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18 agosto 2014

Curso de Contabilidade Básica: Perdas no Supermercado

Um texto publicado no jornal Folha de S Paulo faz uma referência às perdas dos supermercados brasileiros. Segundo o texto, o valor representa 2,52% do faturamento líquido do setor. Ou seja, para cada R$100 de faturamento, R$2,52 não irão provocar efeito no resultado; pelo contrário, irá contribuir com a subtração deste montante. Em 2012 a percentagem era de 1,95%.

O texto informa as razões das perdas: roubo (na verdade, furto), quebra, extravio, erros administrativos e problemas com fornecedores. As maiores perdas ocorrem nas seções de frutas (a uva que o cliente consome na loja), legumes e verduras; peixaria; padaria/confeitaria e têxtil.

Como isto é medido? Vamos considerar que as frutas possuem uma margem uniforme de 20%. O supermercado iniciou o dia com R$20 mil em frutas a valor de custo ou R$24 mil a preços de venda. Quando uma fruta é vendida, o caixa registra o preço de venda. Ao final do dia, os caixas indicam um valor de venda de R$15 mil. Em valor de custo isto significa R$12.500 (ou R$15 mil divididos por 1,2. Para verificar que este é o valor correto, adicione 20% de R$12.500 a este valor e o total deverá ser R$15 mil). Ao fazer a contagem de frutas existentes nas gondolas ao final do dia observa-se um valor de R$12.000. O que aconteceu com a diferença? Parte o cliente consumiu sem passar no caixa; ou o caixa registrou o valor incorreto; ou a contagem, inicial ou final, estava incorreta; entre outras explicações. De qualquer forma, os R$500 representam 2,5% do valor inicial.

O leitor poderá perceber que não é difícil determinar o valor do Custo da Mercadoria Vendida e das perdas. Basta manter a mesma margem e fazer levantamentos físicos do estoque regularmente.


Lucro, Pasadena, Decisão

Na recente divulgação do resultado da empresa Petrobras informou-se que a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi a única a registrar lucro no primeiro semestre, de US$130 milhões.  Os acusados de terem feito um negócio ruim na compra da refinaria indicaram que irão usar esta informação na defesa junto ao TCU. Isto não se sustenta por três fortes motivos, novamente relacionados à melhor técnica de decisão de investimento, que os gestores insistem em negar.

Em primeiro lugar, a informação refere-se ao lucro. Mas tradicionalmente neste tipo de decisão é utilizado o valor do caixa. Neste caso, deve-se verificar o montante de caixa que a unidade estaria gerando, nunca o lucro. Este é um erro muito grosseiro, que não deveria ser cometido por gestores e ex-gestores “qualificados”.  Espera-se que o Tribunal de Contas da União não seja tão inocente em aceitar este argumento.

Em segundo lugar, trata-se de uma informação pontual, de seis meses somente. Isto se torna mais grave quando sabemos que foi a primeira vez que a unidade registrou lucro, desde que a informação foi consolidada em 2012. Como existe o pressuposto do “valor do dinheiro no tempo”, a geração de um resultado positivo somente agora, muitos períodos depois da compra, depõe ainda mais contra a decisão.


Finalmente, e talvez mais importante, a análise do TCU deve focar no momento em que a decisão foi tomada pela empresa. Ou seja, há oito anos, quando a empresa adquiriu metade da refinaria por 360 milhões de dólares  e cujo contrato obrigava a compra do restante, que resultado no grande prejuízo para a empresa. Somente ao recuar no tempo é que o TCU poderá determinar a qualidade da decisão. É bem verdade que esta análise deverá ser mais probabilística do que determinista. A tarefa do TCU é inglória já que é muito difícil de comprovar, na prática, que a compra foi realizada com a intenção de provocar prejuízo na empresa. Erros no processo decisório podem ocorrer por várias razões, como acasos, informações incompletas, incompetência dos gestores e até por motivos escusos. 

Capital, Basileia e Criatividade

Sem ter ideia do uso que fariam em terras tupiniquins das mais recentes regras que baixou, o Comitê de Basileia, órgão internacional que define as regras prudenciais que devem ser observadas pelas instituições financeiras, está dando uma mãozinha para o governo brasileiro fechar as contas deste ano, e quem sabe dos próximos.

A Caixa Econômica Federal já conseguiu autorização do Banco Central para reclassificar R$ 8 bilhões que recebeu do governo originalmente na forma de empréstimo perpétuo para dentro do patrimônio líquido, como capital próprio. E mais R$ 28 bilhões estão em processo de validação para seguir o mesmo caminho.

O mesmo ocorrerá com o Banco do Brasil, que disse ontem que dentro de 60 a 90 dias espera receber sinal verde do BC para classificar R$ 8,1 bilhões em títulos híbridos de capital e dívida como capital principal.

Isso é possível porque as regras de Basileia 3 trazem uma abordagem mais principiológica do que jurídica para definir o que é capital genuíno de um banco.

A mudança se justifica porque, no passado, muito dinheiro foi colocado dentro do patrimônio líquido de bancos estrangeiros, na forma jurídica de compra de ações, por meio de instrumentos que, na verdade, se pareciam muito mais com títulos de dívida, com remuneração garantida e até mesmo vencimento de principal.

No caso que está havendo é a mão inversa. Papéis que juridicamente nasceram como instrumentos de dívida estão sendo tratados como capital próprio, com suas características sendo redesenhadas para passar pelo crivo do BC.

Para o Tesouro Nacional, é o melhor do mundos. Torna possível aumentar o patrimônio dos bancos públicos sem precisar realocar carteiras de investimento em ações de uma instituição para a outra (como ocorreu entre BNDES e Caixa no passado) e sem lançar uma despesa nas contas da União que prejudique o superávit primário.

Mais do que isso, as instituições financeiras federais ficam com um nível de capitalização suficiente tanto para aumentar os empréstimos - como deseja o governo - como para pagar um valor maior de dividendos, que entram como receita primária no cálculo do superávit.

Trata-se de um novo modelo de contabilidade criativa. Mas nesse caso com a benção do Comitê de Basileia.


Fonte: Aqui

Endividamento

O diretor de política econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Araújo, afirmou nesta sexta-feira que o endividamento das empresas brasileiras é baixo na comparação internacional e que elas não têm exposição cambial relevante (1). “O comprometimento da receita das empresas com o serviço da dívida está abaixo da crise de 2008 e está se mantendo estável”, disse na abertura do IX Seminário sobre Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária. “A exposição ao risco de taxa de juros diminuiu, houve ampliação de prazo e redução de encargos.”

Hamilton acrescentou que o endividamento externo das empresas brasileiras “permanece pequeno”. “Apenas um número pequeno se endivida em moeda estrangeira, apenas grandes corporações exportadoras ou com operações em outros países. Logo, o acompanhamento do BC mostra que não há exposição cambial relevante das empresas brasileiras”, disse.

Expansão do crédito

Para Hamilton, o ritmo de expansão do crédito no Brasil "moderou" no período recente, tanto para pessoa física como para as empresas, e o cenário hoje difere "substancialmente" do de 2010 ou mesmo do pré-crise de 2008. "Em algumas linhas, a expansão do crédito pessoa física está abaixo do crescimento da renda", disse o diretor na abertura do IX Seminário sobre Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária. "E o perfil de demanda pelo crédito mudou, com aumento da demanda por financiamento habitacional."

Segundo Hamilton, a comparação internacional mostra que ainda há "bastante" espaço para crescimento do financiamento imobiliário no Brasil. Ele citou que, no país, o crédito imobiliário não chega a 10% do PIB. Lembrou também que, como o financiamento é de longo prazo, não afeta o comprometimento da renda (2).

Hamilton afirmou que, depois que o BC adotou medidas macroprudenciais em 2010, conseguiu mitigar riscos sobre o sistema creditício brasileiro. Prova disso é a redução da inadimplência para níveis históricos de baixa.


Fonte: Aqui

(1) Isto também é decorrente da baixa abertura da economia brasileira.
(2) É isto mesmo? Não depende somente do prazo, mas também do montante e da taxa de juros.

Listas: Estados por PIB

1 São Paulo
2 Rio de Janeiro
3 Minas Gerais
4 Rio Grande do Sul
5 Paraná
6 Santa Catarina
7 Distrito Federal
8 Bahia
9 Goiás
10 Pernambuco
11 Espírito Santo
12 Pará
13 Ceará
14 Mato Grosso
15 Amazonas
16 Maranhão
17 Mato Grosso do Sul
18 Rio Grande do Norte
19 Paraíba
20 Alagoas
21 Rondônia
22 Sergipe
23 Piauí
24 Tocantins
25 Amapá
26 Acre
27 Roraima

Fonte: Aqui

17 agosto 2014

Rir é o melhor remédio



Intervenção na paisagem urbana: McDonalds, Lixeiras e Praia

Manobras contábeis na energia elétrica

Um "bom" texto publicado na Folha de São Paulo. O texto original está em itálico e meus comentários em letra normal. 

O plano do governo de socorrer as distribuidoras de energia elétrica com empréstimos fez com que as empresas do setor tivessem que recorrer a manobras contábeis para evitar uma depreciação.

O termo depreciação parece inadequado. Eu tive dificuldades de entender...

Uma interpretação diferente do financiamento que [as empresas] foram obrigadas a contratar garantiu que as empresas não os apontassem como dívidas.

Apontassem é igual a registrassem. 

Os R$11,2 bilhões que já foram disponibilizados para cobrir a compra de energia entre fevereiro e abril estão contabilizados nos balanços como repasse da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), órgão privado usado pela governo para disponibilizar o dinheiro.

A manobra, que partiu de um entendimento entre o governo e a Abraconee (Associação Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Elétrica), evitou uma depreciação das companhias.

Novamente o termo depreciação. Continuo sem entender o sentido do termo dentro da frase. 
A rigor o resultado operacional não se altera com o empréstimo. O resultado operacional é aquele proveniente das operações da empresa. Parece meio óbvio demais, mas no Brasil temos o entendimento, desde um artigo famigerado da Lei 6404, de 1976, que as despesas financeiras fazem parte do operacional. E este entendimento parece que solidificou nas mentes de alguns reguladores (e contadores). O gráfico possui mais alguns aspectos interessantes: o título é "Caixa" e utiliza o "resultado operacional". São coisas diferentes. Outro termo interessante da figura é "resultado deprimido". Ao tentar usar termos corriqueiros, o texto faz algumas criações interessantes. 

“As normas internacionais dizem que deveriam ser contabilizados como passivo, mas fizemos um interpretação diferente para evitar uma desestabilização financeira” diz Adriano Fedalho, diretor técnico da Abraconee.

Fedalho, o diretor técnico da associação, confessa que não cumpriu a norma contábil. Além disto, o Iasb (e o CPC) é muito claro em afirmar que a contabilidade não pode ser usada com objetivos econômicos de manter estabilidade financeira. Além disto, parece não existir uma interpretação "diferente". Diferente é quando existe controvérsia. 

As empresas tiveram que recorrer aos financiamentos por causa da chamada “exposição involuntária”, situação causada pelo fim dos contratos que as empresas detinham com geradores de energia até 2013.

Sem eletricidade suficiente para entregar aos consumidores, elas foram obrigadas a recorrer ao mercado de curto prazo, segmento no qual se compra e se vende energia sem contratos, por custo que pode ser muito mais alto.

Com poucas chuvas no início do ano, o valor da energia nesse segmento alcançou o teto permitido em lei, de R$82,83 por megawatt-hora entre fevereiro e maio.

O texto justifica os empréstimos. Isto faz parte do risco que uma empresa de energia elétrica está sujeita.

Outro fator que favoreceu a “suavização” dos balanços é que as distribuidoras não pagarão diretamente o empréstimo aos bancos.

Como assim? Quer dizer que se faço um empréstimo num banco ou se faço um empréstimo com um amigo, o valor será contabilizado de forma diferente? E isto "favorece" a adoção de interpretações diferentes? O termo "suavização" usado parece inadequado. 

Os valores serão cobrados por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo presente na conta de luz e que vai afetar as tarifas de energia nos próximos três anos.

Segundo projeções de consultorias, o impacto sobre as tarifas pode chegar a 25% em 2015. Documentos da Aneel, por outro lado, aponta para uma alta média das tarifas de 14% nos próximos anos.

RESULTADOS
O atraso também afetou, nos balanços, os resultados operacionais, que foram reduzidos, em média, 51% nas seis principais distribuidoras.

O atraso de que? Do repasse? Ou do aumento nas tarifas? Se for aumento nas tarifas, o texto está ok. Mas o atraso do repasse não deveria aumentar o resultado operacional. Pelo texto a seguir, tudo leva a crer que seja do dinheiro que as empresas teriam a receber. Novamente uma confusão entre o regime de caixa e de competência. 

Dos R$4,4 bilhões que as companhias deveria receber no segundo trimestre, somente R$2,3 bilhões, referentes a abril, foram efetivamente repassados.

O restante, referente a maio e junho, será liberado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) na próxima semana.

A demora para fechar o novo empréstimo aconteceu porque o governo encontrou dificuldades para atrair bancos privados para a operação.

Os juros subiram de 1,9% para 2,35% ao ano, além da variação do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro) . Apesar dos esforços, os bancos públicos entraram com 53% dos recursos, ante 26% na primeira operação


Bom, o texto parece aqueles trabalhos que você fica ansioso para terminar de ler. Mas para finalizar, CDI não é Certificado de Depósito Interfinanceiro. Deve ser Contabilidade Depreciada na Imprensa. 

Distribuidoras recorrem a manobras contábeis para melhorar balanços – Machado da Costa – Folha de S Paulo