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26 fevereiro 2019

B3 e a Montanha Mágica - 1


  • O desempenho da B3 em 2018 foi excepcional, tanto em termos de lucratividade, quanto na distribuição de dividendos aos acionistas
  • Atualmente, a situação da empresa é equiparada a uma nota AAA de bônus, a melhor possível

Com um ativo de 38 bilhões de reais, sendo 2/3 financiados por capital próprio, e margem líquida de 43%, o desempenho da B3 realmente foi invejável em 2018. Os acionistas agradecem, pois irão receber 1,4 bilhão de JSCP. Parece tudo ótimo com o balanço apresentado empresa empresa. Eis o que diz o release da empresa (via aqui):

No ano de 2018, a receita total da B3 atingiu R$5.351,9 milhões, alta de 20,6% em relação a 2017. Na mesma comparação, o EBITDA recorrente cresceu 28,8% e totalizou R$3.424,5 milhões em 2018, enquanto o lucro líquido recorrente foi 26,4% maior e somou R$2.634,5 milhões.


Mais ainda:

Buscaremos manter e fortalecer nossas capacidades em operações e gestão de risco, tecnologia de ponta e inovação, relacionamento e atendimento aos clientes, engajamento com os reguladores e desenvolvimento e retenção de talentos. Ainda em 2018, demos início a uma série de projetos e ações concretas que suportam a execução desse plano. Continuaremos trabalhando com determinação para oferecer aos clientes e reguladores soluções que excedam as suas expectativas e, assim, continuar a ser a plataforma escolhida pelo mercado para a maior parte das suas necessidades”.

Se você usar o indicador de Altman para o mercado emergente, a B3 teria uma classificação de bônus correspondente a 7,95 ou AAA. A melhor nota possível.

Parece que a B3 está cumprindo com sua missão.

Fonte: Altman, E. An emerging market credit scoring system for corporate bonds. Emerging Markets Review 6 (2005) 311 –323

Rir é o melhor remédio


25 fevereiro 2019

Contabilidade pública: Caixa ou Competência


  • A adoção do regime de competência na área pública é tida como desejável
  • Entretanto, a maioria dos países adota o regime de caixa
  • Isto não significa que a contabilidade pelo regime de caixa não seja útil

Misch et al (2018), ao discutir o uso de dados diários fiscais na área pública, informa que


Mesmo que o país use o regime de caixa, o que significa não ter informações sobre contas a pagar, contas a receber, ativos não financeiros e outros, ainda assim o uso de relatórios fiscais diários seria importante:

However, despite the absence of balance sheet information (which is also often absent in formal fiscal reports for countries that use a cash basis for public accounting), access to immediate and reliable cash-based data offers many benefits, including real-time information on major fiscal aggregates. In addition, many governments are transitioning from cash- to accruals-based accounting standards, facilitated by the availability of FMIS that have full accruals-based accounting systems. It is therefore likely that over time the ability to track all stocks and flows, more or less in real time, will steadily improve as this transition takes hold.

Kraft Heinz e o modelo de gestão

  • A Kraft Heinz divulgou um problema contábil de 25 milhões de dólares, que afetou a credibilidade da empresa
  • Ao mesmo tempo, registrou uma amortização de 15 bilhões de dólares, o que levou muitos investidores a questionar o modelo de negócios baseado em aquisições e corte de custos
  • O resultado prejudicou também um acionista conhecido da empresa, Warren Buffett, que registrou seu descontentamento com uma norma contábil recente

Durante anos, o modelo de negócios da empresa 3G era bastante conhecido por trazer bons resultados: tomar empréstimo, comprar um empresa de grande porte, adotar estratégias para cortar custos (orçamento base zero e remuneração por desempenho) e gerar valor. No passado, a Kraft comprou a empresa de alimentos Heinz e adotou a mesma cartilha.

No final da semana passada, duras notícas para aqueles que acreditavam que o modelo funcionaria sempre. Em primeiro lugar, uma investigação da SEC, a entidade que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos, mostrou alguns problemas contábeis. A investigação revelou que parte dos resultados do passado deveriam ser revistos. Apesar do valor ser muito pequeno, US$25 milhões para uma empresa que fatura bilhões, a questão crucial é a credibilidade. Dito de outra forma por Jon Baumunk, professor da San Diego State University,

Em termos absolutos, 25$ milhões não é um número grande, mas põe em questão a administração

Muito pouco foi esclarecido sobre o problema contábil, mas pode ser que a pressão interna por resultado tenha levado aos erros cometidos.

A segunda notícia ruim tem sua origem na contabilidade da empresa. Os resultados do quarto trimestre estavam acompanhados de uma amortização de 15 bilhões de dólares em razão do teste de imparidade em operações nos Estados Unidos e Canadá e nas marcas Kraft e Oscar Mayer. A imprensa e os investidores estão questionando se isto não seria resultado do modelo de negócios da 3G. A falta de investimentos em marca, a mudança no mercado consumidor e o baixo crescimento das receitas seriam consequência da filosofia 3G de gestão.

Os anúncios levaram a uma queda no preço de mercado da empresa. A queda no valor de mercado indicaria uma avaliação negativa dos investidores. Os gestores apontaram, indiretamente, a forma como pretendem responder às críticas: insistindo no modelo 3G. Conforme lembrou a Bloomberg, o CEO da empresa citou a consolidação do setor na apresentação dos resultados e isto não foi gratuito.

Warren Buffett, o investidor que possui, através de sua empresa, 27% da Kraft Heinz, evidenciou os problemas no balanço anual, divulgado no sábado: perda de 25 bilhões de dólares no quarto trimestre de 2018. Mesmo assim, a empresa de Buffett teve um desempenho melhor que o mercado, crescendo no valor em 2,8%. Mas Buffett não está satisfeito com as normas contábeis:

A new GAAP rule requires us to include [ganhos/perdas contábeis não realizados] that last item in earnings. As I emphasized in the 2017 annual report, neither Berkshire’s Vice Chairman, Charlie Munger, nor I believe that rule to be sensible.

Sobre o resultado da Telefonica


  • O resultado recorde da Telefonica ocorreu muito mais em razão de uma decisão judicial do que do crescimento das receitas nos negócios de maior valor e da eficiência dos custos
  • O efeito na nova norma de reconhecimento da receita na empresa foi muito pequeno

Nas demonstrações contábeis da Telefonica, divulgado na semana passada, dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, uma grande parcela do desempenho da empresa está relacionada com uma decisão judicial sobre tributação do PIS e COFINS. De um lucro de 8,9 bilhões, recorde para empresa, mais de 3 bilhões estão relacionados com este fator. Sutilmente, no release, a empresa reduz um pouco a influencia deste fato:

Crescimento das receitas nos negócios de maior valor e eficiência em custos, aliados a efeitos não recorrentes no período, levam a lucro recorde de R$8,9 bilhões em 2018.

O crescimento das receitas totais foi de 0,6%, abaixo da inflação. Mas o texto fala em crescimento nos negócios de maior valor. O custo dos serviços prestados e mercadorias vendidas aumentou de 20,3 para 21 bilhões. Eficiência em custos?

O fluxo de caixa das operações, que não sofre influencia da decisão judicial, reduziu, de 12,6 bilhões para 11,9. Todos os dados são do balanço consolidado.


Outro aspecto interessante é que a empresa fez um comparativo sobre o valor da receita, com e sem o IFRS 15. A partir de 2018, as empresas tiveram que mudar o reconhecimento da receita, segundo uma nova norma do Iasb, adotada no Brasil. Há uma reclamação generalizada sobre a complexidade da norma e o seu custo. O balanço da Telefonica, em conjunto com outras empresas, pode lançar uma luz sobre a influência da norma no resultado das empresas. No caso da Telefonica o efeito foi praticamente nulo: a receita mudou 0,03% ou 15 milhões de reais em um total de 43 bilhões.

Diferença de gênero


  • O livro Dataclisma analisa o ser humano a partir de dados de sites de namoro
  • Destacamos dois dados sobre a diferença entre gêneros

O livro Dataclisma foi escrito por um dos fundadores do site de namoro OkCupid, Christian Rudder. A temática é muito próxima do Everybody Lies: o uso de dados da internet para tentar mostrar como o ser humano se comporta. Na capa, dois subtítutos: “quem somos” e “quando achamos que ninguém está vendo”.

O livro explora as semelhanças (parte 1), as diferenças (parte 2) e as características dos seres humanos (parte 3) e Rudder usa os dados do site de namoro para explorar os temas apresentados. A primeira parte é a melhor do livro e destaco aqui a diferença entre a avaliação que os homens fazem da sua parceiras e vice-versa. Rudder mostra que a curva de avaliação das mulheres, por parte do homens, segue uma distribuição normal; mas a avaliação dos homens, por parte das mulheres, é assimetrica à esquerda. O que significa isto? Que as mulheres são mais exigentes ao avaliar seus parceiros no site de namoro. Este fato está expresso no gráfico abaixo, onde as notas são plotadas por gênero.
Outro aspecto interessante que Rudder apresenta na obra é que as mulheres de uma determinada idade possuem preferências por parceiros de idade similar. O gráfico abaixo mostra, no eixo, a idade da mulher e em vermelho, a sua preferência por parceiros, segundo a idade. O gráfico possui uma tendência que está na linha que faz um ângulo de 45 graus.

Mas esta informação para o homem é diferente. A idade novamente é apresentada no eixo e sua preferência, em termos da idade das mulheres, encontra-se em vermelho. Os valores se afastam da linha, indicando um viés. Este tipo de informação pode ser um indicativo de que o que as pessoas fazem na internet é diferente de suas crenças confessadas.


RUDDER, C. Dataclisma. Rio de Janeiro, BestSeller, 2015.

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui