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28 janeiro 2015

Comunicado da Petrobras 2

Juntamente com o comunicado, a presidente divulgou "comentários" nos resultados do terceiro trimestre, . Negrito do blog.

Comentários da Presidente
Sra. Maria das Graças Silva Foster
Prezados Acionistas e Investidores,


Como é de notório conhecimento, a Petrobras enfrenta um momento único em sua história. Em março de 2014, a “Operação Lava Jato”, deflagrada pela Polícia Federal com o objetivo de investigar suspeitas de lavagem de dinheiro, alcançou a Petrobras com a prisão do ex-diretor de Abastecimento da Companhia Paulo Roberto Costa, que está sendo investigado pelos crimes de corrupção, peculato, dentre outros.


No dia 13/11/14, em consequência dos fatos e provas produzidos no âmbito da Operação Lava Jato, a Petrobras postergou a divulgação dos resultados do 3T-2014. Em suma, os depoimentos aos quais a Petrobras teve acesso revelaram a existência de atos ilícitos, como cartelização de fornecedores e recebimentos de propinas por ex-empregados, indicando que pagamentos a tais fornecedores foram indevidamente reconhecidos como parte do custo de nossos ativos imobilizados, demandando,  portanto, ajustes.


Provavelmente a presidente está informando que não teve acesso a todos os depoimentos. Além disto informa que somente "ex-empregados" receberam propinas (Sérgio Machado, da Transpetro, por exemplo, não recebeu).


Entretanto, concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da Companhia.

De certa forma ela tem razão no termo exato. Mas muitas medidas na contabilidade não são exatas, como é o caso de valores a receber. Nem por isto se deixa de fazer estimativas de perda com clientes ruins. 

Em face da impraticabilidade de identificar os pagamentos indevidos de forma correta, completa e definitiva, e da necessidade de corrigir esse erro, a Companhia decidiu lançar mão de duas abordagens: (i) diferença entre o valor justo (fair value) de cada ativo e seu valor contábil e (ii) quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos usando informações, números e datas revelados nos depoimentos e termos de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava Jato.


Existe um jogo de palavras aqui. A empresa não é capaz de identificar os pagamentos de forma "correta, completa e definitiva". Provavelmente nunca será. A contabilidade trabalha com estimativas. Mesmo assim, talvez por pressão da área técnica, a empresa usou duas metodologias: o valor justo e o sobrepreço. Observe que isto desmente a primeira parte da frase; existe forma de mensurar o sobrepreço, não de forma definitiva (nunca será possível), mas por estimativa. É bem verdade que em parte desta estimativa haverá também as ineficiências da própria empresa.


Os ativos selecionados para avaliação do valor justo somam R$ 188,4 bilhões, praticamente 1/3 do ativo imobilizado total da Petrobras (R$ 600,1 bilhões) e tiveram, como referência, os contratos firmados entre a Petrobras e as empresas citadas na “Operação Lava Jato” entre 2004 e abril de 2012.


Nem tudo foi selecionado para fazer a avaliação a valor justo. Bastante razoável. Mas parece que a empresa não teve acesso a todos os depoimentos e por este motivo não teria como fazer uma seleção completa. O segundo ponto importante é que a presidente insiste em terminar o problema em abril de 2012, quando se sabe que as práticas inadequadas continuaram até o ano passado. A razão disto é simples: tira a responsabilidade - um pouco - da atual gestão.


A avaliação foi realizada por firmas globais reconhecidas internacionalmente como avaliadores independentes, abrangendo 81% do ativo total avaliado. A análise dos outros 19% foi realizada pelas equipes técnicas da Petrobras, porém com total consistência metodológica e de premissas com o trabalho realizado pelos avaliadores independentes.


A empresa não informa quem são as "firmas globais reconhecidas internacionalmente". Já discutimos isto anteriormente no blog, quando a empresa anunciou a contratação de um escritório de advocacia dos EUA e outro brasileiro (internacional?). Na ocasião apontamos que o correto seria a contratação de uma empresa de investigação, como a Kroll. Logo depois estas empresas de advogados subcontrataram uma auditoria.


No entanto, o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta “proxy” adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente, quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital),
mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados, mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia e suprimento).


Afirma-se que não se teve condições de medir os potenciais pagamentos indevidos. E não será possível fazê-lo nem nos próximos dias nem nos próximos anos. Neste parágrafo já se fala em "proxy" e "adequada" em lugar de "certeza" do anterior. Outro fator é que justifica a ausência da amortização em razão da variação dos preços do petróleo. Recentemente a imprensa especulou que a empresa poderia fazer uma amortização em razão deste fato. Mas temos aqui um problema de lógica grave: o teste de recuperabilidade não está interessado em determinar precisamente as causas da amortização e sim fazer uma comparação entre o valor que está contabilizado e o valor recuperável. Este valor recuperável poderá ser o fluxo de caixa descontado (possível de ser feito agora) ou o valor de mercado dos ativos, que na maioria dos imobilizados da empresa é inferior ao fluxo descontado. E pelo que a presidente divulgou, a mensuração do fluxo descontado foi realizado, sendo possível fazer a amortização. O problema é determinar as causas. (É bem verdade que a separação da incompetência e da corrupção possuem implicações fiscais.)


O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado. 

Esta informação é relevante. A presidente diz que a amortização deveria ser de R$88,6 bilhões, gerando o prejuízo recorde de todos os tempos no Brasil. Afinal, o teste de recuperabilidade está associado a amortizar os valores a menor e assim o valor de R$27 bilhões a maior não seria considerado. Temos também aqui a origem dos 52 bilhões que a imprensa noticiou recentemente. 

Decidimos não utilizar a metodologia da determinação do valor justo como “proxy” para ajustar os ativos imobilizados da Companhia devido à corrupção, pois o ajuste seria composto de elementos que não teriam relação direta com pagamentos indevidos. Assim, aprofundaremos outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis
revisadas.


A justificativa para não fazer a amortização é que não se conhece o valor dos pagamentos indevidos. Como os depoimentos estão em "sigilo", a divulgação com base nesta metodologia deverá demorar. Outro aspecto é que a empresa não conhece os pagamentos indevidos, mas pode estimar, por exemplo, os efeitos da redução do preço do petróleo sobre o fluxo de caixa futuro.


Quanto aos resultados deste 3º trimestre de 2014, nosso lucro operacional foi de R$ 4,6 bilhões, 48% abaixo do realizado no 2º trimestre (R$ 8,8 bilhões). Essa redução é explicada, principalmente, por gastos com o Acordo Coletivo de Trabalho (R$ 1,0 bilhão), pelo pagamento do acordo com a Bolívia para importação do gás natural (R$ 0,9 bilhão) e pelas baixas no ativo referente aos Projetos Premium I e II (R$ 2,7 bilhões). Por outro lado, a maior produção de petróleo e consequente exportação agregaram R$ 2,4 bilhões ao resultado operacional deste 3º trimestre em relação ao trimestre anterior. O lucro líquido totalizou R$ 3,1 bilhões, 38% abaixo dos R$ 5,0 bilhões no 2º trimestre, refletindo o menor lucro operacional. 


blá-blá-blá

Quanto à projeção do fluxo de caixa e liquidez da Companhia, é importante ressaltar que a posição de caixa da Petrobras e sua capacidade de geração operacional não será afetada por ajustes decorrentes da “Operação Lava Jato” ou de qualquer outro relacionado ao valor dos seus ativos.

Não é verdade. Haverá os pagamentos de impostos, o custo dos empréstimos serão maiores, será mais difícil contratar, etc. Mas neste momento é fundamental que isto seja dito.

Temos sido diligentes na implementação de ações que nos permitem afirmar que não necessitaremos recorrer a novas dívidas no ano de 2015 em função dos fatores que favorecem nosso fluxo de caixa, os quais estão descritos a seguir. 


Em primeiro lugar, a Companhia reafirma a manutenção da política de preços de diesel e gasolina não repassando a volatilidade do mercado internacional, o que, na situação atual, favorece excepcionalmente o caixa. Nosso patamar atual de produção de petróleo e derivados nos assegura o mesmo patamar de geração operacional, mesmo com o preço do barril de petróleo Brent variando entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl. 


Quanto à nossa produção de petróleo no Brasil, planejamos crescer 4,5% (+/- 1 p.p.) no ano de 2015 frente ao ano anterior. O fato é que 2015 dá sequência aos eventos de 2014, quando adicionamos quatro novas plataformas que agora estão em curva de ramp-up e aumentamos nossa frota de PLSV de 11 para 19 navios. Assim, a produção será sustentada pela interligação de 69 poços produtores e injetores e pela entrada em operação da P-61/TAD (Papa-Terra) no 1º trimestre e do FPSO Cidade de Itaguaí (campo de Iracema Norte) no 4º trimestre desse ano.


Assim, esperamos ter uma geração operacional (incluindo pagamento de impostos, antes dos juros, dividendos e amortizações) entre US$ 28 bilhões e US$ 32 bilhões em 2015, considerando patamares de Brent entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl e taxa de câmbio entre R$ 2,60/US$ e R$ 2,80/US$. Também consideramos que teremos à disposição garantias da União Federal para os recebíveis do Setor Elétrico, que permitirão a negociação desses créditos no mercado bancário.


No que tange aos investimentos, estamos reduzindo o ritmo de alguns projetos, principalmente aqueles com baixa contribuição ao caixa nos próximos dois anos, de forma que nosso orçamento fique no patamar de US$ 31 bilhões a US$ 33 bilhões neste ano de 2015. 


Nosso portfólio de ativos também indica oportunidades de desinvestimentos em 2015, com potencial de contribuição ao caixa em níveis próximos aos realizados em 2014. A implementação desses desinvestimentos dependerá, naturalmente, da evolução das condições de mercado.


Importante ressaltar, nossa posição de Caixa vem sendo favorecida pela forte redução do preço do Brent nos últimos 3 meses e possui folga em relação aos valores que julgamos suficientes para manter nossas operações com a liquidez necessária ao longo do ano.


Continuamos trabalhando para produzir as demonstrações financeiras revisadas pelo Auditor Externo (PwC) no menor tempo possível, não apenas em relação aos ajustes nas demonstrações contábeis, mas também à necessidade de aprimoramento dos nossos controles internos.


Destaco a posse do nosso diretor de Governança, Risco e Conformidade, João Adalberto Elek Júnior no dia 19 de janeiro passado. João Elek foi escolhido entre profissionais de mercado com notório reconhecimento de competência na área de Governança. Ele passou por processo seletivo conduzido pela empresa Korn Ferry, especializada em seleção de executivos, foi eleito de uma lista tríplice apresentada ao Conselho de Administração da Petrobras e deverá permanecer no cargo por três anos, período que pode ser renovado.


Respire fundo que está terminando
 

Assim, quero aqui reafirmar nosso compromisso com a superação desses desafios. Estamos dando plena condição para que as investigações em curso, sejam as internas, sejam as externas, caminhem livremente, sem qualquer barreira. Somos transparentes com vocês, nossos acionistas e investidores. Trabalhamos para que, no futuro próximo, nossa companhia seja reconhecida por seus métodos de governança e controles internos com a mesma excelência que tem sido reconhecida ao longo dos anos por sua capacidade técnica e operacional.

Maria das Graças Silva Foster
Presidente

Comunicado da Petrobras

A empresa divulgou uma nota sobre os resultados, que transcrevo em itálico. Os comentários em letra normal


Petrobras divulga seus resultados consolidados não revisados pelos auditores independentes, expressos em milhões de reais, de acordo com o IAS 34 exceto pela existência de erros nos valores de determinados ativos imobilizados.

Em outras palavras, decidiu não fazer a amortização esperada por alguns. Além disto, não traz o relatório dos auditores independentes. Ao afirmar que os resultados estão "de acordo com o IAS 34, exceto" a empresa quis passar uma mensagem de maior adequação as normas internacionais. Certamente não irá conseguir.

A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da Companhia (covenants) em contratos de dívida e facultar o acesso às informações aos seus públicos de interesse, cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com transparência com relação aos eventos recentes que vieram a público no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Novamente um parágrafo positivo, indicando que a empresa atendeu aos contratos de dívida e permitiu que as pessoas tivessem acesso às informações. Talvez a empresa evite os problemas com os contratos, ao publicar estes números, mas certamente a empresa não agiu com "transparência". Pelo contrário, na página principal da empresa neste momento (seis horas da manhã) não consta nada sobre este fato. Além disto, o comunicado somente saiu bem tarde da noite, impedindo ou dificultando que o mesmo fosse notícia nos jornais.


A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Aqui a empresa reconhece a necessidade de ajustes e indica que os atos foram realizados por fornecedores, políticos, funcionários e outras pessoas. E que seriam necessários ajustes, mas não diz que é amortização, já que o termo ajuste é mais neutro.


No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”.

A Petrobras lançou mão da dificuldade de fazer a mensuração para justificar a ausência dos ajustes. Tecnicamente isto é bastante razoável e é a mesma justificativa que usamos para não fazer o lançamento do goodwill. A empresa informa que foram consideradas duas possibilidades: o pagamento indevidos citados em depoimentos e o valor justo. A primeira possibilidade seria ruim para a empresa, já que não tem notícia dos depoimentos na sua integra e o valor seria um pouco de especulação. Já o uso do valor justo dos ativos tecnicamente seria muito mais defensável. Seria feito um levantamento do valor dos empreendimentos onde claramente ocorreram as propinas já reveladas e indicado o tamanho do valor indevido. Tenho uma hipótese que a empresa (e o conselho diretor) tinha estes números, mas não usou. Afinal um valor foi noticiado na imprensa, número este que provavelmente foi calculado pela área técnica e vazado, como uma forma de pressionar o conselho a fazer a amortização. Então, qual a razão de não se ter usado? A empresa justifica logo a seguir:


Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.

Justifica? Não existe justificativa nenhuma na frase. Afirma que seria impraticável determinar os pagamentos indevidos. A empresa tem razão, já que nunca saberá com precisão este valor. Mas seria preferível uma estimativa a nenhum valor, correto? Para finalizar, o comunicado diz que a "novela" ainda não acabou:

Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC).


Rir é o melhor remédio


Fonte: Aqui

27 janeiro 2015

Encruzilhada

Estamos numa grande expectativa para as demonstrações contábeis da Petrobras do terceiro trimestre de 2014. No momento em que escrevo esta postagem a empresa não tinha divulgado seu resultado, apesar da expectativa do mercado. Enquanto se especula sobre o valor da baixa contábil, a empresa permanece em silêncio, não divulgando nenhuma informação no seu endereço.

A empresa tem duas alternativas bem claras. Ou faz uma amortização grande, como R$52 bilhões especulados por alguns e limpa o balanço ou então procura reduzir ao máximo o prejuízo. É bem verdade que pode procurar um meio termo, mas a opção será considerada ruim para todos.

As vantagens de fazer uma grande amortização já foram amplamente divulgadas. Em primeiro lugar, tenta restabelecer a confiança do mercado nas demonstrações. Sabemos que nos diversos mercados em que a empresa atua, e não estamos falando somente no mercado acionário, a confiança é um ativo de valor enorme. Em segundo lugar, isto poderá permitir que a PwC assine o balanço. A empresa de auditoria, depois de ter assinado o que não devia nos períodos anteriores, está sob ameaça de um processo e punição dos reguladores. A PwC não irá aceitar baixas reduzidas. O terceiro ponto é que uma grande amortização limpa o balanço e este tipo de atitude têm sido adotados quando se quer marcar uma nova gestão. A quarta vantagem é o fato dos gestores (presidência, diretoria, conselhos, contadores etc) possuem um nome para se resguardar. Uma demonstração com uma pequena amortização pode ser uma nódoa no currículo de alguns deles.

Mas a opção por uma pequena amortização também possui suas vantagens. É bom lembrar que os funcionários desejam participação no lucro e uma grande amortização significa uma perda de 5 a 10% da renda anual. Os acionistas ordinários também são interessados nos dividendos, que serão poucos, mas que podem compensar o preço baixo das ações. A segunda vantagem são os compromissos de alguns empréstimos que irão obrigar a empresa a arcar com certas obrigações diante do aumento no endividamento. Terceiro, é bom lembrar que as agências de ratings usam índices de endividamento nas suas classificações de risco e que uma elevada amortização irá comprometer as notas. (É bem verdade que as agências de ratings poderão rebaixar a nota exatamente por não fazer o ajuste) Em quarto lugar, uma grande amortização terá sérias implicações políticas; a partir do montante divulgado, surgirão especulações sobre o valor da propina que a empresa pagou. Em quinto lugar, sobre a amortização incidirão imposto de renda, que aumentará a saída de caixa nos próximos meses. Finalmente, os gestores foram indicações políticas; sua sustentação decorre de acordos partidários e eles sabem disto. Eles já estão comprometidos com os problemas que ocorreram na empresa nos últimos meses e a reputação já está manchada.

A Petrobras é antes de tudo governo. Será que o governo irá permitir que algo de ruim aconteça? Uma alternativa poderá ser uma estratégia mista, reconhecendo o prejuízo e ao mesmo tempo fazendo uma operação para salvar a empresa. Especulações...

Sigilo...

Na expectativa do resultado da Petrobras, o Globo traz um texto sobre o assunto. Num determinado ponto:

Um deles [analista de mercado], que pediu para não ser identificado, afirmou que a expectativa é de prejuízo significativo, caso os dados incluam a baixa contável e a redução do patrimônio líquido.

Qual a razão de um analista pedir para não ser identificado a partir desta informação? É uma opinião dele e um certo consenso do mercado. Estamos numa democracia. O que ele teme?

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

O poder do gráfico

As empresas, quando divulgam seus resultados, apresentam uma grande quantidade de informações gráficas e ilustrações. Os alunos, quando estão submetendo seus trabalhos de final de curso, gostam de mostrar suas habilidades numa planilha e transformam os dados em pizzas e barras. Numa apresentação de negócios, o gestor coloca uma linha de tendência para justificar seu ponto de vista. O investidor acha tão relevante a visualização do preço da ação que se construiu uma teoria de decisão de compra e venda baseado nos gráficos. Em todos estes casos temos uma mostra do poder do gráfico no convencimento das pessoas.

Dois pesquisadores da Cornell, uma universidade dos Estados Unidos, fizeram um experimento interessante. Tomaram uma informação e submeteram em dois grupos de pessoas. Num dos grupos, os pesquisadores apresentaram informação sobre um novo medicamento sob a forma de texto. Para outro grupo, além desta informação foi apresentado um gráfico, com duas barras, que não continha nenhuma nova informação além daquela existente no texto. Depois da leitura, perguntou-se para os participantes do grau de efetividade do novo remédio, numa escala de nove pontos. Os respondentes com a informação com o texto deram uma nota de 6,12 em média; já aqueles que receberam o texto e juntamente o gráfico pontuaram a efetividade em 6,83. A diferença de pontuação permite afirmar, estatisticamente, que o gráfico provocou um efeito na resposta.

Segundo os autores, a premissa é que os gráficos sinalizam a existência de uma base científica. Como o gráfico possui uma informação pode-se concluir que a informação teria base científica. Como a ciência é indicaria uma verdade, tem-se que a informação é verdadeira para os participantes.

Mas atenção: o estudo foi conduzido em estudantes, mas que não são necessariamente especialistas na área. Não se sabe se a apresentação gráfica para especialistas teria o mesmo efeito. Não custa tentar, não é? Assim, caso o leitor queira convencer uma plateia, pense, a partir de agora, em usar um gráfico.

TAL, Aner; WANSINK, Brian. Blinded with Science. Public Understanding of Science, 2014