Em 1984 o então campeão mundial de xadrez Anatoli Karpov, então com 33 anos, duelou com Kasparov, então com 21 anos, pelo título mundial de xadrez tivemos um duelo de gerações. Karpov iniciou o confronto de maneira arrasadora, com quatro vitórias em nove jogos. Como a regra do confronto era de que o campeão do mundo seria aquele que obtivesse seis vitórias, Kasparov começou a adotar uma estratégia para cansar o campeão, provocando empates. Até o jogo 27º. Kasparov segurou os esforços de Karpov em fechar o confronto, com empates sucessivos. Nesta partida, Karpov obteve sua quinta vitória. Ou seja, mais uma partida com a vitória do campeão o título seria mantido.
Existia uma previsão de que a disputa seria encerrada em 18 partidas e isto realmente não ocorreu. No 32º. Jogo Kasparov conseguiu a sua primeira vitória. E a disputa continuou com uma série de empates. Quando iniciou a 47ª. partida o placar apontava 5 vitórias para o campeão e 1 para o jovem desafiante. Mas era perceptível que Karpov estava muito cansado, depois de cinco meses jogando xadrez contra o desafiante. Então, jogando com as peças pretas, que geralmente possuem uma pequena desvantagem, Kasparov obteve a segunda vitória. E no 48º. Jogo Kasparov venceu novamente, fazendo com que o placar ficasse 5 a 3 em termos de vitórias.
Neste momento, o então presidente da confederação de xadrez, o filipino Campomanes, decretou o fim do confronto, alegando que era necessário preservar a saúde dos jogadores.
A disputa do título mundial de xadrez de 1984 mostra o efeitos da fadiga sobre o desempenho dos jogadores. Em geral quando estamos cansados o nosso desempenho cai. Se não dormimos muito, no dia seguinte teremos dificuldade de absorver o conteúdo de uma aula ou de ler um livro. Isto certamente ocorreu com os jogadores, mas Karpov sentiu mais os efeitos das longas partidas.
Se esta associação é valida para atividades intelectuais, também deverá ser para as atividades físicas. Talvez isto seja válido para o basquete e o tênis. Mas para o futebol existe uma surpresa.
É muito comum escutar que o calendário do futebol afeta o desempenho das equipes. Que uma equipe que teve pouco descanso entre uma partida e outra foi prejudicada pela falta de tempo na recuperação dos atletas. Nada melhor que usar os dados existentes para verificar se esta “verdade” tem fundamento.
Um pesquisador da Universidade da Calabria tentou investigar se a fadiga tem efeitos sobre os resultados do futebol. Usando observações da Copa do Mundo e do campeonato europeu de campeões, o pesquisador verificou o intervalo entre um jogo e outro. Se a fadiga é relevante, o time com um menor tempo de recuperação entre dois jogos deveria ter um desempenho pior que outro tipo. Da sua amostra, na metade dos jogos os times tinham o mesmo tempo de descanso, mas em 11% dos casos a diferença de descanso era maior que dois dias. Mas para fazer este tipo de pesquisa, é necessário levar em consideração a qualidade de cada equipe e o fato de jogar em casa.
O resultado que o pesquisador encontrou foi surpreendente: não existe nenhum efeito relevante do número de dias de descanso no desempenho das equipes. Ou seja, os técnicos, jogadores e comentários não devem insistir que o calendário prejudicou um determinado time.
Mas existe um ponto interessante na pesquisa: este efeito existia no passado. Talvez a evolução da preparação física tenha permitido fazer com que os jogadores não sentissem o impacto do número de jogos. Ou quem sabe, os clubes começaram a usar, de maneira mais inteligente, seus atletas.
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Fatigue and Team Performance in Soccer: Evidence from the FIFA World Cup and the UEFA European Championship. IZA Discussion Paper No. 7519, July 2013
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