24 abril 2019
23 abril 2019
TCU recomenda blockchain
Recebido do Tiago Mota (grato). O TCU recomendou a adoção de blockchain na prestação de contas. Faz sentido? Veja o trecho:
9.3. determinar que, nos termos dos arts. 250, II, e 251 do RITCU, a Agência Nacional do Cinema adote as seguintes medidas: (...)
9.3.4. atente para o eventual emprego de novas tecnologias da informação, a exemplo do uso de blockchain, no bojo dos procedimentos de prestação de contas, com a subsequente análise dessas contas via robô virtual em prol do órgão federal repassador, podendo contribuir não apenas para a maior celeridade e efetividade no processo de prestação de contas dos repasses de recursos federais, mas também para a maior fidedignidade e confiabilidade das informações prestadas, de sorte a merecer os devidos estudos técnicos para o real desenvolvimento do aludido emprego, a partir da necessária implementação do correspondente projeto piloto para a efetiva aplicação dessas novas tecnologias da informação em determinado segmento de prestações de contas junto à Ancine, (...);
Mais notícias da BT
- Em 2017 foi descoberto um escândalo contábil na BT da Itália
- O problema envolvia a manipulação da receita para que a filial atingisse metas de desempenho
- A investigação revelou recentemente que executivos da matriz inglesa incentivaram as práticas ilegais que ocorreram na Itália
No início de 2017 surgiram as primeiras notícias que algo de estranho tinha ocorrido na filial italiana da empresa BT. Haveria manipulação da receita, o que levou a matriz a trocar a empresa de auditoria, depois de 33 anos trabalhando com a PwC.
No início novas informações mostraram que os executivos deveria apresentar sua defesa no caso. A BT afirmava que os principais executivos não sabiam do problema, sendo o problema originário da filial italiana. Mas a investigação na Itália parece que está revelando que a matriz também tem sua parcela de culpa.
Segundo a Reuters, a matriz britânica fez pedidos insistentes no sentido da filial italiana conseguir atingir as metas, mesmo usando práticas contábeis agressivas e erradas. Um dos envolvidos era diretor financeiro da BT Europe.
Anteriormente, a BT dizia ser vítima dos fraudadores; com as novas provas, que incluem e-mails trocados entre a matriz e a filial italiana, três executivos baseados em Londres estão também sendo acusados de cumplicidade na fraude. Esta fraude inclui falsificação de nota fiscal, com transações fictícias e modo a cumprir as metas.
22 abril 2019
Estacionamento no Shopping
Se você acha que o preço do estacionamento do Shopping é elevado, a demonstração contábil da BR Malls mostra que ... você está certo. A BR Malls teve receita de 1,196 bilhão de reais em 2018. A receita de Alugueis foi de 914 milhões. Mas os shoppings obtiveram 258 milhões com estacionamento. O quadro a seguir foi retirado das demonstrações contábeis da empresa:
P/L volta a aumentar
O gráfico mostra a mediana do índice P/L. Após três anos de queda, que corresponde aos anos de recessão brasileira, o índice voltou a crescer em 2017 e também em 2018. O valor de 2018, por sinal, é um pouco superior ao de 2013: 9,49 versus 9,47. Este índice mostra o tempo de retorno quando alguém decide investir em uma ação. No final de 2016 eram necessários 5,63 anos para recuperar o investimento.
Outra forma de interpretar o número é considerar que o inverso corresponde ao retorno do mercado. Em 2018 isto corresponde a 10,54%, enquanto em 2016 era 17,76%.
(Usamos a mediana, pois é uma medida que não é influenciada pelos valores extremos. A fonte primária dos dados é a Economática.)
Outra forma de interpretar o número é considerar que o inverso corresponde ao retorno do mercado. Em 2018 isto corresponde a 10,54%, enquanto em 2016 era 17,76%.
(Usamos a mediana, pois é uma medida que não é influenciada pelos valores extremos. A fonte primária dos dados é a Economática.)
Efeito do acordo judicial na Oi
Mais de um mês após sua divulgação, as demonstrações contábeis da Oi ainda causam estranheza. Não pelo fato da empresa ter divulgado um “Ebitda de rotina”; nada de estranho ocorre quando a palavra “Ebitda” é escrita ou pronunciada.
Com quase 60 milhões de clientes, é a maior empresa brasileira de telefonia fixa, um negócio em declínio, e a quarta empresa de telefonia móvel. A Oi é uma empresa em recuperação judicial desde 2016. No início de 2018, um Plano de Recuperação Judicial foi homologado, o que resultou na reestruturação da dívida e aumento de capital da empresa. As consequências disto são as mais diversas possíveis, mas destaco dois aspectos:
a) a composição do endividamento foi substancialmente alterada - no final de 2017 a empresa tinha dívidas de curto prazo de 54,6 bilhões, sendo 39,7 em moeda estrangeira. A dívida líquida total da empresa era de 47,6 bilhões. Um ano depois, a dívida de curto prazo é muito pequena (673 milhões) e a dívida líquida reduziu para 11,8 bilhões.
b) reversão do prejuízo líquido para um substancial lucro líquido - Se em 2017 a empresa teve um prejuízo de 6,4 bilhões (para uma receita de 23,8 bilhões), em 2018 o resultado foi de 24,6 bilhões, para uma receita um pouco menor.
A estranheza contábil está justamente neste dois aspectos. Antes de detalhar, é bom lembrar que o fluxo de caixa das atividades operacionais caiu de 4,4 bilhões para 2,9 bilhões de reais. A margem bruta foi de 37% para 29%, já que a receita caiu e os custos aumentaram. E o patrimônio líquido, que era negativo em 13,8 bilhões, estava positivo no final de dezembro de 2018, em 22,9 bilhões. Parece mágina, mas não é.
A resposta para a mudança está na reestruturação da dívida. Com este fato, o passivo de curto prazo foi parcialmente transformado em passivo de longo prazo. Uma dívida que tinha um valor contábil de 54,6 bilhões passou a valer menos, graças ao acordo judicial. A contrapartida da “redução” da dívida foi uma receita financeira. Assim, conforme a nota explicativa 6 do balanço da empresa, teve um “ganho de reestruturação” de 11,1 bilhões, além de uma mudança no “ajuste a valor presente”, de 13,3 bilhões. Isto somado a uma reversão de 4,1 bilhões e outros valores menores, fez com que a Oi tivesse uma “receita financeira” de 30,95 bilhões. Quando confrontado com as despesas financeiras e outros encargos, tem-se um “resultado financeiro” de 26,6 bilhões de reais. Como o lucro líquido foi de 24,6 bilhões, foi somente com o “resultado financeiro” que a empresa obteve lucro.
O interesse contábil desta história é o fato de que ao renegociar sua dívida, reconhecendo que a empresa não teria condições de honrar seus compromissos, a Oi terminou MELHORANDO seu resultado. As novas condições do endividamento permitiu este fato. Mas isto realmente causa uma certa estranheza.
Com quase 60 milhões de clientes, é a maior empresa brasileira de telefonia fixa, um negócio em declínio, e a quarta empresa de telefonia móvel. A Oi é uma empresa em recuperação judicial desde 2016. No início de 2018, um Plano de Recuperação Judicial foi homologado, o que resultou na reestruturação da dívida e aumento de capital da empresa. As consequências disto são as mais diversas possíveis, mas destaco dois aspectos:
a) a composição do endividamento foi substancialmente alterada - no final de 2017 a empresa tinha dívidas de curto prazo de 54,6 bilhões, sendo 39,7 em moeda estrangeira. A dívida líquida total da empresa era de 47,6 bilhões. Um ano depois, a dívida de curto prazo é muito pequena (673 milhões) e a dívida líquida reduziu para 11,8 bilhões.
b) reversão do prejuízo líquido para um substancial lucro líquido - Se em 2017 a empresa teve um prejuízo de 6,4 bilhões (para uma receita de 23,8 bilhões), em 2018 o resultado foi de 24,6 bilhões, para uma receita um pouco menor.
A estranheza contábil está justamente neste dois aspectos. Antes de detalhar, é bom lembrar que o fluxo de caixa das atividades operacionais caiu de 4,4 bilhões para 2,9 bilhões de reais. A margem bruta foi de 37% para 29%, já que a receita caiu e os custos aumentaram. E o patrimônio líquido, que era negativo em 13,8 bilhões, estava positivo no final de dezembro de 2018, em 22,9 bilhões. Parece mágina, mas não é.
A resposta para a mudança está na reestruturação da dívida. Com este fato, o passivo de curto prazo foi parcialmente transformado em passivo de longo prazo. Uma dívida que tinha um valor contábil de 54,6 bilhões passou a valer menos, graças ao acordo judicial. A contrapartida da “redução” da dívida foi uma receita financeira. Assim, conforme a nota explicativa 6 do balanço da empresa, teve um “ganho de reestruturação” de 11,1 bilhões, além de uma mudança no “ajuste a valor presente”, de 13,3 bilhões. Isto somado a uma reversão de 4,1 bilhões e outros valores menores, fez com que a Oi tivesse uma “receita financeira” de 30,95 bilhões. Quando confrontado com as despesas financeiras e outros encargos, tem-se um “resultado financeiro” de 26,6 bilhões de reais. Como o lucro líquido foi de 24,6 bilhões, foi somente com o “resultado financeiro” que a empresa obteve lucro.
O interesse contábil desta história é o fato de que ao renegociar sua dívida, reconhecendo que a empresa não teria condições de honrar seus compromissos, a Oi terminou MELHORANDO seu resultado. As novas condições do endividamento permitiu este fato. Mas isto realmente causa uma certa estranheza.
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