Recentemente descobriu-se que o tradicional banco Wells Fargo criou contas para seus clientes sem a sua autorização. Isto serviu para que os funcionários cumprissem as metas estabelecidas pela gestão, mas inflou o desempenho dos bancos. Em razão do porte da instituição financeira, o problema está sendo analisado com detalhes pela imprensa.
Um artigo da Forbes (Elizabeth Warren Sends Misguided Letter To KPMG About Wells Fargo)
apresenta um aspecto interessante relacionado com a auditoria. O autor lembra que a criação de contas falsas no Wells Fargo já era de conhecimento público. O jornal LA Times já tinha informado esta prática em 2013. O ponto que o artigo desenvolve é o papel da empresa de auditoria, a KPMG, neste ponto. Será que a denúncia do jornal não foi suficiente para que a KPMG modificasse sua auditoria? Esta questão envolve uma discussão polêmica sobre o papel da auditoria: inclui ou não identificar fraudes. Mas neste caso, a KPMG deveria saber do assunto, que era público desde 2013, e não alterou seu parecer, inclusive na questão dos controles internos da instituição financeira.
03 novembro 2016
Caixa e FGTS
O Estado de S Paulo divulga um estudo de um assessor do legislativo federal. Marcos Kohler identificou um problema na gestão do FGTS e a Caixa:
Ao fazer uma análise dos balanços do FGTS, Köhler identificou que um grande volume de recursos são sacados do Fundo especificamente para pagar o chamado “subsídio financeiro” – espécie de subvenção criada para reduzir os juros dos financiamentos a famílias de baixa renda dentro do Minha Casa Minha Vida. Essa ajuda foi criada para deixar a prestação mensal da casa própria mais barata e caber no bolso do comprador.
Cruzando as normas do Conselho Curador do FGTS, os saques no Fundo e os dados do balanço da Caixa, o economista concluiu que o volume de subsídios financeiros é elevado porque o FGTS paga tudo à vista para Caixa. Na avaliação dele, esse detalhe, por si só, já seria controverso. Mas ele constatou que o procedimento abriu espaço para duas outras práticas que considera mais graves.
A primeira é que os valores, apesar de serem pagos à vista, hoje, são engordados pelos juros do futuro. “O certo seria, como se diz no jargão da contabilidade, trazer a valor presente: descontar o efeito de juros, e isso faria com que o valor pago fosse bem menor”, diz Köhler, que fez várias projeções para chegar a essa conclusão.
O segundo problema, na avaliação dele, é que a Caixa registra tudo de uma vez só no balanço, o que não é permitido. Pela circular 1.273 do Banco Central, que rege o Plano Contábil do Sistema Financeiro (Cosif), receitas e despesas devem ser registradas no período em que elas ocorrem (dentro do regime de competência, como se diz no jargão da contabilidade), e não na data do efetivo ingresso ou desembolso. Pela regra que regula a sua concessão, o subsídio financeiro é calculado levando-se em consideração “a taxa de administração” que cabe à Caixa e “o diferencial de juros” ao longo de todo o período do financiamento, que pode se prolongar por até 30 anos.
O autor do artigo do jornal procurou a Caixa e outros técnicos para analisar o estudo de Kohler. A Caixa considera que o pagamento adiantado tem como objetivo "Ressarcir os custos administrativos e operacionais, os riscos e a alocação de capital incorridos pelos agentes essencialmente até o momento da contração da operação".
Em razão das elevadas taxas de juros praticadas no Brasil, e isto inclui a Selic, TR e caderneta de poupança, e do prazo longo das operações, os valores são elevados. Kohler estimou um valor adicional de 15 bilhões. Comparado ao ativo total da Caixa não é muito. Mas não deixa de ser uma transferência de renda dos depositantes do FGTS, os trabalhadores, para o acionista controlador da Caixa, o governo.
Ao fazer uma análise dos balanços do FGTS, Köhler identificou que um grande volume de recursos são sacados do Fundo especificamente para pagar o chamado “subsídio financeiro” – espécie de subvenção criada para reduzir os juros dos financiamentos a famílias de baixa renda dentro do Minha Casa Minha Vida. Essa ajuda foi criada para deixar a prestação mensal da casa própria mais barata e caber no bolso do comprador.
Cruzando as normas do Conselho Curador do FGTS, os saques no Fundo e os dados do balanço da Caixa, o economista concluiu que o volume de subsídios financeiros é elevado porque o FGTS paga tudo à vista para Caixa. Na avaliação dele, esse detalhe, por si só, já seria controverso. Mas ele constatou que o procedimento abriu espaço para duas outras práticas que considera mais graves.
A primeira é que os valores, apesar de serem pagos à vista, hoje, são engordados pelos juros do futuro. “O certo seria, como se diz no jargão da contabilidade, trazer a valor presente: descontar o efeito de juros, e isso faria com que o valor pago fosse bem menor”, diz Köhler, que fez várias projeções para chegar a essa conclusão.
O segundo problema, na avaliação dele, é que a Caixa registra tudo de uma vez só no balanço, o que não é permitido. Pela circular 1.273 do Banco Central, que rege o Plano Contábil do Sistema Financeiro (Cosif), receitas e despesas devem ser registradas no período em que elas ocorrem (dentro do regime de competência, como se diz no jargão da contabilidade), e não na data do efetivo ingresso ou desembolso. Pela regra que regula a sua concessão, o subsídio financeiro é calculado levando-se em consideração “a taxa de administração” que cabe à Caixa e “o diferencial de juros” ao longo de todo o período do financiamento, que pode se prolongar por até 30 anos.
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02 novembro 2016
Iasb divulga agenda para os próximos cinco anos
O Iasb divulgou um comunicado com a agenda para os próximos cinco anos. Segundo o International Accounting Standards Board o foco das suas atividades será "melhor comunicação" das demonstrações contábeis. Segundo o comunicado, o Iasb irá focar na eficácia da comunicação das demonstrações, com um "novo olhar" sobre a sua apresentação e agrupamento.
Além disto, a entidade pretende:
a) completar os grandes projetos de normas, que inclui as regras sobre seguros e a estrutura conceitual;
b) apoiar a implementação dos novos padrões e os existentes
c) focar nos projetos de pesquisas. Segundo o Iasb, isto significa reduzir o número de tópicos para tentar concluir os estudos no prazo. Nos termos do Iasb:
In order to reduce the burden on stakeholders, we have decided to limit how many topics we work on at any one time.
Um aspecto interessante, que poderá decepcionar alguns no Brasil, o Iasb considerou "Projects for which no further work is planned" o tópico de inflação.
O documento completo encontra-se aqui
Além disto, a entidade pretende:
a) completar os grandes projetos de normas, que inclui as regras sobre seguros e a estrutura conceitual;
b) apoiar a implementação dos novos padrões e os existentes
c) focar nos projetos de pesquisas. Segundo o Iasb, isto significa reduzir o número de tópicos para tentar concluir os estudos no prazo. Nos termos do Iasb:
In order to reduce the burden on stakeholders, we have decided to limit how many topics we work on at any one time.
Um aspecto interessante, que poderá decepcionar alguns no Brasil, o Iasb considerou "Projects for which no further work is planned" o tópico de inflação.
O documento completo encontra-se aqui
01 novembro 2016
Desigualdade de gênero no mercado de trabalho contábil?
Ao postar ontem sobre a questão do desemprego no setor contábil comentamos que "o saldo entre os admitidos e os demitidos é possível notar que a maioria deles é do sexo feminino (-658 versus -188)". Mas será que isto é algo comum no mercado de trabalho contábil? Lembrando que incluímos no nosso levantamento os contadores, auditores, técnicos de contabilidade e escriturários de contabilidade e a fonte primária da informação é o Caged, que abrange somente o mercado formal de trabalho.
Diante da questão sobre a possibilidade de existir desigualdade de gênero no mercado de trabalho, compilamos os dados de movimentação desde janeiro de 2015, quando começou a crise no setor. O resultado encontra-se na figura a seguir:
A linha vermelha são as mulheres e a azul os homens. Em cada mês é calculado o número de admitidos no mercado de trabalho e o número de demitidos. Quando ocorre mais admissões que demissões tem-se a criação de vagas de trabalho e a informação está acima da linha do "zero" do gráfico. O gráfico permite constatar que geralmente a linha dos homens está em posição acima da linha das mulheres. Como geralmente o número de demitidos tem sido superior ao de admitidos desde início de 2015, isto significa dizer que as mulheres estariam sofrendo mais com a crise de emprego na contabilidade. Ou seja, o empregador ao demitir tem escolhido prioritariamente as mulheres.
Mas como este gráfico mostra o desempenho de cada mês, não fica muito claro se a movimentação mensal seria mais favorável ao homem ou a mulher. O gráfico a seguir mostra o valor acumulado, desde o primeiro mês (janeiro de 2015). Aqui a visão do efeito da crise sobre o mercado de trabalho fica mais claro. E apesar das mulheres terem sido mais poupadas no início do processo, a partir de setembro de 2015 a situação se inverte.
Considerando os valores acumulados, o número de destruição de vagas para o gênero feminino foi de quase quinze mil postos; para o gênero masculino este número aproxima-se de dez mil. Ou seja, uma diferença de 50% a mais para o gênero feminino.
Estes números impressionam. Além da diferença salarial existente entre homens e mulheres, haveria uma diferença no momento de demitir o funcionário.
O problema da análise acima é que não sabemos quantos homens e quantas mulheres são atualmente empregadas no mercado de trabalho contábil. E esta informação é crucial para análise. Se o setor é ocupado principalmente pelos homens, isto é um sinal claro de desigualdade de gênero. Mas se o setor for ocupado prioritariamente pelas mulheres, dependendo da proporção, teríamos ou não um problema de desigualdade de gênero.
Infelizmente não é possível obter esta informação diretamente do Caged. Mas podemos usar alguns aproximações, como o número de horas contratadas, o tempo de emprego, a soma das idades dos trabalhadores e o salário mensal. Com base nestes parâmetros temos que a participação da mulher é de 62%, 60%, 62% e 56%, na ordem. Ou seja, a mulher detém uma parcela em torno de 60% do mercado de trabalho na contabilidade, segundo esta estimativa (de dezembro de 2014). Há uma diferença no salário, mas isto deve ser resultante do fato de salário pago para mulher ser menor que do homem.
Ficando com este percentual de 60%, precisamos determinar se o número do saldo de movimentação também está próximo deste valor. Como o saldo de movimentação acumulado é de 24.674 negativos, de janeiro de 2015 a setembro de 2016, o valor para as mulheres, de menos 14.864, corresponde a 60,2%. Podemos então concluir que o número maior de redução de vagas para as mulheres que está ocorrendo no mercado de trabalho contábil no Brasil nos últimos meses não decorre de preconceito contra a mulher. Infelizmente as demissões estão ocorrendo independente do gênero do trabalhador.
Diante da questão sobre a possibilidade de existir desigualdade de gênero no mercado de trabalho, compilamos os dados de movimentação desde janeiro de 2015, quando começou a crise no setor. O resultado encontra-se na figura a seguir:
A linha vermelha são as mulheres e a azul os homens. Em cada mês é calculado o número de admitidos no mercado de trabalho e o número de demitidos. Quando ocorre mais admissões que demissões tem-se a criação de vagas de trabalho e a informação está acima da linha do "zero" do gráfico. O gráfico permite constatar que geralmente a linha dos homens está em posição acima da linha das mulheres. Como geralmente o número de demitidos tem sido superior ao de admitidos desde início de 2015, isto significa dizer que as mulheres estariam sofrendo mais com a crise de emprego na contabilidade. Ou seja, o empregador ao demitir tem escolhido prioritariamente as mulheres.
Mas como este gráfico mostra o desempenho de cada mês, não fica muito claro se a movimentação mensal seria mais favorável ao homem ou a mulher. O gráfico a seguir mostra o valor acumulado, desde o primeiro mês (janeiro de 2015). Aqui a visão do efeito da crise sobre o mercado de trabalho fica mais claro. E apesar das mulheres terem sido mais poupadas no início do processo, a partir de setembro de 2015 a situação se inverte.
Considerando os valores acumulados, o número de destruição de vagas para o gênero feminino foi de quase quinze mil postos; para o gênero masculino este número aproxima-se de dez mil. Ou seja, uma diferença de 50% a mais para o gênero feminino.
Estes números impressionam. Além da diferença salarial existente entre homens e mulheres, haveria uma diferença no momento de demitir o funcionário.
O problema da análise acima é que não sabemos quantos homens e quantas mulheres são atualmente empregadas no mercado de trabalho contábil. E esta informação é crucial para análise. Se o setor é ocupado principalmente pelos homens, isto é um sinal claro de desigualdade de gênero. Mas se o setor for ocupado prioritariamente pelas mulheres, dependendo da proporção, teríamos ou não um problema de desigualdade de gênero.
Infelizmente não é possível obter esta informação diretamente do Caged. Mas podemos usar alguns aproximações, como o número de horas contratadas, o tempo de emprego, a soma das idades dos trabalhadores e o salário mensal. Com base nestes parâmetros temos que a participação da mulher é de 62%, 60%, 62% e 56%, na ordem. Ou seja, a mulher detém uma parcela em torno de 60% do mercado de trabalho na contabilidade, segundo esta estimativa (de dezembro de 2014). Há uma diferença no salário, mas isto deve ser resultante do fato de salário pago para mulher ser menor que do homem.
Ficando com este percentual de 60%, precisamos determinar se o número do saldo de movimentação também está próximo deste valor. Como o saldo de movimentação acumulado é de 24.674 negativos, de janeiro de 2015 a setembro de 2016, o valor para as mulheres, de menos 14.864, corresponde a 60,2%. Podemos então concluir que o número maior de redução de vagas para as mulheres que está ocorrendo no mercado de trabalho contábil no Brasil nos últimos meses não decorre de preconceito contra a mulher. Infelizmente as demissões estão ocorrendo independente do gênero do trabalhador.
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