Podemos encontrar aplicação dos primeiros conhecimentos de contabilidade em diversas situações da nossa vida. Isto torna mais agradável a aplicação do conteúdo, reforçando a importância destes temas.
Recentemente uma discussão esteve nos noticiários sobre os jornais: os candidatos a presidência da república trocaram acusações sobre o tratamento que os últimos presidentes deram para as instituições bancárias. Mais especificamente, a candidata pelo PSB, Marina Silva, afirmou que “nunca os banqueiros ganharam tanto” no governo do PT.
Mas será isto verdade? Haverá muita controvérsia sobre este assunto por uma série de razões. Em primeiro lugar, a afirmação não é muito precisa em termos técnicos: a candidata está se referindo a fluxo de caixa, ou lucro ou retorno? Assim, não sabemos o significado preciso para verificar se a frase é verdadeira.
Mesmo assim, alguns jornais fizeram o cálculo usando o lucro ou o retorno sobre o capital investido (ou retorno sobre o patrimônio líquido). Mesmo partindo de um destes conceitos, ainda assim existe muita divergência na medida. Veja o caso do lucro, como exemplo. Temos diferentes tipos de lucro (líquido, operacional, abrangente etc) de modo que a escolha poderá influenciar a resposta. Outro aspecto é que o lucro está expresso em termos nominais e uma comparação no tempo deve levar em consideração a inflação do período. E mesmo que isto seja considerado, o levantamento dos lucros deve incluir ou não as instituições públicas? Para cada um dos itens acima teremos um escolha e isto poderá influenciar no resultado final.
O jornal
Valor Econômico, por exemplo, fez uma opção por calcular o retorno sobre o patrimônio líquido. Mas não foi precisamente isto que a Marina Silva falou (sua frase não é muito precisa, lembre-se). E mesmo que aceitemos esta escolha, o fato em si deve ser visto com ressalva já que os momentos históricos são distintos: durante o governo Fernando Henrique tivemos diversos problemas econômicos que podem ter influenciado o retorno do patrimônio dos bancos. E o mesmo ocorreu com o governo Lula e da Dilma. Em geral as empresas apresentam um desempenho melhor quando a economia está bem. Assim, a comparação deveria levar isto em consideração.
O estudioso não deve ficar frustrado com a dificuldade de se chegar a um acordo sobre este assunto. (Só para atrapalhar um pouco mais, o Valor concluiu que o retorno melhorou com Lula, em relação a FHC, mas piorou com Dilma; já o Correio Braziliense disse que os lucros melhoraram com Lula e Dilma; ou seja, os jornais chegaram a um consenso) Afinal, os políticos são mestres em fazerem afirmações imprecisas o suficiente para evitar que a afirmação seja refutada ou não; ao mesmo tempo, estas afirmações são mais do que suficiente para atingir o objetivo político.