Você não está sozinho na procrastinação. Deixar para depois é uma das características fundamentais do ser humano, mas dá para amenizar seus efeitos. Enviado por Núbia Batista, a quem agradecemos.
O Facebook, o WhatsApp ou o colega tagarela da mesa ao lado podem até ser vilões da boa administração do tempo, mas não o principal motivo para que, todos os dias, milhares (senão, bilhões) de pessoas decidam procrastinar.
Na base do hábito de deixar a vida para depois estão características fundamentais da condição de ser humano e outras questões internas condicionadas pela formação de cada um.
“Procrastinar é próprio da espécie. Se há uma situação em que posso adiantar o instinto de descansar, comer e estar limpo, eu vou fazer”, afirma Luiz Fernando Garcia, psicólogo e autor do livro “O cérebro de alta performance”.
O impulso para se manter vivo não é a única razão para prorrogar. Segundo o especialista, em maior ou menor grau, todos são movidos (ou tolhidos) por três grupos de motivações internas: o medo de ser preterido e humilhado, de perder o status quo ou o medo de perder o controle.
Ficou muito abstrato para entender? Veja alguns desdobramentos desta combinação que conduzem mortais à procrastinação.
Motivo 1 As metas são vazias de sentido
Sem metas claras, ninguém vai para frente. O mesmo acontece quando o objetivo em questão não faz qualquer sentido para você.
“Se você não valoriza a mudança, ação, comportamento ou meta, sempre vai encontrar uma desculpa para não fazer aquilo”, diz Andrea Piscitelli, professora da FIA e consultora de estratégia humana.
Um exemplo claro é o objetivo de ir à academia. Quantas vezes você já não ouviu relatos de pessoas que pagaram anos inteiros e sempre procrastinaram o compromisso?
Provavelmente, para muitas delas, a meta de se exercitar era fruto de alguma pressão externa – não uma ideia que compraram de fato.
Motivo 2 Falta habilidade técnica
Já se rendeu à timeline do Facebook e deixou uma tarefa para depois só porque ela era mais difícil? Se a resposta é sim, você não é o único.
Diante de atividades com uma complexidade superior ao nosso alcance imediato, é comum que se prorrogue ao máximo o momento de executá-las.
Motivo 3 A zona de conforto é boa demais para deixá-la
Deixar uma posição conhecida (e confortável) para migrar para um espaço no qual os passos ainda são incertos pode assustar – e paralisar. Nesta toada, decisões são adiadas, conflitos varridos para debaixo do tapete e nada é mudado.
Motivo 4 O reservatório de energia está seco
Saco vazio não para em pé, já dizia a sua avó. Mas não só. Sem energia (conquistada por meio de uma boa alimentação e boas noites de sono), é quase impossível tocar com afinco todas as atividades da agenda.
Motivo 5 Seu cérebro caça recompensas
“Como em qualquer vício, nosso sistema nervoso elege comportamentos que vão nos levar à obtenção de recompensas imediatas”, afirma Carla Tieppo, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e pesquisadora na área de neurociências.
Como resultado disso, deixamos para depois o que não é tão prazeroso em nome daquilo que traz prazer – seja conversar, ver a vida dos outros no Facebook ou ceder a um filme quando se tem um projeto para desenvolver.
Como mudar
"Todo comportamento difícil requer uma atitude virtuosa", diz a pesquisadora. A seguir, veja uma seleção de dicas virtuosas para diminuir o ímpeto da procrastinação.
Estratégia 1 Listas com o verbo certo
Antes de qualquer coisa, aprenda a fazer listas de tarefas do jeito certo. E isso começa, segundo Garcia, usando a forma nominal correta do verbo. “Ao usar o verbo de ação no infinitivo, você localiza um alvo, cria uma imagem, um desejo de concluir”, afirma.
Feito isso, descreva, item por item, as ações que você deve concluir para alcançar aquela tarefa.
Estratégia 2 Ciclo de recompensas
Outro meio para diminuir os índices de procrastinação é criar um sistema de recompensas para cada ação da sua agenda. “Você precisa dar a si mesmo algumas recompensas imediatas, porque ninguém é de ferro, mas também pontuar as tardias”, diz Carla.
Agora, atenção: estes, digamos, “prêmios” devem vir de você mesmo. Ou seja, as recompensas não podem estar ligadas a sistemas externos. Afinal, o mundo muda – e os sistemas de premiação também – e elas podem não se concretizar.
Estratégia 3 Hora da culpa
Reserve na agenda um momento para revisar seu progresso ao longo da semana. “Quando tocar o alarme, mapeie quais as atividades que você está procrastinando”, diz a neurocientista. Com isso em mente, monte um plano de ação para tirá-las do papel.
Estratégia 4 Rede de comprometimento
Uma estratégia matadora para diminuir a tentação de procrastinar é se comprometer com outras pessoas. “Quando só eu sei, é mais fácil arrumar uma desculpa. Se eu contei para alguém, eu reduzo a tendência de me sabotar”, afirma Andrea.
Estratégia 5 Disciplina
Por fim, ter disciplina é fundamental. “Não há outro jeito para lidar com esta crescente demanda que não seja com disciplina”, diz Carla.