Um notícia importante do NY Times sobre a questão ambiental nas empresas de petróleo. Mais especificamente sobre a Exxon:
Durante anos a Exxon Mobil insistiu que nas suas decisões de investimento levava em consideração o que a poluição por carbono poderia custar para a empresa.
(...) há evidências que a empresa (...) exagerou o valor dos seus ativos, fraudando os acionistas (...) "a evidência sugere não só que as informações públicas da Exxon sobre suas práticas de gerenciamento de risco eram falsas e enganosas, mas que a Exxon estava no meio de um esquema fraudulento para investidores e o público em geral".
O foco do texto do NYTimes é um relatório que a empresa divulgou em 2014 sobre o risco da empresa com as mudanças climáticas e como isto poderia prejudicar seus negócios. Esta semana os acionistas aprovaram uma medida para que a empresa tenha uma contabilidade mais aberta e detalhada. Um problema são as reservas que a empresa diz que possui. Ao avaliar estas reservas, a Exxon não considera a possibilidade de existir uma grande pressão pública para que estas reservas não sejam exploradas. Isto, naturalmente, poderia reduzir o seu valor na contabilidade da empresa. Além disto, parece que a empresa usa um número interno mais realista para o custo relacionado com o efeito estufa.
02 junho 2017
Por que copiar pessoas bem-sucedidas é uma má ideia?
O Presh Talwalkar do Mind Your Decisions fez uma análise interessante sobre a febre de conselhos de especialistas. As pessoas de sucesso recebem toda a atenção: de atletas campeões a líderes de sucesso. Então o que há de errado em copiar uma estratégia que alguém já provou que ela funciona?
A base foi o seguinte vídeo (há legendas em inglês, mas não em português):
Eis um sumário:
Copiar pessoas de sucesso é um erro pois pessoas bem-sucedidas são amostras aleatórias. Para avaliar uma estratégia, você precisa considerar os resultados típicos. Assim como você não julgaria uma dieta com base em algumas histórias de sucesso, você não deveria acreditar em uma estratégia de negócios com base em algumas poucas empresas lucrativas.
1. Pegue o e-mail de 50.000 pessoas e afirme ser capaz de prever o mercado acionário.
2. Para a metade das pessoas, fale que o mercado ficará estacionário ou subirá; para a outra metade diga que o mercado cairá.
3. Após uma semana, o mercado seguirá uma das duas previsões. Agora, então, siga com as 25.000 pessoas que receberam a previsão correta.
4. Repita o processo: mande para metade das pessoas uma previsão de que o mercado se manterá estável ou aumentará; envie para a outra metade uma previsão de que o mercado acionário cairá.
5. Repita o processo ao remover as pessoas que receberam a previsão errada.
6. Após 10 semanas haverá 50 pessoas que receberam apenas informações corretas e pensarão que o seu sistema de previsão funciona. Se cada um deles investir RS10.000, você poderá arrecadar RS 500.000.
O grupo que recebeu apenas previsões perfeitas só estará considerando o seu sucesso e não o processo como um todo, que teve várias falhas ao longo do caminho. Focar apenas os itens que “sobreviveram” a filtragem semanal é um exemplo de viés de sobrevivência.
Presh Talwalkar ressalta que no livro “Em Busca da Excelência” (Tom Peters, Robert H. Waterman) os autores descrevem 8 traços de sucesso de um grupo de 50 empresas utilizando dados de 1961 a 1980. Um estudo observou 35 empresas de capital aberto desde a publicação do livro, em 1982, até o fim de 2012. As companhias como um todo não tiveram um bom desempenho: 20 tinham retornos de mercado abaixo da média e 5 abriram falência.
Talwalkar afirma que por causa do viés de sobrevivência você deve ser cético a respeito de resultados baseados em uma amostra completamente aleatória. Você deverá analisar a estratégia com base em falhas e sucessos. Por exemplo, diversas pessoas seguem uma dieta da moda porque outras pessoas perderam vários quilos com ela. Esse comportamento ignora as falhas previsíveis de dietas da moda: se alguma delas funcionou antes, não haveria a necessidade de um novo tipo de dieta.
A maioria das pessoas cai no viés da sobrevivência e, então, aparecem várias reportagens e livros com conselhos enganosos do porquê se copiar pessoas de sucesso.
A base foi o seguinte vídeo (há legendas em inglês, mas não em português):
Eis um sumário:
Copiar pessoas de sucesso é um erro pois pessoas bem-sucedidas são amostras aleatórias. Para avaliar uma estratégia, você precisa considerar os resultados típicos. Assim como você não julgaria uma dieta com base em algumas histórias de sucesso, você não deveria acreditar em uma estratégia de negócios com base em algumas poucas empresas lucrativas.
1. Pegue o e-mail de 50.000 pessoas e afirme ser capaz de prever o mercado acionário.
2. Para a metade das pessoas, fale que o mercado ficará estacionário ou subirá; para a outra metade diga que o mercado cairá.
3. Após uma semana, o mercado seguirá uma das duas previsões. Agora, então, siga com as 25.000 pessoas que receberam a previsão correta.
4. Repita o processo: mande para metade das pessoas uma previsão de que o mercado se manterá estável ou aumentará; envie para a outra metade uma previsão de que o mercado acionário cairá.
5. Repita o processo ao remover as pessoas que receberam a previsão errada.
6. Após 10 semanas haverá 50 pessoas que receberam apenas informações corretas e pensarão que o seu sistema de previsão funciona. Se cada um deles investir RS10.000, você poderá arrecadar RS 500.000.
O grupo que recebeu apenas previsões perfeitas só estará considerando o seu sucesso e não o processo como um todo, que teve várias falhas ao longo do caminho. Focar apenas os itens que “sobreviveram” a filtragem semanal é um exemplo de viés de sobrevivência.
Presh Talwalkar ressalta que no livro “Em Busca da Excelência” (Tom Peters, Robert H. Waterman) os autores descrevem 8 traços de sucesso de um grupo de 50 empresas utilizando dados de 1961 a 1980. Um estudo observou 35 empresas de capital aberto desde a publicação do livro, em 1982, até o fim de 2012. As companhias como um todo não tiveram um bom desempenho: 20 tinham retornos de mercado abaixo da média e 5 abriram falência.
Talwalkar afirma que por causa do viés de sobrevivência você deve ser cético a respeito de resultados baseados em uma amostra completamente aleatória. Você deverá analisar a estratégia com base em falhas e sucessos. Por exemplo, diversas pessoas seguem uma dieta da moda porque outras pessoas perderam vários quilos com ela. Esse comportamento ignora as falhas previsíveis de dietas da moda: se alguma delas funcionou antes, não haveria a necessidade de um novo tipo de dieta.
A maioria das pessoas cai no viés da sobrevivência e, então, aparecem várias reportagens e livros com conselhos enganosos do porquê se copiar pessoas de sucesso.
01 junho 2017
Links
Vídeo: a dificuldade de pronunciar Covfefe (uma palavra digitada por Trump no seu Twitter que ninguém sabe o que é)
HSBC faz parceria com empresa de AI para reduzir a lavagem de dinheiro
Toshiba e a falta do parecer do auditor
Eletrobras x Petrobras = briga de duas estatais por R$1,7 bilhão na justiça
Uber tem prejuízo
Wells Fargo: "sem fraude, a matemática não funciona"
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Wells Fargo: "sem fraude, a matemática não funciona"
Frase
O modelo de "rede global" da indústria de auditoria é o veículo legal usado para gerar responsabilidade, em uma versão Big Four de Catch Me If You Can . (Francine McKenna)
Segundo a McKenna, o modelo das empresas de auditoria é estabelecer sócios, até que surja um problema. Quando atende uma empresa em qualquer lugar do mundo, a auditoria enfatiza a rede global necessária para suprir as necessidades dos clientes. Se ocorre problema, negam a estrutura, para evitar responsabilidade legal. McKenna foca no caso da PwC, que "evitou" ver um problema de despesa pessoal com dinheiro da Fifa.
Segundo a McKenna, o modelo das empresas de auditoria é estabelecer sócios, até que surja um problema. Quando atende uma empresa em qualquer lugar do mundo, a auditoria enfatiza a rede global necessária para suprir as necessidades dos clientes. Se ocorre problema, negam a estrutura, para evitar responsabilidade legal. McKenna foca no caso da PwC, que "evitou" ver um problema de despesa pessoal com dinheiro da Fifa.
Notícias, notícias e notícias
Quatro textos diferentes, com origens diferentes, provocam uma reflexão sobre notícias e jornalismo. Comecemos por dois textos acadêmicos.
No início desta semana postamos um resumo de uma pesquisa realizada na França sobre a propagação de notícias. O advento dos meios modernos de comunicação aumentou o tempo que uma notícia é divulgada pelos meios de comunicação, através do mecanismo do “colar copiar”. A pesquisa mostrou que a rapidez na propagação é decorrente da cópia, mas que a reputação pode ajudar a resolver em parte este problema. A pesquisa é importante por discutir um aspecto bastante comum nos dias atuais, que é a reprodução de notícias. Mais do que a redução no custo de produção de notícias, tivemos uma substancial queda no custo de reprodução. Isto não ocorreu somente com o jornalismo, mas também com os livros acadêmicos - onde a cultura do PDF expandiu e fez cair a venda das obras, ou nos filmes, onde novos canais de acesso e o aumento da oferta derrubou os preços (vide Netflix ou torrents).
Ontem Danielle Nunes defendeu sua tese sobre Incerteza Política (vide aqui uma postagem do blog). A professora utilizou a base de dados do jornal O Globo de 1985 a 2015 para verificar o comportamento mensal dos fatos políticos que podem ter afetado o mercado acionário brasileiro. Os resultados mostram que o mercado sofre influencia da incerteza doméstica e daquela originária de outros países. O jornalismo, representado no estudo pelas notícias do jornal carioca, seria a expressão deste sentimento de incerteza.
As duas pesquisas citadas acima mostram a relevância das notícias sob a ótica acadêmica. Não menos importante para esta reflexão são dois textos postados na rede.
O primeiro é uma análise da relação entre notícia e dinheiro, feita no blog Stumbling And Mumbling. A discussão é o papel do dinheiro sobre a produção de notícias. Dillow pergunta se a presença de dinheiro na produção de notícias poderia afetar sua qualidade e se o jornalismo seria diferente. Ele faz uma ligação com textos acadêmicos, que teriam a mesma questão para responder: a pesquisa mudaria se não houvesse dinheiro envolvido? Não buscamos de forma obsessiva o p-valor dos resultados? Creio que o dinheiro não é o único motivador da escrita: afinal este blog existe há 11 anos. Mas prestígio intelectual, idealismo e necessidade de compartilhar nossos pensamentos também podem ser relevantes. O leitor precisa ver como ficamos (eu, Isabel e Pedro) contentes quando recebemos elogios.
O último é um texto longo do promarket sobre o jornalismo empresarial . Representa um resumo de um painel no Stigler Center, mas existe uma nas linhas uma grande decepção com este tipo de texto. E isto inclui críticas a enorme dependência de relatórios produzidos pelas empresas, ao invés de buscar uma análise mais crítica, o que torna os jornalistas dependentes das fontes e passíveis de serem enganados. O texto lembra duas pesquisas conduzidas por Dyck e Zingales, uma de 2002 e outra de 2008 - esta com a participação de Moss, onde a imprensa é analisada sob a ótica corporativa. Alguns dos painelistas focam suas críticas as empresas que controlam as notícias, que exclui ponto de vista marginal e afastam os textos investigativos.
Talvez a única certeza seja que a discussão não acabou.
No início desta semana postamos um resumo de uma pesquisa realizada na França sobre a propagação de notícias. O advento dos meios modernos de comunicação aumentou o tempo que uma notícia é divulgada pelos meios de comunicação, através do mecanismo do “colar copiar”. A pesquisa mostrou que a rapidez na propagação é decorrente da cópia, mas que a reputação pode ajudar a resolver em parte este problema. A pesquisa é importante por discutir um aspecto bastante comum nos dias atuais, que é a reprodução de notícias. Mais do que a redução no custo de produção de notícias, tivemos uma substancial queda no custo de reprodução. Isto não ocorreu somente com o jornalismo, mas também com os livros acadêmicos - onde a cultura do PDF expandiu e fez cair a venda das obras, ou nos filmes, onde novos canais de acesso e o aumento da oferta derrubou os preços (vide Netflix ou torrents).
Ontem Danielle Nunes defendeu sua tese sobre Incerteza Política (vide aqui uma postagem do blog). A professora utilizou a base de dados do jornal O Globo de 1985 a 2015 para verificar o comportamento mensal dos fatos políticos que podem ter afetado o mercado acionário brasileiro. Os resultados mostram que o mercado sofre influencia da incerteza doméstica e daquela originária de outros países. O jornalismo, representado no estudo pelas notícias do jornal carioca, seria a expressão deste sentimento de incerteza.
As duas pesquisas citadas acima mostram a relevância das notícias sob a ótica acadêmica. Não menos importante para esta reflexão são dois textos postados na rede.
O primeiro é uma análise da relação entre notícia e dinheiro, feita no blog Stumbling And Mumbling. A discussão é o papel do dinheiro sobre a produção de notícias. Dillow pergunta se a presença de dinheiro na produção de notícias poderia afetar sua qualidade e se o jornalismo seria diferente. Ele faz uma ligação com textos acadêmicos, que teriam a mesma questão para responder: a pesquisa mudaria se não houvesse dinheiro envolvido? Não buscamos de forma obsessiva o p-valor dos resultados? Creio que o dinheiro não é o único motivador da escrita: afinal este blog existe há 11 anos. Mas prestígio intelectual, idealismo e necessidade de compartilhar nossos pensamentos também podem ser relevantes. O leitor precisa ver como ficamos (eu, Isabel e Pedro) contentes quando recebemos elogios.
O último é um texto longo do promarket sobre o jornalismo empresarial . Representa um resumo de um painel no Stigler Center, mas existe uma nas linhas uma grande decepção com este tipo de texto. E isto inclui críticas a enorme dependência de relatórios produzidos pelas empresas, ao invés de buscar uma análise mais crítica, o que torna os jornalistas dependentes das fontes e passíveis de serem enganados. O texto lembra duas pesquisas conduzidas por Dyck e Zingales, uma de 2002 e outra de 2008 - esta com a participação de Moss, onde a imprensa é analisada sob a ótica corporativa. Alguns dos painelistas focam suas críticas as empresas que controlam as notícias, que exclui ponto de vista marginal e afastam os textos investigativos.
Talvez a única certeza seja que a discussão não acabou.
Dinheiro para não falir
A Comissão Europeia e Itália concordaram em resgatar o banco problemático Monte dei Paschi di Siena, desenhando um projeto de plano de reestruturação que envolve cortes significativos de custos, algum bail-in da parte dos investidores, atingindo as obrigações, e a imposição de tectos à remuneração da administração, avança o FT.
Fonte: Aqui. É o dilema de salvar ou não um banco. Neste caso, uma instituição que existe desde 1472. Provavelmente a idade da instituição deve ter pesado na decisão: muito antigo para falir, então.
Fonte: Aqui. É o dilema de salvar ou não um banco. Neste caso, uma instituição que existe desde 1472. Provavelmente a idade da instituição deve ter pesado na decisão: muito antigo para falir, então.
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