Um dos elementos cruciais das decisões financeiras é a taxa de desconto. Enquanto nas empresas existem diversas técnicas para calcular esta taxa, nas finanças pessoais a determinação deste valor não recebe muita atenção. Isto pode ocorrer pelo fato do público interessado nesta leitura ser pouco versado em cálculos mais complexos. Mas isto não impede que muitos livros dediquem muitas páginas ensinando o cálculo do valor presente, das anuidades e do valor futuro.
A taxa de desconto é importante nas finanças pessoais em várias situações. Em primeiro lugar, é uma forma fácil de fazer comparações e tomar decisões. Este é o caso quando calculamos a taxa de juros envolvida numa operação a prazo. Outro uso é o cálculo financeiro propriamente dito, onde queremos determinar quanto devo economizar hoje para garantir certa quantia no futuro, por exemplo. Finalmente a taxa de desconto é útil para enfatizar o valor do dinheiro no tempo.
Como tomamos os exemplos das finanças corporativas, a questão da taxa de desconto não levanta muita questão nas finanças pessoais. Entretanto, existe um aspecto que geralmente é descuidado nas obras da área. Diz respeito ao comportamento pouco racional da taxa de desconto nas nossas decisões pessoais. Este fato não muda substancialmente as utilizações da taxa de desconto nas finanças pessoais expostos anteriormente. Mas ajuda a explicar a razão de algumas decisões que tomamos na nossa vida.
O problema é que o ser humano é incoerente no tempo em termos de suas preferências. Existem muitos exemplos, mas provavelmente o leitor já passou pela situação onde ele tomou uma decisão na sexta-feira, como fazer uma dieta no domingo esquecer a resolução, optando por comer uma sobremesa. Estes casos de incoerência no tempo são muito comuns nas nossas resoluções.
Esta inconsistência no tempo ocorre de maneira mais comum do que pensamos. Como este problema diz respeito à relação entre o presente e o futuro. Quando fazemos o cálculo da taxa de juros cobrada nas compras a prazo, percebemos o elevado custo desta operação. O conselho óbvio é não fazer a compra a prazo e sim colocar o dinheiro na caderneta de poupança para comprar no futuro. Depois de ouvir esta explicação, o nosso desejo é evitar as compras a prazo. Mas a tentação é significativa, já que nossa “taxa de desconto” muda no tempo.