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05 fevereiro 2017

História da Contabilidade: livro “Elementos do Commercio” (1867)

Para fazer uma postagem sobre a história da contabilidade, este autor passa algumas horas pesquisando o acervo da Biblioteca Nacional, especialmente a sua hemeroteca digital, na seção dos jornais. O volume de informação é tão expressivo, que resolvi fazer uma pesquisa por década. Usando palavras como “contabilidade”, “guarda-livros”, “escripturação”, entre outras, podemos encontrar inúmeras referências sobre o assunto nos jornais antigos. Só para que o leitor tenha uma ideia, pesquisando “contabilidade” na década de 1860 é possível encontrar milhares de referências; somente o jornal Amazonas foram mais de quarenta vezes que o termo foi capturado pelo instrumento de busca. A grande maioria dos casos a pesquisa é desapontadora: são legislações, algumas específicas (e minha experiência mostra que a legislação pode ser um marco de referência para a evolução das estruturas jurídicas do país, mas muitas delas foram normas que não foram efetivamente aplicadas; além disto, creio que já explorei demais este assunto), termos fora do contexto, situação de pouco interesse ou repetições de pontos já abordados nas postagens. Às vezes é possível descobrir temas interessantes, como foi o caso da postagem de 23 de janeiro passado, sobre a Mucuri.

O tema de hoje é um anúncio publicado justamente no Amazonas, em 12 de outubro de 1867 (ano II, número 71) onde João Baptista de Figueiredo T. Aranha oferece o livro Elementos do Commercio, para “juventude estudiosa dedicada a profissão mercantil e da syntelologia”.

A primeira coisa que intriga é o termo syntelologia. No livro “Principios de Syntelologia”, de 1831, José Ferreira Borges explica que é a ciência que trata dos meios de prover as necessidades do estado político com recursos do estado social. Corresponderia ao que denominamos de finanças públicas, pelo que entendi da explicação de Borges. De qualquer forma, o termo não vingou e caiu no esquecimento.

O segundo aspecto que me interessou no anúncio é o fato de ser uma obra editada por um professor do Liceu paraense. Em 1872 o Brasil fez o primeiro censo demográfico e tinha quase 10 milhões de habitantes. Mas boa parte desta população não era alfabetizada, o que limita o potencial de venda de uma obra como esta. Mais ainda, trata-se de uma obra escrita e impressa no norte do país, onde o número de habitantes sempre foi, historicamente, reduzido. Mesmo assim, é interessante saber que uma obra como esta tinha um autor que se aventurava em publicá-la e isto pode ser uma demonstração que também existia pessoas interessadas em comprar o livro.

Arrisco a considerar duas justificativas para a publicação desta obra, e a existência de leitores. Em primeiro lugar, como já destacamos várias vezes nas postagens históricas do blog, a contabilidade era ensinada desde os primeiros anos de estudos na época do Império. Assim, todas as pessoas que estivessem em processo de alfabetização poderiam adquirir o livro. Em segundo lugar, o que se entendia por contabilidade era algo bem mais amplo; além das partidas dobradas, ensinava-se conversão do câmbio e de outras medidas, alguns aspectos jurídicos de empresas, noções de comércio, entre outros assuntos. Assim, um texto como este poderia ser de interesse do comerciante, quando necessitava fazer uma conversão cambial entre a moeda do império e a libra esterlina, por exemplo.

Ao final da minha leitura do anúncio fiquei imaginando como podemos pesquisar a riqueza do ensino de contabilidade no passado em cada província ou cidade. Como seria importante que os trabalhos de conclusão de curso também se interessassem em saber os primórdios da contabilidade em Sergipe, Goiás Velho e outras tantas localidades existentes no país. Material é que não falta. Fiquei imaginando que esta postagem teria um imenso valor para seu autor se soubesse que o texto provocou o interesse de professores e alunos em se dedicar ao passado. Afinal,

“o que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir” (Brandt e Nascimento)

Rir é o melhor remédio


04 fevereiro 2017

Links

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A invenção dos animais de estimação

Somente 0,1% dos artigos em economia são replicados

As melhores e as piores publicidades do Super Bowl 51

Fato da Semana: Resultado do Tesouro

Fato: Resultado do Tesouro

Data: 30 de janeiro de 2017

Contextualização

A relação entre as receitas e despesas públicas tem apresentado deterioração nos últimos anos. O governo não consegue arrecadar mais por dois motivos: concedeu "incentivos" para alguns setores e a recessão econômica reduziu a fonte do dinheiro do setor produtivo. Podemos acrescentar outra razão: a carga tributária é tão elevada que torna-se difícil aumentar as alíquotas.
Já do lado da despesa o governo não consegue fazer mais com o recurso que obtém. Temos aqui um problema da qualidade do gasto público. Falta também definir prioridades na despesa.
Além disto, temos o problema da previdência. O país está perdendo uma oportunidade representada pela presença de jovens na força de trabalho; brevemente, a pirâmide da idade irá mudar e teremos mais pessoas idosas, e aposentadas, para sustentar. É uma questão de distribuição de renda entre gerações: permanecendo como está a situação da previdência do país, os jovens de hoje terão que trabalhar muito mais daqui há vinte/trinta anos; e as crianças de hoje irão retardar sua aposentadoria. É justo?

Relevância

A divulgação do resultado mostra o fracasso da contabilidade pública por três motivos (pelo menos). Primeiro, o regime de competência ainda é um sonho no setor. Segundo, os resultados são de difíceis compreensão. Terceiro, mesmo com a LRF, ainda é possível esconder resultados e manipular a contabilidade (por exemplo, através das pedaladas).

Notícia boa para contabilidade?

Não. Temos tido a incapacidade de melhorar a contabilidade pública.

Desdobramentos

No ano de 2017 ainda teremos despesas maiores que receita. O governo tem-se mostrado lento em cortar os gastos; não consegue aumentar a receita em razão dos problemas econômicos. É bem verdade que está conseguindo aprovar algumas reformas.

Mas a semana só teve isto?

Não. Tivemos quatro fatos importantes. Primeiro, a notícia do falecimento de Ijiri, um grande nome da contabilidade internacional, que passou desapercebido (falha lamentável). Segundo, a Apple não pagou a multa para comunidade européia. Terceiro, o Deustche Bank divulgou seus resultados, que incluiu o pagamento de multa por fraudes. Finalmente, começaram a temporada de balanços.

Rir é o melhor remédio


03 fevereiro 2017

Teoria Moderna de Finanças é um lixo!

No artigo abaixo, Eugene Fama diz que boa parte da Teoria Moderna de Finanças é inútil. Segundo ele:

1) Modelos de precificação de ativos não têm validade empírica.
2) Estimar o custo de capital é muito difícil.
3) Beta individual é lixo. Beta de indústria são muito instáveis.
4) Estimativas de prêmio pelo risco não são confiáveis e não têm utilidade prática.
5) Proposições de Modigliani e Miller não têm importância.
 6) Fama também é cético em relação às Finanças Comportamentais.

Acho que isso é novidade apenas para acadêmicos. Traders e fundos de hedge bem -sucedidos já sabem disso há várias décadas. Como acadêmicos não correm riscos no mundo real, eles podem continuar ensinando essas porcarias para seus alunos.

Resumo:

  In a conversation held in June 2016 between Nobel laureate Eugene Fama of the University of Chicago and Joel Stern, chairman and CEO of Stern Value Management, Professor Fama revisited some of the landmarks of “modern finance,” a movement that was launched in the early 1960s at Chicago and other leading business schools, and that gave rise to Efficient Markets Theory, the Modigliani‐Miller “irrelevance” propositions, and the Capital Asset Pricing Model. These concepts and models are still taught at prestigious business schools, whose graduates continue to make use of them in corporations and investment firms throughout the world. But while acknowledging the staying power of “modern finance,” Fama also notes that, even after a half‐century of research and refinements, most asset‐pricing models have failed empirically. Estimating something as apparently simple as the cost of capital remains fraught with difficulty. He dismisses betas for individual stocks as “garbage,” and even industry betas are said to be unstable, “too dynamic through time.” What's more, the wide range of estimates for the market risk premium — anywhere from 2% to 10% — casts doubt on their reliability and practical usefulness. And as if to reaffirm the fundamental insight of the M&M “irrelevance” propositions — namely, that what companies do with the right‐hand sides of their balance sheets “doesn't matter” — Fama observes that “we still have no real resolution on the key questions of debt and taxes, or dividends and taxes. But if he has reservations about much of modern finance, Professor Fama is even more skeptical about subfields now in vogue such as behavioral finance, which he describes as “mostly just dredging for anomalies,” with no underlying theory and no testable predictions. Although he does not dispute that a number of well‐documented traits from cognitive psychology show up in individual behavior, Fama says that behavioral economists have thus far failed to come up with a testable theory that links cognitive psychology to market prices. And he continues to defend the concept of “efficient markets” with which his name has long been closely associated, while noting that empirically based asset pricing models such as his (with Ken French) “three‐factor” CAPM have produced much better results than the standard CAPM.

Fonte: Fama, Eugene F. and Stern, Joel M., A Look Back at Modern Finance: Accomplishments and Limitations (Fall 2016). Journal of Applied Corporate Finance, Vol. 28, Issue 4, pp. 10-16, 2016. Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=2902370 or http://dx.doi.org/10.1111/jacf.12206