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02 agosto 2014

A indústria pede socorro


A indústria pede socorro
Autor: Zeina Latif
em Artigos Instituto Millenium
28/07/2014
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Não seria exagero afirmar que a indústria é o setor que mais sofre hoje com o elevado custo-Brasil. E pode ser também o mais sensível a erros de política econômica. O desempenho preocupante da produção industrial nos últimos anos dá uma dimensão da urgente necessidade de ajustar a agenda econômica do país, sob pena de resultar em seu rápido encolhimento.

O setor industrial parece mais vulnerável do que os demais em dois pontos principais: a carga tributária e o impacto da deficiente infraestrutura. O ambiente legal e regulatório tampouco ajuda, trazendo também insegurança jurídica ao setor.

A carga tributária na indústria de transformação equivalia a 44% do PIB do setor em 2008, segundo a FGV. Enquanto isso, o peso para a agropecuária era de 16%; para construção, 22%; e para serviços e comércio, 24%. Este quadro pode estar associado à cumulatividade da estrutura tributária, que penaliza cadeias produtivas mais longas. Aliado a isso há a enorme complexidade do sistema tributário, que implica custos para o cumprimento das regras, retirando eficiência do setor.

A infraestrutura falha também penaliza mais a indústria. Segundo o IBGE, os coeficientes técnicos da matriz insumo-produto indicam a maior dependência da indústria em infraestrutura de transporte e armazenagem em relação aos demais setores. Ainda que, por exemplo, a agropecuária sofra bastante com a baixa qualidade e elevado custo da logística, os dados mostram que o problema impacta mais a indústria.
Outro exemplo é energia elétrica, item que coloca o Brasil no grupo dos países com tarifa mais elevada. Mais uma vez, é a indústria o setor mais penalizado pela maior dependência neste insumo.
O efeito final é a perda de eficiência e de produtividade das empresas e do país

Somam-se a isso as regulações ambientais e trabalhistas e normas de segurança no trabalho. Não faltam exemplos de distorções causadas pela regulação falha. Por exemplo, no caso da NR-12, que estabelece normas de segurança de máquinas e equipamentos, a legislação, que é retroativa, é mais dura do que o observado na experiência internacional. O cumprimento da norma pelas empresas envolve custos elevados, sendo às vezes proibitivos, já que o parque industrial brasileiro está defasado. Também não faltam exemplos de exagero na legislação trabalhista, com excessiva intervenção do estado nas relações de trabalho.
Apesar de bem intencionado, o governo acabou criando um emaranhado de regras e regulações que tornam o dia-a-dia do empresário, particularmente da indústria, muito difícil. Adicionalmente, a indústria sofre com a insegurança jurídica, em todas as esperas de governo, incluindo impostos a cumprir e o próprio cumprimento da legislação.

O efeito final é a perda de eficiência e de produtividade das empresas e do país. A literatura empírica é rica em evidências da importância, não apenas da infraestrutura, mas também do ambiente legal e regulatório para definir diferentes ganhos de produtividade entre países, entre indústrias em um mesmo país ou mesmo entre firmas.

Todos estes fatores – carga tributária, infraestrutura, ambiente legal e regulatório – afetam a produtividade do setor, com repercussões também no investimento e na gestão das empresas. O ambiente desafiador acaba muitas vezes desviando o foco da empresa de seu próprio negócio. Ficam prejudicados o investimento em TI e P&D, bem como o aperfeiçoamento de práticas de gestão. São fatores que agravam o problema, reduzindo adicionalmente os ganhos de produtividade da economia, conforme também indicado na literatura empírica.

A reação do governo às dificuldades da indústria não tem sido frutífera. Apostou-se na proteção do setor e na adoção de políticas setoriais. Ou seja, em vez de corrigir as distorções, criam-se outras. Barreiras tarifárias e não-tarifárias ao comércio, política de conteúdo nacional, isenções tributárias a produtos, crédito subsidiado a empresas desestimulam a inovação e a busca de eficiência. Políticas setoriais muitas vezes acabam protegendo o produtor menos eficiente e punindo aqueles que não obtiveram benefícios e proteção. O resultado para a economia como um todo pode ser perverso. Jogo de soma negativa.

O retrato da indústria é alarmante. E a resposta à crise global de 2008 foi um divisor de águas, causando a partir de 2010 um grande desvio entre a produção doméstica, estagnada, e a crescente produção mundial. Ficamos para trás. Por um lado, os excessos de estímulo à demanda se traduziram em encarecimento da mão-de-obra. Por outro, a fraca agenda de reformas estruturais e os equívocos da política setorial implantada afetaram os ganhos de produtividade. Com ganhos salariais superando ganhos de produtividade, a indústria sucumbiu. Ironicamente, a intenção do governo era estimular a indústria.

As margens de lucro do setor sofrem, pois, diferente do setor de serviços, que consegue repassar a pressão de custos para os preços finais, a indústria não tem a mesma flexibilidade pela potencial concorrência com o produto importado. A indústria sofre nas duas pontas.

Como resgatar o setor? Para começar, diagnósticos corretos e medidas horizontais. As distorções são tantas, que mesmo pequenos ajustes podem fazer muita diferença. Para avançar, precisamos dar alguns passos para trás, desmontando a confusão criada.

Zeina Latif é doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e economista-chefe da XP Investimentos. Trabalhou no Royal Bank of Scotland (RBS), ING, ABN-Amro Real e HSBC. Atua como consultora, sendo sócia da Gibraltar Consulting. Escreve colunas semanais para o Broadcast da Agência Estado.

A Mulher-Ombreira

01 agosto 2014

Rir é o melhor remédio


Curso de Contabilidade Básica: O que causou o prejuízo?

Quando uma empresa apresenta um resultado ruim, o usuário das informações contábeis deverá tentar identificar as razões do desempenho. Como em geral o “resultado” refere-se ao lucro líquido, a primeira demonstração a ser analisada deverá ser a demonstração do resultado. Para isto é importante fazer uma comparação entre o desempenho do período e de outro período, para descobrir a razão do problema. Em muitos casos não existe uma resposta simples; mas existem situações onde a resposta “salta aos olhos”.
Vamos olhar o caso do Banco Espírito Santo. É uma instituição financeira portuguesa que apresentou um prejuízo substancial. O assunto foi objeto de reportagens de jornais de diversos países. Como em geral uma instituição financeira é o melhor negócio do mundo (e uma instituição financeira mal administrada é o segundo melhor negócio do mundo), quando um banco apresenta prejuízo isto chama a atenção. Vejamos o caso do Banco Espírito Santo:
O resultado líquido do primeiro semestre de 2014 foi de 3,7 bilhões de euros de prejuízo. Um valor muito superior aos 238 milhões de euros do mesmo período do ano passado. Onde estaria a origem dos problemas do BES? Verifique na demonstração acima que as contas de “provisão” e “imparidade” apresentaram um grande aumento. As provisões líquidas foram de 1,4 bilhão de euro, a imparidade do crédito aumentou de 553 milhões para 2131 milhões de euros e a imparidade de outros ativos aumentou em mais de 400 milhões.

Isto significa dizer que a gestão do Banco do Espírito Santo está reconhecendo agora que algumas decisões de crédito para terceiros foram ruins e não trarão retorno para a entidade; e que alguns investimentos, em outras empresas, por exemplo, não irão gerar retorno.

Uma consequência deste desempenho é a redução do patrimônio líquido do BES (denominado a seguir como “Capital Próprio”):

O total do capital próprio reduziu de 7 bilhões de euros para 4,2 bilhões em seis meses.

Caso Santander

Antes de tudo, um alerta: para quem não sabe, fui economista-chefe do Santander entre 2008 e 2011, demitido após discussão pública com o então presidente da Petrobras. Digo isso porque quero hoje tratar do imbróglio que envolveu o banco na semana passada, quando foi publicada análise relacionando o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais ao comportamento da Bolsa, do dólar e de outros ativos.

A análise nada trouxe de controverso. Aqui mesmo na Folha, no dia 19, lia-se na página B3: "Bolsa chega ao maior nível em 16 meses", notando que "as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)". Acrescentou ainda que, "desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...), o mercado de ações nacional, que caía e acentuava queda (...), mudou de tendência".

O governo e o partido podem não concordar com a avaliação do mercado, mas, conforme descrito pelo jornal, trata-se de um fato: para bem ou para mal, a percepção é que uma mudança de orientação de política econômica terá efeitos positivos sobre as empresas brasileiras, em particular as sujeitas a controle acionário governamental.

E é bom notar que o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.

O texto do banco, enviado a correntistas com renda mensal superior a R$ 10 mil, supostamente mais propensos a operar no mercado financeiro, nada mais fez do que compartilhar esses fatos, e por um motivo muito claro. Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.

Em particular, a opinião das áreas de pesquisa deve refletir exatamente esse tipo de preocupação. Analistas não estão certos o tempo todo, mas é claro que suas conclusões não devem ser guiadas pelos interesses da instituição financeira. Não por acaso as regras buscam (nem sempre com sucesso, diga-se) isolar a pesquisa econômica das posições próprias do banco e mesmo de áreas que gerenciam as aplicações de clientes (fundos de investimento), precaução devidamente apelidada de "muralha da China".


Nesse sentido, a decisão de demitir os analistas que expuseram, mais que uma opinião, um fato representa uma violação desse procedimento. A alegação de que a análise conteria "viés político ou partidário" não se sustenta diante da própria diretriz interna que "estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas". Não há, como se viu, a menor dúvida de que as perspectivas acerca da eleição presidencial são mais que relevantes para afetar a vida financeira dos clientes.


A consequência desse comportamento é óbvia (e aqui falo em termos gerais, não do banco em si). Se a autonomia da pesquisa é ameaçada, a credibilidade da análise fica comprometida, a despeito das qualidades do analista. Quem, de agora em diante, pode confiar em relatórios se não sabemos a que tipo de filtros estes se encontram sujeitos?


O maior perdedor é o debate econômico, ainda mais numa conjuntura em que --em face de desafios nada triviais no futuro próximo-- ninguém se aventura a discutir a sério o que precisa ser feito para colocar a economia brasileira de volta nos eixos. Se até o óbvio, amplamente noticiado (ainda bem!) pela imprensa, vira objeto de censura, pouco falta para que fujamos da controvérsia como quem tem um miúra nos calcanhares.

Fonte: Folha de São Paulo - Alexandre Schwartsman

Frase


Orçamento das Olimpíadas

Os governos federal, estadual e municipal divulgaram que R$ 24,1 bilhões serão gastos com obras de infraestrutura e políticas públicas nas áreas de mobilidade, meio ambiente e urbanização para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016. Com a cifra, os investimentos totais para o evento totalizaram R$ 36,74 bilhões.
Ao confeccionarem o orçamento dos Jogos, os três entes públicos e o Comitê Organizador Rio-2016 optaram por fragmentá-lo em três partes. Em janeiro deste ano, os primeiros números informados foram os da entidade organizadora, que estimou um gasto de R$ 7 bilhões.

Em seguida, foi a vez de parte da matriz de responsabilidades, que atribuiu a cada ente público a obrigação individual pelas construções e foi elaborado somente com obras que não seriam realizadas se o Rio não fosse a sede dos Jogos. Totalizou R$ 5,64 bilhões, mas dos 52 projetos constantes dele, apenas 24 foram os responsáveis por essse montante. Os demais não tiveram seus valores calculados.

Com a revelação dos valores parciais das obras e políticas públicas, que gerarão um legado maior para a cidade, foi possível constatar que dos 27 projetos relacionados, 14 serão realizados pela prefeitura, dez pelo governo estadual e, três, o governo federal. Faltam ainda ser conhecidos os valores de três deles.

- Obras como o corredor de ônibus expresso Transcarioca (Aeroporto Tom Jobim/Barra da Tijuca) não entraram nesse orçamento porque já estão prontas. Outra obra que não
aparecerá o seu valor integral é o BRT Transolímpica (Santa Cruz/Campo Grande/Barra da Tijuca) também está em funcionamento e não teve seus valores incluídos - disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Após a divulgação dos novos números, com os R$ 24,1 bilhões do orçamento das obras referentes ao legado dos Jogos, somados aos R$ 7 bilhões do orçamento do Comitê Organizador Rio-2016 e aos R$ 5,64 bilhões da matriz de responsabilidades, temos a cifra de R$ 36,74 bilhões para a realização dos Jogos até o momento.


Fonte: Aqui

Isto corresponde a R$185 por pessoa.