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19 maio 2018

Mercado de Trabalho do setor contábil em abril

Os novos números do Ministério do Trabalho sobre o mercado na área contábil mostram que as boas notícias de março não se repetiram em abril. Neste mês, foram contratados 9.522 profissionais e demitidos 9.601, resultando em uma diferença de 79 vagas a menos no mês. Com isto, o número de vagas destruídas acumuladas desde janeiro de 2014 é de 38.882.




O gráfico abaixo compara o desempenho do setor contábil com o desempenho da economia (com duas casas decimais a menos, para fins de comparação). Enquanto parece nítido que a crise encerrou para a economia, o mesmo não é perceptível para o setor contábil.

 
A diferença salarial entre os demitidos e os contratados encontra-se no gráfico abaixo. 

O tempo médio de emprego do demitido caiu, conforme gráfico abaixo:


A diferença de idade média entre demitidos e admitidos manteve-se nos padrões anteriores:




Esporte e expectativa de vida

Os atletas geralmente possuem uma expectativa de vida acima da população em geral. Um novo estudo (via aqui) mostrou que isto também se aplica ao xadrez. Em ambos os casos, ser atleta ou jogador de xadrez profissional pode significar de 4 a 8 anos na expectativa de vida.

Por exemplo, em 2010, a expectativa de vida média de um grande mestre de xadrez de 25 anos era 6,3 anos maior do que a média de um público de 25 anos. Para um grande mestre de xadrez de 55 anos, a expectativa de vida era de 4,5 anos a mais.

18 maio 2018

IFRS 16 e os Correios da Alemanha

A publicação do balanço do Deutsche Post AG, a entidade alemã que corresponderia aos nossos Correios, despertou interesse. Sua dívida cresceu em 10 bilhões de euros nos primeiros meses de 2018. E não foram os novos empréstimos nem a despesa financeira os responsáveis pelo aumento e sim uma nova norma contábil.

O Deutsche Post resolveu antecipar a aplicação da IFRS 16, sobre arrendamento mercantil. E isto poderá ser uma prévia do que irá ocorrer com outras entidades. No caso do Post, os arrendamentos que anteriormente estavam em notas explicativas, foram colocados no balanço. Isto aumentou o ativo, mas também os passivos.

Além do índice de endividamento, a nova norma também afetou o retorno do investimento e a proporção do capital próprio.

A lição para os investidores aqui será trabalhar com cuidado com múltiplos de avaliação (como o valor da empresa para o Ebitda) e que o Ebitda provavelmente se tornará um substituto ainda menos perfeito para o fluxo de caixa.

Os acionistas institucionais não ficarão surpresos com nada disso, até porque a Deutsche Post os prepara há vários meses. A administração enfatizou que a contabilidade não altera a quantidade de dinheiro que entra no negócio e, portanto, o dividendo não será afetado.

Recebíveis

Eis um caso interessante sobre recebíveis:

Numa das histórias de destruição de valor mais instantâneas de uma empresa brasileira, a Netshoes desabou 44% hoje após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre. O volume negociado foi vinte vezes a média diária. Desde sua estreia na Bolsa de Nova York há pouco mais de um ano, a empresa já perdeu 84% do valor — listada a US$ 18, a ação agora negocia a US$ 2,87. Um número bem específico causou pânico no balanço divulgado ontem à noite: a companhia saiu de uma posição de caixa de R$ 396 milhões para R$ 60,7 milhões em apenas três meses. A sangria tem a ver com uma mudança de estratégia num assunto bem brasileiro: a forma como a Netshoes vinha monetizando as vendas parceladas. Até o fim do ano passado, a companhia antecipava com os bancos boa parte dos recebíveis de cartão de crédito, transformando em caixa uma receita futura ao custo de uma maior despesa financeira. Nos últimos meses, com a chegada de um novo CFO, a companhia decidiu que não valia a pena ter essa despesa e cortou boa parte da antecipação de recebíveis, com efeito negativo na geração de caixa.


Uma possível explicação para a mudança é a incompreensão do investidor estrangeiro com a operação de antecipação:

"Essa coisa de antecipação de recebíveis é um troço muito tupiniquim e é difícil de explicar para a base de acionistas, que é muito concentrada em fundos gringos de tech", diz um dos poucos gestores locais que ainda tem alguma posição no papel. Com a empresa valendo menos de US$ 90 milhões agora, muitos investidores estrangeiros tendem a liquidar suas posições, especialmente num momento em que o real se desvaloriza frente ao dólar.


Mas será? (via aqui)

Excesso de informação científica

Nos dias de hoje não podemos reclamar do acesso as informações de pesquisas publicadas recentemente. Entretanto, em muitos casos, estas informações são mera distrações para o que é realmente importante. Um texto de Anne-Wil Harzing oferece alguns conselhos para se manter atualizado nas novas publicações relevantes, aproveitando o que a internet tem de melhor a oferecer.

Harzing começa lembrando do tempo onde a sobrecarga de informação não era um problema expressivo. As pesquisas envolviam ir à biblioteca e folhear os periódicos disponíveis. E no caso de interesse, tirar cópia dos artigos. E somente dos artigos relevantes, já que o custo era elevado.

Nos dias atuais, estamos estressados com medo de perder a última novidade. Entre as dicas citadas, gostei da discussão sobre “redes sociais”. De pronto, não confunda vida pessoal do cientista com pesquisa científica. Muitas vezes seguir um pesquisador em uma rede social não garante que você tenha acesso as novidades da ciência. Pelo contrário, talvez você fique sabendo que o professor gosta de vinho ou que estava na praia lendo um livro. Veja o que Harzing diz sobre o ResearchGate:

“Não acompanho quase ninguém no ResearchGate e desabilitei 95% dos alertas, incluindo os alertas de seguidores que informam quando alguém lê ou cita seu artigo, bem como o tipo de alerta gratuito “você / seu papel é / é o melhor”. Mas mesmo assim, ainda recebo vários e-mails por semana, pois eles não têm uma função de "resumo". Os alertas de mídia social normalmente fornecem informações de baixa qualidade que desviam sua atenção de qualquer pesquisa em que você esteja trabalhando e o tenta a fazer login novamente para verificar toda a atividade. Isso é bom se sua intenção é distração e diversão, mas não se for para manter-se atualizado com pesquisas sérias.

Carillion e Big Four

Jim Peterson é descrente sobre a possibilidade do Reino Unido conseguir atacar o problema das Big Four de forma isolada:

A divisão das Quatro Grandes no Reino Unido não seria apenas ineficaz em escala global, porque não atingiria as dezenas de jurisdições estrangeiras nas quais 75% da receita das empresas FTSE 100 sediadas no Reino Unido é derivada. Nem tal movimento adicionaria qualquer nova competição.

17 maio 2018

Carillion ameaça o oligopólio das Big Four

Na década de oitenta, as principais empresas de auditoria começaram um processo de fusão / aquisição que resultou em cinco grandes empresas globais. O que era Big Eight virou Big Five. A crise da Enron teve como consequência o fechamento da Arthur Andersen e sobraram quatro grandes empresas: KPMG, EY, Deloitte e PwC. O domínio das Big Four é muito expressivo em quase todos os mercados de capitais do mundo.

Apesar da dificuldade de medir a qualidade do trabalho do auditor e de algumas mudanças na legislação - como o rodízio, as Big Four não podem reclamar da situação. Ou não podiam. Os problemas parecem ter iniciado com a quebra da empresa britânica Carillion. Ao contrário de outras situações, onde os problemas de auditoria estavam direcionados a uma ou duas das Big Four, na Carillion todas Four estão envolvidas. Além disto, o governo britânico tem uma tradição contábil respeitável, o que inclui bons reguladores e boas normas. Finalmente, a Carillion era uma grande empresa e seu fechamento trouxe problemas para a economia britânica. O regulador não ficou satisfeito.

Agora, uma comissão parlamentar trouxe um relatório analítico sobre o problema Carillion. E não perdoou ninguém: executivos, auditores, reguladores e governo não foram poupados. A culta dos diretores foi citada, assim como a falta de coragem do governo em enfrentar a imprudência das empresas. O Financial Reporting Council, responsável pela contabilidade na Grã-Bretanha, assim como o regulador na área de pensões, foram considerados passivos: “não temos confiança em nossos reguladores” (...) “mentalidade passiva e reativa” foram termos usados. Segundo o Guardian, a FRC deve ter mais poder, para ser mais agressivo e proativo, desde que mude sua cultura.

Auditores - Este talvez seja o ponto mais interessante do relatório. Os parlamentares sugerem que sejam aplicadas normas de concorrência, o que pode incluir o desmembramento à força. As empresas tiveram receitas elevadas e foram “incapazes de ter um grau de independência necessária”. Outra possibilidade é a separação do negócio de consultoria da auditoria.

A questão parece que atingiu fundo as Big Four, que, segundo o Financial Times (via aqui) estariam planejando uma reação. Segundo o relatório:

“É uma relação parasitária que vê os auditores prosperarem, independentemente do que acontece com as empresas, funcionários e investidores que dependem do seu escrutínio.”

O presidente da KPMG no Reino Unido reconheceu a existência de um oligopólio e que a empresa está pensando em um desmembramento há algum tempo. O negócio, como está, seria insustentável.