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25 janeiro 2019

Tesco: Escândalo que não era escândalo

Em 2014 a empresa de varejo britânica Tesco informou existir uma diferença no seu resultado. Logo depois, a empresa divulga um prejuízo de 6,4 bilhões de libras, que incluiu uma amortização do ativo. Em 2017, a empresa paga para encerrar a investigação, com uma multa de 129 milhões de libras, através de um acordo denominado de DPA.

Mas o próprio regulador do mercado de capitais do Reino Unido, o FRC analisou o caso e inclusive considerou que a empresa de auditoria, a PwC, não tinha responsabilidade.

O acordo realizado pela empresa em 2017, o DPA, indicou três executivos da Tesco como responsável pelas irregularidades contábeis. Em dezembro um juiz considerou que não existem provas e absolveu dois dos executivos. O terceiro foi retirado da acusação por uma questão de saúde e na quarta foi formalmente absolvido.

Rogberg (foto com a esposa), o executivo absolvido na quarta, declarou que o problema decorreu de um “julgamento contábil diferente”. Com o resultado do processo, o acordo DPA, que estava em sigilo, tornou-se público, indicando que a própria Tesco tinha feito acusações à estes três executivos. Provavelmente a empresa fez o acordo e pagou a multa para evitar um processo muito mais demorado. Além disto, os executivos que assinaram o acordo eram novos na empresa e optaram por envolver a antiga gestão nos problemas encontrados.

Contabilmente, um aspecto importante é a declaração do executivo: "julgamento contábil diferente". Este é um ponto que gera bastante discussão, envolvendo regras contábeis baseadas em princípios (que dependem muito do julgamento).

Uma lição sobre observação

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Rir é o melhor remédio


24 janeiro 2019

Ainda sobre emprego

Mostramos ontem o que ocorreu com o mercado formal de emprego do setor contábil. Em duas postagens (aqui e aqui) mostramos os estados que foram mais atingidos pela crise.

A partir dos dados, seria possível indicar alguém que não foi tão afetado pela crise em 2018 no setor contábil? Sim, com destaque para dois grupos. O primeiro são os escriturários. Ao contrário dos contadores, que tiveram uma redução no número de horas contratadas em -12%, as horas contratadas desta ocupação para os admitidos foi 4,8% maior que os demitidos.

O segundo grupo são aqueles com curso superior, completo ou incompleto. Os empregados admitidos com curso superior completo tiveram uma contratação de horas 4,66% maior que os demitidos. Com o curso incompleto este percentual foi de 1,98%.

Isto parece um pouco contraditório. Geralmente a ocupação de escriturário deveria ter um menor conjunto de habilidades e requisitos que a ocupação de contador e auditor. Assim, isto poderia refletir na contratação de empregados com curso médio completo, o que não ocorreu.

Uma possível explicação para esta contradição talvez seja o fato de que a educação tenha sustentação na teoria da sinalização e não na teoria do capital humano. Conforme defendido por Bryan Caplan e comentado anteriormente no blog. Consequência da crise?

Qual o estado foi mais afetado pela crise de emprego no setor contábil? - Parte 2

Ainda usando os dados do Caged, verificamos a relação entre o salário dos admitidos e o salário dos demitidos, em percentual. Este é um dado importante, mas é bom alertar que geralmente há uma diferença entre os salários. O Caged é um informação do mercado de trabalho formal no Brasil e os dados dizem respeito ao ano de 2018. Usamos a base de dados para acompanhar o mercado de trabalho formal no Brasil.

Em cada mês, coletamos o valor do salário do empregado do setor contábil que foi admitido e a mesma informação para o empregado demitido. Somamos os doze meses, para cada unidade da federação.

Os números a seguir mostram onde a crise, em termos monetários, foi maior. Eis os dados:

Metodologia - Usamos os dados mensais de horas contratadas por unidade da federação. O setor contábil é definido como sendo escriturários em contabilidade, técnicos em contabilidade e contadores e auditores, conforme a CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). Os dados para admitidos e demitidos, de janeiro a dezembro de 2018, foram somados. Uma limitação desta metodologia é que não leva em consideração a quantidade de horas contratadas dos empregados que foram contratados no passado e não foram demitidos. Se uma empresa tem 20 empregados, contratados a 44 horas semanais, e reduz o número de horas destes funcionários, sem qualquer demissão, isto não é considerado aqui.

Qual o estado foi mais afetado pela crise de emprego no setor contábil?

A divulgação no dia de ontem do Caged mostrou que no ano de 2018 o setor contábil não conseguiu uma recuperação, ao contrário do que ocorreu, timidamente, com a economia. O Caged é um cadastro que todo empregador encaminha mensalmente para o governo federal. Abrange o mercado formal de emprego do Brasil. A existência de multa induz a entrega das informações.

O blog Contabilidade Financeira utiliza os dados do Caged para acompanhar o mercado de trabalho do setor contábil. Ontem mostramos que 2018 foi melhor que o ano de 2017, mas que o setor contábil, nos últimos anos, tem reduzido o número de admissões, em relação ao número de demissões. Isto, de certa forma, joga no lixo a máxima de que “não existe desemprego na contabilidade” ou similar, como “mesmo em crise, o contador não fica desempregado”. Em razão da recessão, a crise reduziu o número de empregos no setor contábil em mais de 40 mil vagas. Este valor é decorrente da relação entre as admissões mensais e as demissões.

Fizemos agora também um levantamento para sabe onde a crise foi maior. E temos dois números. O primeiro diz respeito a quantidade de horas contratadas. Somamos esta quantidade para os empregados admitidos e os empregados. Depois disto relacionamos a quantidade de horas contratadas dos admitidos pela quantidade de horas dos demitidos, retiramos a unidade e multiplicamos por 100 para ter o valor em percentual. No Brasil este percentual foi de menos 0,57%.

Em termos geográficos, entretanto, há uma grande divergência nos valores. Enquanto o número de horas contratadas no estado do Tocantis cresceu em 17%, o melhor desempenho do país, o valor para o Maranhão foi de quase -4%. Se as horas contratadas no Acre reduziram em -11%, no Amapá, na mesma região Norte, cresceu em 9%.

O quadro a seguir mostra o desempenho, do pior ao melhor, entre os estados, no que diz respeito a quantidade de horas contratadas.

Metodologia - Usamos os dados mensais de horas contratadas por unidade da federação. O setor contábil é definido como sendo escriturários em contabilidade, técnicos em contabilidade e contadores e auditores, conforme a CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). Os dados para admitidos e demitidos, de janeiro a dezembro de 2018, foram somados. Uma limitação desta metodologia é que não leva em consideração a quantidade de horas contratadas dos empregados que foram contratados no passado e não foram demitidos. Se uma empresa tem 20 empregados, contratados a 44 horas semanais, e reduz o número de horas destes funcionários, sem qualquer demissão, isto não é considerado aqui.

Quem vai pagar a conta?

Quatro fatos interligados que merecem ser analisados conjuntamente.

Primeiro - A dificuldade generalizada de algumas unidades da federação com suas contas públicas. Os novos governantes optaram por medidas mediáticas, indicando que seus antecessores gastaram o que podiam e o que não podiam. Neste pacote, nenhuma medida explicita contra o governante anterior, algum processo, algum pedido de cassação dos direitos políticos. Nada.

Segundo - O governo anuncia que irá reduzir a alíquota do imposto de renda, para 15%. Atualmente a taxação do lucro das empresas é de 34%, incluindo uma tal de Contribuição Social. Outros países também fizeram isto e o Brasil é um país onde esta alíquota é bastante elevada. A lógica do governo é atrair as empresas e manter a competitividade do Brasil.

Terceiro - O governo federal estuda a possibilidade de taxar os dividendos e os juros sobre capital próprio. Esta notícia saiu antes da possibilidade de redução da alíquota das empresas. Há alguns problemas aqui, inclusive de ordem contábil. Pela teoria do proprietário, isto seria bitributação.

Quarto - A General Motors ameaça deixar o país em razão dos resultados insatisfatórios. Como lembrou Celso Ming, “seja lá o que isso signifique, dado que ninguém consegue ver essa contabilidade.” Isto logo depois de ganhar um presente chamado Rota 2030. Ela quer que o governo do estado de São Paulo libere créditos de ICMS, redução de 30% no piso salarial, aumento da jornada de trabalho, liberação da terceirização...

Novamente Ming:

Se o governo federal, os Estados e os funcionários tiverem de socorrer cada empresa que passar por três anos de resultados ruins, então seria mesmo preciso abolir de uma vez o regime capitalista no Brasil, o mesmo que leva o empresário a assumir riscos e a enfrentar adversidades por conta própria, sem guarda-chuvas oficiais.


Os quatro fatos dizem respeito a quem irá pagar a conta.