21 março 2017
Curso de Contabilidade Básica: Demonstração do Fluxo ou dos Fluxos?
Quando os pais escolhem o nome do seu filho passarão os próximos meses (ou anos) insistindo que as pessoas usem o nome escolhido. Não é “Paulo”, mas “Paulo Henrique” ou não é “Guto”, mas “Augusto”.
O mesmo ocorre com a denominação contábil estabelecida pelos reguladores. Um dos enganos mais comuns é chamar a DFC de “demonstração do fluxo de caixa”. A norma que regula esta demonstração no Brasil, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, recebe a numeração de CPC 03 – é isto mesmo, tem um zero à esquerda na numeração – e o nome de “Demonstração dos Fluxos de Caixa”. Observe que o nome estabelecido na norma está no plural. A razão é simples: a demonstração irá mostrar três fluxos, conforme detalhamos no livro Curso de Contabilidade Básica, no segundo capítulo do primeiro volume: das atividades operacionais, das atividades de financiamento e das atividades de investimento.
Por alguma razão, existem pessoas que mudam o nome para “demonstração do fluxo de caixa” (também é possível encontrar “demonstrativo de fluxo de caixa” ou simplesmente “fluxo de caixa”). É um bom hábito acostumar falar corretamente o nome da DFC. E quando uma grande empresa, com receita e ativos na casa dos bilhões, comete este engano? Não é tão raro assim. No dia 14 de março de 2017 a Metalúrgica Gerdau publicou um extrato das suas demonstrações no jornal. Observe na figura:
Obviamente está incorreto. Nas demonstrações completas disponibilizadas no endereço da empresa este erro não aparece, assim como nas demonstrações do grupo Gerdau.
O mesmo ocorre com a denominação contábil estabelecida pelos reguladores. Um dos enganos mais comuns é chamar a DFC de “demonstração do fluxo de caixa”. A norma que regula esta demonstração no Brasil, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, recebe a numeração de CPC 03 – é isto mesmo, tem um zero à esquerda na numeração – e o nome de “Demonstração dos Fluxos de Caixa”. Observe que o nome estabelecido na norma está no plural. A razão é simples: a demonstração irá mostrar três fluxos, conforme detalhamos no livro Curso de Contabilidade Básica, no segundo capítulo do primeiro volume: das atividades operacionais, das atividades de financiamento e das atividades de investimento.
Por alguma razão, existem pessoas que mudam o nome para “demonstração do fluxo de caixa” (também é possível encontrar “demonstrativo de fluxo de caixa” ou simplesmente “fluxo de caixa”). É um bom hábito acostumar falar corretamente o nome da DFC. E quando uma grande empresa, com receita e ativos na casa dos bilhões, comete este engano? Não é tão raro assim. No dia 14 de março de 2017 a Metalúrgica Gerdau publicou um extrato das suas demonstrações no jornal. Observe na figura:
Obviamente está incorreto. Nas demonstrações completas disponibilizadas no endereço da empresa este erro não aparece, assim como nas demonstrações do grupo Gerdau.
20 março 2017
Gestão de Riscos e a Operação Carne Fraca
A operação da Polícia Federal Carne Fraca teve um profundo impacto nas duas principais empresas do setor de alimentos do Brasil. Na sexta as ações da JBS e BRF caíram 10,59% e 7,25%, nesta ordem. Em que pese as controvérsias da operação (vide aqui, por exemplo), o fato é que as empresas atingidas com a denúncia estão sofrendo uma perda de confiabilidade pela opinião pública.
Olhando as demonstrações contábeis de ambas empresas, na área relacionada com o risco, percebemos como a gestão parece estar restrita as questões de câmbio ou mudanças nos preços dos commodities. Nas duas empresas, os comentários sobre a gestão de risco são longos, mas voltados para estes dois aspectos somente.
Na JBS a nota explicativa 30 comenta sobre instrumentos financeiros e gestão de riscos. Afinal, se a empresa foi econômica em discutir os efeitos dos problemas legais que seus executivos estão enfrentando – recentemente os irmãos Batista, que comandam a empresa, tiveram que fazer um acordo bilionário para saírem da cadeia -, imagina uma discussão sobre um possível risco de mercado. São muitos números para discutir o risco de liquidez, de crédito e de câmbio. Na verdade, na nota 30 a empresa trata do risco de mercado, comentando o seguinte:
Em particular, as exposições a risco de mercado são constantemente monitoradas, especialmente os fatores de risco relacionados a variações cambiais, de taxa de juros e preços de commodities (…)
Na BRF é pior. O termo “risco de mercado” sequer é mencionado de forma isolada. Mas quem poderia prever os fatos relatados sobre a forma como estas empresas estavam operando?
Olhando as demonstrações contábeis de ambas empresas, na área relacionada com o risco, percebemos como a gestão parece estar restrita as questões de câmbio ou mudanças nos preços dos commodities. Nas duas empresas, os comentários sobre a gestão de risco são longos, mas voltados para estes dois aspectos somente.
Na JBS a nota explicativa 30 comenta sobre instrumentos financeiros e gestão de riscos. Afinal, se a empresa foi econômica em discutir os efeitos dos problemas legais que seus executivos estão enfrentando – recentemente os irmãos Batista, que comandam a empresa, tiveram que fazer um acordo bilionário para saírem da cadeia -, imagina uma discussão sobre um possível risco de mercado. São muitos números para discutir o risco de liquidez, de crédito e de câmbio. Na verdade, na nota 30 a empresa trata do risco de mercado, comentando o seguinte:
Em particular, as exposições a risco de mercado são constantemente monitoradas, especialmente os fatores de risco relacionados a variações cambiais, de taxa de juros e preços de commodities (…)
Na BRF é pior. O termo “risco de mercado” sequer é mencionado de forma isolada. Mas quem poderia prever os fatos relatados sobre a forma como estas empresas estavam operando?
Curso de Contabilidade Básica Como identificar o que influenciou o resultado de uma empresa
Quando uma empresa apresenta uma melhora ou um desempenho pior no seu resultado, a análise das demonstrações contábeis pode ajudar a identificar a razão deste fato. De uma maneira geral é possível identificar as causas de um resultado melhor ou pior a partir de uma análise comparativa. Vamos mostrar como isto pode ser feito para uma instituição financeira. O balanço e a demonstração de resultado de uma instituição financeira geralmente é um pouco diferente de uma empresa comercial ou industrial e usamos este exemplo para mostrar que a análise na sua essência se mantém.
Apresentamos, na figura a seguir, a demonstração do resultado do exercício (DRE) do Banco do Brasil.
O item (1) mostra que o resultado da entidade caiu de 14,4 bilhões para 8 bilhões ou seja, reduziu 6,4 bilhões. Mas o que provocou a piora deste desempenho? Observe no item (2) que o resultado bruto da intermediação financeira aumentou de 22 bilhões para 31,9 bilhões ou quase 10 bilhões a mais. E que o resultado operacional também aumentou, de 6,3 para 14,1 bilhões ou 7,8 bilhões a mais. Assim, a redução pode ser parcialmente explicada pelo resultado operacional, já que “outras receitas/despesas operacionais” aumentou, de 15,7 para 17,9 bilhões. Mas, mesmo assim, não pode ser uma explicação: afinal o lucro diminuiu e o resultado operacional aumentou.
Assim, a explicação pelo que reduziu o resultado está entre a linha “resultado operacional” e “lucro líquido”. Entre estas duas linhas, temos: resultado não operacional, imposto de renda e contribuição social e participações. A explicação para a redução do lucro deve estar numa destas três linhas, ou em duas delas ou em todas.
Vamos tentar fazer uma análise de cada uma dessas linhas que compõem a estrutura da DRE:
Resultado não operacional = este item era R$5,9 bilhões em 2015 e caiu para R$0,2 bilhão em 2016
Imposto de Renda = era positivo em 5,7 bilhões e ficou negativo em 3,6 bilhões
Participações = o valor somado em 2015 era de R$3,57 e caiu para 2,7 bilhões, o que não explica o desempenho.
Podemos perceber que, embora a DRE já nos tenha trazido informações relevantes sobre a alteração do resultado do Banco do Brasil, ela ainda não traz explicações muito precisas sobre a resposta à pergunta que propomos responder.
Assim, buscamos verificar se há informações adicionais apresentadas nas Notas Explicativas. Lá encontramos explicações adicionais sobre o que ocorreu no “resultado não operacional” e no “imposto de renda”. O resultado não operacional está melhor explicado numa nota explicativa, a de número 22. A seguir a reprodução desta nota explicativa:
O que se destaca na nota? A linha de ganhos de capital, para 2015, tem um valor de quase 6 bilhões. No ano seguinte o valor é de 210 milhões somente. Existe uma nota que explica esta discrepância: ganho da parceria estratégica com a Cielo.
O próximo valor a ser investigado é do imposto. Veja na primeira figura que a nota explicativa correspondente é a 24a. A seguir a reprodução da nota:
Novamente, é necessário que o usuário observe as grandes variações. Neste caso, uma variação de 9,3 bilhões, já que o imposto de renda era positivo (5,7 bilhões) e passou para um valor negativo (3,6 bilhões). Ao observar a nota explicativa pode-se perceber que ocorreu uma grande mudança na linha “diferenças temporais” do ativo fiscal diferido, de quase dez bilhões.
Assim, de maneira resumida, o resultado do Banco do Brasil foi decorrente de uma operação de ganho de capital com a Cielo e de diferenças temporais do ativo fiscal diferido, todas ocorridas em 2015.
Percebam que foi possível fazer toda essa análise e respondermos a pergunta inicial apenas comparando os valores dos dois exercícios sociais. Mas outras respostas podem ser retiradas das demonstrações contábeis, por meio da análise dos índices. Caso queira aprender um pouco mais sobre esse assunto, não deixe de estudar o capítulo 5 do Curso de Contabilidade Básica, volume 1. Lá você entenderá melhor como a DRE é apresentada e o significado de cada um dos componentes que vimos aqui e que compõe a estrutura dessa demonstração. Além disso, apresentamos dois indicadores de análise da DRE. Não deixe de conferir!!
Apresentamos, na figura a seguir, a demonstração do resultado do exercício (DRE) do Banco do Brasil.
O item (1) mostra que o resultado da entidade caiu de 14,4 bilhões para 8 bilhões ou seja, reduziu 6,4 bilhões. Mas o que provocou a piora deste desempenho? Observe no item (2) que o resultado bruto da intermediação financeira aumentou de 22 bilhões para 31,9 bilhões ou quase 10 bilhões a mais. E que o resultado operacional também aumentou, de 6,3 para 14,1 bilhões ou 7,8 bilhões a mais. Assim, a redução pode ser parcialmente explicada pelo resultado operacional, já que “outras receitas/despesas operacionais” aumentou, de 15,7 para 17,9 bilhões. Mas, mesmo assim, não pode ser uma explicação: afinal o lucro diminuiu e o resultado operacional aumentou.
Assim, a explicação pelo que reduziu o resultado está entre a linha “resultado operacional” e “lucro líquido”. Entre estas duas linhas, temos: resultado não operacional, imposto de renda e contribuição social e participações. A explicação para a redução do lucro deve estar numa destas três linhas, ou em duas delas ou em todas.
Vamos tentar fazer uma análise de cada uma dessas linhas que compõem a estrutura da DRE:
Resultado não operacional = este item era R$5,9 bilhões em 2015 e caiu para R$0,2 bilhão em 2016
Imposto de Renda = era positivo em 5,7 bilhões e ficou negativo em 3,6 bilhões
Participações = o valor somado em 2015 era de R$3,57 e caiu para 2,7 bilhões, o que não explica o desempenho.
Podemos perceber que, embora a DRE já nos tenha trazido informações relevantes sobre a alteração do resultado do Banco do Brasil, ela ainda não traz explicações muito precisas sobre a resposta à pergunta que propomos responder.
Assim, buscamos verificar se há informações adicionais apresentadas nas Notas Explicativas. Lá encontramos explicações adicionais sobre o que ocorreu no “resultado não operacional” e no “imposto de renda”. O resultado não operacional está melhor explicado numa nota explicativa, a de número 22. A seguir a reprodução desta nota explicativa:
O que se destaca na nota? A linha de ganhos de capital, para 2015, tem um valor de quase 6 bilhões. No ano seguinte o valor é de 210 milhões somente. Existe uma nota que explica esta discrepância: ganho da parceria estratégica com a Cielo.
O próximo valor a ser investigado é do imposto. Veja na primeira figura que a nota explicativa correspondente é a 24a. A seguir a reprodução da nota:
Novamente, é necessário que o usuário observe as grandes variações. Neste caso, uma variação de 9,3 bilhões, já que o imposto de renda era positivo (5,7 bilhões) e passou para um valor negativo (3,6 bilhões). Ao observar a nota explicativa pode-se perceber que ocorreu uma grande mudança na linha “diferenças temporais” do ativo fiscal diferido, de quase dez bilhões.
Assim, de maneira resumida, o resultado do Banco do Brasil foi decorrente de uma operação de ganho de capital com a Cielo e de diferenças temporais do ativo fiscal diferido, todas ocorridas em 2015.
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19 março 2017
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