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22 abril 2019

Efeito do acordo judicial na Oi

Mais de um mês após sua divulgação, as demonstrações contábeis da Oi ainda causam estranheza. Não pelo fato da empresa ter divulgado um “Ebitda de rotina”; nada de estranho ocorre quando a palavra “Ebitda” é escrita ou pronunciada.

Com quase 60 milhões de clientes, é a maior empresa brasileira de telefonia fixa, um negócio em declínio, e a quarta empresa de telefonia móvel. A Oi é uma empresa em recuperação judicial desde 2016. No início de 2018, um Plano de Recuperação Judicial foi homologado, o que resultou na reestruturação da dívida e aumento de capital da empresa. As consequências disto são as mais diversas possíveis, mas destaco dois aspectos:

a) a composição do endividamento foi substancialmente alterada - no final de 2017 a empresa tinha dívidas de curto prazo de 54,6 bilhões, sendo 39,7 em moeda estrangeira. A dívida líquida total da empresa era de 47,6 bilhões. Um ano depois, a dívida de curto prazo é muito pequena (673 milhões) e a dívida líquida reduziu para 11,8 bilhões.

b) reversão do prejuízo líquido para um substancial lucro líquido - Se em 2017 a empresa teve um prejuízo de 6,4 bilhões (para uma receita de 23,8 bilhões), em 2018 o resultado foi de 24,6 bilhões, para uma receita um pouco menor.

A estranheza contábil está justamente neste dois aspectos. Antes de detalhar, é bom lembrar que o fluxo de caixa das atividades operacionais caiu de 4,4 bilhões para 2,9 bilhões de reais. A margem bruta foi de 37% para 29%, já que a receita caiu e os custos aumentaram. E o patrimônio líquido, que era negativo em 13,8 bilhões, estava positivo no final de dezembro de 2018, em 22,9 bilhões. Parece mágina, mas não é.

A resposta para a mudança está na reestruturação da dívida. Com este fato, o passivo de curto prazo foi parcialmente transformado em passivo de longo prazo. Uma dívida que tinha um valor contábil de 54,6 bilhões passou a valer menos, graças ao acordo judicial. A contrapartida da “redução” da dívida foi uma receita financeira. Assim, conforme a nota explicativa 6 do balanço da empresa, teve um “ganho de reestruturação” de 11,1 bilhões, além de uma mudança no “ajuste a valor presente”, de 13,3 bilhões. Isto somado a uma reversão de 4,1 bilhões e outros valores menores, fez com que a Oi tivesse uma “receita financeira” de 30,95 bilhões. Quando confrontado com as despesas financeiras e outros encargos, tem-se um “resultado financeiro” de 26,6 bilhões de reais. Como o lucro líquido foi de 24,6 bilhões, foi somente com o “resultado financeiro” que a empresa obteve lucro.

O interesse contábil desta história é o fato de que ao renegociar sua dívida, reconhecendo que a empresa não teria condições de honrar seus compromissos, a Oi terminou MELHORANDO seu resultado. As novas condições do endividamento permitiu este fato. Mas isto realmente causa uma certa estranheza.

Riqueza em Game of Thrones

Qual é o valor de um dragão? Esta foi a grande pergunta para quem se dispôs a avaliar as fortunas das dinastias que movem Game of Thrones, a épica série que voltou para a HBO a 14 de abril.

A saga do Game of Thrones mistura cavaleiros medievais, castelos, bruxaria, zombies e dragões, mas, no fundo, é uma competição entre nove famílias muito abastadas. A Bloomberg News tem prática em calcular o património dos bilionários do mundo real. Por isso, decidimos criar um ranking dos mais ricos de Westeros, comparando quanto tinham no início da série e quanto têm antes da oitava e última temporada.

Material é o que não falta. Os cinco livros de George R.R. Martin foram transformados em mais de 60 horas de drama na TV, em alguns casos com desdobramentos bastante diferentes do que o autor escreveu. Usar essas informações para calcular o património das famílias dominantes desde o começo da série até os episódios finais é mais complexo do que levantar testamentos, demonstrações financeiras e dados de fundos de investimento para desvendar quem são os bilionários do planeta.

"Os livros detalham bastante a situação económica de cada família", mas nem tudo aparece no programa, disse o crítico Adam Whitehead, elogiado pelo próprio Martin.

Especialistas em finanças — e em Game of Thrones — ajudaram-nos a calcular os ativos dos Stark, Lannister e outras casas da nobreza. Para todos eles, no fim das contas, a grande pergunta foi: quanto vale um dragão?

Três ovos de dragão revertem a fortuna dos falidos herdeiros da Casa Targaryen. No mundo da fantasia do Game of Thrones, os dragões foram extintos há algumas gerações. Quando adultos, os dragões de Daenerys Targaryen são fonte de poder quase incomparável. Alguns métodos podem ajudar a estimar o seu preço. Um deles é compará-los à força de soldados humanos, propôs Michael Whitmire, presidente da companhia de contabilidade em nuvem FloQast.

"Quantos humanos seriam necessários para alguém escolher um grupo de pessoas em vez de um dragão", questionou. Há poucas batalhas na série que colocam os dragões diretamente contra soldados humanos. Quando lutam, os dragões quase sempre derretem a concorrência. Literalmente.

"Se tiver dragões ganha um dos maiores benefícios económicos do mundo".

A determinada altura, uma transação entre a Daenerys e comerciantes quase é fechada e estabelecido um preço. Daenerys concorda em trocar um dos seus dragões bebés por 8.000 soldados escravizados e cerca 5.000 aprendizes. Ficou logo claro que a troca era uma apenas um truque. Daenerys ordena o seu dragão a incinerar os comerciantes e liberta os escravos.

Tratando-se de ativos difíceis de vender e sem comparação no mercado, especialistas em finanças provavelmente usariam dois métodos de cálculo, explicou Steve Schuetz, diretor da Valuation Research Corporation e viciado em Game of Thrones. Um é avaliar quanto custa ter um dragão — o tempo e dinheiro necessários para adquirir um ovo, chocá-lo e então criar e treinar o bebé. Outro método, o da renda gerada, calcula quanto um dragão pode gerar para o seu dono ou a potencial destruição que pode evitar.

Quando rivais descobrem a existência dos dragões da Casa Targaryen, a situação complica-se. Schuetz lembra que ameaças ajudam a determinar o risco e o desconto a ser aplicado ao valor de um dragão.

Os rankings abaixo baseiam-se em grande parte no trabalho de Whitehead, mas a Bloomberg concordou com outros especialistas, que argumentam que os dragões superam todos os outros ativos.

"Quem tem dragões tem o maior benefício económico naquele momento", disse Schuetz. "Quem tem dragões tem a capacidade não só de se proteger, mas de ser agressivo e pegar o que quiser."

Dada a escolha, qualquer um preferiria ter dragões.

Casa Targaryen
Classificação atual: 1
Classificação inicial: 9

No início da saga, a dinastia que um dia dominou Westeros não tem onde morar, sofre tentativas de assassinato e possui apenas o peso do seu nome e três ovos de dragão. Porém a sorte da família então mais pobre do Game of Thrones muda radicalmente. Além dos dragões, Daenerys Targaryen chega ao final da história tendo controlo de um exército, do Rochedo Casterly, da Casa Lannister e das cidades de Slaver’s Bay.

Casa Lannister
Classificação atual: 2
Classificação inicial: 1

O vasto património da família pode ser quantificado pelos 3 milhões de dragões de ouro em empréstimos concedidos ao Rei Robert Baratheon, além de exércitos bem equipados e comércio com cidades livres como Braavos. O acesso ao sistema financeiro global ajuda os Lannister a manter controlo do Trono de Ferro. Cersei cumpre a promessa de pagar dívidas com o Iron Bank e usa outro empréstimo para contratar 20.000 mercenários.

Casa Arryn

Classificação atual: 3
Classificação inicial: 3

As montanhas que formam a defesa natural do Vale são um ativo importante da família, permitindo que o povo trabalhe na terra e noutras atividades sem enfrentar guerras. O Vale abriga o porto de Gulltown, o mais perto da cidade livre de Braavos. Os Cavaleiros do Vale têm cavalos e valem bem mais do que soldados a pé.

Casa Stark
Classificação atual: 4
Classificação inicial: 4

Os Stark e as suas casas vassalas podem controlar mais terras, mas são pouco habitadas e difíceis de percorrer. Madeira, ferro e prata oferecem oportunidades de desenvolvimento, porém a mão de obra limitada e o inverno que se avizinha atrapalham essas empreitadas. Assim como a Sibéria, o Norte é um lugar onde é difícil lutar e prosperar.

Casa Greyjoy
Classificação atual: 5
Classificação inicial: 7

No início da série, os Greyjoy têm poucos recursos à disposição para progredir economicamente. Mas o panorama financeiro melhora. A promessa de Euron Greyjoy de construir 1.000 navios, no final da sexta temporada, é claramente um exagero. Mas os navios são valiosos, especialmente se usados para comércio e não para invasões. A expansão da frota indica ascensão da família.

Casa Martell
Classificação atual: 6
Classificação inicial: 6

Dorne é uma região pouco povoada e com pouca terra para cultivo, mas exporta vinho e uvas. A Casa Martell tem soldados e navios, apesar de haver pouca informação sobre a quantidade. Apesar da maioria dos personagens da família morrer até o final da sétima temporada, é possível que ainda existam alguns. Oberyn disse ter oito filhas na quarta temporada.

Casa Tully
Classificação atual: 7
Classificação inicial: 5

Tully deveria ser uma região rica, com terra fértil e central. Infelizmente, a sua localização central também implica que é devastada sempre que uma guerra explode por ali. Vassalos voláteis como Walder Frey, um nobre que controla uma travessia determinante para a rota comercial, implica menos receitas de impostos no início da série.

O Tully mais importante a sobreviver fica prisioneiro dos Frey e dá ordens aos seus soldados para se renderem. Não é claro se sobrou alguma fortuna no fim da série.

Casa Baratheon
Classificação atual: 8
Classificação inicial: 8

Mesmo sentado no Trono de Ferro, o Rei Robert Baratheon não era assim tão rico. Baratheon começou a série com uma dívida de mais de 6 milhões de dragões de ouro, sendo 3 milhões devidos aos Lannister. No final da sétima temporada, os irmãos Robert, Stannis e Renly Baratheon estão mortos. Mas o filho ilegítimo de Robert, Gendry, parece ter melhor sorte ao participar da comitiva de Jon Snow.

Casa Tyrell

Classificação atual: 9
Classificação inicial: 2

No começo da série, os Tyrell disputavam com os Lannister a posição de maior fortuna de Westeros. Tinham vastas terras férteis, uma grande população pagadora de impostos e capacidade de arregimentar grandes exércitos. Porém, o seu aparato militar era considerado muito inferior aos batalhões dos Lannister.

A continuidade da família Tyrell (após a morte de Margaery e Loras) é duvidosa. Lady Olenna, que de facto comanda a família, ingere veneno após a captura de Highgarden pelos Lannister. Esta família outrora tão rica pode desaparecer.


Fonte: Aqui

Rir é o melhor remédio

Namoro em tempos modernos.

21 abril 2019

História da Contabilidade: Revista do Grêmio dos Guarda-Livros

O oitavo número da Revista do Grêmio, na sua primeira página, duas curiosidades.

Primeiro, uma nota "política":
Segundo, na mesma página, ao falar do presidente do Grêmio, Ernesto Gavião Peixoto, afirma:

versado na arte dos Diversos a Diversos

O que seria isto? Pelo contexto, me pareceu um elogio, para alguém versado em escrituração.

História da Contabilidade: Revista do Grêmio dos Guarda-livros 3

No último número existente na hemeroteca da Biblioteca Nacional (edição 8 de 1896), a Revista do Grêmio traz um balanço da Associação, assinado pelo seu presidente Ernesto Gavião Peixoto:
Sobre Ernesto, descobri que foi guarda-livros em São Paulo, com escritório na Rua Glória. Depois chegou a assinar balanços, indicando ser "Contador" (um título diferente do que temos hoje). Era bastante ligado a juri popular. No mesmo número que aparece um desenho de Ernesto e uma breve descrição da sua vida.

História da Contabilidade: Revista do Grêmio dos Guarda-Livros 2

O primeiro número da Revista do Grêmio dos Guarda-Livros, publicada em 1896, traz também uma série de problemas denominados de "recreações algebricas". Veja alguns deles a seguir:

A Revista, no seu número dois, indicava a solução dos problemas.

História da Contabilidade: Revista do Grêmio dos Guarda-livros 1

Na semana passada comentamos sobre a Revista da Associação dos Guardas-Livros. Esta revista que existiu em meados da década de 70 do século XIX tinha sede no Rio de Janeiro. Durou dois anos e três meses, mas seu conteúdo é um pouco decepcionante. Os 27 exemplares que constam da Hemeroteca da Biblioteca Nacional mostram um grande número de páginas em discussões sobre a crise de 1864.

Vinte anos depois nasce em São Paulo a Revista do Gremio dos Guarda-livros. Esta publicação possui, na hemeroteca, somente quatro exemplares, de oito páginas cada. Também de periodicidade mensal, a Revista do Grêmio é bem mais interessante. Seu primeiro número conta com discussões contábeis e inclui, no final, com a publicação de parte de um livro do Padre Antonio Vieira, Arte de Furtar.

Um detalhe importante: não foi o Padre Antonio Vieira quem escreveu este livro e sim o Padre Manuel da Costa. Mas esta autoria só ficou estabelecida anos depois.