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05 julho 2015

História da Contabilidade: O primeiro livro de Contabilidade Publicado no Brasil

Numa postagem anterior afirmei que Burnier lançou

[...] o primeiro livro sobre o assunto escrito em língua portuguesa e publicado no Brasil: Elementos de contabilidade comercial.

Cometi uma grande falha: o livro de Burnier foi o segundo livro sobre o assunto escrito em língua portuguesa publicado no Brasil. Antes dos “Elementos de Contabilidade Comercial” foram publicados dois livros: uma tradução e um escrito originalmente em língua portuguesa. O problema desta história toda é que não consegui determinar dois fatos cruciais: qual destes dois foi publicado primeiro e qual o autor correto do livro traduzido. (Quem sabe alguém consiga resolver este dilema no futuro). Vamos comentar primeiro sobre o Metafísica.

Em 1833 o jornal “O Publicador” (1) apresenta o seguinte anúncio:


 Estevão Rafael de Carvalho foi um político do Maranhão, que chegou a ocupar o cargo que corresponderia ao de deputado federal. Na atividade política sua proposta mais impactante era a separação da Igreja brasileira da Santa Sé Romana (2). Durante anos teve uma atuação destacada no legislativo, na assembleia geral, mas perdeu uma eleição, voltou para sua província, onde ocupou um cargo público, de inspetor do tesouro provincial (3) até próximo da sua morte, que ocorreu em São Luis.no dia 26 de março de 1846 (4).

Sabe-se que Rafael foi também sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Sua formação foi realizada em Coimbra, no curso de ciências naturais (5). Também foi professor do Liceu Maranhense. Logo após seu falecimento escreveu sobre ele o Diário do Rio de Janeiro (6): Era homem ilustrado e talentoso, e apesar das excentricidades do seu caracter, a primeira capacidade do partido dominante (7) no Maranhão. Foi limpo de mãos n´este tempo em que tudo é corrupção.

A publicação da obra Mephasica poderia ser a primeira em língua portuguesa sobre contabilidade. Entretanto, apesar do anúncio de 1833, somente em 1837 aparece outra menção a obra, desta vez no Chronista (8). Um ano depois aparece um anúncio de venda do livro no jornal “A Phenix” (9). No mesmo ano o Correio Mercantil, da Bahia, diz que “sahio à luz a obra intitulada Metaphisica da Contabilidade Commercial” (10). Esta seria o primeiro candidato ao “primeiro livro de contabilidade publicado no Brasil”.

Em 1836 o Diário do Rio de Janeiro anunciava que entraria no prelo o livro Sciencia do Guarda Livros ensinada em 21 lições, e sem Mestre, ou Tratado Completo de Escripturação dos livros, em partidas simples e dobradas (11). A obra foi traduzida por João Candido de Deos e Silva, da obra original de Jaclot. João Candido foi um profícuo tradutor, com quase trinta obras (12).

Mas não é tão simples assim. Em 1838 aparece que João Candido traduziu O Guarda Livros de Mr. Degrange (13). No mesmo ano oferece o Methodo fácil de escriturar os livros por Degrange, mas com tradução de M. J. da Silva Porto (14). A dissertação de Amado Francisco da Silva, A Contabilidade Brasileira no Século XIX, informa que a Sciencia do Guarda-Livros é de 1835, de autoria de João Candido de Deus e Silva (15). O Catalogo de Livros do Gabinete Portuguez data este livro de 1836, assim como o Diccionario Bibliográfico Portuguez (16).

Diante disto permanecem as seguintes dúvidas: (a) qual a data de publicação original do livro de Rafael de Carvalho: 1833, tornando-o pioneiro na área, ou 1837/1838; (b) qual a data da publicação do livro traduzido: 1835, como encontra-se na dissertação de Amado Silva, 1836, pelas obras de referências do século XIX, ou 1836, conforme noticiou o Diário do Rio de Janeiro ou o ano seguinte? (c) a obra traduzida é uma adaptação de Jaclot ou de Degrange?; (d) quem foi seu tradutor: M. J. da Silva Porto ou João Candido de Deus e Silva? (e) se é verdade que Rafael de Carvalho publicou apostilas do seu livro em 1833, isto poderia ser considerada a primeira obra publicada no Brasil sobre o assunto? (f) devemos realmente confiar no ano de publicação que aparece na obra impressa?

(1) O Publicador Official, 13 de julho de 1833, ed. 176, p. 4. Deixei propositalmente a data do jornal constante do anúncio. O Publicador era um jornal publicado no Maranhão.
(2) Vide, por exemplo, Diario de Pernambuco, 11 de janeiro de 1836, ed. 7, p. 2.
(3) Diário do Rio de Janeiro, ed 7195, 27 de abril de 1846, p. 2
(4) Anuário Político Histórico e Estatístico do Brazil, edição I, p. 512.
(5) Segundo esta fonte “quando foi chamado para receber o grau de bacharel, recusou-o, dizendo que "estudava para saber e não para receber graus". Vide aqui.
(6) Diário do Rio de Janeiro, ed 7195, 27 de abril de 1846, p. 2. Foi casado com Olivia de Jesus Soeira de Carvalho e teve um filho, conforme Publicador Maranhense, 7 de setembro de 1847, ed. 552, ano vi.
(7) Provavelmente refere-se ao Partido Bem-te-Vi conforme Diário Novo, 30 de setembro de 1844, ano iii, ed. 212. É interessante notar que em 1838 chegou a ser preso em razão de política local. Vide O Bem Tevi, 25 de agosto de 1838, n. 17.
(8) Chronista, 11 de outubro de 1837, p. 3, ed. 104. O ano de 1837 é a data que aparece no sítio de literatura brasileira da UFSC. Amado, na sua dissertação de mestrado, afirma que a obra apareceu originalmente sob a forma de apostilas e somente após tomou o corpo de um livro. SILVA, Amado Francisco da Silva, A Contabilidade Brasileira no Século XIX, dissertação, São Paulo, PUC, 2005.
(9) A Phenix, 9 junho de 1838, ed. 39, p. 4. O valor solicitado era o mesmo de 1833.
(10) Correio Mercantil, 26 de abril de 1838, ed. 451, p. 4. Neste ano Burnier começa a publicar alguns artigos sobre o tema no O Despertador. Vide O Despertador, 7 de agosto de 1838, ed. 106, p. 4.
(11) Diário do Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1836, ed 13, p. 2.
(12) Conforme o endereço da UFSC. Mas neste endereço a obra consta com data de publicação de 1835, o que contradiz a citação do Diário do Rio de Janeiro. Observe que a grafia original do tradutor é Deos. (13) Diário do Rio de Janeiro, 13 de julho de 1838, ed. Xviii, p. 2.
(14) O Sete de Abril, 23 de novembro de 1838, ed 638, p. 4. Este nome não consta no Literatura Digital. Esta dúvida já estava registrada na nota 1 da postagem do blog.
(15) Vide aqui. A mesma obra indica que a obra de Rafael (ou Raphael conforme a dissertação) é de 1837.
(16) Obtidos através da pesquisa no Google, “Sciencia do Guarda-livros”.

04 julho 2015

Rir é o melhor remédio

Semente

Fato da Semana: Óculos (semana 26 de 2015)

Fato da Semana: A Moldávia é um pequeno país da Europa, que em 1991 tornou-se independente da URSS. Com uma população de menos de 4 milhões de habitantes, sua economia é reduzida e o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) é somente médio. A população fala romeno, uma língua derivada do latim, num território cercado pela Ucrânia e Romênia.

Desde o final de 2014 este país está vivendo uma crise sem precedentes. E o culpado atende pelo nome de Grant Thornton, uma das maiores empresas de auditoria do mundo. Em novembro do ano passado descobriu-se que três bancos daquele país (Unibank, Banca de Economii e Banca Sociala) estavam envolvidos em complexas operações financeiras que desviaram 1 bilhão de dólar do país. A “coincidência” é que os três eram auditados por uma filial da Grant Thornton desde 2010. E todas as instituições não tiveram nenhuma ressalva nas demonstrações contábeis. (vide uma descrição detalhada do caso aqui)

Qual a relevância disto? A negligência de uma empresa de auditoria é capaz de provocar grandes estragos. Mas esta talvez seja a primeira vez que a falta de qualidade seja responsável por uma grande crise econômica num país, suficiente para desestabilizar a economia de uma nação e levar inúmeras pessoas para as ruas. Novamente discutimos se é o papel da auditoria apontar fraudes (elas dizem que não) e se os incentivos criados para melhorar a qualidade deste trabalho estão funcionando.

Positivo ou Negativo– Negativo. Isto traz descrença no trabalho do auditor.

Desdobramentos – A Moldávia irá levar muito tempo para recuperar as perdas sofridas. E não irá conseguir responsabilizar aqueles que provocaram a crise, incluindo os contadores. É um pequeno país. Iremos esquecer este fato rapidamente, diante das inúmeras crises que virão. Mas será que os habitantes da Moldávia esquecerão?

Funk Fiscal

Vocês se lembram do Prof. Clifford, mencionado na postagem sobre o curso intensivo de economia no canal youtube Crash Course? Ele tem um canal próprio e lá propôs uma competição sobre músicas que falassem sobre a economia. O primeiro lugar está abaixo, o "funk fiscal":



Veja aqui o segundo lugar e o terceiro aqui.














Redução da maioridade penal e crime no Brasil


As pessoas não têm nenhuma noção sobre maioridade penal, diz professor
Em entrevista ao InfoMoney, o especialista em economia do crime João Manoel Pinho de Mello fala sobre a falta de conhecimento e dados sobre segurança no Brasil e a polarização das discussões

SÃO PAULO - O Brasil não tem dados suficientes para iniciar uma discussão profunda sobre a redução da maioridade penal. Essa é a conclusão do economista e professor do Insper João Manoel Pinho de Mello, em meio à evolução do assunto no Congresso, onde deverá ser votado ainda nesta semana. A complexidade da questão da segurança pública em um dos países com as maiores taxas de homicídio no mundo e a polarização da discussão em argumentos apaixonados, segundo ele, também dificulta o debate propositivo por melhorias no sistema.

Formado em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas, com mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e PhD em Economia pela Stanford University, João Manoel Pinho de Mello é especialista no tema Economia do Crime, sendo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências e coordenador da America Latina Crime and Policy Network (AL CAPONE) da Latin American and Caribbean Economic Association (LACEA)


InfoMoney - A discussão sobre a maioridade penal voltou ao centro da pauta de repente. O que o senhor tem a dizer a respeito?


João Manoel Pinho de Mello - Assim como várias outras discussões de política no Brasil, esta aparece de uma forma atabalhoada na pauta. Não vou fazer grandes elucubrações a respeito das razões pelas quais ela apareceu agora na pauta – poderia muito bem ter aparecido ao longo de muitos anos.


IM - A pressão popular é constante...


JMPM - Pois é. O Brasil mostra um movimento quase ininterrupto, constante para cima, da violência homicida a partir de meados da década de 1980. Alguns períodos de civilidade... A década de 1990 foi terrível. Esse movimento sobe com o Brasil atingindo níveis como 30 homicídios por 100 mil habitantes em meados da década de 2000. Essa pauta poderia ter 10 anos, se você olhar do pico da violência homicida.

IM - Houve redução com o estatuto do desarmamento, não? Uma pontual redução e, depois, uma retomada no crescimento.


JMPM - Se olharmos pelo ponto de vista estritamente estatístico, cego para qualquer teoria ou análise a respeito do que ocorreu no período, vemos um pico mais ou menos em 2004/2005, e aí, ao que parece, estabilização ou leve queda na violência homicida, calculada em nível do país. Há muita heterogeneidade entre os estados nessa dinâmica. As tendências de São Paulo são radicalmente diferentes das tendências que ocorreram no Nordeste.

Esse é um tema muito espinhoso. A primeira coisa que eu vou dizer é muito desanimadora: a verdade nua e crua é que não sabemos nada. Com dados brasileiros, a gente não tem nenhum guia para caminhar.

IM - Como se explica a definição do marco etário que delimita maiores e menores infratores?


JMPM - Do ponto de vista conceitual, se vamos estabelecer um marco arbitrário - em algum momento, sociedades como a nossa escolhem traçar uma coisa arbitrária, enquanto outras escolhem outros procedimentos menos dicotômicos –, o que sabemos é que o marco deve ser algum lugar entre 7 e 30 anos de idade. A maioria das pessoas concordaria com isso, mas não é muito informativo um recorte desses, não resolve nosso problema. Mas só para não fazer um argumento radical, vamos falar algo entre 12 e 25 anos. 18 anos é um ponto focal, porque sempre foi assim. Por que não 17 ou 19? Acho que não tem nada particularmente relevante com relação aos 18 anos exceto uma evidência intuitiva, que hoje a gente sabe relativamente bem, com dados norte-americanos, de qual é a dinâmica da propensão a cometer crime ao longo da vida.


Quando pensamos na propensão em cometer crimes ao longo da vida, essa coisa começa a parecer um pouco menos arbitrária. Aquele corte que fizemos entre 12 e 25 anos começa a ficar muito grande. Quando olhamos esse indicador, percebemos que ele muito flat, mas que começa a subir levemente a partir dos 14 anos. 16 e 17 anos já são idades razoavelmente criminogências e vão alcançar o pico lá por 21 ou 22 anos. Depois, fica estável e cai.


Evidentemente, a dinâmica da propensão a cometer crimes não é exógena. Ela depende de quando você estabelece a maioridade penal, é claro. Porque alguma diferença no tratamento pode fazer diferença nessa variável.


IM - Quais são as bases estatísticas que temos sobre isso?


JMPM - Vamos separar a discussão em três fatores: incapacitação, dissuasão genérica e dissuasão específica (o mesmo que reincidência). Por que você pune maiores e menores, do ponto de vista econômico (já que, do ponto de vista filosófico, pode haver uma série de razões: vingança, resposta à sociedade etc.)? Uma coisa que você pode fazer ao punir é incapacitar um criminoso. Ou seja, tirá-lo do convívio social para que ele não cometa mais crime. Para adultos, há uma tonelada de evidências – tanto europeias como americanas - de que incapacitação é um fator importante. Daí a nós queremos usá-lo é outra coisa.


[...]

Fonte: Continua aqui

03 julho 2015

Rir é o melhor remédio

A fofurice do dia:

A filha e a mãe grávida dançando. No início do vídeo a pequena explica que ela é muito boa, a mãe dela arrasa. E ainda faz uma declaração que ama o futuro irmãozinho.

Curso Intensivo em Economia

Muito legal a introdução feita na página "Crash Course" pelo professor de segundo grau, Jacob Clifford, e pela repórter Adriene Hill. Os dois vão começar um intensivo em economia. Ansiosos por isso! *.*


Por enquanto é apenas para os que entendem inglês pois não há legendas.

"In which Jacob Clifford and Adriene Hill introduce you to Crash Course Economics! CC Econ is a new course from the Crash Course team. We look forward to teaching you all about the so-called dismal science."