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10 maio 2017

Uberização da contabilidade?

Um artigo no Jornal Econômico fala da uberização da contabilidade. Como o texto foi publicado num jornal português, a leitura precisa levar em consideração as peculiaridades locais. O autor começa com o seguinte diagnóstico:

Paira a sensação de que a maior parte dos contabilistas está demasiado focada no cumprimento das inúmeras obrigações que tem perante o Fisco e os seus clientes, não tendo capacidade de antever o que está para chegar. E este cenário torna-se ainda mais preocupante se pensarmos que ao longo de 2017 a contabilidade das empresas irá sofrer profundas alterações devido à entrada em vigor das Taxonomias, que acarretam mudanças quer no Plano de Contas, quer na estrutura do ficheiro SAFT-(PT).


A segunda parte do parágrafo é de interesse local. Mas não acredito que a implantação de taxonomia ou mudança no plano de contas possam ser usados como argumento.

Consciente ou não dessa realidade, a transformação digital dos Escritórios de Contabilidade está a entrar pelos gabinetes adentro, não pela porta grande mas pela fibra que os conecta à Segurança Social ou ao Ministério das Finanças.


É interessante que o grande usuário da contabilidade parece ser o governo, como no nosso país.

Todos estão a ser puxados para a era digital, ainda que sem darem por isso, e talvez muitos não estejam ainda preparados para tirar o máximo proveito das ferramentas que lhes são impostas.


Isto não é uma característica exclusiva da contabilidade.

Mas afinal, o que é isto da “uberização” da contabilidade?
É muito simples traçar um paralelo entre ambas as realidades: a do transporte privado de passageiros e a prestação de serviços de contabilidade. Se imaginarmos que o “destino” pretendido pelos clientes dos contabilistas é o cumprimento atempado das obrigações fiscais, então teremos uma “viagem” normal, semelhante àquela que é proporcionada pelo serviço de táxi tradicional.


Tenho dúvidas se o gestor deseja um serviço “uber”, como afirma o texto. Em alguns casos, sim. Mas na grande maioria, o gestor é muito orgulhoso para ter alguém dando palpite. Além disto, o papel de “guiar” a gestão, numa grande empresa, talvez seja também o papel da área de marketing, produção, etc. E o profissional mais preparado para isto é o consultor, que sabe como vender seus “conselhos”. Não estou dizendo que a informação contábil não seja relevante; mas que a informação contábil, da forma como é entregue hoje, não é interessante para o gestor. Parece que o autor está tentando vender o Uber Black, quando o gestor quer o Uber X.

Porém, se oferecermos ao cliente um serviço mais ágil, que permita guiá-lo pelos pontos de maior interesse na gestão da sua empresa, que proporcione informação relevante exatamente na hora certa, contribuindo para a monitorização da performance e para o aumento da rentabilidade, aí o serviço será diferenciador.


Bom, parece que o autor reconhece que o serviço de Uber Black não é feito hoje pela contabilidade (mais adiante iremos saber que isto não ocorre somente nas pequenas empresas). E fala da necessidade de tempestividade, informação para controle e melhoria de desempenho.

Tecnologia aplicada ao serviço é o futuro
Muitos contabilistas já disponibilizam este serviço diferenciador às grandes contas, no entanto, a maioria das PME acede ainda a um serviço tradicional de táxi. A questão que se coloca é: como disponibilizar este serviço global a todas as empresas? A resposta é simples: tecnologia aplicada ao serviço – tal como fez a Uber.


O foco do texto então são as pequenas empresas. Nestas não existe o serviço de Uber e faz-se necessário a tecnologia aplicada ao serviço. Sejamos realista: é muito difícil substituir a visão do gestor/dono da pequena empresa por tempestividade, informação para controle e melhoria de desempenho. Mais difícil ainda é convencer o gestor/dono a aceitar esta informação.

É aqui que entra o papel essencial das software houses, também elas desafiadas a encontrar soluções que permitam agilizar a relação entre cliente e contabilista, deixando para trás um modelo de trabalho tradicional que limita a produtividade e o papel de consultoria de negócio que os contabilistas devem ter e, por outro lado, tira agilidade às empresas e dificulta o acesso a indicadores de gestão e informação de apoio à decisão, que podem ser tão decisivos na performance empresarial.

A grande diferença está na experiência que se tem ao longo do “percurso” e nos resultados obtidos. Cabe agora a cada um decidir como pretende fazer a “viagem”, sem esquecer que é na velocidade que hoje está a diferenciação.

Finalizando o texto com os desafios para cada profissional.

Doutorado na Argentina

Do Diário Oficial de hoje (página 13):


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09 maio 2017

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Perigo da Economia sem Dinheiro

Num artigo publicado na Fortune, Milo M. Benningfield chama atenção para os perigos da ausência do dinheiro. O primeiro destaque do autor refere-se ao fato de que geralmente consumimos mais com cartão de crédito do que com dinheiro físico. Quando abrimos nossa carteira e tiramos um nota de dez reais, sentimos muito mais a perda do que quando entregamos nosso cartão para passar numa máquina. E a diferença é muito maior com um cartão de crédito, já que o ser humano utiliza o desconto hiperbólico nas suas decisões pessoais: pesamos mais o presente do que o futuro, o que faz com que a pessoa não pondere adequadamente o esforço do pagamento futuro da fatura do cartão.

Mas o futuro pode ser pior, segundo as experiências potenciais que estão sendo feitas por algumas empresas. A Amazon está criando uma loja onde o cliente sequer precisa passar pelo caixa, bastando pegar o produto e levar para sua casa. Isto será feito a partir de dispositivos que dispensaria a existência do cartão de crédito. Se no mundo atual já não é vantajoso a compra com a fricção de retirar um cartão da sua carteira, imagine sem necessitar deste gesto. Benningfield pergunta: como vamos garantir que estaremos vivendo dentro dos nossos recursos?

Um dos principais instrumentos de controle das finanças pessoais, o fluxo de caixa, também deve sofrer. Afinal, será que teremos paciência para listar nossas despesas e as receitas, fazendo o controle do que gastamos? O exercício de montar um fluxo de caixa pessoal ajuda não somente verificar se estamos vivendo dentro dos nossos limites, mas também sugere questionamentos sobre os gastos que fazemos. Os especialistas em finanças pessoais consideram o fluxo de caixa como uma atividade muito importante no controle dos gastos.

A princípio, num mundo sem dinheiro, seria mais fácil fazer e controlar o fluxo de caixa. As informações podem ser usadas num app do celular, agregando as informações dos cartões de débito, de crédito, das contas correntes e outros. Mas ter acesso a um instrumento de controle não garante seu uso. Na realidade, usar um app de finanças pessoais exige um certo trabalho e tempo que muitas vezes não estamos dispostos a fazer.

Além disto, o mundo sem dinheiro tende a valorizar mais o gasto presente, conforme já dizemos anteriormente. E o dinheiro para aposentadoria? E os recursos para a viagem dos sonhos? E a reserva para um problema de saúde ou um potencial desemprego? Conforme lembra o autor, o “custos emocional” de olhar um fluxo de caixa é, muitas vezes, a maior barreira para usar este instrumento. Muito embora os custos de não usar são maiores. Em outras palavras, o maior custo de não ter um fluxo de caixa é ficar vulnerável as influências invisíveis: as compras por impulso e todos os instrumentos que o marketing usa para empurrar produtos para os idiotas clientes.

Finalmente, num mundo sem dinheiro o comprador está dando, de graça, algo extremamente valioso: informação detalhada sobre ele. Com esta informação, as ofertas serão direcionadas especialmente para fazer você consumir mais, mesmo sem necessidade. Lembra Milo M. Benningfield: fluxo de caixa pessoal nos permite ser um participante pleno, não um espectador, da nossa vida.

The Perils Of A Cashless Economy, Fortune

Rir é o melhor remédio

Enquanto isto, na Espanha...


Fonte: Aqui