Quando tentamos ser especialista numa área precisamos conhecer bem a terminologia utilizada. Com o desenvolvimento da rede mundial de computadores isto tornou-se mais difícil por dois motivos. Em primeiro lugar, o acesso aos termos ficou mais democrático. Assim, uma pessoa com poucos conhecimentos já está sendo exposta de muitos termos técnicos e passa a usá-los de maneira nem sempre apropriada. E com bastante confiança de que está correto. Em segundo lugar, tornou-se mais rápido a criação e divulgação de novos termos, alguns nem sempre novos.
No ITR da Klabin, referente ao período encerrado em 30 de junho, a empresa afirma que “obteve uma redução do custo caixa de produção”. Num trecho na página 22 a empresa esclarece:
contempla os custos de produção das fibras curta, longa e fluff e as toneladas produzidas de celulose no período. O custo caixa de produção não contempla despesas de vendas, gerais e administrativas, constituindo exclusivamente o montante dispendido na produção da celulose.
Logo depois:
O custo caixa unitário total, que contempla a venda de todos os produtos da Companhia (...) Vale lembrar que o custo caixa do trimestre também foi afetado sazonalmente pela parada anual programada para manutenção na fábrica de Monte Alegre (PR).
Apesar da confusão generalizada que a empresa faz com os termos “custo”, “desembolso” e “despesa”, aparentemente o termo custo caixa de produção corresponde a “saída de caixa para produção dos itens que foram vendidos no período”.
A forma como a empresa divulga a informação nas demonstrações induz o usuário a pensar que se trata de algo comum para os analistas. Fiz uma pesquisa no Google com o termo “custo caixa unitário total” e recebi de volta somente 161 resultados (figura). Parece que o termo não é tão comum assim. E o interessante é que as primeiras respostas foram todas relacionadas com uma empresa: a Klabin.
P.S.: A Suzano usa o termo Custo Caixa, aparentemente no mesmo sentido da Klabin. Isto muda alguma coisa? A princípio não, já que um termo não pode ser de uso restrito para uma empresa ou um setor.
04 agosto 2017
Ambev e a recuperabilidade
Em março de 2017, ao publicar suas demonstrações anuais, a Ambev confessou que não faz um teste de recuperabilidade decente. Explicamos depois a conveniência de realizar um teste realmente correto. Na divulgação das demonstrações do segundo trimestre a empresa diz que:
A análise de impairment do goodwill e ativos intangíveis de vida útil indefinida são revistos pelo menos anualmente e sempre que houver indícios de redução ao valor de recuperação da unidade geradora de caixa a qual ele foi alocado. A Companhia aplica julgamento para selecionar alguns métodos, incluindo o método de fluxo de caixa descontado e faz suposições sobre o valor justo de instrumentos financeiros que se baseiam principalmente em condições de mercado existentes na data de cada balanço.
Pelo menos não se compromete. De qualquer forma, no trimestre, a empresa baixou 50 milhões de reais para uma base de no mínimo de 19 bilhões. Isto corresponde a 0,3%.
A análise de impairment do goodwill e ativos intangíveis de vida útil indefinida são revistos pelo menos anualmente e sempre que houver indícios de redução ao valor de recuperação da unidade geradora de caixa a qual ele foi alocado. A Companhia aplica julgamento para selecionar alguns métodos, incluindo o método de fluxo de caixa descontado e faz suposições sobre o valor justo de instrumentos financeiros que se baseiam principalmente em condições de mercado existentes na data de cada balanço.
Pelo menos não se compromete. De qualquer forma, no trimestre, a empresa baixou 50 milhões de reais para uma base de no mínimo de 19 bilhões. Isto corresponde a 0,3%.
02 agosto 2017
Confusão gráfica
A primeira vez que olhei o gráfico acima, que faz parte das demonstações contábeis da Cielo, achei estranho. Pareceria, na figura, que o lucro líquido estava crescendo, mas existia uma variação negativa de -10,2%. Olhando mais atentamente verifica-se que a empresa divulgou o gráfico com o primeiro semestre de 2017 primeiro - de azul - e 2016 depois - de cinza. Ou seja, inverso do que geralmente fazemos quando se constroi um gráfico.
Mas o gráfico a seguir tem um problema. O resultado financeiro da empresa caiu, de 1.019,7 milhões para 816 milhões. Ou seja, uma variação de “-20%” e não “20%”.
Evolução nos juros reais
O gráfico mostra a evolução da taxa de juros anuais reais na economia brasileira, de 2004 até junho de 2017. A taxa usada no gráfico é a Selic e o deflator é o IPCA, calculado pelo IBGE. Depois de atingir o valor máximo de quase 13% em agosto de 2005, os juros reais caíram ao longo do tempo, até início de 2013. Naquele momento, o governo tinha adotado a postura de reduzir os juros, sem uma política econômica adequada. Os juros reais aumentaram desde então, chegando ao patamar de 5% em dezembro de 2014. O aumento nos juros reais nos últimos meses, para algo em torno de 7% ao ano, ocorreu em razão da redução nos preços aos consumidor, de 9% em agosto de 2016 para 3% em junho de 2017.
01 agosto 2017
Projeção de variáveis na Embraer
Das seis variáveis (o fluxo de caixa livre é uma projeção mais recente e por isto não estamos considerando aqui), duas a empresa acertou no intervalo de projeção: receita e entregas. Nas dez projeções realizadas, acertou o intervalo de nove: só errou a receita de 2016.
Em três variáveis, o erro foi muito superior ao acerto. No valor de gasto com pesquisa e desenvolvimento, a projeção da empresa foi maior do que o realizado nos anos de 2012 a 2015; em 2016, o valor projetado ficou abaixo do efetivo. Em todos os casos, a empresa justifica que isto não afetou ou não afetará o desempenho futuro. O valor de ativo menos máquinas, nas cinco tentativas, acertou em 2012, superestimou 2013 e subestimou nos anos seguintes. E a margem EBIT foi superestimada em 2012 e 2013, subestimada em 2014 e 2015 e conseguiram calibrar a projeção em 2016. Finalmente, a margem Ebitda teve, no período, três erros e dois acertos.
Arrisco uma possível explicação para este resultado: é muito mais fácil fazer a projeção da receita e das entregas do que das demais variáveis. A projeção da margem Ebit depende da projeção de cada uma das despesas operacionais, além das receitas. Como nem sempre os erros se anulam, um aumento inesperado numa despesa de pessoal pode afetar a projeção do Ebit.
De qualquer forma, eis o placar da bola de crista da Embraer: erros igual a 57% das projeções.
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