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21 abril 2017

Saga do Desemprego Continua no Setor Contábil

Segundo dados do Ministério do Trabalho, divulgados esta semana e coletados por este blog, o problema do desemprego no setor contábil continua. No mercado de trabalho formal foram contratados 8.221 profissionais em março e demitidos 9.790, indicando uma variação negativa de 1.569 vagas.

É interessante lembrar que em janeiro de 2017 tivemos o primeiro mês com criação de vagas no mercado de trabalho formal do setor contábil desde outubro de 2015. Em fevereiro foi a vez dos dados globais apresentarem criação de vagas, a primeira desde março de 2015. De 2014 para cá foram quase 3 milhões de vagas de empregos que foram destruídas na economia brasileira. No setor contábil foram 33.450 vagas a menos de janeiro de 2014 até março de 2017.

Assim, a reversão de tendência ocorrida em janeiro no setor contábil (e em fevereiro na economia) parece muito mais algo passageiro. Os números do mês são ruins: o salário dos demitidos é 22% mais alto do que o salário dos admitidos e o tempo médio de emprego dos demitidos está aumentando (36,83 meses em média) indicando que a crise também ocorre nos funcionários com maior experiência de trabalho. O pior é que o número de demitidos foi sempre maior do que os admitidos, não importa o gênero, o grau de escolaridade e o tipo de trabalho. Em nove categorias pesquisadas (gênero, escolaridade e tipo), em todas tivemos destruição de vagas de trabalho.

20 abril 2017

Texto Como Dado

As primeiras pesquisas na área contábil usavam os números produzidos pela contabilidade e os preços das ações das empresas. Nos últimos anos, cresce as pesquisas que extrapolam o conforto de tomar as cotações das ações e fazer relações estatísticas com alguma variável (divulgação de uma notícia, desempenho da empresa, evolução temporal são alguns dos itens de uma lista grande). Os pesquisadores começaram a perceber que contabilidade não significa só número. Quando uma empresa divulga suas demonstrações contábeis, a grande maioria das informações, nos dias de hoje e para grandes empresas, são apresentadas em textos. Somente uma pequena parcela sãos os números das demonstrações contábeis. Mais ainda, a comunicação de desempenho de uma empresa com seus investidores não ocorre somente em quatro datas fixas ao longo do ano; nos dias de hoje, uma empresa está entregando informações sobre seu desempenho cada vez que divulga uma informação na rede social ou num fato relevante ou numa declaração de um gestor para algum canal de comunicação.

Se o número tem o poder de dar uma informação de forma “precisa”, o texto pode ser amorfo. Se a coleta do valor do lucro de uma empresa é feita rapidamente através da linha deste item na demonstração do resultado, o mesmo não se pode dizer do sentimento da empresa sobre as suas perspectivas futuras, que poderia estar expressa no relatório da administração ou num comentário do seu twitter oficial.

Assim, não é surpresa nenhuma olhar a história da pesquisa contábil e certificar que a grande maioria dos artigos tiveram nas suas informações numa base de dados numérica. Além disto, o pesquisador que se aventurou em usar os dados textuais – oral ou escrito – teve que enfrentar dois grandes desafios. O primeiro é a coleta e tratamento dos dados. As narrativas geralmente não estão disponíveis a um clique da base de dados existente na minha universidade; elas precisam ser coletadas, reunidas, convertidas de PDF para um arquivo texto e criadas as condições de análise. O trabalho é enorme.

O segundo grande desafio é a subjetividade da informação. Quando um pesquisador coleta um lucro de 134 milhões de reais num exercício social de uma empresa, esta é a informação “precisa” e clara que ele irá usar. Mas quando um executivo de uma empresa escreve “outra conquista importante foi conviver e superar um contexto macroeconômico hostil” o que isto significa? (Esta frase peguei por acaso o Relatório da Administração da CEB) Isto é uma afirmação otimista ou pessimista? E junto com a subjetividade existe a desconfiança sobre a existência de “erros” na pesquisa.

Mas o aparente esgotamento das pesquisas estritamente numéricas, a exigência dos avaliadores de que uma pesquisa deve trazer algo mais que uma aplicação de um método quantitativo para um conjunto de números que estão disponíveis, a expansão da comunicação não numérica entre empresa e usuário, além do surgimento de instrumentos para este tipo de pesquisa, podem ser um anúncio de que as pesquisas com textos serão promissoras.

Neste sentido, o artigo “Text as Data”, de Matthew Gentzhow, Bryan Kelly e Matt Taddy não somente destacam a relevância deste tipo de pesquisa, como indicam algumas das ferramentas existentes e apresentam alguns exemplos relevantes. Um exemplo é sua utilização para preços das ações. Outro, a determinação de autoria de um texto. Também é possível usar a pesquisa narrativa para determinar o sentimento de um banco central nos seus comunicados. Ou observar o sentimento da imprensa. E assim por diante.

Futuros pesquisadores: o desafio está lançado.

Links

Ação contra PwC (EUA) por discriminação na idade

Os melhores designs anunciados (ao lado)

As vantagens de fazer o resumo de um artigo numa linguagem simples

A cor do automóvel e a chance de roubo

Fotografias de dentistas no passado

O desafio da marca Sharapova na sua volta ao tênis

Esforço da Odebrecht para sair da crise

O Valor Econômico traz uma análise da situação financeira do grupo Odebrecht. (O texto pode ser acesso aqui, para assinantes). Diante das revelações e da desconfiança do setor financeiro, a empresa trava uma luta pela continuidade. Os processos judiciais representam uma grande saída de caixa, seja em multas, impostos atrasados, além de sinalizar um potencial enorme nos atrasos dos repasses do governo. Reduzindo a entrada de caixa e aumentando os pagamentos, o saldo existente de 17 bilhões de reais pode ser pouco para suportar a crise. O texto também afirma que o balanço deve ser publicado com atraso. E, segundo estimativa deste blogueiro, com um grande prejuízo, já que a empresa deve reconhecer provisões judiciais, perdas de recuperabilidade e resultado negativo na venda de ativos.

Com respeito a este último item, o esforço do grupo é fazer caixa (vide figura acima). É a estratégia do "vão-se os anéis, ficam os dedos". Mas a forma de fazer negócios da empresa precisa ser alterada e este fato também deve ser levado em consideração. Além disto, a Odebrecht virou um nome maldito: fazer negócios com o grupo será visto com desconfiança.

As chances de descontinuidade são grandes neste momento. Uma mudança radical, com a venda do grupo, a saída da família dos negócios, a mudança do nome ou o conjunto destas medidas pode ser a solução possível.

Resenha: Imposters

Um dia Ezra Bloom descobre que sua esposa, a mulher dos seus sonhos, foi embora. Mas não somente isto: ela limpou as finanças da empresa da família e alertou que se Ezra tentasse segui-la, um segredo familiar seria revelado. Ao final do primeiro episódio, Ezra descobre que não está sozinho no reino dos trouxas: Richard aparece para dizer que também sofreu o mesmo golpe. Os dois decidem procurar a vigarista e descobrem Jules, uma artista que também foi enganada. O trio se junta para encontrar a impostora, que aplica estes golpes junto com Max e Sally, sob a supervisão de uma figura sinistra, chamada Doctor. Maddie, a vigarista, está em Seattle para mais um golpe num gerente de banco.

Este é o início da série Imposters. Não é nenhum Breaking Bad ou House of Cards, que permite grandes reflexões. Sua nota é um 7,8 no IMDB, o site com informações sobre filmes e televisão. Mas é aquele programa que tem uma surpresa a cada episódio, sem muita enrolação. Os personagens são simpáticos e a cultura dos golpistas mostra que a malandragem não é exclusividade brasileira. Cada episódio tem o padrão de 41 minutos. Não existe nenhum astro conhecido, a exceção de Uma Thurman (a noiva de Kill Bill e Mia de Pulp Fiction), que faz um papel relativamente pequeno.

No primeiro episódio, Max, um dos parceiros de Maddie, trabalha como contador na firma da família de Ezra Bloom. Em outros episódios existem casos de lavagem de dinheiro, uso de dinheiro público sem controle e outros assuntos pertinentes.

Vale a Pena? - Para quem deseja uma série para passar o tempo, sem muita pretensão, Imposters é uma boa recomendação.

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui