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03 dezembro 2018

Quanto vale?

O castelo acima, localizado na Baixa Saxônia, foi vendido recentemente. O Príncipe Ernst August de Hanover, herdeiro do castelo, decidiu pela venda. Duas perguntas: (1) quanto você acha que vale este castelo? (2) O que motivou a venda?

Resposta nos comentários do blog.

Vítima

Um artigo publicado na revista Época, o jornalista Helio Gurovitz faz o seguinte comentário:

[A Petrobras] Sempre se apresentou ao mercado como vítima da corrupção, papel que serviu para condenar executivos e políticos na Justiça, mas nunca convenceu quem conhecia o esquema de perto

Depois de analisar o acordo de leniência feito nos Estados Unidos, Gurovitz afirma que a empresa "nada tem de vítima", já que assumiu os crimes dos executivos.

Em 2014 já postamos sobre isto. E um análise das demonstrações de 2016 afirmamos:

Obviamente que a empresa atrai a atenção pelos problemas de corrupção dos últimos anos. É interessante que a área responsável pelas demonstrações contábeis usa o espaço para reescrever a história. Por seis vezes a palavra “vítima” aparece nas informações contábeis

Fonte da imagem: aqui

Resenha: The Tyranny of Metrics - Jerry Muller

Este pequeno livro (220 páginas), lançado em 2018, é uma tentativa de combater o excesso de métricas. Para os contadores, o tema é polêmico, já que aprendemos a máxima de que só podemos administrar aquilo que podemos mensurar. Muller, em 16 breves capítulos, mostra como as métricas tornaram tão populares que o seu papel foi invertido: em lugar de ser um meio, tornou-se um fim. Para ele, a fixação pelas métricas termina por não trabalhar tão bem assim. Na área acadêmica, o zelo pela métrica fez nascer e florescer a pesquisa salame, onde uma pesquisa é fatiada para render mais publicações. A métrica, o número de artigos publicados por um pesquisador, induz o comportamento do pesquisador, que procura render ao máximo suas pesquisas.

Neste sentido, surgiu, em 1975, a chamada Lei de Campbell. Em resumo a lei indica que quanto mais uma métrica é usada para decisão, mais sujeita estará a pressão para ser corrompida e, por consequência, mais distante estará do processo que deseja medir. Se o número de artigos pretende medir a produtividade de um pesquisador, fatie a pesquisa em três ou mais artigos. Se for o número de citações, desenvolva um círculo de amigos para citá-lo ou obrigue os alunos a fazê-lo.

O excesso das métricas incentiva o curto prazo, premia a sorte, desencoraja a tomada de risco, desestimula a cooperação, entre outras mazelas. Particularmente o que eu achei mais interessante na crítica de Muller foi sua ojeriza pela accountability. O “dever de prestar contas” e a associação com a transparência é duramente criticada por Muller, que exalta que a transparência é inimiga da política, diplomacia, do casamento ... Segundo o autor, as virtudes da accountability são exageradas e seus custos são subestimados. Não me lembro de um autor que tenha sido tão crítico da accountability. Para refletir, sem dúvida.

Vale a Pena? Apesar de ser um livro de rápida leitura (as duzentas páginas estão em um formato de livro de bolso) e ter alguns argumentos interessantes, eu achei que o livro não consegue convencer o leitor com argumentos comprováveis. De certa forma, sei que Muller tem sua razão, mas em um mundo dominado pela métrica, não sei se seria possível ter outra alternativa.

MULLER, Jerry. The Tyranny of Metrics. Princeton, 2018.

Rir é o melhor remédio

Quando o herói tem um bebê (continuação)


Martin Act versus Exxon

Uma lei chamada de Martin Act está sendo usada contra a Exxon no caso do aquecimento global. Esta lei foi aprovada em 1921, antes da crise de 1929, e é considerada uma das leis mais severas dos Estados Unidos contra a fraude. A lei, que abrange a cidade de Nova Iorque, foi pouco usada até o início do século, quando o advogado Elliot Spitzer utilizou contra empresas de Wall Street. Desde então, tem sido a base de muitos casos, incluindo uma investigação contra a Merril Lynch.

A Martin Act tem sido considerada como injusta, pois favorece os promotores nas investigações de práticas fraudulentas. Agora a lei está sendo usada contra a empresa de petróleo Exxon e no caso do reconhecimento contábil dos efeitos do aquecimento global. A empresa evita reconhecer o impacto que este ponto pode ocasionar sobre os seus ativos. Por exemplo, se no futuro a questão do aquecimento ficar muito mais grave do que nos dias de hoje, provavelmente haverá sérias restrições ao uso de combustível fóssil na sociedade. Isto demandaria uma revisão no valor das suas reservas, para incluir a probabilidade nas estimativas do valor dos seus ativos. A Exxon não faz isto. Mais ainda, a empresa já foi acusada de patrocinar grupos contrários as políticas em defesa do meio-ambiente.

No início dos anos 2000, quando Spitzer usou o Martin Act contra a Merril Lynch, o valor de mercado da empresa caiu em 5 bilhões em uma semana. E no final a empresa concordou em pagar 100 milhões de dólares por um acordo. O poder da lei é tamanho que, segundo o NY Times, a Exxon deverá ter dificuldade de se defender com sucesso.

Para ler sobre a questão da mensuração, recomendamos esta postagem. Mais aqui e aqui