28 março 2018
Amazônia e descoberta que pode mudar o que sabemos sobre a região
Pesquisadores da Universidade de Exeter (Reino Unido), Federal do Pará, Estadual do Mato Grosso e IPHAN anunciaram a descoberta de indícios que existiu na Amazônia uma civilização pré-colombiana. A descoberta foi publicada na Nature Communications, com diversas fotografias e indicações do achado. Isto pode mudar muita coisa que sabemos da Amazônia. Entre as descobertas, aldeias fortificadas, estradas, praças e fazendas. A estimativa dos pesquisadores é que esta civilização pode ter chegado a um milhão de habitantes entre 1250 a 1500, indicando ser uma civilização desenvolvida.
Caruana
Terminou ontem o torneio de candidatos que apontou o desafiante ao título de campeão mundial de xadrez. Com três russos (Grischuck, o ex-desafiante Karjakin e o ex-campeão mundial Kramnik), o azerbaijão Mamedyarov, o armênio Aronian, dois “estadunidenses” (So, de origem filipina, e Caruana, nascido nos EUA e com origem italiana) e o chinês Ding, a disputa foi emociante até a última rodada.
Num sistema de todos jogando contra todos, tanto de pretas quanto de brancas, foram 14 rodadas, com 4 jogos cada, com partidas de longa duração ou xadrez “pensado”. Nas primeiras rodadas, o ex-campeão Kramnik tomou a ponta, com boas vitórias. Isto tornava a disputa interessante, já que tinha ocorrido uma troca nada amigável de twiters entre Giri - o “segundo” (ou o conselheiro) de Kramnik - e Carlsen, a atual campeão e provavelmente o maior jogador de todos os tempos. Mas logo depois, uma sequência de derrotas, fez com que o torneio fosse dominado pelo azerbaijão Mamedyarov e o americano Caruana.
Na 12a. rodada, os líderes perderam e na penúltima existiam cinco potenciais vencedores: Grischuck, Karjakin, que liderava, Mamedyarov, Caruana e Ding. Na penúltima, Grischuck sai do páreo, Karjakin perde a liderança, que passa a ser ocupada por Caruana.
O italo-americano Caruana, que lembra Harry Potter, começa a última rodada com 50% de chance de ganhar o torneio. Enquanto as outras partidas prevalece o empate, Caruana vence seu confronto, terminando o torneio em primeiro lugar, com cinco vitórias, oito empates e uma derrota. Pela primeira vez, desde Fisher, os Estados Unidos podem emplacar um campeão mundial. Entretanto, Carlsen, o atual campeão, chega como favorito.
Caruana nasceu em 1992 e obteve o título de grande mestre em 2007. Em 2014 chegou a obter um ranking muito bom de 2844, mas antes do torneio sua pontuação era de 2784, a oitava posição entre os jogadores em atividade. Com o torneio, deve ir para 2804 de rating, o terceiro do mundo. Já Carlsen há muito é o melhor do mundo, seja no xadrez clássico, no rápido e na blitz. Entre eles, foram 10 vitórias de Caruana (22%), 19 empates e 17 vitórias de Carlsen (ou 37%). Baseado no rating, em uma partida Caruana tem 15,5 % de chance de vencer, 26,3% de perder e 58,2% de empate.
A disputa irá ocorrer no final do ano, em Berlim. Mas é preciso ter cuidado em apontar favoritos. No último desafio, Carlsen era muito favorito em relação ao russo Karjakin e teve dificuldades em continuar com o título. Nestes momentos, os “frios e calculistas” jogadores de xadrez mostram sua face humana. A exemplo de Aronian, um dos favoritos do torneio de candidatos, mas que após as primeiras derrotas fez um torneio horroroso para os seus padrões. Típico de um ser humano, que sente as consequências da derrota. Por isto, os torneios de xadrez são tão fascinantes.
Num sistema de todos jogando contra todos, tanto de pretas quanto de brancas, foram 14 rodadas, com 4 jogos cada, com partidas de longa duração ou xadrez “pensado”. Nas primeiras rodadas, o ex-campeão Kramnik tomou a ponta, com boas vitórias. Isto tornava a disputa interessante, já que tinha ocorrido uma troca nada amigável de twiters entre Giri - o “segundo” (ou o conselheiro) de Kramnik - e Carlsen, a atual campeão e provavelmente o maior jogador de todos os tempos. Mas logo depois, uma sequência de derrotas, fez com que o torneio fosse dominado pelo azerbaijão Mamedyarov e o americano Caruana.
Na 12a. rodada, os líderes perderam e na penúltima existiam cinco potenciais vencedores: Grischuck, Karjakin, que liderava, Mamedyarov, Caruana e Ding. Na penúltima, Grischuck sai do páreo, Karjakin perde a liderança, que passa a ser ocupada por Caruana.
O italo-americano Caruana, que lembra Harry Potter, começa a última rodada com 50% de chance de ganhar o torneio. Enquanto as outras partidas prevalece o empate, Caruana vence seu confronto, terminando o torneio em primeiro lugar, com cinco vitórias, oito empates e uma derrota. Pela primeira vez, desde Fisher, os Estados Unidos podem emplacar um campeão mundial. Entretanto, Carlsen, o atual campeão, chega como favorito.
Caruana nasceu em 1992 e obteve o título de grande mestre em 2007. Em 2014 chegou a obter um ranking muito bom de 2844, mas antes do torneio sua pontuação era de 2784, a oitava posição entre os jogadores em atividade. Com o torneio, deve ir para 2804 de rating, o terceiro do mundo. Já Carlsen há muito é o melhor do mundo, seja no xadrez clássico, no rápido e na blitz. Entre eles, foram 10 vitórias de Caruana (22%), 19 empates e 17 vitórias de Carlsen (ou 37%). Baseado no rating, em uma partida Caruana tem 15,5 % de chance de vencer, 26,3% de perder e 58,2% de empate.
A disputa irá ocorrer no final do ano, em Berlim. Mas é preciso ter cuidado em apontar favoritos. No último desafio, Carlsen era muito favorito em relação ao russo Karjakin e teve dificuldades em continuar com o título. Nestes momentos, os “frios e calculistas” jogadores de xadrez mostram sua face humana. A exemplo de Aronian, um dos favoritos do torneio de candidatos, mas que após as primeiras derrotas fez um torneio horroroso para os seus padrões. Típico de um ser humano, que sente as consequências da derrota. Por isto, os torneios de xadrez são tão fascinantes.
27 março 2018
Pós-graduação e saúde mental
Nos últimos anos foram publicadas diversas pesquisas que alertam sobre o estado de saúde mental dos alunos de doutorado. Um exemplo recente é o trabalho que acaba de sair na Nature Biotechnology, apontando que os doutorandos são seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão em comparação com a população geral. Segundo esse trabalho, dirigido pelo pesquisador Nathan Vanderford, da Universidade de Kentucky (EUA), isto significa que 39% dos candidatos a doutor sofrem de depressão moderada ou severa, frente a 6% da população geral.
Poderíamos pensar que esses resultados se devem a cortes nas condições de trabalho, ou que sejam algo intrínseco a empregos altamente competitivos, sejam ou não doutorados; entretanto, outro estudo, este realizado pela Universidade de Gent (Flandres, Bélgica), conclui que os doutorandos, em comparação com outros grupos profissionais com alta formação, sofrem com maior frequência sintomas de deterioração na sua saúde mental. “Esta é uma publicação muito importante, porque progressivamente estamos compreendendo que existem problemas de saúde mental entre os doutorandos, e estudos como este nos ajudam a entender melhor suas causas”, afirma Vanderford.
Para aprofundar esse tema, Katia Levecque, pesquisadora da Universidade de Gent e primeira autora do estudo belga, reuniu uma amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas, que seguem um programa muito similar ao do resto da Europa e Estados Unidos, e quantificou a frequência com que os alunos afirmaram ter experimentado nas últimas semanas algum entre 12 sinais associados ao estresse e, potencialmente, a problemas psiquiátricos (especialmente a depressão). Entre essas características estão sentir-se infeliz ou deprimido, sob pressão constante, perda de autoconfiança ou insônia devido às preocupações.
Os resultados foram que 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis. Além disso, metade deles relatavam conviver com pelo menos 2 dos 12 sinais avaliados no teste.
[...]
O estudo também examina se entre os doutorandos existem condições que aumentem as possibilidades de ter ou desenvolver um problema psiquiátrico. Levecque conclui, por exemplo, que o desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.
Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. “Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, detalha a pesquisadora.
Leia a reportagem completa: aqui.
Enviado pelo professor Cláudio Moreira, a quem agradecemos.
Poderíamos pensar que esses resultados se devem a cortes nas condições de trabalho, ou que sejam algo intrínseco a empregos altamente competitivos, sejam ou não doutorados; entretanto, outro estudo, este realizado pela Universidade de Gent (Flandres, Bélgica), conclui que os doutorandos, em comparação com outros grupos profissionais com alta formação, sofrem com maior frequência sintomas de deterioração na sua saúde mental. “Esta é uma publicação muito importante, porque progressivamente estamos compreendendo que existem problemas de saúde mental entre os doutorandos, e estudos como este nos ajudam a entender melhor suas causas”, afirma Vanderford.
Para aprofundar esse tema, Katia Levecque, pesquisadora da Universidade de Gent e primeira autora do estudo belga, reuniu uma amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas, que seguem um programa muito similar ao do resto da Europa e Estados Unidos, e quantificou a frequência com que os alunos afirmaram ter experimentado nas últimas semanas algum entre 12 sinais associados ao estresse e, potencialmente, a problemas psiquiátricos (especialmente a depressão). Entre essas características estão sentir-se infeliz ou deprimido, sob pressão constante, perda de autoconfiança ou insônia devido às preocupações.
Os resultados foram que 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis. Além disso, metade deles relatavam conviver com pelo menos 2 dos 12 sinais avaliados no teste.
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O estudo também examina se entre os doutorandos existem condições que aumentem as possibilidades de ter ou desenvolver um problema psiquiátrico. Levecque conclui, por exemplo, que o desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.
Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. “Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, detalha a pesquisadora.
Leia a reportagem completa: aqui.
Enviado pelo professor Cláudio Moreira, a quem agradecemos.
Viés de sobrevivência e o empreendedorismo
É muito comum textos enaltecendo o empreendedorismo de alguns, indicando que qualquer um pode ser um sucesso como empresário. Este é o exemplo do texto de 22 de março do Valor Econômico, com o título de “sucesso de startups anima acadêmicos a empreenderem” (Jacílio Saraiva, p. B2). O título já resume a tônica do texto: qualquer um pode ser empreendedor de sucesso.
Um problema deste tipo de texto é não considerar o viés de sobrevivência. Provavelmente o jornalista entrevistou algum empresário que ainda não fechou as portas. Isto dá um ideia errada de que o mundo dos negócios é feito de sucesso, quando na realidade o fracasso é a regra mais comum.
Outro ponto crucial é imaginar que todo mundo deve ser um empreendedor. Como destaca este um texto do El País: Nos estamos maleducando al pensar que todo el mundo tiene que ser emprendedor” . Nem todos as ideias novas são geniais e não basta ter uma ideia genial para ser um empreendedor de sucesso.
Os Políticos não são Burros
Alguns modelos econômicos sugerem que as pessoas que decidem pela política geralmente são menos competentes e, por este motivo, fazem esta escolha. Assim, em lugar de usar seus neurônios para uma atividade acadêmica ou criar uma empresa e ser um empresário de sucesso, o político resolve fazer uma atividade desprezada pelos mais aptos da sociedade. Também há uma idéia de que os políticos não traduzem uma representação da sociedade.
Usando uma grande quantidade de informações, cinco pesquisadores concluíram que “os políticos não são burros”. Além disto, a democracia representaria uma “meritocracia inclusiva”, já que os políticos realmente representam a população. Talvez a conclusão mais surpreendente seja que em média os políticos são mais inteligentes e melhores que a população que eles representam. Em uma família, em um processo de triagem, o filho ou a filha mais inteligente terá mais possibilidade de ser político (a).
Isto realmente é surpreendente, já que geralmente acreditamos que os políticos são incompetentes e pouco representativos. Segundo a análise realizada por Dal Bó, Finan, Folke, Persson e Rickne, pesquisadores da Universidade da Califórnia, de Estocolmo e de Uppsala, na pesquisa intitulada “Who becomes a Politician”, o processo de triagem dos partidos, a competência individual e uma representação social são características do sistema democrático:
Uma implicação ampla desses fatos é que é possível para a democracia gerar liderança competente e socialmente representativa.
Apesar da pesquisa ter sido realizada na Suécia, com os dados locais, baseado na experiência brasileira e sendo imparcial, podemos realmente dizer que os políticos não são burros.
Fonte: Dal Bó, E., Finan, F., Folke, O., Persson, T., & Rickne, J. (2017). Who Becomes a Politician?. The Quarterly Journal of Economics, 132(4), 1877-1914. (Foto, Cynthia Nixon, atriz, que decidiu ser candidata a governadora)
Leia também aqui
Usando uma grande quantidade de informações, cinco pesquisadores concluíram que “os políticos não são burros”. Além disto, a democracia representaria uma “meritocracia inclusiva”, já que os políticos realmente representam a população. Talvez a conclusão mais surpreendente seja que em média os políticos são mais inteligentes e melhores que a população que eles representam. Em uma família, em um processo de triagem, o filho ou a filha mais inteligente terá mais possibilidade de ser político (a).
Isto realmente é surpreendente, já que geralmente acreditamos que os políticos são incompetentes e pouco representativos. Segundo a análise realizada por Dal Bó, Finan, Folke, Persson e Rickne, pesquisadores da Universidade da Califórnia, de Estocolmo e de Uppsala, na pesquisa intitulada “Who becomes a Politician”, o processo de triagem dos partidos, a competência individual e uma representação social são características do sistema democrático:
Uma implicação ampla desses fatos é que é possível para a democracia gerar liderança competente e socialmente representativa.
Apesar da pesquisa ter sido realizada na Suécia, com os dados locais, baseado na experiência brasileira e sendo imparcial, podemos realmente dizer que os políticos não são burros.
Fonte: Dal Bó, E., Finan, F., Folke, O., Persson, T., & Rickne, J. (2017). Who Becomes a Politician?. The Quarterly Journal of Economics, 132(4), 1877-1914. (Foto, Cynthia Nixon, atriz, que decidiu ser candidata a governadora)
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