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30 março 2020

Arte como um ativo: a coleção de Keynes

A carteira de obra de artes de keynes gerou um retorno de 4,2% ao ano nos últimos 50 anos.

Resumo:

The risk-return characteristics of art as an asset have been previously studied through aggregate price indexes. By contrast, we examine the long-run buy-and-hold performance of an actual portfolio, namely, the collection of John Maynard Keynes. We find that its performance has substantially exceeded existing estimates of art market returns. Our analysis of the collection identifies general attributes of art portfolios crucial in explaining why investor returns can substantially diverge from market returns: transaction-specific risk, buyer heterogeneity, return skewness, and portfolio concentration. Furthermore, our findings highlight the limitations of art price indexes as a guide to asset allocation or performance benchmarking. 


Fonte: David Chambers, Elroy Dimson, Christophe Spaenjers, Art as an Asset: Evidence from Keynes the Collector, The Review of Asset Pricing Studies, , raaa001, https://doi.org/10.1093/rapstu/raaa001

John Maynard Keynes. Image via Wikimedia Commons.

Tem ou não tem dinheiro?

Eis duas manchetes de dois jornais sobre o mesmo assunto:

Grandes empresas têm recursos para crise 

(Fernando Torres, Valor, 27 de março de 2020)

Metade das grandes empresas tem caixa para suportar até três meses sem receita

(René Pereira, Estadão, 30 de março de 2020) 

O que justifica esta diferença? Duas razões importantes.

Primeiro, a amostra. O Valor usou os dados de balanços de 97 empresas não financeiras com ações negociadas na bolsa. O Estadão trabalhou com 245 empresas de capital aberto da base Economática, também com ações na bolsa. Mas o aumento da amostra tende a acrescentar empresas de menor porte, o que pode aumentar o número em dificuldade.

Segundo, o método. O Valor focou na folha de pagamento. O Estadão também incluiu fornecedores e outras despesas operacionais. Assim, a premissa do jornal Valor é que as empresas conseguiriam reduzir rapidamente os custos fixos; já o Estadão pressupõe que as empresas tenderiam a manter estes custos. O resultado do segundo é pior.

Mas é importante lembrar que ambos levantamentos foram baseados na posição de caixa de final de dezembro e na estrutura de custos existentes então. Uma espécie de ceteribus paribus. E que não conseguiriam receita neste período, o que também é irreal para estas grandes empresas.

Rir é o melhor remédio


29 março 2020

Bola de cristal da BrMalls

Na divulgação das demonstrações contábeis da BrMalls, um empresa com ativos de 18 bilhões de reais, agora em março, um texto elucidativo da bola de cristal:

Redução de riscos implementamos medidas ao longo dos últimos meses que reduziram o patamar de risco da Companhia: (I) maior qualidade do portfólio, que se torna mais atrativos para os lojistas e resiliente aos ciclos (ii) melhor carteira de lojistas, apresentando maiores vendas, inadimplência líquida negativa e custo de ocupação saudável (iii) balanço forte e com alta liquidez (iv) forte governança corporativa, com maior nível de rating da ISS e reforçada área de gestão de riscos (v) cultura adaptativa e novas soluções digitais, adaptabilidade importante para mudanças estruturais de mercado. Após uma longa recessão, o país está em momento passível para uma retomada, com destaque para impacto do patamar inédito de juros nos planos expansionistas de varejistas e estamos prontos para capturar os benefícios decorrentes. Neste cenário, poderemos acelerar planos de investimentos e crescimento futuro. Estamos alertas aos impactos do novo Coronavírus (2019-nCoV), adotando medidas visando proteger a saúde dos colaboradores e clientes. Não obstante, os fundamentos do nosso negócio e estratégias de longo prazo seguem inalteradas e estamos entusiasmados com as oportunidades futuras.

Por que a reforma da comunicação científica parece tão difícil e lenta?

Jan Velterop responde a pergunta para o blog Scielo. Achei confusa, mas gostei da seguinte parte:

A pesquisa em si precisa de tempo necessário para que seja feita de forma responsável e completa, mas uma vez que haja resultados sólidos, a comunicação deles com outros cientistas pode e deve ser mais rápida. A velocidade é essencial para tirar o máximo proveito dos esforços coletivos da comunidade científica. Qualquer atraso na comunicação dos resultados da pesquisa é um atraso na busca de soluções. Atrasos desnecessários são devastadores em casos de vida ou morte.

Ele usa um termo interessante: o bolismo. Ou seja, você não pode ter tudo.

Mas há um problema subjacente que impede a comunicação científica rápida, eficiente e aberta necessária para fazer o progresso necessário. Em inglês se usa a expressão “ficar com o bolo e comê-lo”. Não é possível. Depois de comer o bolo, você não o terá mais. Em outras palavras, “você não pode ter tudo”. A crença teimosa de que você pode é conhecida como “bolismo”. Há um sabor diferente de “bolismo” no sistema. Vários atores na área da comunicação científica têm desejos difíceis de conciliar, ou apenas incompatíveis entre si. Quais são estes desejos? Por parte dos pesquisadores, geralmente temos: o desejo de publicar rapidamente; ter seus artigos revisados pelos pares; ser publicado em um periódico de prestígio; ser citado amplamente e com frequência; ter acesso ilimitado a trabalhos de outros pesquisadores; enfrentar pouco ou nenhum custo para publicar em acesso aberto; obter reconhecimento pelo trabalho publicado quando avaliados para promoção, estabilidade, convites para conferências e similares. Pesquisadores individuais podem até mesmo ter mais desejos.

Exame de Suficiência versus ACCA

O exame de suficiência, base para obtenção do registro de preparador das demonstrações financeiras no Brasil, é de boa qualidade? Uma forma é comparar com exames similares. Na dissertação de mestrado de Helton Nojima, "Grau de Capacitação em IFRS do profissional recém formado em Contabilidade no Brasil: uma comparação entre os exames do CFC e da ACCA" há uma busca por uma resposta. Veja trecho do resumo:

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é identificar qual o grau de capacitação do profissional de contabilidade recém graduado no Brasil em relação às IFRS. Para isso, foi efetuada uma comparação entre o exame de suficiência promovido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), como requisito para a obtenção inicial do registro profissional de contador no Brasil e o exame de nível fundamental da Association of Chartered Certified Accountants (ACCA), uma das mais reconhecidas certificadoras internacionais na área contábil que adota as IFRS. Foi efetuado um estudo documental dos exames, comparando a estrutura dos exames, conteúdo, quantidade de questões e grau de acerto dos candidatos. Os resultados indicaram que o exame do CFC avalia de maneira mais superficial o conhecimento, aplicando poucas questões sobre cada tema, e apresenta uma prova muito mais voltada à aplicação de regras do que a suas implicações na análise dos relatórios. Apesar da dificuldade em se efetuar essa comparação, foi possível observar que os candidatos do exame ACCA apresentavam-se mais bem preparados, atingindo melhores resultados. Por fim, foi possível concluir que o grau de capacitação do profissional no Brasil ainda é inferior ao do profissional candidato à qualificação da ACCA. Assim, este trabalho contribui para identificar oportunidades de melhoria no exame do CFC e no ensino da contabilidade no Brasil, principalmente via priorização do desenvolvimento de capacidades interpretativas, analíticas e críticas, ao invés da mera replicação de regras e leis e via ampliação da abrangência do exame.

A Tabela 1 faz um comparativo interessante, onde é possível perceber algumas das diferenças:

Segundo o autor, metade das questões é sobre IFRS. E o número maior de questões pode avaliar melhor o candidato, muito embora não seja um critério para definir se o nível de capacitação é inferior no Brasil. Uma boa discussão, sem dúvida nenhuma.

Rir é o melhor remédio

Oh meu Deus, café por favor