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04 março 2019

Gerenciamento de impressão

O gráfico abaixo corresponde a primeira página das demonstrações contábeis da empresa Sul America:
Sendo uma das mais antigas empresas brasileiras, a Sul América apresenta com cuidado suas informações contábeis. Neste caso, o gráfico foi publicado no jornal Valor Econômico de 27 de fevereiro. Não encontrei uma versão digital no site de relações com investidores da empresa, mas confesso que procurei pouco. Perceberam algo de diferente no gráfico?

Resolvi refazer o gráfico em uma planilha Excel, usando os números da empresa. Veja como ficou:
A diferença da coluna do lucro é tão gritante que não chamaria isto de gerenciamento de impressão. 

Rir é o melhor remédio


03 março 2019

Pesquisa em Futebol

Uma pesquisa divulgada em fevereiro deste ano analisa algo muito interessante. Comecemos pelo título: "Twelve Eyes See More Than Eight. Referee Bias and the Introduction of Additional Assistant Referees in Soccer". Criativo e resumindo a pesquisa. No caso, a presença de árbitros adicionais no futebol e o viés. Basicamente, será que mais olhos analisando os lances modificam a forma como o futebol é conduzido?

Usando dados de duas temporadas, da Liga dos Campeões e Liga Europa, onde os principais times do mundo estavam competindo, os pesquisadores analisaram antes - na temporada 2007 a 2008 - e depois - temporadas 2013 e 2014 - se a presença de mais dois assistentes poderia resultar em mudanças, por exemplo, no número de cartões amarelos. Foram mais de dois mil jogos analisados. Sabe-se que a decisão de um juiz de futebol pode ter consequências econômicas: um time pode ganhar prêmios e ser favorecido, em detrimento de outro.

A pesquisa encontrou a existência de viés na decisão dos juízes na primeira temporada analisada, mas não na segunda, quando foram introduzidos mais dois auxiliares. E aumentou o número de cartões amarelos. Assim, a pesquisa mostrou que a medida melhorou o "controle sobre o jogo"

Olivier Verstraeten e Stijn Baert. Twelve Eyes See More Than Eight. Referee Bias and the Introduction of Additional Assistant Referees in Soccer. feb 2019.

História da Contabilidade: Aumento no relatório da Administração

O Balanço Semestral do Banco de Pernambuco, de 31 de dezembro de 1855, foi realizado pelo guarda-livros Ignacio Nunes Corrêa. Além do balanço, a Demonstração da Conta de Ganhos e Perdas do semestre e uma espécie de relatório da administração. Um aspecto curioso é que neste relatório apresenta o seguinte texto

(Publicado em Diário do Maranhão, 25 de fevereiro de 1855, ano 1, n. 129, p. 3)

História da contabilidade: Ucharia Régia

O jornal A Imprensa traz uma história relacionada com a imperatriz Maria Tereza (provavelmente Maria Tereza da Austria). A rainha, analisando as contas do palácio, verificou com uma conta de velas de sebo e o valor de sete mil rublos. Achou estranho, já que existia no palácio somente velas de cera e de azeite. Mandou investigar e descobriu que por este valor se tinha comprado uma vela de sebo. A explicação seria a seguinte:

Uma noite voltara de uma caçada o grão-duque Constantino, com o rosto cortado e os lábios rachados pelo frio. Que remédio se aplicaria? (...) um pouco de sebo derretido à luz de uma vela. (...) Por todo palácio se procurou uma vela de sebo e não houve meio de achá-la. 
- Pois compre-se, bradou impaciente o grão-duque.
Quantas, senhor?
- As que forem precisas.  

Assim foi feito e a vela foi comprada e usada para o tratamento do grão-duque. O criado que comprou a vela tinha que apresentar a conta de uma vela, mas o valor era irrisório: um libra. Assim, colocou na conta vinte libras. O fiscal, que recebeu a conta, resolveu usar a compra para desviar recursos da contabilidade do palácio e acrescentou mais um zero: 200 libras. O subintendente acrescentou mais um zero: duas mil libras. Finalmente a conta chegou para o intendente que determinou o pagamento da vela de sebo usada pelo herdeiro da coroa, no valor de vinte mil libras.

A história acima ilustra como não existia controle contábil na monarquia no passado (não quer dizer que existe nos dias de hoje). Isto está bem descrito em The Reckoning de Jacob Soll.

(A Imprensa, 11 de agosto de 1858, ano II, n. 64, p. 3. Ucharias regias)
Ucharia = despensa, local onde guardam os mantimentos

História da Contabilidade: Imposto de Renda, Computador e Análise de balanços

A luta entre a receita federal e os fraudadores do imposto de renda é mais antiga que pensamos. Nota fria, notas falsas e meia nota já eram usadas há tempos no Brasil. E esforços na tentativa de ter um instrumento que pudesse pegar os fraudadores ...

Em 1968, a receita federal começa a usar dois meios importantes para tentar reduzir as fraudes fiscais. O primeiro é um computador, instalado na sede do Ministério da Fazenda. Este computador foi chamado de pantera cor de rosa pois as unidades do equipamento, importado dos Estados Unidos, estavam pintadas de rosa. Para aqueles que não se lembram ou não viram, “pink panter” era um personagem de desenho animado e nome de um diamante que originou filmes estreados por Peter Sellers. (Vale a pena ver)

O segundo meio para reduzir fraudes foi a associação entre “novos” formulários e a análise de balanço. Veja o que disse Cleto Henrique Meyer (foto), diretor do Imposto de Renda, em 1968:

Novos formulários para declaração de rendas estão sendo ultimados. Por êsses novos modelos teremos os índices de rentabilidade das emprêsas ou dos contribuintes em geral; os índices de giro de investimento, os índices de estoques, os índices de retôrno, a relação entre as compras e as contas a pagar, etc. Com êsses elementos poderemos dar as regras do jôgo [itálico no original] ao computador, e êle denunciará as emprêsas cujos índices não apresentarem o equilíbrio necessário entre lucro, receita, despesas, estoques, etc. Perfurados os cartões com base nesses dados, o cérebro eletrônico, por um lado, fará o cálculo do impôsto, emitirá as notificações e recibos. Ao mesmo tempo, em outra operação simultânea, selecionará os contribuintes cuja confrontação de índices for suspeira [itálico no original], em desacôrdo com os padrões normais de contabilidade. Com isso esperamos fechar o cêrco em tôrno dos sonegadores. 

(O Cruzeiro, 6 de janeiro de 1968, ed 1, p. 14. Entrevista a Arlindo Silva, foto Indalécio Wanderley) (Grafia da época)

Rir é o melhor remédio