Uma parceria entre a empresa Facebook e a companhia britânica de pesquisa Cambridge Analytica (CA) resultou em uma das maiores crises empresariais do ano. A CA está ligada a companha de Trump de 2016 e obteve dados de usuários do Facebook sem autorização.
Através de um aplicativo, alguns usuários do Facebook eram convidados a responder perguntas sobre seu “perfil digital”. Aceitando participar, o usuário não somente permitia o acesso da CA aos dados pessoais, mas também dos “amigos” do usuário. Com isto, uma pesquisa com 300 mil pessoas resultou na coleta de dados de 50 milhões de contas.
O fato resultou em críticas sobre como a empresa usa os dados dos usuários, na violação de privacidade das pessoas, entre outras questões. As consequências para a empresa foi uma perda de valor de mercado de mais de 60 bilhões de dólares, convite do parlamento britânico e europeu para que seu principal executivo explique o que ocorreu, possível mandato de busca, além de não cumprir um acordo de 2011 sobre consentimento de informação do usuário. Este último caso pode gerar uma multa de 40 mil dólares/dia/usuário.
Aqui uma comparação interessante entre a Equifax e o Facebook: a primeira empresa foi hackeada e roubada; a segunda, forneceu os dados como parte do seu modelo de negócio, mesmo aqueles dados “excluídos” pelo usuário. Mas será que o usuário se importa com isso?
Já a Cambridge Analytica está sendo acusada não somente de usar dados sem permissão como também intimidação política, suborno e chantagem. Um repórter descobriu que a empresa chegou a enviar “meninas” para um candidato. Segundo o Valor, o consultor brasileiro André Torretta fechou um acordo com a CA para trazer a empresa para o Brasil.
(Fonte do Cartoon aqui)
20 março 2018
DFC em uma empresa de capitalização
A DFC é uma importante fonte de informação sobre o desempenho de uma entidade. Saber se uma entidade está gerando caixa com as operações é uma informação crucial. Um exemplo é o caso da Petrobras, cujo desempenho nos últimos anos é muito melhor explicado pela DFC do que pela demonstração do resultado. (É bem verdade que a culpa não é da demonstração, mas das decisões gerenciais da empresa, que inclui a decisão de fazer a amortização de investimentos ruins em parcelas)
Mas, igual as outras demonstrações, a DFC é construída sob alguns pressupostos. E isto pode colocar toda análise a perder quando não se tem o devido cuidado. Um exemplo recente foi a demonstração da Cia Itau de Capitalização. Veja abaixo a DFC apresentada pela empresa:
Apesar de gerar um lucro de 386 milhões de reais, o caixa gerado nas operações foi somente de 39 milhões de reais. Este valor é muito pequeno, inclusive quando comparamos com o valor do ano passado: 504 milhões. O que aconteceu? A principal linha que poderia explicar é a de “variação nas contas patrimoniais”, “ativos financeiros”, com o sinal negativo de 452 milhões.
O balanço da entidade encontra-se abaixo:
Observe a variação nas aplicações, de 4,06 bilhões para 4,52 bilhões, um valor bastante próximo aos 452 milhões de reais. Nas notas explicativas, a entidade esclarece esta variação: aumento de Letras Financeiras (+470 milhões) e títulos de dívida de empresas (+199 milhões), compensado com algumas reduções.
Assim, a DFC entendeu que a entidade não estava gerando caixa com as operações pelo fato do valor obtido no caixa ter sido aplicado em ativos de média liquidez.
Mas, igual as outras demonstrações, a DFC é construída sob alguns pressupostos. E isto pode colocar toda análise a perder quando não se tem o devido cuidado. Um exemplo recente foi a demonstração da Cia Itau de Capitalização. Veja abaixo a DFC apresentada pela empresa:
Apesar de gerar um lucro de 386 milhões de reais, o caixa gerado nas operações foi somente de 39 milhões de reais. Este valor é muito pequeno, inclusive quando comparamos com o valor do ano passado: 504 milhões. O que aconteceu? A principal linha que poderia explicar é a de “variação nas contas patrimoniais”, “ativos financeiros”, com o sinal negativo de 452 milhões.
O balanço da entidade encontra-se abaixo:
Observe a variação nas aplicações, de 4,06 bilhões para 4,52 bilhões, um valor bastante próximo aos 452 milhões de reais. Nas notas explicativas, a entidade esclarece esta variação: aumento de Letras Financeiras (+470 milhões) e títulos de dívida de empresas (+199 milhões), compensado com algumas reduções.
Assim, a DFC entendeu que a entidade não estava gerando caixa com as operações pelo fato do valor obtido no caixa ter sido aplicado em ativos de média liquidez.
Sarkozy
O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy (fotografia, esquerda), está sendo investigado pelo financiamento ilegal da campanha eleitoral de 2007. A investigação começou quando as autoridades franceses conseguiram "livros" do ex-ministro libanês Choukri Ghanem indicando pagamentos ilegais a Sarkozy. Além disto, anteriormente o ex-ditador da Líbia, Muammar Gaddafi (fotografia, direita), tinha afirmado que contribuiu com a campanha de Sarkozy. Além disto, um empresário transportou 5 milhões de euros de Tripoli para Paris no início de 2007.
Sobre o Benfica
Sobre o caso do clube Benfica, onde informações judiciais sigilosas foram passadas para o advogado do clube português, em troca de camisas e ingressos para jogos do clube, um comentário de Ana Pina no Jornal Econômico:
O que nos devia preocupar neste “caso” não é o que poderá acontecer ao Benfica por ter comprado alguém para lhe revelar segredos de justiça a troco de camisolas e bilhetes ou um emprego para o sobrinho, mas o facto de poder ter havido quem, no seio do sistema de justiça, se tenha vendido em troca de camisolas e bilhetes ou um emprego para o sobrinho. Aliás, tanto a concentração de preocupações no Benfica como a ninharia pela qual o funcionário do sistema judicial se corrompeu mostram bem como a cultura do “pequeno favor”, da “cunha”, da “ajudinha”, do “fazer um jeitinho”, está enraizada no país e no Estado.
A facilidade com que alguém (alegadamente, é sempre preciso dizer para não ofender consciências) se corrompe, e a indiferença com que o país encara essa facilidade, só se excitando em defesa do “clube do coração” ou em ataque ao “rival”, mostram como a corrupção, em Portugal, é encarada com normalidade e amplamente praticada por todos ou quase, do político mais poderoso ao mais insignificante cidadão que tem de resolver um problema “nas Finanças”: quem tenha o número de telefone da pessoa certa, quem seja primo da pessoa no sítio certo, quem possa fazer o favor certo a quem no futuro lhe possa retribuir, “safa-se”. Num país onde a lei impere, “safa-se” quem por habilidade ou sorte presta algum bem aos seus pares. Num país como Portugal, “safa-se” quem, pela sorte ou falta de escrúpulos, consegue traficar eficazmente a influência de que goza.
O que nos devia preocupar neste “caso” não é o que poderá acontecer ao Benfica por ter comprado alguém para lhe revelar segredos de justiça a troco de camisolas e bilhetes ou um emprego para o sobrinho, mas o facto de poder ter havido quem, no seio do sistema de justiça, se tenha vendido em troca de camisolas e bilhetes ou um emprego para o sobrinho. Aliás, tanto a concentração de preocupações no Benfica como a ninharia pela qual o funcionário do sistema judicial se corrompeu mostram bem como a cultura do “pequeno favor”, da “cunha”, da “ajudinha”, do “fazer um jeitinho”, está enraizada no país e no Estado.
A facilidade com que alguém (alegadamente, é sempre preciso dizer para não ofender consciências) se corrompe, e a indiferença com que o país encara essa facilidade, só se excitando em defesa do “clube do coração” ou em ataque ao “rival”, mostram como a corrupção, em Portugal, é encarada com normalidade e amplamente praticada por todos ou quase, do político mais poderoso ao mais insignificante cidadão que tem de resolver um problema “nas Finanças”: quem tenha o número de telefone da pessoa certa, quem seja primo da pessoa no sítio certo, quem possa fazer o favor certo a quem no futuro lhe possa retribuir, “safa-se”. Num país onde a lei impere, “safa-se” quem por habilidade ou sorte presta algum bem aos seus pares. Num país como Portugal, “safa-se” quem, pela sorte ou falta de escrúpulos, consegue traficar eficazmente a influência de que goza.
19 março 2018
Sobre o BNDESPar
A Suzano comprou a Fibria. Um aspecto interessante foi relatado no Valor Econômico:
A estrangeira Paper Excellence (PE) (...) também encaminhou proposta pela Fibria à BNDESPar, de R$71,50 por ação em dinheiro, mas não conseguiu apresentar em tempo as garantias dos recursos - cerca de R$40 bilhões - , para honrar a transação (...)
Se o objetivo era obter o melhor preço, é estranho que não tenha esperado um pouco mais de tempo. Basta olhar como o mercado reagiu para ver que saiu ganhando e perdendo:
A outra notícia é que o BNDESPar insiste em afirmar que lucraria com a venda das ações da JBS. Já comentamos anteriormente aqui: “esquece” de levar em consideração a inflação do período.
A estrangeira Paper Excellence (PE) (...) também encaminhou proposta pela Fibria à BNDESPar, de R$71,50 por ação em dinheiro, mas não conseguiu apresentar em tempo as garantias dos recursos - cerca de R$40 bilhões - , para honrar a transação (...)
Se o objetivo era obter o melhor preço, é estranho que não tenha esperado um pouco mais de tempo. Basta olhar como o mercado reagiu para ver que saiu ganhando e perdendo:
A outra notícia é que o BNDESPar insiste em afirmar que lucraria com a venda das ações da JBS. Já comentamos anteriormente aqui: “esquece” de levar em consideração a inflação do período.
BNDES pode devolver dinheiro para o Tesouro
O BNDES divulgou o balanço do exercício encerrado em 31/12/2017. E na demonstração contábil tem uma informação agradável para o governo: o banco tem recurso suficiente para devolver o recurso que foi anteriormente emprestado pelo Tesouro. Anteriormente a instituição financeira alegada que não teria recursos suficientes para efetuar pagamentos de 130 bilhões de reais que a entidade deve, mas a contabilidade mostrou que isto parece não ser verdadeiro. Somando as aplicações interfinanceiras de liquidez (R$113 bilhões), com os títulos e valores mobiliários (R$48 bilhões) e a relações interfinanceiras (R$56 bilhões) tem-se um total 217 bilhões no consolidado. Há um ano este valor era de R$169 bilhões. E em 2017 a instituição fez um pagamento de R$50 bilhões.
Devolver o dinheiro também pode ser salutar para a economia. Nos últimos anos, o BNDES tem sido acusado de dois crimes graves. O primeiro, é fazer escolhas erradas na concessão dos empréstimos. Isto inclui investimentos nas “campeãs nacionais”, um mantra político do governo populista anterior, que colocou dinheiro em empresas como a JBS. A própria escolha destas campeãs era controversa e, hoje se sabe, sujeita a troca de favores políticos. O resultado é a baixa qualidade do lucro da entidade; com um ativo de 867 bilhões no seu consolidado, a entidade comemorou um resultado de 6,1 bilhões. Ou seja, menos de 1% de retorno. (É bem verdade que a comparação deveria ser entre o resultado operacional e o ativo, mas mesmo usando este dado, o retorno não é empolgante)
O segundo crime grave do BNDES é o fato de bangunçar o mercado de capitais, impedindo uma competição saudável. Uma empresa que contrata empréstimo em um banco privado terá uma grande desvantagem em relação a premiada empresa que conseguiu, muitas vezes através de contatos políticos, o acesso ao crédito barato do banco. Com tal distorção, como é possível comparar a qualidade de gestão entre empresas?
Leia mais: Balanço Mostra Folga de Caixa para pagar Tesouro. Alex Ribeiro, Valor Econômico, 15 de março de 2018, p. C3
Devolver o dinheiro também pode ser salutar para a economia. Nos últimos anos, o BNDES tem sido acusado de dois crimes graves. O primeiro, é fazer escolhas erradas na concessão dos empréstimos. Isto inclui investimentos nas “campeãs nacionais”, um mantra político do governo populista anterior, que colocou dinheiro em empresas como a JBS. A própria escolha destas campeãs era controversa e, hoje se sabe, sujeita a troca de favores políticos. O resultado é a baixa qualidade do lucro da entidade; com um ativo de 867 bilhões no seu consolidado, a entidade comemorou um resultado de 6,1 bilhões. Ou seja, menos de 1% de retorno. (É bem verdade que a comparação deveria ser entre o resultado operacional e o ativo, mas mesmo usando este dado, o retorno não é empolgante)
O segundo crime grave do BNDES é o fato de bangunçar o mercado de capitais, impedindo uma competição saudável. Uma empresa que contrata empréstimo em um banco privado terá uma grande desvantagem em relação a premiada empresa que conseguiu, muitas vezes através de contatos políticos, o acesso ao crédito barato do banco. Com tal distorção, como é possível comparar a qualidade de gestão entre empresas?
Leia mais: Balanço Mostra Folga de Caixa para pagar Tesouro. Alex Ribeiro, Valor Econômico, 15 de março de 2018, p. C3
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