Translate

29 maio 2013

28 maio 2013

Rir é o melhor remédio


Partidas Dobradas

Gleeson-White escreveu um livro fascinante sobre a história do método das partidas dobradas (Double entry. New York: W W Norton, 2012). O livro possui o subtítulo de Como os Mercadores de Veneza Criaram as Finanças Modernas e isto indica a profunda admiração do autor pelo método de Veneza.

O livro possui dez capítulos sendo a metade sobre a gênese do método e sua difusão. Os demais se referem da contabilidade no mundo moderno, incluindo aí as contas nacionais. Como a maioria do livro refere-se a Summa, a obra é uma fonte profunda para aqueles que se interessam sobre a história da contabilidade.  Eis uma amostra:

ð  Os primeiros livros contábeis datam em torno de 1300: livros dos mercadores Rinieri Fini e irmãos (entre 1296 a 1305) e de Giovanni Farolfi (entre 1299 a 1300). Nestas obras já se considera o lucro como um incremento do patrimônio líquido, mensurado para um período contábil claramente definido.
ð  A matemática na idade média não era uma matéria específica. Na realidade era ensinada como “astrologia”. O próprio Pacioli se referiu como “astrólogo” para o Papa Leão X
ð  No século XIV era comum que os comerciantes mandassem seus filhos para algumas cidades onde poderiam aprender sobre o comércio, especialmente a operar o ábaco, aprender sobre câmbio e o sistema de escrituração.
ð  Pacioli tornou-se um frei talvez mais por interesse da carreira do que por crença. Durante sua vida ele deixou de cumprir uma série de regras da sua irmandade, tendo inclusive falecido como um homem rico.
ð  Durante a época de Pacioli existiam treze universidades na Itália e em cada uma dela só existia emprego para um ou dois matemáticos. E Pacioli foi considerado matemático para duas delas.
ð  Após a invenção da imprensa, os humanistas pretendiam que a primeira obra fossem os livros de Euclides, mas o primeiro livro foi um livro para mercadores.
ð  A obra de Pacioli foi escrita em italiano, ao contrário da tradição de uso do latim, e encorajada o uso dos números hindus-arábicos e não romanos. Pacioli também criou símbolos para “mais” e “menos”, que são diferentes daqueles que usamos hoje.
ð  A tiragem inicial da Summa tinha uma tiragem de dois mil exemplares, levou de nove a doze meses para ser produzido e tinha 615 páginas. Sobreviveram 99 cópias da edição de 1494 e 36 da edição de 1523. Parte do livro era uma “reprodução” do livro de Fibonacci, que estava “esquecido”.
ð  A Summa media 25 centímetros por 30 e corresponde a um livro de 1500 páginas se fosse impresso hoje.
ð  O livro foi a obra matemática mais lida na Itália por um século e treinou muitos estudantes em matemática e contabilidade.
ð  Pacioli ajudou o pintor Leonado da Vinci na criação da Última Ceia. E o livro De Divina proportione contou com 60 figuras geométricas desenhadas por Da Vinci.
ð  Pacioli escreveu um livro, denominado De ludo Scacchorum que seria o primeiro de livro xadrez. Muitos duvidavam da existência do livro, pois nenhuma cópia foi encontrada. Até 2006, quando uma cópia foi descoberta no norte da Itália.
ð  Parte do Summa foi traduzido para diversas línguas, como inglês, holandês, alemão, francês e russo.
ð  O sistema de Pacioli de lançamento incluía duas palavras básicas: per que significa “de” e a, que indica a conta a ser creditada. Um lançamento típico seria: “Per Banco // A Caixa”.
ð  Todos os livros de contabilidade publicados no século XVI estavam diretamente baseados no trabalho de Pacioli e influenciou, inclusive, obras em língua portuguesa, em 1758. Alguns deles eram cópias, sem a devida referência, como é o caso da obra de Manzoni. O livro de Manzoni teve entre seis e sete edições em quarenta anos.
ð  Uma tentativa de combater o método de PAcioli foi lançado na Inglaterra em 1796 cujo autor propunha um método infalível por partidas simples que causou sensação.

O final do livro não é tão animador. O autor tentar abranger uma série de assuntos, sendo superficial na análise moderna da contabilidade.

Vale a pena? Se você gosta de história ou quer conhecer um pouco mais sobre isto, este livro é altamente recomendado.

(Imagem: Allegory of Commerce and a Debtor's Prison)

Parceiros do blog:
Amazon Brasil
Americanas
Submarino

CEOs não sabem administrar


A new study shows that CEOs are doing a lousy job when it comes to people management. The study, a joint project by the Center for Leadership Development and Research at Stanford’s Graduate School of  Business, Stanford’s Rock Center for Corporate Governance and The Miles Group, a consulting firm in New York that focuses on C-suites and corporate boards, found that both CEOs and boards are overly focused on the bottom line, at the expense of mentoring and engaging their boards. The survey polled 160 CEOs and directors of North American public and private companies.
One of the questions to boards of directors: Rank the top weakness of your CEO. “Mentoring skills” and “board engagement” tied for first place. “This signals that directors are clearly concerned about their CEOs’ ability to mentor top talent,” said Stephen Miles, CEO of The Miles Group, in a statement. “Focusing on drivers such as developing the next generation of leadership is essential to planning beyond the next quarter and avoiding the short-term thinking that inhibits growth.”
It makes sense to me that boards are preoccupied with financial measurements. But the study found that the attention given to talent development and mentoring was at rock bottom. The survey asked boards and CEOs about the weighting they give to various aspects of CEO performance. The most important thing, rated at 41%, was “accounting, operating or stock price performance.” The weighting given to people performance was incredibly low, with “succession planning” getting just a 5% rating and and “workplace safety” just 2%.
The researchers say that CEOs need to reach beyond numbers and care about people management. Two other statistics from the survey that underline how disengaged CEOs are from concern about employees: When asked about their CEOs’ greatest strengths, 70% rated “decision-making skills” at the top. At the bottom: 27% said “compassion/empathy,” 23% said “mentoring skills/developing internal talent” and just 23% said “listening skills.” The lowest-rated skill was “conflict management.” Likewise, when asked about CEOs’ biggest weaknesses, 24% said “mentoring skills” and 22% said “sharing leadership/delegation skills.”
Also striking is the fact that a sizable majority of directors (83%) and boards (64%) agree that the CEO evaluation process should rely on a balanced approach between financial performance and nonfinancial measurements. “Unfortunately, the truth of the matter is that the CEO evaluation process is not that balanced,” said Stanford’s David Larcker, co-director of the Center for Leadership Development in a statement. “Amid growing calls for integrating reporting and corporate social responsibility, companies are still behind the times when it comes to developing reliable and valid measures of nonfinancial performance metrics.”
More results from the study:
-          Directors don’t rate their CEOs highly. Only 41% of directors say their CEO is in the top 20% of their peers and 17% say their CEO is below the 60th percentile.
-          A sizable minority, 10%, say they have never evaluated their CEO.
-          CEOs who are evaluated, agree with the marks they get.“Shareholders have to wonder at the objectivity of the evaluation process,” said Larcker. “It’s hard to believe that boards are pushing CEOs on their evaluations if they pretty much agree with their evaluation.”
-          Many directors forgive CEOs for legal and regulatory violations. This is one of the most striking results of the study. When asked about unexpected litigation against the company, a significant minority of directors, 27%, said that it would have no impact on a CEO’s performance evaluation, while 24% said that regulatory problems would have no impact. Shouldn’t CEOs be held accountable for legal and regulatory lapses? At least directors were unforgiving about ethical violations and a failure to be transparent with the board. A full 100% said their CEOs would get worse performance evaluations in the face of ethical problems.
I agree with the study’s authors that in the ideal world, CEOs would care about people management and they would be grooming successors to step in should something go awry. But I also understand boards’ and bosses’ preoccupation with the bottom line.
Also I can think of two recent examples of companies where the CEOs left abruptly under unexpected circumstances and the companies reached outside for replacements who, thus far, have arguably done a good job—better, perhaps, than someone from inside would have done. At Yahoo last year, Scott Thompson had been CEO for just four months when activist investor Daniel Loeb, who opposed Thompson’s appointment, sent a letter to the board revealing that Thompson had lied about his credentials. Thompson, who was an outside hire from PayPayl, had zero time to groom a successor, so Yahoo reached outside again and hired Marissa Mayer from Google. Though she’s been in the post for just a year and may still hit roadblocks in her efforts to revive the struggling company, Yahoo’s stock has risen from $15 when she took the helm to $26.
Another example: Struggling big box retailer Best Buy lost its CEO, Brian Dunn, suddenly last April after his inappropriate relationship with a female subordinate came to light. An insider, director G. Mike Mikan, served as interim CEO for four months. Then the company hired Frenchman Hubert Joly, who had been running a Minneapolis travel company called Carlson. Though Best Buy’s stock fell from $20 when Joly came on board to $11 in January, he has managed to revive the company’s fortunes and bring the share price back up to $26. It’s not clear that an insider could have done a better job.
Maybe I’m guilty, like directors and CEOS, of focusing too much on the bottom line here, but in the end, that’s what shareholders value. Though I agree with the Stanford study authors that in an ideal world, CEOs would channel more of their energy toward listening to the people inside their companies and developing talent from within.
NEW YORK, NY - MAY 20:  Yahoo CEO Marissa Maye...

Fonte: aqui

Entrevista com Armínio Fraga


O almoço com Armínio Fraga foi combinado numa troca de e-mails. "A regra do  jogo é o entrevistado escolher o lugar, e o jornal paga a conta", dizia a  mensagem que propôs o encontro. "Frequento quatro ou cinco restaurantes aqui na  área", devolveu ele, minutos depois. "Se escolher um, os outros me  envenenam."
Agora, o repórter passa batido na frente de vários restaurantes bacanas da  avenida Ataulfo de Paiva, no bairro carioca do Leblon, e entra num prédio  comercial, onde fica a Gávea Investimentos, a maior gestora independente de  recursos do país, com uma carteira de R$ 15 bilhões. No sétimo andar, a  recepcionista dá as boas-vindas e leva o visitante para uma sala de reuniões.  Vamos comer no escritório, mesmo.
Armínio aparece pontualmente às 13h e constata que a fotógrafa do Valor já havia montado suas câmeras e luzes ali mesmo.  "Preparei a mesa numa sala lá de cima. A vista é outra coisa. Esta cidade é  muito bonita." Todos sobem uma escada interna para conferir o que o oitavo andar  tem a oferecer. À frente, Armínio segue falando. "Não saio muito no almoço. É  ótimo comer fora, mas não dá para conversar direito. Fica todo mundo  olhando."
Ele trabalha numa área compartilhada com colegas - por isso a mesa está  posta numa sala para encontros privados. A vista é bonita como prometido, com  montanhas ao fundo, mas conclui-se que a luz da sala de reuniões anterior era  melhor. "Vamos para lá", diz Armínio. "Cada um leva o seu", propõe, agarrando  pratos e talheres, sob protestos de auxiliares do escritório.
Já sentado à mesa, Armínio abre uma tupperware. "É um salpicão leve, tudo  orgânico", explica, apresentando uma salada com repolho e cenoura trazida de sua  casa, que fica a cinco quadras dali. Ele apanha as embalagens plásticas dos  sanduíches, ainda com etiquetas com preço do Talho Capixaba, uma delicatessen  vizinha. "São feitos com o famoso pão completo." Integrais, sem adição de  açúcar, com grãos de linhaça. Temos duas opções de recheio: queijo com salmão e  queijo minas com presunto. Armínio se estica e apanha uma Coca-Cola num frigobar  atrás dele. "O que vocês tomam?" A fotógrafa vai de água mineral, e o repórter,  de Coca Zero.
A imagem bem americana de Armínio almoçando um sanduíche com salada no  escritório, vestindo calça de sarja e camisa branca com uma camiseta por baixo,  leva à questão sobre sua real identidade, entre as cidadanias do Brasil e dos  Estados Unidos. O pai de Armínio, Sylvio, foi um renomado dermatologista que fez  residência na Filadélfia. Lá, ele se apaixonou por Margaret, uma descendente de  irlandeses que vive no Rio desde 1956, mas, apesar da distância, não deixou de  ser uma radical democrata, partido de esquerda nos padrões americanos. Armínio e  suas três irmãs nasceram no Brasil.
Eu me humilhei muito jogando futebol e me humilho  todas as semana jogando golfe. E no mercado também, né? O mercado é  cruel
"Fomos criados falando português em casa. Aprendi inglês depois", diz. "Claro  que crescemos com os valores dos dois, tem muita coisa americana, muita coisa  brasileira. Mas, apesar de admirador dos Estados Unidos, sempre me senti mais  brasileiro."
E carioca. Até sair do país para fazer doutorado na Universidade Princeton,  Armínio viveu uma vida típica de classe média no Jardim Botânico, um bairro da  zona sul, e estudou no colégio jesuíta Santo Inácio, um dos mais tradicionais do  Rio.
Uns dez anos atrás, a revista americana "Newsweek" o definiu como "o "nerd"  que salvou o Brasil" na crise cambial de 1999, mas ele não se reconhece no  rótulo. Embora estudioso, diz que teve outros interesses, como jogar futebol.  Não escapava de fazer provas finais em disciplinas pelas quais tinha menos  interesse, como história e português, e se saía melhor em ciências exatas, já se  direcionando para a medicina.
Esse parecia o caminho natural para quem veio de uma família de médicos,  começando com o avô, que saiu da pobreza no interior da Bahia para estudar  medicina e, mais tarde, tornar-se um dos primeiros bolsistas da Fundação  Rockefeller, nos Estados Unidos. Quando prestou vestibular, Armínio questionou  sua vocação para a profissão, ao ver o pai dedicar dias e noites ao trabalho, e  por eliminação foi fazer economia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do  Rio. "Acabei dando sorte e me encantando pela área", diz hoje da escolha.
Depois de viver três períodos nos Estados Unidos, o último deles trabalhando  no legendário fundo de hedge de George Soros, Armínio e sua mulher, Lucyna,  decidiram que era hora de voltar para o Brasil, no fim do ano escolar americano,  em junho de 1999. Os filhos adolescentes estavam num momento crítico de definir  a nacionalidade. Chamado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para assumir  o Banco Central, ele antecipou o regresso ao país em seis meses e comprou uma  casa no Leblon, onde mora até hoje. A sua filha, Mariana, hoje vive nos Estados  Unidos. O filho, Sylvio, mora no Rio e joga golfe com o pai.
Armínio faz parte do conselho de desenvolvimento econômico que assessora o  prefeito do Rio, Eduardo Paes. Uns tempos atrás, alguém jogou no ar a ideia de  fazê-lo o candidado do PSDB a prefeito ou a governador. Armínio abre a lata de  Coca-Cola. "Não sou político, não tenho vocação. Mas pretendo continuar a  participar do debate nacional, principalmente econômico." Isso inclui a troca de  ideias com Aécio Neves, o mais provável candidato a presidente pelo PSDB nas  eleições de 2014. "Tenho tido algumas conversas com ele, não muitas, mas boas. E  volta e meia outros políticos me procuram." O governador de Pernambuco, Eduardo  Campos, que ensaia uma candidatura pelo PSB, seria um deles? "Ainda não tive a  chance de falar com ele. Mas amigos em comum já comentaram que, eventualmente,  seria muito interessante bater um papo. Certamente teria o maior prazer."
Em 2010, Armínio e o sócio, seu primo Luiz Fraga, venderam o controle da  Gávea Investimentos para o JP Morgan, e o contrato estabeleceu que eles  permanecerão no comando do negócio por pelo menos cinco anos. Em uma entrevista  ao Valor, Armínio disse que queria se tornar um "cochairman"  junto a Luiz, ou copresidente do conselho, para a Gávea deixar de ser "a gestora  do Armínio". Com 55 anos, ainda parece cedo para se aposentar - o que ele pensa  para o futuro? Armínio faz um longo silêncio. E diz: "A resposta é rápida, só  demorei porque você me pegou de boca cheia. Eu me vejo dedicando menos tempo ao  dia a dia. São dias longos, com jornadas de 12 a 14 horas e, como nosso fundo  multimercado é global, com frequência acordo no meio da noite. Mas não há  pressa."
Na troca de e-mails que combinou o almoço, Armínio topou adiantar um pouco do  que estava lendo e pensando. Entre os vários tópicos encaminhados de véspera,  estava o nome de Isaiah Berlin. Uma rápida pesquisa no Google esclarece que é um  pensador liberal russo-britânico.
"Eu me vejo como uma pessoa da linha liberal, com coração, movida pelas  carências do Brasil em que me criei e vivo até hoje. E o Berlin é um filósofo  que fala muito em pluralismo. Acredito muito nisso. Ninguém pode dizer o que é  importante para os outros." Não é um liberalismo selvagem, esclarece. "Nunca fui  defensor de um Estado minimalista. Sinto falta de um Estado com "E" maiúsculo.  Acredito em igualdade e numa rede de proteção social."
Um dos temas que estão na cabeça de Armínio é a "reestatização do Estado", na  linha do artigo "O Capitalismo Depois da Crise", de autoria do professor Luigi  Zingales, da Universidade de Chicago. A tese central é que a economia americana,  apesar de ser o país do mundo mais aberto ao princípio de liberdade econômica,  entrou na crise porque foi capturada por grupos de interesse que são fortes em  Washington. "Esse é o modelo que Zingales chama de pró-business. O Estado tende  a ser mais capturado, tende a pensar menos no bem comum", afirma Armínio. "O  mercado resolve bem muitas coisas, de forma mais imparcial, desde que seja  genuinamente competitivo."
O sanduíche já começa a sumir na mão de Armínio, o que revela a desvantagem  de almoçar um lanche rápido em vez de uma demorada refeição completa. O tema  corta repentinamente da filosofia para a economia no governo Dilma Rousseff.
"Com toda essa crise de infraestrutura, o governo está claramente repensando  a sua trajetória. É digno de elogio. Muita gente não muda de opinião na vida."  Como exemplo, cita os aeroportos, que primeiro mudaram de um esquema de  concessão para um modelo mais estatal com a Infraero, e depois da Infraero de  volta para a concessão. "Não tem sido suficiente todo o esforço do BNDES. As  empresas tomam dinheiro do BNDES com frequência para projetos que não  necessariamente não teriam acontecido de um jeito ou de outro. Para ir além de  uma taxa de investimento de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), é preciso  trabalhar as condições que fazem o investimento acontecer". O quê? "Segurança e  clareza nas regras. E regras um pouco melhores."
Com quase uma hora de almoço, a conversa entra na macroeconomia do governo  Dilma. "O governo vem trabalhando com o pé no acelerador na área fiscal,  monetária e creditícia. Isso nos trouxe à inflação alta. Há sempre uma certa  tendência de atribuir a inflação alta a um dado preço ou outro, mas o fato é que  há uma alta mais generalizada de preços. Seria preciso segurar as três frentes.  Segurar o fiscal, dar liberdade para o Banco Central trabalhar a política de  juros sem grandes constrangimentos e tomar cuidado do lado do crédito."
Os pratos já estão vazios. A questão é se a inflação alta não seria causada  pela falta de uma atitude mais firme do Banco Central presidido por Alexandre  Tombini, que muitos no mercado financeiro veem como mais preocupado com o  crescimento econômico do que com a inflação. "Houve, sim, uma demora [em agir].  Conheço muito bem o Tombini, um profissional de mão cheia, muito equilibrado.  Então tenho que atribuir ao ambiente [de falta de liberdade para o Banco Central  agir] pelo menos parte dessa situação que temos hoje de inflação bastante alta.  Essa inflação, sem as intervenções pontuais que o governo tem promovido,  provavelmente está mais próxima de 8%. O Banco Central, em tese, deveria  desconsiderar essas intervenções. Então, com uma inflação próxima de 8% e a  economia em pleno emprego, os juros em 7,5% ao ano parecem bem baixos.  Normalmente não entro nesse detalhe sobre política monetária. Mas é o que  penso", diz o economista.
Para Armínio, o momento exige "sangue frio". "Quem está lá, em Brasília,  sentindo as pressões sociais, tende a focar no curtíssimo prazo", afirma. "É uma  certa ilusão porque, se a inflação está mais alta, lá na frente a coisa vai  ficar mais cara. Melhor encarar logo isso, resolver de uma vez. Torço para que  isso ocorra."
Mas o quadro econômico não seria confuso, com pleno emprego e inflação alta,  mas também baixo crescimento? "Para o país crescer, é preciso que haja demanda,  mas é preciso que haja oferta. A oferta em geral responde mais devagar", afirma  Armínio, referindo-se à capacidade da economia para produzir bens e serviços.  "Não é uma proposta razoável do ponto de vista macroeconômico ficar esperando a  oferta reagir em vez de fazer um ajuste na demanda. É preciso ajustar a demanda  ao longo do caminho, sob pena de a inflação ficar alta e a economia se  reindexar."
Armínio concorda que as condições internacionais excepcionais impõem certos  desafios à administração macroeconômica, sobretudo à política cambial. "O  ministro [da Fazenda, Guido] Mantega, foi feliz ao trazer o assunto da "guerra  cambial" à tona", afirma Armínio, enquanto cata algumas migalhas de pão no  prato. "Fica difícil dar uma resposta a isso. Acho que deveria insistir em uma  certa ortodoxia para que o juro possa continuar baixo e cair mais. É verdade que  o juro caiu bastante, mas o juro de curto prazo caiu mais do que deveria. O juro  mais longo caiu, mas caiu na mesma magnitude dos juros de outros países."
Quer dizer que, para ele, todo esse movimento de queda nos juros reais de  equilíbrio não é para valer? A taxa Selic aos menores patamares da história  tornou-se uma das marcas do governo Dilma Rousseff.
"Não acredito na queda estrutural de juros. Aliás, toda vez que ouço a  palavra "estrutural", eu começo a me coçar. Não tem nada muito estrutural", diz  Armínio.
"Há uma trajetória de queda do juro real que começou lá atrás. O Brasil  chegou a ter juro real de 20% quando tinha câmbio fixo. Depois caiu para 10%,  para 6%, e vinha caindo. Mas há um longo caminho a percorrer. Se o juro com  prazo de dez anos está em 3% ou 4% no Brasil e em 1% negativo nos Estados  Unidos, a diferença é menor do que parece. Há espaço para cair mais. Essa  tendência não é dada pela natureza e não vai acontecer independentemente do que  for feito na política macro. Vai continuar se mantivermos certa disciplina",  completa.
Armínio também anda preocupado com a política econômica - monetária e fiscal - dos Estados Unidos, Europa e Japão. Ele afirma que os Bancos Centrais estão  sob pressão. "É o que no Brasil conhecemos muito bem. Quando o problema é de  demanda fraca, a vida é boa, o Banco Central baixa os juros. Se a demanda está  aquecida demais e provocando mais inflação, aumenta os juros e reequilibra as  coisas. Mas se acontecerem problemas de outra natureza, como crises de balanço  de pagamentos, bancárias, geopolíticas, guerras, a coisa pode mudar. O Banco  Central pode se ver diante de um dilema. A inflação pode não estar cedendo por  falta de confiança no padrão monetário ou choque de oferta, e aí virá o teste,  se isso acontecer. Ninguém sabe. O que sabemos, entre aspas, é que "coisas  acontecem"."
E o Brasil estaria preparado para um risco como esse? "Não existe nada de  muito complicado no curto prazo, salvo essa tensão com relação à inflação, mas é  preciso certo cuidado", afirma Armínio. "Temos uma relação dívida líquida e PIB  relativamente baixa, mas no conceito de dívida bruta o Brasil é um dos maiores  do mundo emergente. Essa política de usar o balanço do governo para expandir  muitos programas, para o governo ser uma espécie de intermediário financeiro, é  também uma receita de médio prazo perigosa." Ele defende uma política fiscal  anticíclica, mas com uma meta de superávit primário em 3% do Produto Interno  Bruto (PIB), que seria superada nos anos bons e ficaria menor nos anos ruins. Na  política atual, 3% do PIB é um teto, se muito.
Armínio observa que sobraram sanduíches na mesa. "Não sei se vocês  perceberam, mas eu comi os meus", diz. "Vou distribuir para alguém, a não ser  que vocês queiram levar." Visto de perto, Armínio é simples e informal. No Banco  Central, preferia dispensar os garçons e se servir sozinho. "É um pouco a minha  criação. Meu pai sempre foi assim", explica. "Ninguém é melhor do que ninguém  por ter alguma coisa. Fui criado fazendo esporte e, no esporte, a gente aprende  muito. Eu me humilhei muito jogando futebol e me humilho todas as semana jogando  golfe. E no mercado também, né? O mercado é cruel."
Quando deixou o mercado financeiro para assumir o Banco Central, cargo em que  ficou até 2002, Armínio foi chamado por um senador de "gênio do mal", e  sindicalistas fizeram protestos, comparando-o a uma raposa tomando conta do  galinheiro. Ele é o homem que derrubou a Tailândia na crise asiática, de 1997,  quando trabalhava para Soros, segundo relato do jornalista britânico Sebastian  Mallaby no livro "More Money Than God: Hedge Funds and the Making of a New  Elite", publicado em 2010.
Foi uma combinação de sagacidade e disciplina nos estudos. Armínio, conta o  livro, ouviu numa apresentação do então segundo homem do Fundo Monetário  Internacional (FMI), Stanley Fisher, que depois da crise no México a região que  inspirava cuidado era a Ásia. Esse comentário, disse Fraga mais tarde, "pôs uma  coisinha na minha cabeça". Depois, ele leu um estudo do Federal Reserve, chamado  "Twin Crises", sobre como uma crise cambial em países como a Tailândia poderia  interagir com uma crise bancária. Até hoje Armínio levanta muito cedo, por volta  das 6 da manhã, para ler. Só sai para a Gávea às 9 h. "É a hora mais produtiva  do meu dia." O Soros Fund ganhou cerca de US$ 750 milhões com a queda da moeda  da Tailândia, o baht. Armínio diz que aprendeu lições que ajudaram muito no  BC.
"Ninguém consegue acertar tudo", diz Armínio, sobre atuar no mercado  financeiro. "Você vive num ambiente de grande incerteza, tem que administrar o  risco, o erro, a psicologia do erro. A minha vida eu passo me humilhando,  errando todos os dias."
É a deixa para uma pergunta sobre o investimento da Gávea na companhia aérea  BRA, um péssimo negócio - a empresa entrou em recuperação judicial pouco depois.  "Aquele caso foi muito duro. Mais para os meus colegas, porque tenho experiência  com os altos e baixos da exposição pública", afirma. Armínio pondera que aquele  era um fundo de US$ 220 milhões que tomou a má decisão de investir US$ 10  milhões na BRA, mas que também acertou na mosca em colocar US$ 30 milhões no  McDonald"s da América Latina, uma aposta que se multiplicou por dez. "O mercado  exige uma boa média. E também jogar bem na defesa, não tomar muitos gols. Se  tomar cinco gols logo no primeiro tempo, você está fora do jogo."
O almoço dura quase duas horas, e Armínio pega uma água com gás no  refrigerador, sem demonstrar nenhuma pressa de sair dali. Sobra tempo para  caminhar por temas mais amenos, como a participação dele no programa  "Casseta&Planeta" alguns anos atrás. Ele fez o papel de um taxista que foi  reconhecido por um passageiro interpretado por Marcelo Madureira. "O Marcelo é  meu amigo. A ideia foi dele. Eu fui, contrariando a opinião de um ou de outro  que consultei", relata. "Qual é o problema? Passei uma manhã agradabilíssima no  Recreio dos Bandeirantes, nos estúdios."
No finalzinho da conversa, já em pé, Armínio cita um texto acadêmico dos  economistas Charles Jones e Paul Romer sobre o que faz uma economia crescer e se  desenvolver. Além de capital físico, as ideias, instituições, população e  capital humano. E discute as vantagens da abertura da economia, que, para ele,  traria ganhos até mesmo se feita de forma unilateral.
Armínio nota que o sanduíche de presunto era meio caro, mas em seguida  observa que se tratava de um "jamón" ibérico. "O combinado foi o jornal pagar a  conta", diz o repórter, de forma protocolar. "Você tem grana?", pergunta  Armínio, entrando no jogo. Diante da resposta afirmativa, faz umas contas  rápidas em voz alta. "Dá 75 pratas." A conta fica em R$ 74, por falta de  troco.

Fonte: aqui

27 maio 2013

Rir é o melhor remédio



Sonho e Realidade

História da Contabilidade: João Lessa

Durante a pesquisa para as postagens sobre a história da contabilidade encontrei a figura do guarda-livros com o nome de João Lessa. As várias citações sobre esta pessoa mostra um profissional dedicado e com um grande conhecimento sobre a contabilidade.

Não consegui encontrar nenhuma referência pessoal sobre João Lessa: quando nasceu e faleceu. Mas durante certo tempo ele morou e trabalhou em Niterói. Era bastante respeitado e gostava de polemizar sobre a contabilidade. Além disto, era um dos poucos “contadores convenientemente juramentados”, o que significa dizer que examinavam os livros e as empresas no juizado comercial (Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição 19, p. 528, 1862).

As Polêmicas de João Lessa
Em 1852, João Lessa publica uma pequena nota no Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal (Edição 37, p. 3) provocando um Sr. J. B. Clement, que ensinava escrituração naquela época. Lessa pergunta: “o que Vm. entende por partidas dobradas pelo methodo simplificado?” (itálico no original, com grafia da época). Dias depois (Edição 118, p. 3), Lessa volta a carga com um texto mais longo, onde novamente questiona o método simplificado de Clement. Como o tesouro adotava as partidas dobradas, inclusive em concurso, Lessa lembra que aqueles que aprenderam escriturar com Clement provavelmente não aprenderam o método de Veneza, mas as mistas.

Esta discussão sobre as partidas dobradas era interessante naquele momento, já que a contabilidade pública tinha obrigado a sua adoção, mas não o recente Código Comercial, que deixava a critério de cada comerciante a escolha do método (vide Tribunal do Commercio da Corte, Deliberação de 27 de janeiro de 185 (?), publicado no Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal, Edição 320, p. 1).

Em 1856, Lessa discute publicamente com Miguel José Rodrigues Vieira, autor de “Guarda-livros Brasileiro ou A Arte da Escripturação Mercantil Apropriada ao Commercio do Brasil”. Lessa afirma que Vieira não sabe escrituração mercantil por partidas dobradas e que não tem prática de comércio. Vieira ensina o “methodo de escripturação adaptado ao commercio do Rio de Janeiro”. No seu livro, Vieira escreve que produtos em consignação devem estar escriturados no diário, o que Lessa discorda (Correio Mercantil e Instructivo, Politico e Universal, 1856, edição 30, p. 2).

Em 1863, João Lessa envolve em outra discussão, agora com Ricardo Graça, do Círculo Commercial, sobre a questão de falência (vide A Actualidade, edição 442, p. 3, 1863).

Lessa e A Profissão
É importante notar que no período em que João Lessa atuou a profissão contábil estava começando a ganhar força nos países europeus.

Em 1860 é criado no Rio de Janeiro o Club dos Guarda-Livros, que funcionava na Rua São Pedro 79. A presidência era exercida pelo Dr. Campos e o secretário desta organização era João Lessa (Diário do Rio de Janeiro, edição 26, p. 3, 1860). Em maio daquele ano foi realizado o convite para os interessados em participar do Club (Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal, edição 144, p. 2, 1860).
Entre os objetivos do Club estavam: estudar as questões comerciais e sua jurisprudência; analisar o uso e os costumes de outras localidades, comparando-as com o Rio de Janeiro; uniformizar as escriturações; proteger os sócios; fazer cursos de contabilidade, escrituração, direito mercantil e economia política; e criar uma revista periódica para publicar trabalhos dos associados, julgamentos comerciais e estatísticas comerciais (A Actualidade, edição 93, p. 4, 1860). Como é possível perceber, o Club representa uma associação de profissionais com interesses na padronização da profissão e na divulgação de conhecimento.

Infelizmente o Club não teve uma duração longa. Em 1862 a sociedade vota uma reforma nos estatutos, “extinguindo o actual Club, que passa a denominar-se: Circulo Commercial” (Correio Mercantil, e Instructivo, Político, Universal, 1862, edição 295, p. 1, com grafia da época, itálico no original). A nova sociedade tem por finalidade “estudar as questões relativas ao commercio, e fazer quanto lhe fôr possivel para hamonisar as transações mercantis de todas as praças do Brasil, mandando publicar os seus trabalhos em uma Revista Commercial e Industrial” (idem, grafia da época). Esta nova associação é mais ampla que a anterior, restrita aos guarda-livros. No Circulo Commercial a participação seria dos “negociantes e homens de letras”. E Lessa não era o secretario desta entidade.

P.S.

Com respeito ao texto acima o Diccionário Bibliographico Brazileiro, de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, publicado em 1895, pela Imprensa Nacional, informa que seu nome completo é João Francisco de Araújo Lessa, filho de Bernardo Francisco Lossa, nascido em 13 de maio de 1829 e falecido em 1 de dezembro de 1872. Fez o curso de comércio e tornou-se guarda-livros e professor de matemática, francês, espanhol e contabilidade. Sua principal  obra foi o Manual theorico e pratico do guarda-livros : tratado completo de escripturação mercantil por partidas simples, mixtas e dobradas, publicado no Rio de Janeiro, 185S, com 208 páginas. Segunda edição de 1869. Logo após sua morte, outra edição de 1881. Além de outras obras, não relacionadas com a contabilidade. Consta que deixou inéditos: Historia do commercio do Rio de Janeiro; Diccionario do commercio pelo systema de Mac Culloch; Commentaríos ao código do commercio do Brazil.