Meu irmão mais velho, Colas - que é professor de filosofia na França e, apesar disso, uma das pessoas mais práticas que já conheci (pelo menos na academia) - me deu dois conselhos quando perguntei como começar a carreira como acadêmico.
A primeira foi "escreva uma página todos os dias". Foi assim que ele escreveu sua dissertação. Ele marcava os dias de folga de um calendário com uma cruz, de modo que escrever duas páginas em um determinado dia lhe daria uma trégua no dia seguinte. Mas o sistema significava que ele escreveria em média 365 páginas em um ano e, portanto, uma dissertação em duas. (As dissertações de filosofia francesa são longas!) É claro que o princípio precisa de algum ajuste quando aplicado à economia, uma vez que a escrita em si não é tão importante quanto o trabalho analítico que a precede. Mas o princípio subjacente é essencial: progresso lento e constante. Escrever uma página por dia deixa tempo de sobra para preparação, pesquisa primária ou reflexão sobre o plano geral do livro. Fornece uma estrutura para reforçar o progresso contínuo. Não se cria uma agenda de pesquisa esperando infinitamente até que a Grande Idéia chegue, mas começando a trabalhar em um tópico, aprendendo mais sobre o tópico (e os vizinhos no processo) e conectando progressivamente os pontos.
A segunda coisa que Colas disse foi: “Escreva o livro (ou o artigo) que você gostaria de ler, mas não conseguiu encontrar.” Isso pode parecer bastante óbvio, mas sempre me surpreendo com o fato de muitos jovens pesquisadores fazerem isso. parecem não saber por que estão pesquisando um tópico específico ou, quando sabem, parecem tê-lo escolhido pelo motivo errado. Eles simplesmente encontraram um conjunto de dados e, em seguida, procuraram por uma pergunta; eles queriam experimentar alguma técnica específica e isso parecia ser um cenário apropriado para isso; ou descartaram todas as perguntas que pensavam em responder porque pareciam muito "pequenas". Em geral, essa é uma receita para, na melhor das hipóteses, uma vida muito chata e, na pior, um desastre. Você logo descobrirá (se ainda não o fez) que trabalhar em sua pesquisa é a recompensa por todas as outras coisas que você deve fazer na vida (...) E o que é melhor do que ler um bom artigo ao mesmo tempo em que está trabalhando nele?
Esther Duflo, 2011
15 outubro 2019
Nobel de Economia e a Índia
Três pesquisadores que estudam experimentos para ajudar a combater a pobreza foram contemplados com o Nobel de Economia. Um texto bastante interessante da Quartz mostra a reação da Índia à premiação.
Em primeiro lugar, confesso que não sabia que Banerjee, um dos premiados, era esposo de Duflo, a economista que também recebeu o prêmio, junto com Michael Kremer. (Confesso, na minha ignorância, que já tinha escutado falar de Duflo e sabia que era uma pesquisadora brilhante)
A imprensa indiana destacou que Banerjee, e sua esposa, tinham ganho o Nobel
O ponto fica mais complicado nestes tempos de radicalismo quando sabemos que Banerjee é oposição. No passado, ele criticou a política econômica do atual governo, inclusive a decisão de retirar de circulação as notas de elevado valor. Esta medida foi tomada pelo governo para "combater a corrupção". Mas Banerjee criticava a mudança, assim como uma mudança na metodologia de cálculo do PIB, vista como manipulação por ele e outros opositores.
Como o governo e apoiadores reagiram? Veja
Desmerecendo o prêmio, dizendo não ser um Nobel. Que país estranho. Ainda bem que o Brasil não é assim.
Em primeiro lugar, confesso que não sabia que Banerjee, um dos premiados, era esposo de Duflo, a economista que também recebeu o prêmio, junto com Michael Kremer. (Confesso, na minha ignorância, que já tinha escutado falar de Duflo e sabia que era uma pesquisadora brilhante)
A imprensa indiana destacou que Banerjee, e sua esposa, tinham ganho o Nobel
O ponto fica mais complicado nestes tempos de radicalismo quando sabemos que Banerjee é oposição. No passado, ele criticou a política econômica do atual governo, inclusive a decisão de retirar de circulação as notas de elevado valor. Esta medida foi tomada pelo governo para "combater a corrupção". Mas Banerjee criticava a mudança, assim como uma mudança na metodologia de cálculo do PIB, vista como manipulação por ele e outros opositores.
Como o governo e apoiadores reagiram? Veja
Desmerecendo o prêmio, dizendo não ser um Nobel. Que país estranho. Ainda bem que o Brasil não é assim.
Pergunta da pesquisa: sim ou não
Já escutei isto muito: você não pode fazer um trabalho onde o problema de pesquisa é uma resposta do tipo "sim" ou "não". Um artigo do Journal of Financial Economics, o segundo melhor periódico de finanças, tem no título uma pergunta. O resumo começa com "Sim".
(Via aqui)
(Via aqui)
14 outubro 2019
KPMG e PCOB
Mais uma pessoa foi condenado no escândalo PCAOB e KPMG. Jeffrey Wada, um funcionário o regulador das empresas de auditorias, PCAOB, pegou noves meses de prisão e outros três anos de liberdade vigiada. Wada entregou para KPMG os planos que o regulador tinha na supervisão da empresa de auditoria. Ele fez isto esperando obter um emprego na empresa de auditoria. E disse que estava com raiva, pois não recebeu uma promoção interna na entidade.
Outros dois funcionários do PCAOB e da KPMG já foram condenados: Cynthia Holder (ex-PCAOB e depois KPMG), que recebeu oito meses de prisão, Middendorf (ex-KPMG), que recebeu um ano e um dia. Aguardam sentença David Britt (ex-KPMG), Thomas Whittle (idem) e Brian Sweet (idem).
Outros dois funcionários do PCAOB e da KPMG já foram condenados: Cynthia Holder (ex-PCAOB e depois KPMG), que recebeu oito meses de prisão, Middendorf (ex-KPMG), que recebeu um ano e um dia. Aguardam sentença David Britt (ex-KPMG), Thomas Whittle (idem) e Brian Sweet (idem).
Custo da Formatação de um artigo
Uma das piores partes de uma pesquisa é fazer a formatação do trabalho final. É preciso observar o espaço entre linhas, a letra solicitada, o tamanho da margem, sem falar na norma de citação e outras observações. Leva-se muito tempo nesta estimativa. Cada periódico tem sua regra, assim como cada congresso, programa de pós, etc. Além disto, algumas entidades insistem em mudar regularmente as normas ou criar novas normas para situações específicas.
Uma pesquisa realizada por cientistas canadenses encontrou o tempo que se gasta para fazer este trabalho. Usando mais de 300 respondentes, o pesquisadores descobriram o tempo por artigo submetido e a quantidade de artigos. Além disto, solicitaram o valor da renda anual. Considerando uma carga de trabalho anual de 1950 horas, a pesquisa obteve que o custo anual de formatação de artigos é de ...1.908 dólares. Por artigo, o custo seria perto de 500 dólares ou 477 dólares.
Eles também encontraram que este custo é maior para os mais idosos, para os homens e os não cientistas.
Assim, quando você estiver em uma posição de editoria de um periódico ou de um congresso, procure ser mais flexível neste aspecto.
Scientific sinkhole: The pernicious price of formatting. Allana G. LeBlanc, Joel D. Barnes, Travis J. Saunders, Mark S. Tremblay, Jean-Philippe Chaput. PLOS One September 26, 2019)
Uma pesquisa realizada por cientistas canadenses encontrou o tempo que se gasta para fazer este trabalho. Usando mais de 300 respondentes, o pesquisadores descobriram o tempo por artigo submetido e a quantidade de artigos. Além disto, solicitaram o valor da renda anual. Considerando uma carga de trabalho anual de 1950 horas, a pesquisa obteve que o custo anual de formatação de artigos é de ...1.908 dólares. Por artigo, o custo seria perto de 500 dólares ou 477 dólares.
Eles também encontraram que este custo é maior para os mais idosos, para os homens e os não cientistas.
Assim, quando você estiver em uma posição de editoria de um periódico ou de um congresso, procure ser mais flexível neste aspecto.
Scientific sinkhole: The pernicious price of formatting. Allana G. LeBlanc, Joel D. Barnes, Travis J. Saunders, Mark S. Tremblay, Jean-Philippe Chaput. PLOS One September 26, 2019)
13 outubro 2019
Nobel de Economia: quem merece ?
[...]
No. 1. The New Keynesians
Not since 2011 has a prize been awarded to economists who primarily study the ups and downs of the business cycle, so we might be overdue. The obvious choice would be to award the prize for the creation of New Keynesian theory. This theory holds that recessions happen because businesses have difficulty adjusting their prices in response to economic disturbances.
Although it’s the dominant paradigm within modern academic macroeconomics, and is used by most central banks to help set monetary policy, New Keynesianism hasn’t yet received a gold medal from Sweden. One reason might be that the theory isn’t the brainchild of a single genius, but of a large group of influential figures who each added key elements. These include Michael Woodford, Stanley Fischer, Greg Mankiw, Nobuhiro Kiyotaki, Olivier Blanchard, Guillermo Calvo, Janet Yellen, David Romer and a number of others. Picking two or three to award the prize to will be hard, but it seems inevitable that the prize committee will eventually have to recognize this incredibly influential theory.
No. 2. Claudia Goldin
Before French economist Thomas Piketty ever hit the bestseller lists, Harvard University’s Claudia Goldin was writing about the rise in economic inequality. Combining the methods of labor economics and economic history, Goldin identifies increasing education as a key driver of the fall in U.S. inequality in the early 20th century, and blames a slowdown in educational attainment for the reversal of that happy trend.
Goldin has also extensively studied the changing role of women in the economy, weaving together trends like delayed childbearing, increasing education and forward-looking decision-making to create the authoritative story of how and why women entered the formal workforce. She has advocated for flexible work scheduling as a way to reduce the gender pay gap. And she has theorized that workplace gender discrimination results from men being afraid that the occupations they dominate will be devalued if women enter. In an age when society is struggling to eliminate gender inequality, Goldin’s work provides a crucial road map.
No. 3. David Card
Great changes have happened in the economics profession during the past three decades. The field has gone from a largely theoretical discipline to one firmly grounded in empirics and data. Although the transition is the work of many thousands of economists, perhaps no one has pointed the way forward as clearly as the University of California-Berkeley’s David Card. His landmark studies of low-skilled immigration and minimum wages changed the debate on those crucial issues, astonishing economists with the finding -- now corroborated by decades of follow-up research -- that neither is particularly damaging to local workers. Those results changed the world, but they represent only a small portion of Card’s extensive body of work. If anyone deserves to win a Nobel for the seismic shift that has changed the very meaning of economics research, it’s probably Card.
No. 4. Paul Milgrom
The economics Nobel tends to favor the work of pure theorists who work on the deepest problems. And few thinkers dig deeper than Stanford University’s Paul Milgrom. He was a major figure in the creation of auction theory -- probably the most empirically successful and practically useful economic theory of all time, which is now used to power everything from Google ads to federal spectrum auctions. He has also contributed deep insights to our understanding of financial markets, modeling the way that market makers interact with informed and uninformed traders, and helping to explain why trading happens in the first place. This is only the tip of the iceberg, though. Milgrom’s contributions in game theory, contract theory, labor economics, industrial organization, the economics of information and learning, and other fields are too numerous to mention or elaborate here. If he never wins the Nobel for this virtuosic career, it will be a big surprise.
No. 5. Daron Acemoglu
Daron Acemoglu is another virtuoso, but of a very different sort. Acemoglu tackles the big questions of why nations grow and develop or stagnate and decline -- the kinds of questions that rarely if ever get definitive answers. His most important thesis is that social institutions are crucial for development and don’t change much over time -- places that develop institutions based on exploiting labor and extracting resources tend to do badly over the centuries, while those that create more inclusive systems flourish. More recently, Acemoglu has tackled the question of whether automation will make humans obsolete. He has created new models of automation in which it’s possible for robots to reduce human wages, and theorized that different types of artificial intelligence could help human workers or compete with them. Beyond those topics, Acemoglu has a vast body of work, much of it dealing with difficult and expansive topics like politics, history, culture and technological change.
No. 1. The New Keynesians
Not since 2011 has a prize been awarded to economists who primarily study the ups and downs of the business cycle, so we might be overdue. The obvious choice would be to award the prize for the creation of New Keynesian theory. This theory holds that recessions happen because businesses have difficulty adjusting their prices in response to economic disturbances.
Although it’s the dominant paradigm within modern academic macroeconomics, and is used by most central banks to help set monetary policy, New Keynesianism hasn’t yet received a gold medal from Sweden. One reason might be that the theory isn’t the brainchild of a single genius, but of a large group of influential figures who each added key elements. These include Michael Woodford, Stanley Fischer, Greg Mankiw, Nobuhiro Kiyotaki, Olivier Blanchard, Guillermo Calvo, Janet Yellen, David Romer and a number of others. Picking two or three to award the prize to will be hard, but it seems inevitable that the prize committee will eventually have to recognize this incredibly influential theory.
No. 2. Claudia Goldin
Before French economist Thomas Piketty ever hit the bestseller lists, Harvard University’s Claudia Goldin was writing about the rise in economic inequality. Combining the methods of labor economics and economic history, Goldin identifies increasing education as a key driver of the fall in U.S. inequality in the early 20th century, and blames a slowdown in educational attainment for the reversal of that happy trend.
Goldin has also extensively studied the changing role of women in the economy, weaving together trends like delayed childbearing, increasing education and forward-looking decision-making to create the authoritative story of how and why women entered the formal workforce. She has advocated for flexible work scheduling as a way to reduce the gender pay gap. And she has theorized that workplace gender discrimination results from men being afraid that the occupations they dominate will be devalued if women enter. In an age when society is struggling to eliminate gender inequality, Goldin’s work provides a crucial road map.
No. 3. David Card
Great changes have happened in the economics profession during the past three decades. The field has gone from a largely theoretical discipline to one firmly grounded in empirics and data. Although the transition is the work of many thousands of economists, perhaps no one has pointed the way forward as clearly as the University of California-Berkeley’s David Card. His landmark studies of low-skilled immigration and minimum wages changed the debate on those crucial issues, astonishing economists with the finding -- now corroborated by decades of follow-up research -- that neither is particularly damaging to local workers. Those results changed the world, but they represent only a small portion of Card’s extensive body of work. If anyone deserves to win a Nobel for the seismic shift that has changed the very meaning of economics research, it’s probably Card.
No. 4. Paul Milgrom
The economics Nobel tends to favor the work of pure theorists who work on the deepest problems. And few thinkers dig deeper than Stanford University’s Paul Milgrom. He was a major figure in the creation of auction theory -- probably the most empirically successful and practically useful economic theory of all time, which is now used to power everything from Google ads to federal spectrum auctions. He has also contributed deep insights to our understanding of financial markets, modeling the way that market makers interact with informed and uninformed traders, and helping to explain why trading happens in the first place. This is only the tip of the iceberg, though. Milgrom’s contributions in game theory, contract theory, labor economics, industrial organization, the economics of information and learning, and other fields are too numerous to mention or elaborate here. If he never wins the Nobel for this virtuosic career, it will be a big surprise.
No. 5. Daron Acemoglu
Daron Acemoglu is another virtuoso, but of a very different sort. Acemoglu tackles the big questions of why nations grow and develop or stagnate and decline -- the kinds of questions that rarely if ever get definitive answers. His most important thesis is that social institutions are crucial for development and don’t change much over time -- places that develop institutions based on exploiting labor and extracting resources tend to do badly over the centuries, while those that create more inclusive systems flourish. More recently, Acemoglu has tackled the question of whether automation will make humans obsolete. He has created new models of automation in which it’s possible for robots to reduce human wages, and theorized that different types of artificial intelligence could help human workers or compete with them. Beyond those topics, Acemoglu has a vast body of work, much of it dealing with difficult and expansive topics like politics, history, culture and technological change.
Fonte: aqui
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