Translate

29 outubro 2019

A Arte da Escolha

A escolha é um processo demorado e díficil. Em 2010, Sheena Iyengar escreveu um livro bem interessante sobre o assunto. Desde então, cresceram o número de opções disponíveis e as possibilidades de escolha.

Lembrei do livro de Ivengar ao ler uma estatística impressionante, apresentada no Valor (Quando é muito difícil escolher o quer ver, João Luiz Rosa, 27 de ago 2019, A2).

Um estudo de 2016 mostra que, naquele ano, as pessoas gastavam, em média, 17,8 minutos na Netflix para escolher um filme ou programa. Segundo o levantamento (...) isso era o dobro do tempo médio gasto para escolher o que ver na TV paga. Outro levantamento, do mesmo ano, mostra que o espectador médio americano gastava 23 minutos por dia para escolher o que ver na televisão, o equivalente a quase 18% do total de 129 minutos diários de programação vista. No caso do Netflix, a proporação era de 28 minutos de busca para 91 minutos totais, quase 30%, e no Amazon Video, de 27 minutos para 64 mintuos ao todo, ou 42%. (...) ao longo de 80 anos - o tempo de vida médio do consumidor americano - cerca de 1,3 ano é gasto apenas se escolhendo o que ver

O livro de Iyengar tratava de vários tipos de escolha. Há uma frase famosa do Obama, sobre suas roupas, parecidas. O ex-presidente falava que tinha muitas decisões que precisava tomar e não podia ficar muito tempo pensando sobre qual terno vestir.

Thomas Cook e as Big Four

O grupo Thomas Cook era a maior empresa britânica de viagem. Ele foi criado em 2007, mas sua origem é anterior, com a agência de viagem Airtours. A empresa operava em dois segmentos: como agência de turismo e empresa aérea. Até que em setembro a empresa entrou em liquidação, de forma inevitável. Além do ambiente econômico, a gestão também tinha uma parcela de culpa https://www.bbc.co.uk/news/business-50155096, muito embora esteja recebendo um bônus . A crise também trouxe discussões diversas, inclusive sobre a auditoria.

Sobre este assunto, o parlamento do Reino Unido novamente discutiu a questão da Big Four. Segundo o Financial Times (via “PwC e EY são acusadas em colapso de companhia”, Tabby Kinder, 23/10/19,Valor) os representantes criticaram as auditorias realizadas na empresa por aprovarem as demonstrações contábeis. Um parlamentar disse que a PwC deveria ter questionado, de forma mais incisiva, a empresa sobre o tratamento contábil de itens extraordinários e o tratamento dos ativos intangíveis. Este parlamentar, presidente da comissão especial de negócios da Câmara Baixa do parlamento britânico, falou da possibilidade de uma lei para forçar a separação das Big Four.

Quantas novas falências de empresas, quantos novos exemplos graves de auditoria precisamos para que nosso setor abra os olhos e reconheça que vocês são cúmplices nisso e que vocês precisam realizar uma reforma?

Rir é o melhor remédio

Quando tenho muita coisa para fazer

Finanças do Vaticano

Eis um texto interessante da Forbes sobre as finanças do Vaticano:

O Vaticano rejeitou ontem (22) alegações em um novo livro de que a Santa Sé corre o risco de calote nos próximos anos por causa de queda de doações, má administração financeira e corrupção.

O livro de 350 páginas, “Last Judgement”, é do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi e é o mais recente sobre as finanças do Vaticano.

Nuzzi escreve que anos de déficits podem deixar pouca escolha para o Vaticano, a não ser declarar default até 2023.

“Não há ameaça de default aqui. Há apenas a necessidade de uma revisão de gastos. E é isso que estamos fazendo”, disse o arcebispo Nunzio Galantino, chefe da Administração do Patrimônio da Santa Sé, um escritório geral de contabilidade que administra as propriedades imobiliárias em Roma e em outros lugares na Itália, paga salários dos funcionários do Vaticano e atua como um escritório de compras e departamento de recursos humanos.

O arcebispo disse ao jornal católico italiano “Avvenire” que, embora “não haja necessidade de alarmismo”, o Vaticano tem que conter custos.

O menor Estado do mundo não recebe impostos. Suas fontes de renda são investimentos, imóveis, arrecadações de fiéis feitas em todo o mundo, contribuições de dioceses e receitas de seus populares museus.

Nuzzi disse que as contribuições dos fiéis caíram acentuadamente nos últimos anos, principalmente em países como os Estados Unidos, atingidas por escândalos de abuso sexual.

Em uma entrevista coletiva na qual apresentou o livro, Nuzzi afirmou ser um grande admirador do Papa Francisco e queria destacar a suposta má gestão que o impede de aprovar uma reforma duradoura.

27 outubro 2019

Two-Sided Matching no mercado de Auditoria

Resumo:

We estimate a two-sided matching model of IPO firms to auditors. Doing so allows us to separate the effects of sorting and influence in this audit market, and identify the effect that each has on observed audit quality. We find evidence that sorting on inherent quality of the client exists at the time auditors and clients match with each other. However, even after controlling for the effects of sorting, Big 4 auditors exert positive influence on audit quality; the probability of a restatement is significantly lower, all else equal, for clients of Big 4 auditors.

Fonte: Li, Ken and McNichols, Maureen F. and Raghunandan, Aneesh, A Two-Sided Matching Model of the Audit Market for IPO Firms (February 4, 2018). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3117828 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3117828

Resultado de imagem para A Two-Sided Matching Model o

24 outubro 2019

Exxon e o futuro da contabilidade

No início da século XX, a polícia não conseguia processar Al Capone, o mais perigoso. Apelando para fraude fiscal, o criminoso foi condenado por sonegação fiscal.

Quase cem anos depois, a empresa Exxon teima em financiar lobby e entidades que defendem a política energética tradicional, baseada na extração e processamento de petróleo. Como colocar a empresa nos eixos, reduzindo seu impeto pela destruição do ambiente. Novamente a contabilidade foi convocada para ajudar a resolver os problemas que a justiça não consegue resolver.

Um processo na cidade de Nova Iorque esta julgando se a Exxon enganou seus acionistas sobre os riscos relacionados com às mudanças climáticas. Após anos de investigação, iniciou-se as audiências do julgamento. Entre os envolvidos, Tillerson, que foi presidente da empresa desde 2006 até ir para o governo Trump em janeiro de 2017.

Para divulgar suas demonstrações, a empresa deve fazer projeções sobre a viabilidade dos seus ativos, o que inclui as reservas. Se existe dúvidas sobre os efeitos ambientais na utilização de petróleo no futuro, o valor reconhecido no ativo deve ser menor; afinal, o mundo deverá usar menos petróleo. A questão é que a empresa foi muito mais otimista nesta projeção, indicando que o petróleo ainda será o principal item da matriz energética mundial no futuro.

O problema é que a promotoria considera que isto é uma enganação com os investidores. Se os investidores foram enganados, cabe uma reparação. O valor estaria entre 0,5 a 1,2 bilhão. A empresa nega a intenção de enganar os investidores, pois forneceu previsões diferentes. O julgamento deverá durar três semanas. Ambientalistas estão torcendo para que a empresa pague multas pesadas.

O julgamento é muito importante para a contabilidade. Há anos, os reguladores decidiram abandonar o custo como base de valor, enfatizando a necessidade de que a empresa fornecesse sua visão - neutra e fidedigna - da realidade. Na contabilidade da Exxon há uma grande quantidade de julgamento. Ou seja, análise subjetiva. Se a empresa for condenada, isto significa que qualquer julgamento pode ser questionado juridicamente. Se a meta dos reguladores - Fasb e Iasb - era promover uma demonstração contábil mais próxima do valor da empresa, a opinião do preparador deveria ser a base de avaliação. Um tribunal pode dizer que a “opinião como base de valor” deixa de ser a regra contábil. Como isto afetará esta guinada, que abandonou o custo como base de valor?

Leia sobre o julgamento aqui, aqui e aqui