Há risco não desprezível de crescimento contínuo da dívida pública bruta até o nível de 124,5% do produto interno bruto (PIB), em 2030. O afastamento dessa ameaça dependerá de profundas alterações na dinâmica dos gastos públicos e da retomada do crescimento econômico. Para que as condições de sustentabilidade da dívida se restabeleçam, com segurança, e o País cresça a taxas mais robustas será preciso realizar um ajuste fiscal de maior profundidade.
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No cenário pessimista (probabilidade inferior à do básico, mas superior à do otimista), a dívida pública bruta assume trajetória contínua de crescimento até atingir 100% do PIB, entre 2021 e 2022, e 124,5% em 2030. Aqui, o resultado primário fica positivo apenas em 2026 (0,2% do PIB) e atinge 1,5% do PIB em 2030. São os resultados diretos e mais visíveis da não aprovação da reforma da Previdência e de outras mudanças estruturais que ajudem a conter a despesa. Uma trajetória persistentemente crescente para a dívida deixaria os juros reais mais altos do que nos cenários anteriores, pelo menos ao nível de 5,6% ao ano (média de 2019 a 2030).
Intermediário:
No cenário básico (mais provável), a dívida bruta salta dos atuais 71,7% do PIB (abril) para 92,4% em 2023 e passa a cair, lentamente, a partir de 2024. Nessa simulação, o resultado primário torna-se superavitário apenas em 2023 (0,3% do PIB), saindo do atual déficit de 2,3% do PIB (total acumulado nos 12 meses encerrados em abril) para um superávit de 3,5% do PIB em 2030. Nessa mesma simulação, o PIB volta a crescer de maneira mediana, convergindo para uma taxa média de 2,1% no período de 2019 a 2030, com juros reais a 4,4% ao ano.
Otimista
No cenário otimista (menos provável), a dívida bruta alcança o ponto de máximo em 2022 (84,6% do PIB), passando a cair em ritmo razoável até atingir 53,6% do PIB, em 2030. Em 2022 o resultado primário fica positivo (0,5% do PIB). O PIB converge para uma média de 2,9% entre 2019 e 2030, com juros reais de 3,4% ao ano. Nesse cenário, o primário atinge 5,4% do PIB em 2030, esforço equivalente a cerca de dez vezes o nível necessário para estabilizar a dívida às condições de juros, crescimento econômico e nível de dívida considerados. Trata-se de quadro pouco provável, pois exigiria rara dinâmica restritiva para o gasto público, isto é, mudanças em todos os gastos obrigatórios, sobretudo nos salários públicos.
Fonte: aqui