilhões, já é suficiente para fazer a dívida bruta caminhar para, pelo menos, 90% do PIB, mesmo que a recessão seja leve. Num cenário menos otimista, a dívida bruta chegaria facilmente a 100% do PIB. Mesmo descontando reservas internacionais, hoje da ordem de 25% do PIB, ficaríamos com uma dívida líquida de reservas bastante elevada, de 75% do PIB.

Há quem não veja problema nisso, argumentando que basta o Banco Central emitir moeda para pagar a dívida. Em um contexto de deflação em todo o mundo, essa expansão não aumentaria nossa inflação.

Infelizmente, não é o caso.

Operamos em um regime de política monetária no qual o BC fixa uma taxa de juros, para atingir uma meta para a inflação. Para tanto, ele precisa prover a quantidade de moeda demandada pelo sistema, seja ela qual for, para atingir a taxa Selic determinada pelo Copom. Não é possível, simultaneamente, fixar juros e controlar a quantidade de moeda.

Se o BC passar a emitir moeda, para pagar a dívida do Tesouro (abstraindo da restrição legal para fazê-lo), haverá aumento da liquidez no mercado e a taxa Selic ficará abaixo do valor fixado pelo Copom. A reação do BC terá que ser a de vender títulos públicos (via operações compromissadas) para reduzir a liquidez e puxar os juros para cima. Esses títulos colocados em mercado aumentarão a dívida bruta medida pelo BC.

Somente poderíamos recorrer à monetização da dívida se abandonássemos o bem-sucedido sistema de metas de inflação. O BC passaria a atuar com metas de agregados monetários, e os deixaria crescer frouxamente. Mesmo com baixa inflação internacional, os preços se acelerariam no Brasil. Para quem acha que a atual conjuntura mundial deflacionária não permitiria isso, basta olhar para a Argentina.

[...]

Não existe mágica para nos livrarmos da dívida que ora se acumula. Serão décadas de esforço fiscal. Já estamos mais pobres.

Temos que evitar dois graves erros, que facilmente podem ocorrer em meio às imprescindíveis ações para vencer a atual crise: dar dinheiro público a quem dele não precisa e estender os gastos emergenciais para além do tempo estritamente necessário, agravando nossa já precária situação fiscal.

Sem esses cuidados, corremos o risco de sair da pandemia voltando a conviver com inflação elevada e com grande dificuldade de retomar o crescimento.

Fonte: aqui

Continuidade

Um dos efeitos que a pandemia poderá trazer para as empresas é o aumento do número de casos onde o relatório da auditoria questiona a continuidade. Os comunicados dos reguladores estão alertando para esta situação (vide aqui para o caso europeu).

O AuditAnalytics faz um levantamento anual e divulga a evolução ao longo do tempo. Eis uma análise entre 2000 a 2018 onde é possível perceber que o último ano foi aquele onde o número de vezes que o "going concern" (continuidade) foi pouco lembrada.
 Entretanto, este gráfico pode estar enviesado, já que uma empresa com problemas de continuidade pode ter o fato alertado em mais de um ano. Mas mesmo considerando somente os casos "novos" de alerta na continuidade a conclusão é a mesma: os últimos anos tivemos poucos casos relacionados com a continuidade.
Apesar do levantamento referir-se a outro mercado, é uma evolução importante. Provavelmente o ano de 2019 e seguintes o número deverá aumentar. Uma das razões: recomendação dos reguladores. A outra: os efeitos da pandemia (Covid-19)

Impacto do Covid-19 na economia

Os cálculos são para economia dos EUA. Mas usando muitas informações disponíveis, eis um resultado

Estimamos que a taxa de crescimento real do PIB caia 5% a cada mês de paralisação econômica parcial. Portanto, o custo econômico dos dois primeiros meses de combate à pandemia será de US $ 2,14 trilhões (10%)

Links Covid - Contabilidade

O principais reguladores criaram páginas específicas para destacar as notícias relacionadas com o Covid-19. Eis uma relação atualizada:

Brasil
CVM

Estados Unidos
AICPA
SEC

Internacional

IAASB - International Auditing and Assurance Standards Board
[NOVO] IPSASB - International Public Sector Accounting Standards Board 


Reino Unido
FRC  Financial Reporting Council

Auditores
BDO
Deloitte
EY
Grant Thornton
KPMG
PwC

Outras Entidades
Center for Audit Quality

Publicado originalmente no dia 6 de abril e atualizado no dia 8 de abril

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui

07 abril 2020

Futebol e Covid-19

Enquanto em Portugal o Belenenses entrou em "lay-off", no Brasil a situação também será (é) crítica para os clubes. Eis uma análise inicial:

O principal player está suspendendo os pagamentos de campeonatos regionais pela ausência de jogos. Muitos patrocinadores estão rompendo contratos visto que não há exposição da marca e o futebol não é o foco prioritário para o momento. A bilheteria afeta imediatamente o caixa e receitas dos clubes. Os royalties são afetados pois não há venda física dos produtos licenciados dos clubes. Mesmo na venda virtual, não há nesse momento grandes motivações para que os torcedores comprem produtos.

Pensando nos impactos de médio e longo prazo, temos inicialmente a possibilidade de revisão de contratos de transmissão. A principal competição do Brasil (Campeonato Brasileiro) e a mais rentável (Copa do Brasil) podem ter os prazos encurtados e consequente redução dos valores a serem pagos conforme os jogos não se iniciarem até o mês de junho/20.

Há ainda a possibilidade de duplo impacto na negociação de atletas. Primeiro pela falta de exibição e exposição dos jogadores para viabilizar as contratações, segundo pelo fato que o mercado europeu que atualmente renegocia a redução dos salários milionários dos atletas, certamente irá rever a política de contratações até que as contas se ajustem. No aspecto custo, alguns clubes tem e terão dificuldades para honrar salários atrasados, agora com a crise do COVID 19, pagar o corrente, com os encargos e com as receitas reduzindo, o risco de inadimplência é iminente. E pela falta de caixa, há o risco de não pagamento das parcelas do PROFUT e consequente eliminação do maior programa de parcelamento fiscal das dívidas dos clubes.


Estatística Bayesiana

Gellman disponibilizou o livro Bayesian Data Analysis, em parceria com outros autores. Está em PDF. O arquivo é bastante grande.