Enquanto a contabilidade produz informações a partir de um conjunto de normas até certo ponto rígidas, a utilização destas informações por parte do analista é muito livre. Isto significa dizer que cada analista pode construir seu conjunto de índices e seu relatório sobre o desempenho de cada empresa, destacando os pontos que julgar mais relevantes. Em outras palavras, “não existe amarras na análise das demonstrações contábeis”.
De igual modo, quando uma empresa apresenta suas demonstrações, existem alguns trechos onde prevalece certa liberdade. Isto é particularmente presente, por exemplo, no relatório de administração. Por este motivo, o usuário das informações que são geradas pela empresa deve ter muito cuidado ao lidar com estes relatórios.
Um caso interessante foi notado por duas alunas de graduação: Guiliana Cordeiro e Marcela Araujo (grato). Ao pesquisarem no sítio do Corinthians elas descobriram que o clube divulga uma informação sobre seu endividamento, conforme apresentado a seguir:
Em geral a informação do endividamento de uma entidade aparece sob a forma de índice, relacionando as contas do passivo com o ativo ou o patrimônio líquido. O Corinthians preferiu trabalhar com os valores absolutos. Segundo este clube, o seu endividamento ao final de 2013 era de 194 milhões de reais, negativos. Como o clube chegou a este resultado? Primeiro somou o circulante com o realizável a longo prazo; depois, subtraiu do passivo. Esta informação não é muita usada em análise de balanço, mas tem a seguinte explicação: usando os recursos do circulante e do realizável a longo prazo, o clube não consegue pagar sua dívida com terceiros.
É útil? Depende do usuário. Mas aqui é necessário um cuidado: o sinal (novamente). No final de 2010 o “endividamento” era de 122 milhões negativos. Rigorosamente (ou melhor, matematicamente), o Corinthians diminuiu o endividamento. Afinal 194 milhões de reais negativos é menor que 122 milhões de reais negativos. Mas será que é isto que ocorreu? Veja a informação da data:
Veja o leitor que o passivo do clube era de R$368 milhões no final de 2010 e R$1,2 bilhão no final de 2013. Há dúvidas que a dívida aumentou? Além disto, quando soma com parte do ativo, o “total do endividamento” saiu de 122 para 194. Mesmo deixando de lado o sinal, a situação apresentada pela direção do clube parece muito mais “agradável”.
O usuário das demonstrações contábeis precisa ter discernimento para não aceitar passivamente estas maluquices criadas e divulgadas nas demonstrações contábeis.
Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio
Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)
29 maio 2014
A Contabilidade do BVA
Caro Leitor: a notícia a seguir, publicada no Estadão, parece irreal:
O Banco Central apurou indícios de crimes de fraudes contábeis, desvio de recursos, gestão temerária e elisão fiscal no banco BVA durante a gestão do presidente da instituição Ivo Lodo, entre os anos de 2007 e 2012. O Estado teve acesso ao relatório final de inquérito, entregue há um mês à Justiça, que aponta ainda conluio de gestores do fundo de pensão Petros em empréstimos irregulares.
As 8.322 páginas descrevem uma série de operações suspeitas, entre elas desvio de recursos do caixa da instituição. O BC não conseguiu apurar com precisão o que acontecia no caixa do BVA porque, entre outros problemas, não teve tempo hábil para questionar a transportadora de valores que prestava serviços ao banco. Mas relata que no dia da intervenção, 19 de outubro de 2012, o saldo do caixa era de R$ 4,8 bilhões, mas fisicamente só tinha R$ 1,8 bilhão.
Ou seja, o caixa não existia! Ele sumiu...
O desvio de recursos seria feito principalmente por meio de empresas terceirizadas que teriam recebido quase R$ 210 milhões por serviços. Para o BC, há indícios que os serviços não foram prestados. Cerca de 85% dos recursos eram pagos em espécie.
Pagamento em espécie é típico de quem deseja desviar recursos ou praticar outra ilegalidade.
O relatório diz que os responsáveis pelo banco teriam retirado da instituição entre os anos de 2009 e 2012 valores superiores a R$ 224 milhões "utilizando-se de diversos atos fraudulentos, componentes de uma fraude maior, objetivo último do esquema engendrado", diz o relatório. Os valores foram retirados de conta corrente das supostas prestadoras de serviços. "As transferências em dinheiro passavam por um complexo esquema de lançamentos, por meio de uma complexa estrutura contábil previamente inserida nos sistemas informatizados da instituição, violando regras básicas da contabilidade".
Fico imaginando o que seria "regras básicas da contabilidade". Será a ausência do método das partidas dobradas?
O BC entende que esta operação poderia ter dois efeitos: reduzir o lucro do banco e assim pagar menos impostos ou ainda formar "caixa dois" do banco e desviar recursos para a pessoa física dos controladores e de seus diretores. Em cinco anos, os executivos do banco receberam R$ 283 milhões em dividendos e bônus. Deste total, 79%, ou R$ 224 milhões, foram destinados para Ivo Lodo, segundo o BC. Lodo não quis comentar.
Caoa. O BC também vê indícios de crime na venda de bens pertencentes a Ivo Lodo, que já estavam indisponíveis, para o grupo Caoa, que era o maior investidor do banco com mais de R$ 1 bilhão na instituição. O grupo Caoa afirmou, entretanto, que não comprou nenhum bem. Eles foram oferecidos em garantia a um possível aporte de R$ 300 milhões que o grupo faria no banco já próximo à intervenção, mas o negócio nunca se concretizou. O grupo afirma que está tranquilo com qualquer investigação que seja feita em relação ao banco BVA.
Petros. O BC aponta ainda quatro gestores do fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás como autores de possíveis crimes de gestão fraudulenta em empréstimos de R$ 100 milhões para a empresa Providax, que foi criada para ser holding da Vidax, um call center em dificuldades financeiras. A Vidax chegou a pertencer a diretores do BVA.
Parece um esquema de outra instituição financeira que também teve problemas.
O Petros teria concedido diretamente crédito para a Providax, o que é vedado por lei. Mas o BC diz que o mais grave é o fato de ter apurado que não há evidências de que a dívida seria paga e os empréstimos foram concedidos sem análise da capacidade financeira da empresa. "As operações ocorreram em circunstâncias que caracterizam uma simulação", diz o relatório do BC. O Petros não quis comentar, com o argumento que não teve acesso ao documento do Banco Central.
Ufa. Será que alguém será preso?
O Banco Central apurou indícios de crimes de fraudes contábeis, desvio de recursos, gestão temerária e elisão fiscal no banco BVA durante a gestão do presidente da instituição Ivo Lodo, entre os anos de 2007 e 2012. O Estado teve acesso ao relatório final de inquérito, entregue há um mês à Justiça, que aponta ainda conluio de gestores do fundo de pensão Petros em empréstimos irregulares.
As 8.322 páginas descrevem uma série de operações suspeitas, entre elas desvio de recursos do caixa da instituição. O BC não conseguiu apurar com precisão o que acontecia no caixa do BVA porque, entre outros problemas, não teve tempo hábil para questionar a transportadora de valores que prestava serviços ao banco. Mas relata que no dia da intervenção, 19 de outubro de 2012, o saldo do caixa era de R$ 4,8 bilhões, mas fisicamente só tinha R$ 1,8 bilhão.
Ou seja, o caixa não existia! Ele sumiu...
O desvio de recursos seria feito principalmente por meio de empresas terceirizadas que teriam recebido quase R$ 210 milhões por serviços. Para o BC, há indícios que os serviços não foram prestados. Cerca de 85% dos recursos eram pagos em espécie.
Pagamento em espécie é típico de quem deseja desviar recursos ou praticar outra ilegalidade.
O relatório diz que os responsáveis pelo banco teriam retirado da instituição entre os anos de 2009 e 2012 valores superiores a R$ 224 milhões "utilizando-se de diversos atos fraudulentos, componentes de uma fraude maior, objetivo último do esquema engendrado", diz o relatório. Os valores foram retirados de conta corrente das supostas prestadoras de serviços. "As transferências em dinheiro passavam por um complexo esquema de lançamentos, por meio de uma complexa estrutura contábil previamente inserida nos sistemas informatizados da instituição, violando regras básicas da contabilidade".
Fico imaginando o que seria "regras básicas da contabilidade". Será a ausência do método das partidas dobradas?
O BC entende que esta operação poderia ter dois efeitos: reduzir o lucro do banco e assim pagar menos impostos ou ainda formar "caixa dois" do banco e desviar recursos para a pessoa física dos controladores e de seus diretores. Em cinco anos, os executivos do banco receberam R$ 283 milhões em dividendos e bônus. Deste total, 79%, ou R$ 224 milhões, foram destinados para Ivo Lodo, segundo o BC. Lodo não quis comentar.
Caoa. O BC também vê indícios de crime na venda de bens pertencentes a Ivo Lodo, que já estavam indisponíveis, para o grupo Caoa, que era o maior investidor do banco com mais de R$ 1 bilhão na instituição. O grupo Caoa afirmou, entretanto, que não comprou nenhum bem. Eles foram oferecidos em garantia a um possível aporte de R$ 300 milhões que o grupo faria no banco já próximo à intervenção, mas o negócio nunca se concretizou. O grupo afirma que está tranquilo com qualquer investigação que seja feita em relação ao banco BVA.
Petros. O BC aponta ainda quatro gestores do fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás como autores de possíveis crimes de gestão fraudulenta em empréstimos de R$ 100 milhões para a empresa Providax, que foi criada para ser holding da Vidax, um call center em dificuldades financeiras. A Vidax chegou a pertencer a diretores do BVA.
Parece um esquema de outra instituição financeira que também teve problemas.
O Petros teria concedido diretamente crédito para a Providax, o que é vedado por lei. Mas o BC diz que o mais grave é o fato de ter apurado que não há evidências de que a dívida seria paga e os empréstimos foram concedidos sem análise da capacidade financeira da empresa. "As operações ocorreram em circunstâncias que caracterizam uma simulação", diz o relatório do BC. O Petros não quis comentar, com o argumento que não teve acesso ao documento do Banco Central.
Ufa. Será que alguém será preso?
Listas: As mulheres mais poderosas
#1 - Angela Merkel - 59 anos - Alemanha - Política (foto)
#2 - Janet Yellen - 67 - EUA - Finanças
#3 - Melinda Gates - 49 - EUA - Filantropia
#4 - Dilma Rousseff - 66 - Brasil - Política
#5 - Christine Lagarde - 58 - França - ONG
#6 - Hillary Clinton - 66 - EUA Política
#7 - Mary Barra 52 - EUA Negócios
#8 - Michelle Obama - 50 - EUA - Política
#9 - Sheryl Sandberg - 44 - EUA - Tecnologia
#10 - Virginia Rometty - 56 - EUA - Tecnologia
Além disto temos
#16 - Maria das Graças Silva Foster - Negócios
Fonte: Forbes
#2 - Janet Yellen - 67 - EUA - Finanças
#3 - Melinda Gates - 49 - EUA - Filantropia
#4 - Dilma Rousseff - 66 - Brasil - Política
#5 - Christine Lagarde - 58 - França - ONG
#6 - Hillary Clinton - 66 - EUA Política
#7 - Mary Barra 52 - EUA Negócios
#8 - Michelle Obama - 50 - EUA - Política
#9 - Sheryl Sandberg - 44 - EUA - Tecnologia
#10 - Virginia Rometty - 56 - EUA - Tecnologia
Além disto temos
#16 - Maria das Graças Silva Foster - Negócios
Fonte: Forbes
28 maio 2014
Reconhecimento da Receita
A norma sobre reconhecimento de receita de contratos, tão aguardada, foi divulgada hoje. O Fasb, entidade que regula as normas de contabilidade dos Estados Unidos, e o Iasb, que é responsável pelos padrões contábeis de diversos países, inclusive o Brasil, chegaram a um consenso.
A aprovação poderá representar um avanço na convergência contábil entre os principais mercados de capitais do mundo. E irá provocar uma grande alteração para as empresas de diversos países. O padrão divulgado está baseado em princípios e, segundo o Journal of Accountancy, representa uma mudança em relação a filosofia de normatização dos Estados Unidos.
Para os países que adotam as normas internacionais do Iasb, a nova norma poderá melhorar a qualidade do reconhecimento da receita.
Em 2008 as duas entidades começaram a discutir o assunto. Sete anos depois o padrão apareceu no endereço das duas entidades (Iasb e Fasb). A norma deverá entrar em vigor no final de 2016 nos Estados Unidos e após 2017 para o Iasb.
Aqui o comunicado das duas entidades. Aqui um resumo didático da norma. Aqui vídeos explicando o assunto.
A aprovação poderá representar um avanço na convergência contábil entre os principais mercados de capitais do mundo. E irá provocar uma grande alteração para as empresas de diversos países. O padrão divulgado está baseado em princípios e, segundo o Journal of Accountancy, representa uma mudança em relação a filosofia de normatização dos Estados Unidos.
Para os países que adotam as normas internacionais do Iasb, a nova norma poderá melhorar a qualidade do reconhecimento da receita.
Em 2008 as duas entidades começaram a discutir o assunto. Sete anos depois o padrão apareceu no endereço das duas entidades (Iasb e Fasb). A norma deverá entrar em vigor no final de 2016 nos Estados Unidos e após 2017 para o Iasb.
Aqui o comunicado das duas entidades. Aqui um resumo didático da norma. Aqui vídeos explicando o assunto.
Rir é o melhor remédio
Torneio de tênis de Roland Garros. O tenista francês Mahut concede a entrevista coletiva. Logo de cara um repórter fala:
Mahut estranha:
O repórter sem graça diz:
Sem acreditar, o jogador questiona:
E continua...
E o repórter:
Curso de Contabilidade Básica: Cronologia das Contas a Receber
Além da informação sobre o valor existente em contas a
receber ao final de cada período, as empresas também divulgam, para o usuário,
informações adicionais sobre esta conta em notas explicativas. Uma das
informações mais relevantes é a Cronologia das Contas a Receber ou Aging. Esta cronologia aponta o valor
deste ativo que ainda não está vencido e os montantes já vencidos, por data. A
análise da cronologia é sempre uma informação útil para saber como está o
processo de concessão de crédito e cobrança dos clientes.
Para mostrar a utilidade desta informação, selecionamos a
empresa Bardella Indústrias Mecânicas. Esta empresa possui uma receita de R$300 milhões e do seu ativo, contas a
receber representa mais de 20%.
A empresa divulgou em notas explicativas os valores da
cronologia, mas somente para uma linha, de produtos seriados e serviços. Com
base nos números divulgados, elaboramos a tabela a seguir:
Uma forma de analisar mais facilmente os números acima é
calcular a percentagem de cada item sobre o total, conforme consta da tabela a
seguir:
Esta tabela mostra, de forma mais nítida, a grande variação
no contas a receber da empresa. No final de 2010 mais da metade dos valores
estavam vencidos. Este é realmente um número muito ruim. Um ano depois, a
empresa conseguiu reduzir a quantidade de contas a receber vencidos para 17%. A
situação piorou nos últimos dois anos, quando o valor dos títulos vencidos
aumentou para 24% e 39% no final de 2012 e 2013, nesta ordem. Chama a atenção o
aumento nos valores vencidos até 30 dias, de 15%. É bom lembrar que o cliente
que não paga em até 30 dias poderá ser o cliente insolvente nos próximos meses.
Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio
Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)
Sim-City
Aprender contabilidade governamental pode ficar mais estimulante se os conceitos da disciplinas forem aplicados. Os estudantes também podem entender melhor o conteúdo. No caso dos estudantes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de janeiro), a aplicação se deu no mundo virtual, mais especificamente no ambiente do jogo eletrônico SimCity.
A possibilidade foi demonstrada em um estudo de doutorado defendido pelo pesquisador e professor de Contabilidade Governamental da UFRJ Marcos Roberto Pinto na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo).
A aplicação do jogo SimCity possibilitou ao aluno vivenciar a formação e a gestão de uma cidade, além do desenvolvimento de um sistema de informações contábeis.
"O emprego do jogo eletrônico se apresenta como uma inovação no processo de ensino, podendo ser considerado um forte aliado no desenvolvimento de estratégias instrucionais destinadas a um público que já nasceu sob a forte influência dos aparatos digitais", sugere. Em seu trabalho, Marcos Roberto Pinto demonstra que os estudantes que utilizam o SimCity, inserido no ambiente de aprendizagem, têm melhores notas e se saem melhores em testes-padrão.
O SimCity é um jogo de simulação que tem por objetivo criar uma cidade e administrar seus recursos, de forma a evitar a falência e a expulsão do prefeito.
Fonte: Aqui, dica de Jailton Fernandes (grato)
A base teórica para o uso do mundo virtual em contabilidade pode ser encontrada no livro Experimental Research in Financial Reporting, de Bloomfield e Rennekamp.
A possibilidade foi demonstrada em um estudo de doutorado defendido pelo pesquisador e professor de Contabilidade Governamental da UFRJ Marcos Roberto Pinto na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo).
A aplicação do jogo SimCity possibilitou ao aluno vivenciar a formação e a gestão de uma cidade, além do desenvolvimento de um sistema de informações contábeis.
"O emprego do jogo eletrônico se apresenta como uma inovação no processo de ensino, podendo ser considerado um forte aliado no desenvolvimento de estratégias instrucionais destinadas a um público que já nasceu sob a forte influência dos aparatos digitais", sugere. Em seu trabalho, Marcos Roberto Pinto demonstra que os estudantes que utilizam o SimCity, inserido no ambiente de aprendizagem, têm melhores notas e se saem melhores em testes-padrão.
O SimCity é um jogo de simulação que tem por objetivo criar uma cidade e administrar seus recursos, de forma a evitar a falência e a expulsão do prefeito.
Fonte: Aqui, dica de Jailton Fernandes (grato)
A base teórica para o uso do mundo virtual em contabilidade pode ser encontrada no livro Experimental Research in Financial Reporting, de Bloomfield e Rennekamp.
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