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19 junho 2019

Nasa acusada de manipular custos

Pense em uma entidade confiável. Nasa? Não mais. A entidade responsável pelo programa espacial dos Estados Unidos pretendia levar astronauta à Lua novamente em 2024 (ou até 2024). Mas uma reportagem do Washington Post descobriu que a entidade tem problemas graves. Um relatório de prestação de contas do governo dos EUA mostrou que o custo real do programa foi manipulado na sua contabilização. Além de falta de transparência sobre os voos tripulados. Na realidade, o GAO, que fez o documento sobre a NASA, afirma que não é possível saber o custo do programa.

Apesar do atraso no programa, a Nasa continuou pagando "prêmios" para Boeing, principal fornecedora do foguete, relacionada com o desempenho. Ou seja, a Boeing atrasou o programa e sua avaliação não mudou.

Uma estimativa do custo do programa: entre 20 a 30 bilhões de dólares em cinco anos. Mas o custo do foguete, a parte mais importante do programa, não é conhecido, segundo o GAO

Auditoria de Criptomoeda

Ontem tivemos uma postagem do Pedro Correia sobre a inutilidade do Blochain. Hoje, a PwC anuncia uma solução para auditoria de transações com criptomoeda. A empresa tem um conjunto de ferramentas de auditoria que chamou de "Halo". Agora, entre as soluções, a ferramenta é capaz de

(1) provide independent, substantive evidence of the “private key and public address pairing” which is one of the pieces needed to establish ownership of cryptocurrency
(2) securely interrogate the blockchain to independently and reliably gather corroborating information about blockchain transactions and balances.

Rir é o melhor remédio


Caixa-preta do BNDES

A controversa demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES tem um motivo, segundo o presidente da república: a falta de evidenciação. Relatos indicam que Levy recebeu do presidente a missão de "abrir a caixa-preta" do BNDES. Em termos práticos, a investigação de operações de financiamentos do banco desde 2003 a 2016. Alguns meses antes, o ex-presidente do BNDES tinha afirmado que a entidade era a mais transparente do mundo. Assim, há controvérsias sobre a existência ou não de transparência na instituição.

Talvez a questão passe pela missão do BNDES. Durante os governos Lula e Dilma a entidade tinha objetivo de ajudar no crescimento do país. Eis uma discussão interessante da Época Negócios sobre o assunto:

(...) Sob gestão petista, o governo federal repassou recursos volumosos ao BNDES para que ele pudesse ampliar seus empréstimos - isso era feito por meio da emissão de títulos públicos, o que implica em aumento da dívida.

Entre 2008 e 2014, por exemplo, foram injetados no banco R$ 416,1 bilhões com essa finalidade, além de mais R$ 24,7 bilhões com destinação específica para compra de ações da Petrobras com o objetivo de capitalizar a estatal.

O resultado foi que o BNDES atingiu recordes de desembolsos (crédito concedido), chegando ao recorde de R$ 190 bilhões em 2013. A partir de 2016, esses valores caíram bruscamente, ficando em R$ 69,3 bilhões em 2018.

O crescimento das operações veio acompanhado de alta nos resultados. Em valores atualizados pela inflação, o lucro anual do banco passou de uma média de R$ 2,7 bilhões entre 2001 e 2004 para R$ 11,7 bilhões entre 2005 e 2014. Desde 2015, tem ficado abaixo de R$ 7 bilhões, refletindo o enxugamento.

Muitas das operações realizadas durante esse boom dos governos do PT, porém, viraram alvo de questionamentos.

Algumas delas foram os empréstimos para obras realizadas por empreiteiras brasileiras no exterior, em países como Venezuela, Cuba e Moçambique. As dívidas não têm sido pagas - o débito dos três países por causa dos atrasos já soma mais de R$ 2 bilhões.

(...) Além das obras financiadas no exterior, outra fonte de polêmica sobre o BNDES durante os governos do PT foram os empréstimos para grandes empresas crescerem e se internacionalizarem - conhecida como política dos "campeões nacionais".

Entre elas, a processadora de carne JBS, cujos executivos confessaram em acordos de delação terem praticado corrupção, e a operadora de telefonia Oi, que passou por recuperação judicial.

Para completar, não havia transparência sobre essas operações, já que o BNDES alegava que isso violaria o sigilo bancário das empresas. No entanto, após grande pressão de órgãos de controle e da opinião pública, o banco foi obrigado a abrir seus dados a partir de 2015, ainda no governo Dilma.

Naquele ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o BNDES atendesse a uma solicitação do Tribunal de Contas da União (TCU) para detalhar operações financeiras de R$ 7,5 bilhões com o grupo JBS. Com a decisão, o banco passou a atender a todos os pedidos do órgão de controle.

Depois, criou em seu site uma área de transparência, em que detalha as operações, e publicou recentemente o Livro Verde, com um balanço de 340 páginas da sua atuação entre 2001 e 2016.

Nesse documento, o BNDES procurou também responder às críticas sobre o financiamento de obras em países alinhados ideologicamente com os governos do PT. O banco afirma que não financia obras, mas "exportações de serviços de engenharia" do Brasil, já que os recursos emprestados para governos estrangeiros só podem ser usados para pagar empresas brasileiras.

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18 junho 2019

Petrobras não foi vítima

Muito antes da Petrobras reconhecer o problema de corrupção, uma investigação interna realizada na empresa já apontava operações suspeitas, informa a Reuters. A empresa descobriu em 2012 que estava pagando muito caro por produtos de petróleo. Um ano depois, alguns funcionários recomendaram a interrupção das transações com uma empresa em particular, a Seaview, que fazia regularmente esta operação. Mas as operações continuaram.

Segundo a investigação realizada agora, quatro grandes empresas de commodities do mundo - Vitol, Trafigura, Glencore e Mercuria - usavam a Seaview e outras empresas para pagar propinas para funcionários da Petrobras. As operações eram rotineiras entre 2011 e 2014 e ocorriam em Cingapura.

Anteriormente, a empresa alegou de forma sistemática que era “vítima” involuntária da corrupção. Muitos acreditaram nesta história (aqui também). Nas demonstrações de 2016 a empresa tentou reescrever a história do escândalo. Mas o fato de existir uma investigação interna que descobriu um problema de corrupção mostra que esta narrativa não convence, afirmou a Reuters.

In the first months of 2013, an internal debate emerged at Petrobras about whether to halt business with Seaview, according to the documents and the people. Petrobras declined to do so, they said, after some senior managers argued that the oil company could lose money by limiting the number of brokers it interacts with.

Blockchain é inútil

Ótimo artigo do professor Bruce Schneier, especialista em segurança digital e professor da Universidade de Harvard, sobre o Blockchain:

[...]

Much has been written about blockchains and how they displace, reshape, or eliminate trust. But when you analyze both blockchain and trust, you quickly realize that there is much more hype than value. Blockchain solutions are often much worse than what they replace.



[...]

What blockchain does is shift some of the trust in people and institutions to trust in technology. You need to trust the cryptography, the protocols, the software, the computers and the network. And you need to trust them absolutely, because they’re often single points of failure.

When that trust turns out to be misplaced, there is no recourse. If your bitcoin exchange gets hacked, you lose all of your money. If your bitcoin wallet gets hacked, you lose all of your money. If you forget your login credentials, you lose all of your money. If there’s a bug in the code of your smart contract, you lose all of your money. If someone successfully hacks the blockchain security, you lose all of your money. In many ways, trusting technology is harder than trusting people. Would you rather trust a human legal system or the details of some computer code you don’t have the expertise to audit?

Blockchain enthusiasts point to more traditional forms of trust—bank processing fees, for example—as expensive. But blockchain trust is also costly; the cost is just hidden. For bitcoin, that's the cost of the additional bitcoin mined, the transaction fees, and the enormous environmental waste.

Blockchain doesn’t eliminate the need to trust human institutions. There will always be a big gap that can’t be addressed by technology alone. People still need to be in charge, and there is always a need for governance outside the system. This is obvious in the ongoing debate about changing the bitcoin block size, or in fixing the DAO attackagainst Ethereum. There’s always a need to override the rules, and there’s always a need for the ability to make permanent rules changes. As long as hard forks are a possibility—that’s when the people in charge of a blockchain step outside the system to change it—people will need to be in charge.

Any blockchain system will have to coexist with other, more conventional systems. Modern banking, for example, is designed to be reversible. Bitcoin is not. That makes it hard to make the two compatible, and the result is often an insecurity. Steve Wozniak was scammed out of $70K in bitcoin because he forgot this.

[..]


These issues are not bugs in current blockchain applications, they’re inherent in how blockchain works. Any evaluation of the security of the system has to take the whole socio-technical system into account. Too many blockchain enthusiasts focus on the technology and ignore the rest.

To the extent that people don’t use bitcoin, it’s because they don’t trust bitcoin. That has nothing to do with the cryptography or the protocols. In fact, a system where you can lose your life savings if you forget your key or download a piece of malware is not particularly trustworthy. No amount of explaining how SHA-256 works to prevent double-spending will fix that.

Similarly, to the extent that people do use blockchains, it is because they trust them. People either own bitcoin or not based on reputation; that’s true even for speculators who own bitcoin simply because they think it will make them rich quickly. People choose a wallet for their cryptocurrency, and an exchange for their transactions, based on reputation. We even evaluate and trust the cryptography that underpins blockchains based on the algorithms’ reputation.

To see how this can fail, look at the various supply-chain security systems that are using blockchain. A blockchain isn’t a necessary feature of any of them. The reasons they’re successful is that everyone has a single software platform to enter their data in. Even though the blockchain systems are built on distributed trust, people don’t necessarily accept that. For example, some companies don’t trust the IBM/Maersk system because it’s not their blockchain.

Irrational? Maybe, but that’s how trust works. It can’t be replaced by algorithms and protocols. It’s much more social than that.

Still, the idea that blockchains can somehow eliminate the need for trust persists. Recently, I received an email from a company that implemented secure messaging using blockchain. It said, in part: “Using the blockchain, as we have done, has eliminated the need for Trust.” This sentiment suggests the writer misunderstands both what blockchain does and how trust works.

Do you need a public blockchain? The answer is almost certainly no. A blockchain probably doesn’t solve the security problems you think it solves. The security problems it solves are probably not the ones you have. (Manipulating audit data is probably not your major security risk.) A false trust in blockchain can itself be a security risk. The inefficiencies, especially in scaling, are probably not worth it. I have looked at many blockchain applications, and all of them could achieve the same security properties without using a blockchain—of course, then they wouldn’t have the cool name.

Honestly, cryptocurrencies are useless. They're only used by speculators looking for quick riches, people who don't like government-backed currencies, and criminals who want a black-market way to exchange money.

To answer the question of whether the blockchain is needed, ask yourself: Does the blockchain change the system of trust in any meaningful way, or just shift it around? Does it just try to replace trust with verification? Does it strengthen existing trust relationships, or try to go against them? How can trust be abused in the new system, and is this better or worse than the potential abuses in the old system? And lastly: What would your system look like if you didn’t use blockchain at all?

If you ask yourself those questions, it's likely you'll choose solutions that don't use public blockchain. And that'll be a good thing—especially when the hype dissipates.

Fonte: aqui

Retorno para Tudo

Uma das premissas do processo de avaliação é usar dados previstos. Entretanto, é muito difícil prever o futuro. Por este motivo, muitas previsões realizadas nas avaliações utilizam dos dados passados, partindo da suposição de que o futuro é uma repetição da história. Obviamente não é preciso alertar para a chance da previsão estar errada em razão desta suposição.

Mas o analista não tem muita alternativa disponível. Em certos laudos, é importante estar sustentado em algo mais “objetivo”, como são os dados passados. Por este motivo, é sempre bom estar atento as pesquisas históricas que possam ajudar nos argumentos utilizados nas avaliações.

Uma pesquisa recente utilizou dados de 1870 até 2015 para calcular alguns dos parâmetros mais importantes para a avaliação. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha reconstituíram o que ocorreu com o retorno de ativos de algumas das economias desenvolvidas. E pela primeira vez eles incluíram o retornos dos imóveis residenciais em um cálculo tão longo. Além disto, também calcularam o retorno das ações, dos títulos do governo e dos títulos de curto prazo. Estes dois últimos foram considerados como investimentos “sem risco”; imóveis e ações foram classificados como investimentos “com risco”.

Os países que foram investigados: Alemanha, Austrália, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça.

Os achados são interessantes e um deles indica que o retorno obtido com imóveis é aproximadamente o mesmo do retorno com o mercado acionário, algo em torno de 7%. Veja no gráfico abaixo que a linha verde (retorno de imóveis) acompanha o retorno do mercado de ações, mas com uma importante diferença: é menos volátil. Ou seja, no longo prazo, quem investiu em imóveis obteve o mesmo retorno, com menor risco. A pesquisa aponta, no entanto, que esta regra tem exceções: em alguns países as ações tiveram um desempenho melhor. Além disto, a diversificação com imóveis é mais difícil, já que o custo de transação é maior e a liquidez é menor. Mas os autores observam que a correlação mundial do investimento em ações é cada vez maior, reduzindo o ganho com a diversificação

Ao comparar os dois tipos de investimentos “seguros”, a pesquisa encontrou que o retorno destes títulos são mais voláteis no curto prazo. Em tempos de paz, o retorno dos ativos seguros esteve entre 1 a 3%. Assim, uma comparação usando o trade-off risco e retorno mostra que os investimentos “seguros” são ruins: são famosos por serem sem risco, mas não o são; e possuem um retorno baixo, típico de investimento sem risco. Esta equação termina ser boa para as finanças públicas dos países, como chamam a atenção a pesquisa, pois é possível lançar um título com baixo rendimento, sem ter baixo risco.

A comparação entre estes dois tipos de investimento - com e sem risco - resulta no prêmio pelo risco. Os autores encontraram que em média o prêmio foi entre 4 a 5% nos tempos de paz. Este prêmio cresceu substancialmente no período após as duas guerras, mas nos anos recentes esteve abaixo dos 4%.

Baseado nesta série histórica, uma boa estimativa para os parâmetros usados no cálculo do retorno esperado é a seguinte: Rf = 1 a 3%; Rm = 7%.

Jordà, Òscar et al. The Rate of Return on Everything, 1870–2015 December 2017 Working Paper.