Há meses ocorreu um problema relacionado com a contabilidade no Bankia. A Deloitte, responsável pela auditoria, justificou que era impossível perceber o problema pois as transações estavam escondidas. Segundo manchete do El País
Las Black no las detectamos, estaban ocultas em “cuentas saco”
O nome chama a atenção do leitor. Em um trecho da reportagem tem-se:
Deloitte ha tenido un gran protagonismo a lo largo del caso Bankia, cuyo punto álgido fue el escándalo de las tarjetas black de Caja Madrid. Sobre este tema Ruiz dijo: "Las tarjetas black no las detectamos porque esas remuneraciones se contabilizaron en cuentas de errores por descuadre y no como remuneraciones… estaban escondidas en una cuenta de errores por descuadre que lógicamente con la magnitud de cifras que maneja la entidad pues no se ve, por una cuestión de materialidad. Son cuentas saco y no entras a ver este tipo de cosas y por eso no lo vimos. No teníamos ni idea”.
É possível entender o contexto geral, mas o termo não. Em outro link:
Preguntado por los grupos por las tarjetas "black", ha explicado que no se detectaron porque estaban escondidas en "cuentas por errores de descuadre", "cuentas saco" en las que "no entras a ver estas cosas".
Procurei na internet, que tudo responde, e não consegui achar o sentido mais preciso do termo. Afinal, o que é "cuentas saco"?
24 agosto 2018
Futuro das Big Four na Bretanha
A Grã-Bretanha está pensando seriamente em adotar medidas para reduzir o poder das grandes empresas de auditoria. Segundo notícia da Reuters haverá uma reunião dos reguladores para discutir a limitação da participação do mercado das empresas. Esta reunião é decorrente de solicitação de parlamentares que querem a cisão das empresas sob a acusação de oligopólio depois do colapso da Carillion.
A discussão parece contar com apoio dos executivos das empresas e pode levar a fixação de um teto para quantas das maiores empresas britânicas as big four poderão trabalhar. Outra possibilidade é o regulador indicar o auditor para as empresas, tarefa esta que hoje é realizada pelo comitê de auditoria.
A discussão parece contar com apoio dos executivos das empresas e pode levar a fixação de um teto para quantas das maiores empresas britânicas as big four poderão trabalhar. Outra possibilidade é o regulador indicar o auditor para as empresas, tarefa esta que hoje é realizada pelo comitê de auditoria.
Efeito do cartão vermelho no futebol
Um estudo analisou mais de dois mil jogos de futebol da UEFA para verificar se "jogar com dez é melhor". Há um mito que quando um time tem um jogador expulso, os outros jogadores fazem um esforço substancial para suprir a ausência do colega, trazendo um resultado melhor.
Descobrimos que quando as equipes da casa recebem um cartão vermelho, isso prejudica suas probabilidades de gol e de vitória. Por outro lado, um cartão vermelho para as equipes visitantes pode ter um efeito positivo, negativo ou neutro, dependendo do tempo da expulsão do jogador.
O que eu achei interessante é que a pesquisa possui um modelo econométrico, uma boa análise dos dados e está postada em um lugar de boa reputação (o IZA). São três autores de uma das maiores universidades belgas (Ghent University)
O trabalho tem uma introdução, uma seção de método, os resultados e a conclusão. Não há uma discussão sobre a teoria que poderia justificar os resultados da pesquisa. Fica a pergunta: há um problema aqui ou esta é a forma de pesquisa do futuro.
(Esta postagem é uma grande provocação aos pesquisadores que gostam de uma teoria)
Descobrimos que quando as equipes da casa recebem um cartão vermelho, isso prejudica suas probabilidades de gol e de vitória. Por outro lado, um cartão vermelho para as equipes visitantes pode ter um efeito positivo, negativo ou neutro, dependendo do tempo da expulsão do jogador.
O que eu achei interessante é que a pesquisa possui um modelo econométrico, uma boa análise dos dados e está postada em um lugar de boa reputação (o IZA). São três autores de uma das maiores universidades belgas (Ghent University)
O trabalho tem uma introdução, uma seção de método, os resultados e a conclusão. Não há uma discussão sobre a teoria que poderia justificar os resultados da pesquisa. Fica a pergunta: há um problema aqui ou esta é a forma de pesquisa do futuro.
(Esta postagem é uma grande provocação aos pesquisadores que gostam de uma teoria)
23 agosto 2018
Algoritmo do amor
Na coluna de Fernando Reinach, publicada no Estado de S Paulo do sábado, o biológo comenta uma pesquisa sobre o encontro entre casais.
A formação de pares entre humanos não é um processo randômico. Apesar da diversidade de raça, nível educacional e classe social, a maioria dos casamentos ocorre entre semelhantes.
Usando dados de sites de namoro, cientistas analisaram as mensagens encaminhadas e recebidas pelas pessoas. Alguns recebem muitas mensagens, mas isto é uma minoria: somente 10% das pessoas receberam mais de 10 mensagens. A partir daí, calculou-se um índice de atratividade dos candidatos: mulheres asiáticas são mais atrativas entre os homens; homens brancos com pós-graduação são as preferencias das mulheres (a pesquisa foi feita nos EUA). Com base nisto, foi possível verificar que as pessoas tendem a mandar mensagens para outras com o mesmo índice de atratividade. Mas o desejo é conquistar uma pessoa com um índice melhor que o seu, muito embora o resultado final - igual ao casamento - geralmente é feito com pessoas com o mesmo índice.
A questão também foi tratada em um artigo recente da The Economist (Amor moderno, traduzido e publicado na edição impressa do Estado de S Paulo de 19 de agosto de 2018, p. A21). Para o periódico inglês, a internet tem transformado a procura do amor, assim como o resultado. São 200 milhões de pessoas que usam apps de namoro online e estes programas se tornando o mercado de namoro mais eficiente. É bem verdade que os números sugerem que 5% dos homens nunca conseguirão marcar um encontro, mas os resultados parecem melhores que a apresentação de amigos ou a ida a um bar, duas outras formas populares para encontrar um parceiro (a).
Uma pesquisa concluiu que nos EUA os casamentos entre pessoas que se conheceram pela internet têm probabilidade de durar mais; esses casais se dizem mais felizes do que aqueles que se conheceram offline. (...) evidências sugerem que a internet está fomentando os casamentos interraciais, contornando os grupos sociais homogêneos. Mas eles também estão mais aptos a escolher parceiros iguais a eles próprios [vide a pesquisa citada acima]
A presença e domínio de apps assusta alguns pela possibilidade de manipulação. Isto pode ser mais perigoso quando estas bases de dados ficarem mais dominantes.
Para ler mais: A matemática do amor, de Hannah Fry.
A formação de pares entre humanos não é um processo randômico. Apesar da diversidade de raça, nível educacional e classe social, a maioria dos casamentos ocorre entre semelhantes.
Usando dados de sites de namoro, cientistas analisaram as mensagens encaminhadas e recebidas pelas pessoas. Alguns recebem muitas mensagens, mas isto é uma minoria: somente 10% das pessoas receberam mais de 10 mensagens. A partir daí, calculou-se um índice de atratividade dos candidatos: mulheres asiáticas são mais atrativas entre os homens; homens brancos com pós-graduação são as preferencias das mulheres (a pesquisa foi feita nos EUA). Com base nisto, foi possível verificar que as pessoas tendem a mandar mensagens para outras com o mesmo índice de atratividade. Mas o desejo é conquistar uma pessoa com um índice melhor que o seu, muito embora o resultado final - igual ao casamento - geralmente é feito com pessoas com o mesmo índice.
A questão também foi tratada em um artigo recente da The Economist (Amor moderno, traduzido e publicado na edição impressa do Estado de S Paulo de 19 de agosto de 2018, p. A21). Para o periódico inglês, a internet tem transformado a procura do amor, assim como o resultado. São 200 milhões de pessoas que usam apps de namoro online e estes programas se tornando o mercado de namoro mais eficiente. É bem verdade que os números sugerem que 5% dos homens nunca conseguirão marcar um encontro, mas os resultados parecem melhores que a apresentação de amigos ou a ida a um bar, duas outras formas populares para encontrar um parceiro (a).
Uma pesquisa concluiu que nos EUA os casamentos entre pessoas que se conheceram pela internet têm probabilidade de durar mais; esses casais se dizem mais felizes do que aqueles que se conheceram offline. (...) evidências sugerem que a internet está fomentando os casamentos interraciais, contornando os grupos sociais homogêneos. Mas eles também estão mais aptos a escolher parceiros iguais a eles próprios [vide a pesquisa citada acima]
A presença e domínio de apps assusta alguns pela possibilidade de manipulação. Isto pode ser mais perigoso quando estas bases de dados ficarem mais dominantes.
Para ler mais: A matemática do amor, de Hannah Fry.
Boa notícia em julho no mercado de trabalho
O resultado do mercado de trabalho na área contábil foi tão surpreendente quanto na economia. A apuração dos números do Caged mostrou que em julho o número de contratações na área contábil (de 9.325 empregos) foi superior ao das demissões (9.108). Desde janeiro de 2015, este é o sexto mês que isto ocorre (em 43 observações). E esta é a primeira vez que o resultado positivo ocorreu em julho. Desde janeiro de 2014, o total acumulado é de 40.069 vagas destruídas na área contábil.
Como tem sido praxe, o salário dos demitidos é maior que os contratados. Mas esta diferença, que geralmente está na casa dos 20%, em julho foi de 16,8%: quem foi demitido ganhava em média R$2.748; que foi contratado ganhava R$2.352. O tempo de emprego dos demitidos foi de 35,97 meses, um número elevado, mas inferior aos de dezembro de 2017 (39,91 meses, recorde), de julho de 2017 (37,64) ou mesmo junho de 2018 (36,53 meses). A idade dos demitidos e dos admitidos também recuou: em geral os demitidos são mais velhos que os admitidos; em julho isto se manteve.
Quando a análise do saldo da movimentação é feita por grau de instrução percebe-se que aqueles com menor nível estão sendo mais afetados. O saldo da movimentação em julho para aqueles que tinham até o ensino médio completo, inclusive, foi de -413. Já o saldo para quem estava no ensino superior ou já tinha a graduação foi de 630 positivo.
Entre as ocupações, o saldo positivo foi para aqueles que ocupam o cargo de escriturário (+377), enquanto contador e auditor (-119) e técnico (-41) ainda sofrem no mercado de trabalho.
Observação: na minha disciplina de mestrado na Universidade fiz um exercício com os alunos perguntando se o número de admissões seria maior que o de demissões no setor contábil em julho. Metade afirmaram que Sim. A minha projeção - errada - foi que não.
Como tem sido praxe, o salário dos demitidos é maior que os contratados. Mas esta diferença, que geralmente está na casa dos 20%, em julho foi de 16,8%: quem foi demitido ganhava em média R$2.748; que foi contratado ganhava R$2.352. O tempo de emprego dos demitidos foi de 35,97 meses, um número elevado, mas inferior aos de dezembro de 2017 (39,91 meses, recorde), de julho de 2017 (37,64) ou mesmo junho de 2018 (36,53 meses). A idade dos demitidos e dos admitidos também recuou: em geral os demitidos são mais velhos que os admitidos; em julho isto se manteve.
Quando a análise do saldo da movimentação é feita por grau de instrução percebe-se que aqueles com menor nível estão sendo mais afetados. O saldo da movimentação em julho para aqueles que tinham até o ensino médio completo, inclusive, foi de -413. Já o saldo para quem estava no ensino superior ou já tinha a graduação foi de 630 positivo.
Entre as ocupações, o saldo positivo foi para aqueles que ocupam o cargo de escriturário (+377), enquanto contador e auditor (-119) e técnico (-41) ainda sofrem no mercado de trabalho.
Observação: na minha disciplina de mestrado na Universidade fiz um exercício com os alunos perguntando se o número de admissões seria maior que o de demissões no setor contábil em julho. Metade afirmaram que Sim. A minha projeção - errada - foi que não.
IPO da Aramco cancelada?
Ontem a agência de notícias Reuters divulgou que a oferta pública de ações da Saudi Aramco seria cancelada. A reportagem usou como fonte pessoas próximas do governo. Um dia depois, o ministro da energia da Arábia Saudita negou o texto da Reuters
Inicialmente, a Reuters informou que a decisão de não fazer a oferta de ações da Aramco já tinha sido tomada há meses. A estratégia para divulgar esta notícia passaria, inicialmente, pelo um atraso na oferta. Posteriormente seria feito a divulgação do seu cancelamento, segundo quatro fontes do setor. Quando da divulgação da notícia, a Reuters tentou entrar em contato com pessoas da empresa e não obteve resposta.
O plano de oferta estava dentro do objetivo do governo da Arábia Saudita em fazer pesados investimentos para reduzir a dependência do país com o petróleo. Para isto, seriam necessários recursos, obtidos a partir da venda de 5% de uma empresa que era avaliada, pelo governo saudita, em 2 trilhões de dólares.
A oferta enfrenta problemas sérios, como a dúvida sobre o valor de mercado - elevado segundo vários especialistas - e questões legais. Um potencial comprador das ações, a Rússia, teve uma série de problemas no passado com o governo saudita sobre a produção de petróleo.
O potencial cancelamento talvez seja decorrente da incapacidade do governo saudita em aceitar as regras de negociação de ação, o que inclui uma avaliação independente, governança, necessidade transparência e divulgação dos números. Além disto, a prisão de diversas pessoas ricas no final de 2017 piorou este cenário.
Inicialmente, a Reuters informou que a decisão de não fazer a oferta de ações da Aramco já tinha sido tomada há meses. A estratégia para divulgar esta notícia passaria, inicialmente, pelo um atraso na oferta. Posteriormente seria feito a divulgação do seu cancelamento, segundo quatro fontes do setor. Quando da divulgação da notícia, a Reuters tentou entrar em contato com pessoas da empresa e não obteve resposta.
O plano de oferta estava dentro do objetivo do governo da Arábia Saudita em fazer pesados investimentos para reduzir a dependência do país com o petróleo. Para isto, seriam necessários recursos, obtidos a partir da venda de 5% de uma empresa que era avaliada, pelo governo saudita, em 2 trilhões de dólares.
A oferta enfrenta problemas sérios, como a dúvida sobre o valor de mercado - elevado segundo vários especialistas - e questões legais. Um potencial comprador das ações, a Rússia, teve uma série de problemas no passado com o governo saudita sobre a produção de petróleo.
O potencial cancelamento talvez seja decorrente da incapacidade do governo saudita em aceitar as regras de negociação de ação, o que inclui uma avaliação independente, governança, necessidade transparência e divulgação dos números. Além disto, a prisão de diversas pessoas ricas no final de 2017 piorou este cenário.
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