A gamificação é o uso de jogos para "cativar" as pessoas, por meio de desafios e bonificações. Esta é uma técnica antiga, mas que nos dias atuais tornou-se presente em diversas áreas, como ensino e trabalho.
Usa-se jogos para incentivar a aprendizagem de um estudante. Se ele passa de uma lição no Duolingo, ganha "lingotes". Mensagens de estímulo aparecem quando erra e felicitações quando acerta. O site informa quantos pontos você fez e as pessoas que mais fizeram pontos na semana ou mês. É um grande incentivo para você buscar aprender uma língua.
A gamificação está também nas relações trabalhistas. Recentemente, Sarah Mason escreveu um artigo para o Logic sobre isto. O texto não é acadêmico, mas traz algumas contribuições interessantes. Sarah é motorista de aplicativo e encontrou neste trabalho uma forma de sobrevivência. O aplicativo estabelece metas, parabeniza se você tiver boas notas, estabelece suas rotas e determina alguns bônus. Isto tudo é feito através do algoritmo da empresa. Para Mason, se existe algo real e quantificado, pode ser "gamificado".
Ela se pergunta qual a razão de buscar trabalhar muito para ter boas notas? Não recebe mais por isto. A gamificação manipula os seus sentimentos, induzindo a buscar notas mais altas. Segundo ela, nos dias atuais, entre o capital e o trabalho, há um algoritmo. Outra observação interessante é que um motorista de aplicativo, nos Estados Unidos, recebe um valor abaixo do salário mínimo da região. Mais ainda, o próprio Uber considera que o McDonald´s é seu grande "inimigo" na busca de trabalhadores. São reflexões interessantes e relevantes para os dias atuais.
30 setembro 2019
29 setembro 2019
Mais informação para usuário é igual a melhor política pública?
O que fazer quando um serviço público não tem uma qualidade desejada? Diversas abordagens já foram tentadas, como auditoria, estabelecimento de meta de desempenho, entre outras. Uma das abordagens que tem sido defendida é dar condições ao usuário para que ele possa analisar o serviço que está sendo prestado. E uma forma de fazer isto é entregar informações ao usuário. Se o usuário conhecer melhor o serviço que está sendo prestado ele pode ser um crítico de sua qualidade. Assim, muitas políticas públicas tentaram "educar" o usuário, melhorando seu conhecimento sobre o tema da política pública.
Mas será que isto funciona? Se isto não funcionar, talvez a educação do usuário não seja uma estratégia interessante e estamos gastando dinheiro com esta abordagem. Veja que esta questão pode ajudar na discussão sobre "educação financeira" e outras tentativas de dar conhecimento as pessoas. A questão é como pesquisar isto.
Uma pesquisa conseguiu isto para um público bem específico: os médicos. Usando dados de médicos que trabalham na área militar, três pesquisadores compararam os médicos como pacientes contra outros pacientes. Como os médicos conhecem (ou deveriam conhecer) sobre saúde, era esperado que o atendimento deste profissionais fosse diferente dos demais pacientes. Isto seria uma confirmação que ter informação pode ajudar na qualidade da política pública de saúde.
Os pesquisadores compararam o médicos que atuam na área militar e perceberam que a diferença no atendimento é muito pequena. Não suficiente para fazer diferença dos demais pacientes. Assim, talvez fornecer informação para o usuário seja perda de tempo e gasto de dinheiro; isto não resolveria o problema da qualidade da política de saúde.
28 setembro 2019
Convergência no Setor Público
Segundo a contagem do CFC, são 21 NBC TSP convergidas, além duas outras sem nenhuma relação. Parece muito. Mas o quadro abaixo mostra que o número de normas do IFAC é maior: 37 segundo um resumo recente publicado pelo próprio IFAC. "Faltariam" 16 normas.
A primeira coluna mostra a NBC. A segunda coluna, o ano de publicação. O nome da norma está na terceira coluna. A numeração correspondente, para a norma do IFAC está a seguir. A relação da norma do IFAC com a norma do IASB está logo a seguir. Esta relação foi retirada do documento do IFAC. E na última coluna, a especificidade da norma.
Outra forma de ver a tabela está a seguir:
Com respeito a especificidade, a legenda é a seguinte: **** = trata-se de norma específica do setor público, sem nenhuma relação com norma do IASB; *** = é uma norma predominantemente específica do setor público; ** = norma com acréscimos relacionados com o setor público; * = norma do Iasb com poucos acréscimos específicos do setor público.
O quadro a seguir tem somente as normas que já foram convergidas:
E agora as normas que faltam a convergência no Brasil:
A primeira coluna mostra a NBC. A segunda coluna, o ano de publicação. O nome da norma está na terceira coluna. A numeração correspondente, para a norma do IFAC está a seguir. A relação da norma do IFAC com a norma do IASB está logo a seguir. Esta relação foi retirada do documento do IFAC. E na última coluna, a especificidade da norma.
Outra forma de ver a tabela está a seguir:
Com respeito a especificidade, a legenda é a seguinte: **** = trata-se de norma específica do setor público, sem nenhuma relação com norma do IASB; *** = é uma norma predominantemente específica do setor público; ** = norma com acréscimos relacionados com o setor público; * = norma do Iasb com poucos acréscimos específicos do setor público.
O quadro a seguir tem somente as normas que já foram convergidas:
E agora as normas que faltam a convergência no Brasil:
27 setembro 2019
Emprego no Setor Contábil em Agosto
Em mais uma rodada de divulgação do número de empregos formais no Brasil, os resultados continuam mostrando que a economia está em recuperação, mas o setor contábil não. Eis um gráfico com a série histórica:
Iniciando em 2014, o gráfico mostra que a crise reduziu o número de empregos na economia (linha vermelha) e no setor contábil (linha azul). Os números foram ajustados para fins de comparação. A partir de um determinado período, a economia começa um processo de recuperação. Mas o setor contábil continuou em crise de empresa. Veja que a linha azul se descola da linha vermelha.
Agosto teve seguiu esta tendência. Enquanto que o número de vagas do setor formal aumentou (+121 mil vagas), no setor contábil o número de demissões foi maior (572). Na contabilidade, o mês de agosto é ruim: desde 2014, em nenhum mês de agosto o saldo foi positivo.
Algumas das estatísticas estão a seguir:
Próximo mês: setembro é muito melhor que agosto. Em 2018, o número de vagas aumentou, assim como em setembro de 2014. Assim, o resultado pode ser positivo.
Iniciando em 2014, o gráfico mostra que a crise reduziu o número de empregos na economia (linha vermelha) e no setor contábil (linha azul). Os números foram ajustados para fins de comparação. A partir de um determinado período, a economia começa um processo de recuperação. Mas o setor contábil continuou em crise de empresa. Veja que a linha azul se descola da linha vermelha.
Agosto teve seguiu esta tendência. Enquanto que o número de vagas do setor formal aumentou (+121 mil vagas), no setor contábil o número de demissões foi maior (572). Na contabilidade, o mês de agosto é ruim: desde 2014, em nenhum mês de agosto o saldo foi positivo.
Algumas das estatísticas estão a seguir:
Porta giratória na regulação contábil
A seguir um texto crítico, de Eleanor Eagan, sobre o fato de funcionários de agências reguladoras serem contratados por empresas de auditoria.
Em maio, Wesley Bricker, contador-chefe da Comissão de Valores Mobiliários (SEC), anunciou que estava deixando o cargo. No início do mês passado, soubemos onde ele havia ido: PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das auditorias "Big Four", como vice-presidente e líder de garantia para os EUA e o México. Com esse movimento, Bricker completou sua quarta volta pela porta giratória entre a PwC e a SEC. Embora aparentemente notável, sua trajetória de carreira é emblemática das linhas quase inexistentes entre reguladores e aqueles que eles são encarregados de regular. Como esse exemplo deixa claro, agências como a SEC, para que trabalhem para o bem público, não serão apenas uma questão de escolher bons funcionários, mas também de mudar a cultura e as expectativas do pessoal em todos os escalões dessas entidades.
Para entender por que a decisão da Bricker nos preocupa, é preciso investigar brevemente o mundo das auditorias corporativas. Embora a maioria das pessoas associe a SEC à aplicação de informações privilegiadas, a Comissão também desempenha um papel importante para garantir que as empresas sejam honestas sobre sua situação financeira, ajudando a evitar fracassos no estilo da Enron.
Então, como isso se desenrola? As empresas de capital aberto devem passar por uma auditoria externa de suas finanças e controles internos a cada ano. Essas auditorias são realizadas por empresas privadas supostamente independentes, geralmente uma das “Big Four” (PwC, KPMG, Deloitte ou Ernst Young). As auditorias dos auditores são, por sua vez, auditadas periodicamente pelo Conselho de Supervisão Contábil de Empresa Pública (PCAOB) , uma empresa sem fins lucrativos que se reporta à SEC.
O problema está na suposta independência dos auditores privados. Os auditores são pagos por seus clientes - as empresas que eles investigam - por seu trabalho. Portanto, eles dependem de relacionamentos positivos com aqueles que estão auditando para criar clientes recorrentes. Destacar os erros de uma empresa com muita freqüência pode levar a outros caminhos e é por isso que os auditores geralmente corrigem, em vez de reportar , os erros de uma empresa.
O PCAOB e a SEC devem impedir que os auditores se comportem dessa maneira. No entanto, como muitas pessoas já trabalharam (e parece que provavelmente trabalharão novamente) para os quatro grandes auditores em questão, sua capacidade de agir como uma salvaguarda robusta contra abusos desenfreados gera ceticismo.
Isso nos leva de volta ao funcionário em questão, Wesley Bricker. Como contador-chefe , Bricker tinha um grande poder para influenciar os padrões contábeis e determinar o escopo e a severidade da aplicação. Dada sua vasta experiência trabalhando para uma das entidades que ele foi encarregado de regular, no entanto, é difícil acreditar que ele tenha se dedicado totalmente a esse trabalho.
Mesmo se ele tivesse, no entanto, sua decisão de retornar à PwC justifica uma preocupação por si só. Em seu tempo como contador-chefe, Bricker, sem dúvida, adquiriu um conhecimento íntimo dos pontos fortes e fracos da SEC. Ele está, atualmente, em uma posição sem dúvida melhor do que qualquer pessoa no mundo para ajudar os auditores a evitar um escrutínio regulatório. Talvez por isso, a PwC esteja tão feliz por tê-lo de volta.
A integridade das auditorias financeiras pode parecer um assunto sem graça, mas tem implicações importantes para os trabalhadores. O colapso da Enron tirou milhares de pessoas do emprego e destruiu suas economias de aposentadoria. Os auditores das "Grandes Quatro" negligenciaram grande parte da fraude que ajudou a travar a economia em 2007.
Idealmente, poderíamos confiar que os reguladores de todo o sistema estavam trabalhando firmemente para avançar e defender o interesse público. Como a trajetória de carreira de Bricker demonstra, no entanto, essa confiança pode ser irracional.
Fonte: SEC Chief Accountant's Trip(s) through the Revolving Door are Emblematic of a Broader Problem, Eleanor Eagan, Center for Economic and Policy Research (CEPR)
Em maio, Wesley Bricker, contador-chefe da Comissão de Valores Mobiliários (SEC), anunciou que estava deixando o cargo. No início do mês passado, soubemos onde ele havia ido: PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das auditorias "Big Four", como vice-presidente e líder de garantia para os EUA e o México. Com esse movimento, Bricker completou sua quarta volta pela porta giratória entre a PwC e a SEC. Embora aparentemente notável, sua trajetória de carreira é emblemática das linhas quase inexistentes entre reguladores e aqueles que eles são encarregados de regular. Como esse exemplo deixa claro, agências como a SEC, para que trabalhem para o bem público, não serão apenas uma questão de escolher bons funcionários, mas também de mudar a cultura e as expectativas do pessoal em todos os escalões dessas entidades.
Para entender por que a decisão da Bricker nos preocupa, é preciso investigar brevemente o mundo das auditorias corporativas. Embora a maioria das pessoas associe a SEC à aplicação de informações privilegiadas, a Comissão também desempenha um papel importante para garantir que as empresas sejam honestas sobre sua situação financeira, ajudando a evitar fracassos no estilo da Enron.
Então, como isso se desenrola? As empresas de capital aberto devem passar por uma auditoria externa de suas finanças e controles internos a cada ano. Essas auditorias são realizadas por empresas privadas supostamente independentes, geralmente uma das “Big Four” (PwC, KPMG, Deloitte ou Ernst Young). As auditorias dos auditores são, por sua vez, auditadas periodicamente pelo Conselho de Supervisão Contábil de Empresa Pública (PCAOB) , uma empresa sem fins lucrativos que se reporta à SEC.
O problema está na suposta independência dos auditores privados. Os auditores são pagos por seus clientes - as empresas que eles investigam - por seu trabalho. Portanto, eles dependem de relacionamentos positivos com aqueles que estão auditando para criar clientes recorrentes. Destacar os erros de uma empresa com muita freqüência pode levar a outros caminhos e é por isso que os auditores geralmente corrigem, em vez de reportar , os erros de uma empresa.
O PCAOB e a SEC devem impedir que os auditores se comportem dessa maneira. No entanto, como muitas pessoas já trabalharam (e parece que provavelmente trabalharão novamente) para os quatro grandes auditores em questão, sua capacidade de agir como uma salvaguarda robusta contra abusos desenfreados gera ceticismo.
Isso nos leva de volta ao funcionário em questão, Wesley Bricker. Como contador-chefe , Bricker tinha um grande poder para influenciar os padrões contábeis e determinar o escopo e a severidade da aplicação. Dada sua vasta experiência trabalhando para uma das entidades que ele foi encarregado de regular, no entanto, é difícil acreditar que ele tenha se dedicado totalmente a esse trabalho.
Mesmo se ele tivesse, no entanto, sua decisão de retornar à PwC justifica uma preocupação por si só. Em seu tempo como contador-chefe, Bricker, sem dúvida, adquiriu um conhecimento íntimo dos pontos fortes e fracos da SEC. Ele está, atualmente, em uma posição sem dúvida melhor do que qualquer pessoa no mundo para ajudar os auditores a evitar um escrutínio regulatório. Talvez por isso, a PwC esteja tão feliz por tê-lo de volta.
A integridade das auditorias financeiras pode parecer um assunto sem graça, mas tem implicações importantes para os trabalhadores. O colapso da Enron tirou milhares de pessoas do emprego e destruiu suas economias de aposentadoria. Os auditores das "Grandes Quatro" negligenciaram grande parte da fraude que ajudou a travar a economia em 2007.
Idealmente, poderíamos confiar que os reguladores de todo o sistema estavam trabalhando firmemente para avançar e defender o interesse público. Como a trajetória de carreira de Bricker demonstra, no entanto, essa confiança pode ser irracional.
Fonte: SEC Chief Accountant's Trip(s) through the Revolving Door are Emblematic of a Broader Problem, Eleanor Eagan, Center for Economic and Policy Research (CEPR)
26 setembro 2019
Escondendo dinheiro do fisco e do cônjuge
Alguns milionários canadenses criaram, no final do século passado, um esquema para reduzir a tributação e, ao mesmo tempo, esconder seu dinheiro do cônjuge. O esquema incluía transferência de dinheiro para um paraíso fiscal (Ilhas de Man) e doação para entidades do terceiro setor, como museus.
O esquema vazou e as autoridades fiscais do Canadá determinaram que os documentos relacionados com a investigação fossem “preservados”. Isto ocorreu em outubro de 2012. Um mês depois, as empresas de fachada criadas na Ilha de Man aprovaram uma resolução onde os documentos seriam destruídos.
Desde então, o governo do Canadá tenta reconstituir a contabilidade destas empresas. Mesmo solicitando a documentação, alguns dos envolvidos alegaram segredo da relação entre advogado e cliente.
A história foi contada pelo GoingConcern por Adrienne Gonzalez. Um detalhe importante: o esquema de evasão de impostos e ocultação de riqueza do cônjuge foi criado e mantido por uma empresa de auditoria: a KPMG do Canadá. Isto inclui as empresas de fachadas, criadas pela KPMG.
O esquema vazou e as autoridades fiscais do Canadá determinaram que os documentos relacionados com a investigação fossem “preservados”. Isto ocorreu em outubro de 2012. Um mês depois, as empresas de fachada criadas na Ilha de Man aprovaram uma resolução onde os documentos seriam destruídos.
Desde então, o governo do Canadá tenta reconstituir a contabilidade destas empresas. Mesmo solicitando a documentação, alguns dos envolvidos alegaram segredo da relação entre advogado e cliente.
A história foi contada pelo GoingConcern por Adrienne Gonzalez. Um detalhe importante: o esquema de evasão de impostos e ocultação de riqueza do cônjuge foi criado e mantido por uma empresa de auditoria: a KPMG do Canadá. Isto inclui as empresas de fachadas, criadas pela KPMG.
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