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15 setembro 2017

Resenha: Hit Makers

Um livro de divulgação científica, como é o caso deste Hit Makers, geralmente parte de uma ideia central, usa algumas boas histórias, tenta enquadrar tudo na ideia apresentada e termina com algumas dicas para o leitor. Que já leu Malcom Gladwell, Ariely, Freakonomics e outros sabe como isto funciona.

O objetivo do livro é tentar entender o segredo de alguns produtos que as pessoas gostam, como uma música, um filme ou um livro, e a razão de ideias similares falharem. A resposta, segundo o autor, é uma mistura de situações conhecidas recheadas de algumas novidades. Pegue o exemplo do filme Star Wars. O roteiro do filme foi muito inspirado em lendas; assim, para o espectador, o filme tem algo de familiar, um roteiro que ele sabe que já viu anteriormente. Mas também tem novidades: lenda com uma guerra espacial. Nas palavras do autor, neofílico e neofóbico. O primeiro termo é o interesse pelo novo; o segundo, é o pavor as inovações. Parece contraditório, mas o autor afirma que não.

O objetivo é interessante e a teoria parece acreditável. Falta rechear isto com casos. E o livro conta alguns interessantes. A história do pintor Caillebotte, um impressionista que sem querer fez a fama de Monet, Renoir, Degas, Cézanne, Manet, Pissaro e Sisley. Mas como Caillebotte era rico e não precisava da pintura para viver, produziu pouco,não importando em “vender” sua arte, ao contrário dos pintores citados. Caillebotte é um ótimo pintor, mas é pouco conhecido. A seguir, a história da música e dos compositores atuais, que “parece” que descobriram a fórmula do sucesso. O caso da televisão também é interessante, já que o autor faz um vínculo com a internet.

E assim, de caso em caso, o autor tenta provar sua teoria sobre o que leva um “produto” ou “ideia” ser um campeão: a playlist do Spotify, das pesquisas de Gallup sobre audiência, do Facebook, da MacDonald´s, etc.

Vale a pena? - O interessado em entender a razão do sucesso de Karl Martin (quem?) pode achar interessante o livro. Que gosta de algumas boas histórias também. Mas honestamente não fiquei muito convencido que a resposta do autor é ampla o suficiente para explicar todos os casos de sucesso.

Defesa de mestrado



Estudante da África do Sul não deixa bandidos tomarem sua bolsa com a única cópia da dissertação de mestrado

Isso porque, Ntusi carregava na bolsa um HD externo com sua tese de mestrado. Se tivesse a bolsa roubada, a estudante levaria mais um ano para reescrever a tese.

Ela, que é pesquisadora do Serviço Laboratorial de Saúde Nacional, em Joanesburgo, cursa uma especialização em zoologia molecular. Ntusi informou que depois do susto irá fazer mais cópias de seu trabalho.

Rir é o melhor remédio


14 setembro 2017

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Luta pela materialidade

O International Accounting Standards Board (IASB), entidade que normatiza a contabilidade em mais de 100 países, emitiu orientações no sentido de reduzir o volume das demonstrações contábeis. Segundo afirmou a vice-presidente da entidade, Sue Lloyd, as empresas deverão divulgar o que interessa aos investidores e deixar de lado os pormenores. Ela citou um exemplo:

"Se eu sou um banco, as pessoas realmente se preocupam com minha propriedade, planta e equipamento?"

Ocorrendo isto, muitas páginas deixarão de serem divulgadas. O objetivo é fazer com que os relatórios anuais sejam mais concisos. E isto passa por uma mudança comportamental, afirmou Lloyd.

Em termos práticos, a proposta do Iasb passa por um guia sobre materialidade. A entidade está encorajando as empresas a aplicar julgamento, em lugar de um checklist. A entidade afirmou que “o conceito de materialidade é importante na preparação das demonstrações financeiras, pois ajuda as empresas a determinar que informação incluir ou excluir dos relatórios”. Isto também diz respeito a apresentação, reconhecimento e mensuração. Para isto, a entidade reguladora preparou o guia prático, com exemplos, para ajudar na decisão. E preparou também uma emenda ao IAS 1 e IAS 8, que ficará como minuta até janeiro de 2018.

Outro lado - A iniciativa do Iasb possui quatro grandes problemas, além do aspecto comportamental, citado por Lloyd. Em primeiro lugar, o guia prático não é obrigatório e não altera em nada as normas existentes. Por razões óbvias, as empresas possuem uma cultura legalista e a decisão do que evidenciar é sempre difícil na prática. Isto faz com que a abordagem do checklist é muito mais fácil e prática para o preparador da informação.

O segundo grande problema é que a decisão do que evidenciar passa a ser do preparador da informação. De certa forma é isto que ocorre. Mas temos que relembrar que a contabilidade é um sistema de comunicação e o Iasb está dizendo que o emissor da informação deve selecionar o que dizer. Parece ser muito mais razoável que a decisão do que gostaria de ler seja do usuário, não do preparador. Mas este poder de selecionar o que divulgar é uma tarefa inglória para o preparador, que exige poderes para que este profissional tome esta decisão.
O Iasb talvez tenha esquecido que nos últimos anos o custo de produzir e reproduzir uma informação caiu substancialmente. Assim, divulgar a forma de depreciação num banco tem um custo muito pequeno para uma instituição financeira. Os dois custos mais relevantes na contabilidade moderna são: (1) da publicação em jornais, que ainda é obrigatória em alguns países, e (2) do excesso da informação e dos seus efeitos colaterais, que o Iasb tenta combater com a “não divulgação”. Para o nosso terceiro problema existem alternativas, como focar na divulgação concisa de certas informações, com a possibilidade de um detalhamento para aqueles que desejarem.

O quarto problema é que muito do excesso de informação encontra-se nas próprias normas emitidas pelo Iasb. Por um lado, o regulador diz para reduzir a divulgação com baixa materialidade. De outro lado, emite uma norma do recuperabilidade onde recomenda uma evidenciação detalhada dos parâmetros usados. A conciliação entre os opostos deveria ser feita como lição de casa pelo regulador, antes de descentralizar a responsabilidade pelo problema para as empresas.

Comportamental - Sob a ótica do preparador da informação é muito difícil classificar o que seria material. Veja o exemplo do Instituto Ronald MacDonalds, que divulga suas ações em demonstrações financeiras concisas e bem produzidas. Talvez a maioria dos usuários aprove as informações divulgadas. Mas esta entidade não evidencia os números da contabilidade ou quando faz é de forma parcial. Isto sob o olhar complascente do auditor, que assina e aprova as demonstrações publicadas no site da entidade. Para um usuário as informações divulgadas estão adequadas; para outros, não.

No mundo digital, o usuário já possui ferramentas para selecionar o que é relevante. E existem intermediários que podem fazer esta análise. Qual o sentido de deixar para o preparador a decisão de fazer esta seleção? Se um pesquisador pretende estudar a taxa de depreciação utilizada pelas empresas, saber sobre o tratamento para uma instituição financeira pode ser importante para sua pesquisa.

Apesar de parecer uma medida adequada, focar a atenção na materialidade parece pouco produtivo. As normas estão cada vez mais longas e detalhadas. Permitir que o preparador escolha o que é material talvez traga mais problemas do que soluções.

P/L cai nos últimos anos no mercado brasileiro

Existe uma relação entre o índice P/L e o retorno do mercado. Se um P/L for de 9,47 isto significaria uma média de retornos de 10,56% ou o inverso do P/L. Este, por sinal, foi o índice mediano para o ano de 2012. Nos anos seguintes, o P/L mediano sempre apresentou tendência de queda: 9,40; 8,04; 5,93; e 5,77, na ordem para 2013 a 2016.

Como o índice P/L é resultado da divisão de dois valores monetários, a inflação não atrapalha a comparação. (Na realidade, pode atrapalhar, mas em situações extremas) Além disto, quando afirmo que o preço é 5,77 vezes o lucro por ação, estou também dizendo que serão necessários 5,77 exercícios sociais para recuperar o valor pago na compra da ação. Seria um tempo de recuperação do investimento. Nos períodos onde o mercado está ruim, o P/L tende a reduzir substancialmente, como ocorreu de 2012 para 2016. Para os investidores, o índice pode ser visto como um termômetro para verificar se o mercado está aquecido ou não.

Agora vamos aos problemas. Em primeiro lugar, o P/L é um índice do passado. Mas muitos analistas usam como um índice do futuro, o que é um erro.

Segundo, o P/L do mercado é muito difícil de ser calculado. Os valores que apresentei correspondem a mediana. A razão de usar a mediana é que a média ficaria afetada pelos valores extremos. Compare: 36,12; 24,60; 8,25; -45,15 e -11,37 para os anos de 2012 a 2016. São valores muito complicados. Mas mesmo a mediana talvez não seja a melhor solução, já que neste caso, cada ação é comparada de maneira igual. Assim, o P/L da Petrobras de 12 em 2012 tem o mesmo peso do P/L de 191,8 da Locamerica.

Terceiro, o índice funciona se assumir que a empresa fará distribuição dos lucros. Existindo retenção em volume elevado, o índice perde parte da sua utilidade.

Que vença o melhor

Em geral as competições esportivas possuem dois formatos. O campeonato, onde cada time ou esportista compete com outro. Ao final de uma série de confrontos, aquele que conquistar maior número de vitórias ou maior número de pontos é considerado o vencedor. Um exemplo do campeonato é o de futebol. A grande desvantagem do campeonato é o número de confrontos. Para declarar um campeão brasileiro de futebol são necessárias 38 partidas para cada time, ao longo de muitos meses.

Uma segunda forma de competição é através de um esquema conhecido como “mata-mata”. São sorteados os confrontos e o vencedor leva tudo. Uma competição de tênis geralmente possui este formato. Sua vantagem é a redução do número de jogos para apontar o vencedor. Em Wimbledon são 128 competidores, mas somente seis rodadas para chegar ao campeão.

(Também existem as competições mistas, com parte no formato de campeonato e parte de copa. É o caso da "Copa" do Mundo, onde a primeira fase tem o estilo de campeonato, já que em cada grupo, todos jogam contra todos)

A rapidez com que o formato de mata-mata aponta o campeão parece possuir uma grande desvantagem: a possibilidade de competidor de pior nível ganhar o torneio. No tênis masculino isto parece não ocorrer com muita frequência, já que os torneios, nos últimos anos, foram dominados por Nadal-Federer-Djoko-Murray. Mas isto não ocorre no feminino, onde existe um revezamento nas conquistas. Em alguns esportes, onde se têm um sistema de ranqueamento, é possível afirmar com certeza que um jogador ou um time é pior do que outro. Isto ocorre no tênis: quando Federer perde para Belucci, por exemplo, sabemos que é uma zebra, já que Federer é um dos melhores do mundo e Belucci não está entre os Top 20.

Esta ocorrendo agora na Georgia um torneio de xadrez no estilo Copa. Cento e vinte e oito jogadores começaram a disputar o troféu e a possibilidade de participar da disputa para ser o desafiante do atual campeão do mundo. O xadrez é um esporte onde é possível saber com bastante precisão que um jogador com um ranking de 2830 não deve perder para outro com um ranking de 2700. Mas o que a Copa do Mundo de Xadrez mostra é que o formato de mata-mata é injusto e talvez não selecione o melhor jogador. Veja a figura a seguir. Trata-se do ranking dos melhores jogadores do mundo. Como as regras do ranking são de conhecimento de todos, é possível saber a influencia na pontuação de um jogo que acabou de ser realizado. Este ranking foi obtido na quarta, de noite, já com os resultados da rodada da Copa do Mundo. Dos 27 melhores jogadores do mundo, somente 5 não perderam pontos no ranking. Ou seja, 22 jogadores tiveram um desempenho abaixo do esperado para sua pontuação.
Na verdade este resultado é pior. Dos cinco que não perderam pontos, dois não estão jogando a Copa do Mundo. Assim, de 25 jogadores entre os melhores do mundo, somente 3 (ou 12%) estão fazendo a sua parte. O primeiro do ranking fez quatro jogos nas duas primeiras rodadas e obteve quatro vitórias; na etapa seguinte, contra um jogador de 2700 de ranking, Carlsen perdeu o primeiro jogo e empatou o segundo. No total saiu do torneio com 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota. E menos 1 ponto no ranking.

Este resultado é interessante já que o xadrez permite que uma partida tenha as vezes mais de seis horas de duração e os jogadores são vistos como nerds, frios e calculistas. Não são, como pode ser provado pelo desempenho dos melhores entre os melhores. Alguns deles, como Anand, que perdeu 11 pontos, participam de torneios deste tipo há anos.

Saindo um pouco da situação atual, a desvantagem do formato "mata-mata" é evidente se você olhar a lista dos campeões mundiais de xadrez. É possível perceber a presença de Khalifman, Ponomariov e Kazimdzhanov. Os três não estão/estavam entre os grandes jogadores de todos os tempos, mas venceram uma Copa, num momento que o campeão era definido por este sistema. O primeiro era número 44 do mundo quando se sagrou campeão; Ponomariov era sétimo e Kazim era número 54. (fonte: aqui).

Quando uma disputa esportiva tiver o formato de Copa, talvez não seja possível dizer: “que vença o melhor”.