Em postagens anteriores mostramos que os primeiros balanços publicados no Brasil ocorreram logo após a chegada da Família Real ao Brasil, em Salvador e no Rio de Janeiro, em entidades do hoje denominaríamos de terceiro setor.
Também mostramos como da empresa Beberibi, da então província de Pernambuco, evidenciava, nos anos 40 do século XIX, o que corresponde hoje ao diário. Quando analisamos a evolução histórica da contabilidade no Brasil, parece que os anos quarenta representaram o fortalecimento na evidenciação. Na postagem de hoje iremos mostrar como este período representou um grande salto na qualidade na divulgação dos resultados das entidades. Ao contrário das primeiras divulgações, nos anos quarenta temos empresas e bancos fazendo evidenciação. E esta evidenciação inclui não somente as demonstrações como também o que chamamos hoje de relatório da administração. É isto mesmo, a evidenciação do relatório da administração começa no Brasil no início do segundo império.
Vamos começar com a primeira evidenciação de uma norma contábil no Brasil. A Câmara da cidade do Rio de Janeiro publicou (1) como a contabilidade deveria registrar os eventos no livro de Receitas e Despesas:
Este é o mesmo modelo seguido pela Companhia de Beberibe, da qual reproduzimos (2) o lançamento do diário de abril de 1846 a seguir:
Observe que os eventos são numerados em ordem sequencial na terceira coluna. Na primeira tem o dia do mês que ocorreu o fato, na segunda o histórico e na última o valor. Após esta divulgação, um demonstrativo (3) de Deve-Haver:
No mesmo ano o Monte Pio Geral dos Servidores do Estado publica (4) seu balancete. O mesmo possui os itens divididos em receitas e despesas, com as colunas de real e nominal. As receitas incluíam as anuidades pagas e dinheiro de loteria e somavam um valor bem acima das despesas. Ou seja, era uma entidade com um superávit.
Um ano depois o Banco Commercial do Maranhão publicava um relatório de administração (5):
A publicação do Relatório da direção parece um pouco uma ata da assembleia da instituição. Mas a surpresa está depois deste relatório: uma comissão examinou a gestão do banco, incluindo a escrituração, os salários e até os controles físicos, no caso, o cofre da instituição (6).
Continua
(1) Diário do Rio de Janeiro, 7 janeiro de 1845, ano XXIV, n. 6810, p 3.
(2) Diário de Pernambuco, 24 de novembro de 1846, ano XXII, n 264, p 2.
(3) Idem
(4) Gazeta Official do Imperio do Brasil, 30 nov de 1846, v 1, n 77, p2 e 3
(5) A Revista, 21 agosto de 1847, ed 404, p2.
(6) A Revista, 21 agosto de 1847, ed 404, p3.