Um aspecto da emissão do bônus por parte da Aramco pouco divulgado diz respeito a questão do clima. No prospecto, a empresa cita a palavra “climate change” 19 vezes. A Petrobras citou 6 vezes no seu balanço publicado em português, segundo contagem que fizemos.
Mas a Shell mencionou mudança de clima 69 vezes.
Indeed, last year the US state of Rhode Island attempted to sue a number of major oil companies, including Exxon and BP. The state accused the companies of contributing to climate change, and in turn damaging the state’s infrastructure and coastal communities; it sought damages for the costs of repairing roads and bridges, as well as “unspecified compensatory and punitive damages.” (It is currently lobbying to keep the suit in state court, rather than launch a wider federal battle.)
26 abril 2019
A prospecção da Aramco
A Saudi Aramco é uma conhecida dos leitores do blog. Já em 2017 fizemos postagens sobre o valor da empresa, sua governança, entre outros aspectos. O tempo passou e parecia que a empresa tinha esquecido a IPO, apesar da revelação de alguns números contábeis. Parecia que realmente a IPO tinha sido cancelada. As questões políticas podem ter prejudicado os planos do governo saudita.
Nos últimos meses a empresa volta a ser notícia com três fatos: (1) expansão, com aquisição de empresas; (2) divulgação dos resultados; e (3) emissão de títulos. Vamos analisar cada um dos aspectos.
Expansão - Em março, a empresa adquiriu a Saudi Basic Industires, na segunda maior operação dos últimos tempos, no valor de 69,1 bilhões de dólares, livre de dívida. Mais recente, a empresa estaria interessada em uma emrpesa indiana.
Divulgação dos resultados - Esta talvez seja a notícia mais comentada da empresa. Mais especificamente, a imprensa destacou o lucro de 111 bilhões de dólares de 2018, o que faria a empresa mais lucrativa do mundo.
Emissão de títulos - Em lugar da abertura de capital, a Aramco emitiu bonds recentemente, com maturidade de até 30 anos. Este talvez seja o fato mais importante e iremos detalhar a seguir.
Para emitir o título, a empresa preciso de uma nota de agência de rating. O Estado de S Paulo faz uma boa análise sobre a questão do rating da
Apesar do grande lucro, a gigante estatal do petróleo foi classificada por agências de crédito em linha com a Arábia Saudita, o que significa que a economia lenta do reino pesará sobre o custo de empréstimo da Aramco.
Os ratings são considerados nível de grau de investimento e indicam baixo risco de crédito, mas as agências não deram notas mais altas à Aramco devido a fortes ligações entre o reino saudita e a empresa. Especificamente, a Fitch observou "a influência que o Estado tem na empresa ao regular o nível de produção, tributação e dividendos". Sem as interferências estatais no comando da empresa, ela estaria em nível semelhante a petroleiras como Exxon Mobil, Chevron e Shell.
A Moody's disse que a Aramco pagou US $ 58,2 bilhões em dividendos em 2018 e US $ 50,4 bilhões em 2017. Ainda não está claro como esses dividendos são distribuídos dentro da monarquia saudita e de sua família governante. Já a Fitch disse que a Aramco respondeu por cerca de 70% da receita orçamentária do governo saudita entre 2015-2017, mas não ficou claro se esse número incluía os dividendos mencionados pela Moody's.
A questão importante disto é o prêmio pago pela empresa. Na emissão de três anos, o prêmio ficou 0,55% acima dos juros dos EUA (que corresponde a 2,288%). No título de cinco anos, o prêmio foi de 0,75%. Para os títulos de 10 anos, o prêmio foi de 1,05% e de 20 anos foi de 1,4%. (Fonte aqui) Nada mal, considerando a previsão da empresa, muito embora a emissão tenha sido feita após a divulgação do resultado (onde, veremos, existe um “detalhe” importante que ficou “esquecido”). E que a empresa cancelou/adiou a oferta de ações, o que poderia sinalizar problemas.
Neste sentido, a Reuters escutou alguns especialistas que concordaram que o lançamento do bônus foi positivo para a empresa. Um CIO disse que é um “crédito fantástico”, lembrando que a empresa é parte do governo da Arábia Saudita. Mas esta questão (e o problema da governança) é muito maior no lançamento de ações, o que não seria o caso.
Razão da Emissão - A questão mais interessante é qual a razão da empresa fazer uma emissão de títulos? Afinal é a empresa com o maior lucro do mundo, que gerou um caixa livre de 86 bilhões de dólares e possuía, em 31/12/2018, 48 bilhões de dólares em caixa.
"Esse título está sendo emitido por duas razões: para estabelecer o status da Aramco como uma identidade corporativa independente e para permitir a transferência de riqueza para fora da empresa", disse Marcus Chenevix, no texto da Reuters
Continua a agência de notícia:
Muitos vêem o acordo como um exercício de construção de relacionamento com investidores internacionais antes de sua oferta pública inicial programada, prevista para o ano passado e depois adiada para 2021.
Detalhe importante - Comentei, anteriormente, sobre um detalhe "esquecido" do resultado da empresa. Este detalhe é a alíquota do imposto de renda. Até 2017, o percentual da alíquota era de 85%. Recentemente o governo reduziu a alíquota para 50% (veja o prospecto, onde isto está dito).
Agora imagine um governo cuja a principal fonte de renda é uma empresa que paga 85% do seu lucro. De um exercício para outro a alíquota é reduzida. Usando a alíquota de 85%, a Aramco deveria ter um tributo de 181 bilhões de dólares, reduzindo seu lucro para 31 bilhões. Ou seja, o governo abriu mão de 80 bilhões de dólares de receita tributária. (Para fins de comparação, o PIB da Arábia Saudita é de 680 bilhões. Ou seja, "perdeu" 12% do PIB de receita)
A questão da governança aqui torna complicada esta questão. Se o dinheiro não foi para o governo, foi para o acionista, que é ...
Nos últimos meses a empresa volta a ser notícia com três fatos: (1) expansão, com aquisição de empresas; (2) divulgação dos resultados; e (3) emissão de títulos. Vamos analisar cada um dos aspectos.
Expansão - Em março, a empresa adquiriu a Saudi Basic Industires, na segunda maior operação dos últimos tempos, no valor de 69,1 bilhões de dólares, livre de dívida. Mais recente, a empresa estaria interessada em uma emrpesa indiana.
Divulgação dos resultados - Esta talvez seja a notícia mais comentada da empresa. Mais especificamente, a imprensa destacou o lucro de 111 bilhões de dólares de 2018, o que faria a empresa mais lucrativa do mundo.
Emissão de títulos - Em lugar da abertura de capital, a Aramco emitiu bonds recentemente, com maturidade de até 30 anos. Este talvez seja o fato mais importante e iremos detalhar a seguir.
Para emitir o título, a empresa preciso de uma nota de agência de rating. O Estado de S Paulo faz uma boa análise sobre a questão do rating da
Apesar do grande lucro, a gigante estatal do petróleo foi classificada por agências de crédito em linha com a Arábia Saudita, o que significa que a economia lenta do reino pesará sobre o custo de empréstimo da Aramco.
Os ratings são considerados nível de grau de investimento e indicam baixo risco de crédito, mas as agências não deram notas mais altas à Aramco devido a fortes ligações entre o reino saudita e a empresa. Especificamente, a Fitch observou "a influência que o Estado tem na empresa ao regular o nível de produção, tributação e dividendos". Sem as interferências estatais no comando da empresa, ela estaria em nível semelhante a petroleiras como Exxon Mobil, Chevron e Shell.
A Moody's disse que a Aramco pagou US $ 58,2 bilhões em dividendos em 2018 e US $ 50,4 bilhões em 2017. Ainda não está claro como esses dividendos são distribuídos dentro da monarquia saudita e de sua família governante. Já a Fitch disse que a Aramco respondeu por cerca de 70% da receita orçamentária do governo saudita entre 2015-2017, mas não ficou claro se esse número incluía os dividendos mencionados pela Moody's.
A questão importante disto é o prêmio pago pela empresa. Na emissão de três anos, o prêmio ficou 0,55% acima dos juros dos EUA (que corresponde a 2,288%). No título de cinco anos, o prêmio foi de 0,75%. Para os títulos de 10 anos, o prêmio foi de 1,05% e de 20 anos foi de 1,4%. (Fonte aqui) Nada mal, considerando a previsão da empresa, muito embora a emissão tenha sido feita após a divulgação do resultado (onde, veremos, existe um “detalhe” importante que ficou “esquecido”). E que a empresa cancelou/adiou a oferta de ações, o que poderia sinalizar problemas.
Neste sentido, a Reuters escutou alguns especialistas que concordaram que o lançamento do bônus foi positivo para a empresa. Um CIO disse que é um “crédito fantástico”, lembrando que a empresa é parte do governo da Arábia Saudita. Mas esta questão (e o problema da governança) é muito maior no lançamento de ações, o que não seria o caso.
Razão da Emissão - A questão mais interessante é qual a razão da empresa fazer uma emissão de títulos? Afinal é a empresa com o maior lucro do mundo, que gerou um caixa livre de 86 bilhões de dólares e possuía, em 31/12/2018, 48 bilhões de dólares em caixa.
"Esse título está sendo emitido por duas razões: para estabelecer o status da Aramco como uma identidade corporativa independente e para permitir a transferência de riqueza para fora da empresa", disse Marcus Chenevix, no texto da Reuters
Continua a agência de notícia:
Muitos vêem o acordo como um exercício de construção de relacionamento com investidores internacionais antes de sua oferta pública inicial programada, prevista para o ano passado e depois adiada para 2021.
Detalhe importante - Comentei, anteriormente, sobre um detalhe "esquecido" do resultado da empresa. Este detalhe é a alíquota do imposto de renda. Até 2017, o percentual da alíquota era de 85%. Recentemente o governo reduziu a alíquota para 50% (veja o prospecto, onde isto está dito).
Agora imagine um governo cuja a principal fonte de renda é uma empresa que paga 85% do seu lucro. De um exercício para outro a alíquota é reduzida. Usando a alíquota de 85%, a Aramco deveria ter um tributo de 181 bilhões de dólares, reduzindo seu lucro para 31 bilhões. Ou seja, o governo abriu mão de 80 bilhões de dólares de receita tributária. (Para fins de comparação, o PIB da Arábia Saudita é de 680 bilhões. Ou seja, "perdeu" 12% do PIB de receita)
A questão da governança aqui torna complicada esta questão. Se o dinheiro não foi para o governo, foi para o acionista, que é ...
Big Data e Ciência
Zhang mostra com a grande presença de dados criou uma crise na ciência. O seu argumento parte de uma história envolvendo o estatístico Ronald Fisher. Uma senhora fez uma afirmação de que seria capaz de separar corretamente uma bebiba. Usando oito xícaras, Fisher distribuiu xícaras aleatoriamente para que a senhora provasse, sendo quatro de um sabor e quatro de outro. Lidando com uma distribuição hipergeométrica, ao acertar todos as xícaras, Fisher calculou que a chance do acerto ser por advinhação seria de 1,4%.
O processo usado por Fisher corresponde a construir uma hipótese, coletar dados e analisar o resultado. O problema é que o grande número de dados torna difícil fazer isto nos dias atuais.
Por exemplo, os cientistas podem agora coletar dezenas de milhares de expressões genéticas de pessoas, mas é muito difícil decidir se alguém deve incluir ou excluir um gene em particular na hipótese. Nesse caso, é atraente formar a hipótese baseada nos dados. Embora tais hipóteses possam parecer convincentes, as inferências convencionais dessas hipóteses são geralmente inválidas. Isso ocorre porque, em contraste com o processo do “de degustação da senhora”, a ordem de construir a hipótese e ver os dados se inverteu.
Se um cientista hoje usar 100 senhoras que não sabem distinguir o sabor após provar todas as oito xícaras. Mas existe uma chance de 75,6% de pelo menor uma pessoa advinhar, por sorte, o sabor. Se a análise fosse feita somente para esta pessoa, poderia concluir que ela tem condição de fazer a distinção entre os sabores. O problema é que o resultado não é reproduzível.
Se a mesma senhora fizesse o experimento novamente, ela provavelmente classificaria os copos erroneamente - não tendo a mesma sorte que na primeira vez - já que ela não poderia realmente dizer a diferença entre eles.
O exemplo mostra como algumas pesquisas, nos dias atuais, dependem de “sorte” para produzir resultados desejados.
O processo usado por Fisher corresponde a construir uma hipótese, coletar dados e analisar o resultado. O problema é que o grande número de dados torna difícil fazer isto nos dias atuais.
Por exemplo, os cientistas podem agora coletar dezenas de milhares de expressões genéticas de pessoas, mas é muito difícil decidir se alguém deve incluir ou excluir um gene em particular na hipótese. Nesse caso, é atraente formar a hipótese baseada nos dados. Embora tais hipóteses possam parecer convincentes, as inferências convencionais dessas hipóteses são geralmente inválidas. Isso ocorre porque, em contraste com o processo do “de degustação da senhora”, a ordem de construir a hipótese e ver os dados se inverteu.
Se um cientista hoje usar 100 senhoras que não sabem distinguir o sabor após provar todas as oito xícaras. Mas existe uma chance de 75,6% de pelo menor uma pessoa advinhar, por sorte, o sabor. Se a análise fosse feita somente para esta pessoa, poderia concluir que ela tem condição de fazer a distinção entre os sabores. O problema é que o resultado não é reproduzível.
Se a mesma senhora fizesse o experimento novamente, ela provavelmente classificaria os copos erroneamente - não tendo a mesma sorte que na primeira vez - já que ela não poderia realmente dizer a diferença entre eles.
O exemplo mostra como algumas pesquisas, nos dias atuais, dependem de “sorte” para produzir resultados desejados.
Conta no Instagram fiscaliza gasto caros de pastores
- Uma conta do Instagram está postando fotos de pastores dos EUA com suas roupas de grifes
- E o valor de cada produto
Uma conta do Instagram, denominada PreachersNSneakers, está provocando uma mudança de comportamento de um grupo de pessoas: pastores de igrejas. Nos Estados Unidos, não no Brasil. A conta basicamente posta fotografias de pastores de celebridades usando roupas de grife caras. Ao lado, o custo de cada material. Veja uma postagem do pastor John Gray com um tênis que custa 5,6 mil dólares ou quase 22 mil reais.
Os pastores e seguidores mais fieis dizem que são presentes que ganham ou que são compras realizadas com dinheiro que obtiveram. Mas não deixa de ser um gasto frívolo e esbanjador, usualmente condenado por muitas religiões. Vários dos pastores possuem amizade com celebridades, como Chad Veach, amigo de Justin Bieber. Alguns deles mudaram suas contas no Instagram.
Fonte: Oh No They didn´t (um site sobre celebridades)
25 abril 2019
Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 6
Se você chegou até aqui, lendo todas as postagens, deve ter notado um aspecto importante: um grande destaque dos relatórios foi a greve dos caminhoneiros. Qual a razão?
Contabilidade e Eleições: Demonstrações de 2018 - Parte 5
- Usando os dados de algumas demonstrações com exercício findo em 31/12/2018, o blog fez uma seleção de trechos onde alguns dos fatos que ocorreram no ano foram considerados por parte das empresas.
- Começamos com as eleições e na parte 1 já demos os parabéns para as empresas que não ignoraram o fato político.
- Na segunda parte comentamos como algumas empresas aproveitaram da eleição.
- Na parte 3 comentamos que algumas empresas fizeram comentários otimistas e poucas foram pessimistas/realistas.
Nesta análise merece destaque o relatório da Sabesp, que apresentou como as eleições são relevantes em uma empresa com propriedade do estado. O trecho é longo, mas vale a pena:
Refletindo as mudanças no ambiente governamental motivadas pelas eleições para governador do estado e para a presidência da república, em 2018 a alta direção da Companhia passou por duas alterações relevantes. A primeira em maio, quando a Sra. Karla Bertocco assumiu a posição de presidente da Sabesp, em substituição ao Sr. Jerson Kelman. A segunda ocorreu em dezembro, quando a Sra. Karla deixou o cargo que, no início de janeiro de 2019, passou a ser ocupado pelo Sr. Benedito Braga. (...) A empresa [sobre a Lei Estadual 16.525 que criou uma empresa para exercer o controle acionário da Sabesp] ainda não foi criada e, devido às eleições para o governo estadual no segundo semestre de 2018, a operação foi suspensa e a Companhia está atualmente aguardando orientações do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização. (...) Em meio a um ambiente político bastante incerto em função das eleições para os governos estadual e federal, a Companhia registrou o início de mais uma parceria histórica: um acordo com o Município de Guarulhos para equacionamento da dívida com a Sabesp e a transferência da operação dos serviços de água e esgoto do município para a Companhia. (...) Na Renda Fixa, preponderaram as estratégias focadas em títulos públicos federais, que se valorizaram pelo resultado das eleições presidenciais, considerando favorável pelos agentes de mercado a uma agenda de reformas e de cunho liberal.
Observe que o trecho fala na mudança da gestão - em razao da política do estado - e incerteza quanto as alterações societárias.
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