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25 janeiro 2018

Risco da extinção da profissão

LOPES, A. Elas vão substituir você. Veja, 31 de jan 2018, p. 80

Alucinações auditadas na Contabilidade

O título desta postagem parece coisa de jornal sensacionalista. Confesso que fiquei na dúvida se deveria ser um “rir é o melhor remédio” (uma postagem diária que fazemos no blog). Mas a notícia é séria.

A Bloomberg informou que no Canadá a adoção das normas de contabilidade internacional, as IFRS, estão trazendo números, para as empresas produtoras de maconha, estranhos. Em alguns casos, margens brutas de mais de 100%. São 84 empresas produtoras listadas com um valor de mercado perto dos 30 bilhões de dólares.

Em 2011 o Canadá passou a adotar as normas internacionais de contabilidade. Por estas normas deve-se utilizar o valor justo para os chamados ativos biológicos. Isto exige que as empresas estimem o valor das mercadorias plantas quando ainda estão crescendo, mas não produzindo.

Isso é parecido com contar suas galinhas antes de serem incubadas, deixando as empresas abertas para grandes amortizações e investidores tentando entender financeiramente [os números].

Segundo Al Rosen, um crítico mordaz das IFRS, é uma “alucionação auditada”. Ele declarou para a Bloomberg que "as demonstrações financeiras da maconha não têm absolutamente nada a ver com a realidade".

Ocorrendo uma valorização estimada no valor justo das plantas de cannabis com o seu crescimento, o resultado afeta o lucro bruto.

A Canopy Growth Corp. , a maior empresa de cannabis do mundo, com um valor de mercado de mais de C $ 7 bilhões, registrou uma margem bruta de 164% com a IFRS no terceiro trimestre (...) A diferença pode ser dramática. A margem bruta das IFRS da Canopy foi de 186% no terceiro trimestre de 2016, mas 60% após a remoção das métricas de valor justo, de acordo com Rosen.

Segundo a Bloomberg, citando um regulador canadense, parece que o IFRS Discussion Group pretende discutir o assunto da “cannabis accounting” (este foi o termo usado) em uma próxima reunião. Um dos problemas da “cannabis accounting” é a questão da estimativa do valor justo, já que o mercado legal do produto não está estabilizado. Além disto, a norma exige várias estimativas, como custos de crescimento, colheita e venda; rendimentos projetados da planta; e o preço pelo qual a droga será vendida, entre outros aspectos.

Em razão das regras, é possível que uma empresa tenha receita, mesmo não tendo vendido uma única grama do produto.

Solução simples para as obras da Copa e Olimpíadas (com apoio da contabilidade gerencial)

Um solução simples e barata para os elefantes brancos construídos por diversos países para abrigar os jogos da Copa do Mundo e as Olimpíadas: derrubar. E esta solução é técnica e encontra defesa na contabilidade gerencial. Isto poderia solucionar o caso do estádio Mané Garrincha em Brasília ou as arenas olímpicas do Rio de Janeiro. Atenção: esta é um solução técnica e científica para o problema.

Parece que esta solução está sendo pensada pela Coréia do Sul, segundo informação do Quartz. O Estádio Olímpico de Pyeongchang (fotografia) custou 109 milhões de dólares. Foi construído para as olimpíadas em 1988 - há vinte trinta anos, portanto. Possui uma capacidade de 35 mil lugares e a cidade possui 45 mil habitantes. É bem verdade que irá sediar os jogos de inverno, em 2018, mas certamente o estádio das Olimpíadas não possui nenhuma utilidade neste evento. Além de estar numa cidade com o mesmo número de habitantes da capacidade do estádio (ou quase isso), a obra só foi usada quatro vezes no evento olímpico.

Mas este não é o único caso:

a) Gangneung Speed ​​Skating Center, que custou quase 120 milhões de dólares
b) Gangneung Ice Arena, com custo de 126 milhões
c) Gangneung Hockey Center = 100 milhões
d) Kwandong Hockey Center = 59 milhões
e) Jeongseon Alpine Center = 191 milhões
f) Olympic Sliding Center = 107 milhões

Total de 812 milhões de dólares e os valores está subestimados, já que não consideram as despesas correntes anuais e posteriores à construção e as despesas de manutenção, além do custo de oportunidade do capital. Diversas propostas foram feitas para uso alternativo, mas todas fracassaram. Outros exemplos similares são citados pelo Quartz para mostrar a criação deste problema, incluindo obras em Atlanta, Estados Unidos.

A derrubada das obras já ocorreu antes, como no Estádio Olímpico dos Jogos de Inverno de 1968 realizados em Grenoble ou o Théâtre des Cérémonies de Albertville.

A teoria da contabilidade gerencial que sustenta a solução da derrubada é o custo perdido. Os valores dos estádios já foram gastos; o que importa para o processo decisório são os fluxos futuros de caixa. Assim, o gestor deveria analisar quanto custa derrubar as instalações, somar com potenciais receitas e comparar isto com a saída de caixa futura com manutenção e despesas correntes. O que importa é o fluxo futuro. E isto não é difícil de ser feito.

Ações da Odebrecht na Guatemala

A empresa Odebrecht irá pagar quase 18 milhões de dólares para o governo da Guatemala em razão dos subornos realizados no passado. Este é mais um desdobramento das investigações que começaram no Brasil e resultaram no depoimento de dirigentes da empresa, que confessaram ter um departamento de propina que atuava também no exterior. No caso da Guatemala, o suborno refere-se a pagamentos para obter um contrato de construção de uma rodovia, em 2012, em um contrato de 300 milhões. 

O interessante é que a investigação foi resultado de um esforço conjunto de promotores brasileiros e guatemaltecos. O funcionário que recebeu o suborno fugiu.

Além disto, foi revelado que um ex-candidato à presidência, da oposição, recebeu dinheiro.

Inovação para sobreviver em uma fábrica de sinos

Um texto muito curioso do Jornal Econômico de Portugalsobre a fábrica Serafim da Silva Jerónimo e Filhos Lta, fundada em 1932 (somente) e com 40 funcionários. A empresa produz de 250 a 280 sinos por ano. O segredo: a inovação. Eis alguns trechos (negritos meus):

Num mercado de nicho, para sobreviver e crescer, a Jerónimo desde cedo procurou apostar na inovação e alargar a sua atuação para além do fabrico, restauro e instalação de sinos. A sua atividade começou com a construção de sinos e carrilhões, mas expandiu-se, logo em 1947, à produção dos relógios de torre. Em 1954, abriu as portas à importação e comercialização de harmónios de pedais. E em 1960, começou a automatizar os toques de sinos por meios eletromecânicos, situação inovadora na época, dedicando-se também, a partir de 1972, ao comércio de órgãos eletrónicos para igrejas, conservatórios e particulares.

Esta diversificação permitiu à Jerónimo impor-se no mercado nacional, ao longo de décadas. E foi acompanhada de um foco na inovação, através de parcerias com universidades.

Arlindo Jerónimo [foto], filho do fundador da empresa, é um dos sócios-gerentes e tem no sangue a construção sineira. Apaixonado desde sempre pela arte, Arlindo Jerónimo lembra que a sua empresa tem, neste momento, “bem mais de 11 mil sinos espalhados por Portugal e também no estrangeiro, a exibir a arte da fundição de sinos”.

“O nosso forte é claramente a fundição de sinos. Até porque somos únicos nessa arte. No entanto, temos apostado em diversos mercados e ramos de ação porque o negócio dos sinos é uma coisa limitada. Temos espalhados por Portugal e em vários países mais de 4.000 relógios de torre, 7.500 mostradores exteriores e 10.500 aparelhos de toque de sinos, para além de mais de 5.000 órgãos vendidos ao longo destes anos”.

“Temos como clientes cerca de 90% das paróquias nacionais, mas isto é sempre um número muito limitado porque os sinos são feitos para durar uma vida. As paróquias não mudam sinos de ano para ano, nem de 10 em 10 anos. Como tal, o nosso mercado nesse campo está limitado. Daí termos apostado desde cedo noutros mercados”, explicou ao Jornal Económico.

Esta atividade construída de raiz em Braga significa um volume de negócio anual que ronda os dois milhões de euros.

Com exemplos da sua arte espalhados por todo o país, a Serafim da Silva Jerónimo forneceu sinos a diversas catedrais, basílicas, santuários, mosteiros e conventos, seminários, igrejas paroquiais, câmaras municipais, centros comerciais, universidades, palácios, entre outros edifícios espalhados pelo território nacional. Está também presente no estrangeiro, com forte implementação nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Brasil, Canadá, Espanha, França, Porto Rico e Venezuela.

Rir é o melhor remédio

(A partir de fotografias que já publicamos antes neste blog)

Solvência, Comparabilidade

A noção de solvência de uma instituição financeira é um dos pilares da regulação bancária do mundo atual. Basicamente, isto é derivado do acordo de Basileia II. Este acordo permitiu que os bancos usassem uma abordagem de risco interno para “quantificar seus requisitos de capital de risco”. O acordo de Basileia incluiu uma abordagem simplificada que poderia ser usada por instituições menores.

Ao optar por isto, prejudicou a comparabilidade e incentivou os bancos a usar suas estimativas de maneira favorável. Mais ainda: os índices extraídos desses modelos passaram a depender da origem da instituição. Este debate é importante para a contabilidade não somente pela discussão relacionada com a regulação, mas também pelo fato de que algumas normas contábeis caminham por usar modelos “internos” de risco, o que afetaria a comparabilidade. (Mas ajudaria na relevância e na representação fidedigna?)

Dois pesquisadores fizeram uma análise comparativa do risco na comunidade europeia para tentar verificar se a sede do banco (e a origem da supervisão bancária) afeta o resultado. E a resposta foi positiva, já que as próprias regras internas mudam. Os pesquisadores usaram dados de mais de 130 bancos, de 24 países europeus. E isto tem efeito sobre o risco bancário de cada país:

há diferenças estatisticamente significativas e economicamente importantes relacionadas ao país em que o banco está sediado. Isso fornece evidências de que os padrões são implementados de forma diferente da jurisdição para jurisdiç
ão.