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18 setembro 2012

Pilão

Quando decidiu trocar a diretoria financeira do varejista francês Carrefour por um posto semelhante na subsidiária brasileira da holandesa D.E. Master Blenders 1753 (a antiga Sara Lee), dona do café Pilão, em junho deste ano, o paulista André Maurino vislumbrava uma carreira e tanto pela frente.

A operação brasileira de café é a maior da empresa no mundo, com faturamento de 1,5 bilhão de reais, ou 21% da receita global. Marcas como Pilão, Palheta e Café do Ponto fazem da Master Blenders a líder do mercado nacional. E o Brasil é o maior produtor mundial de café e segundo mercado consumidor do produto.

Mas Maurino logo percebeu que, por trás dessa força toda, algo parecia errado. Ante o que ele julgou serem indícios de manipulação de resultados, ele solicitou uma auditoria à PricewaterhouseCoopers. A suspeita chamou a atenção da matriz, que despachou para o Brasil sua cúpula em julho.

Em 1º de agosto, a empresa divulgou um comunicado informando a descoberta de problemas de contabilidade na operação brasileira, que, somados, resultam em perdas de 85 milhões a 95 milhões de euros (de 212 milhões a 237 milhões de reais). Dizia ainda que os balanços financeiros dos últimos três anos e meio seriam revisados.

A informação fez com que as ações da Master Blenders, que havia passado a negociá-las em Amsterdã apenas três semanas antes, desvalorizassem 7% no dia seguinte. “Em questão de minutos perdemos quase 500 milhões de euros (cerca de 1,2 bilhão de reais)”, afirma Errol Keyner, vice-diretor da Associação Holandesa de Acionistas.

Segundo EXAME apurou, a suposta fraude custou o emprego do presidente brasileiro, Dantes Hurtado, do antigo diretor financeiro e do segundo executivo de finanças, demitidos na primeira semana de setembro. Procurada, a Master Blenders não deu entrevista nem confirmou as demissões.

A Master Blenders contratou em julho a auditoria Ernst & Young e a empresa de investigação americana Kroll. O que aconteceu? Sabe-se até agora que a maior parte do problema estava no departamento de vendas. Para cumprir as metas de crescimento estabelecidas pela matriz e garantir seus bônus anuais, alguns executivos teriam registrado uma série de pedidos de varejistas por conta própria, sem que eles fossem oficialmente realizados — uma prática conhecida como “antecipação de venda”.

Ao final, o varejista até aceitava a compra, mas só pagava quando desejava de fato recebê-la, o que poderia levar meses. Na contabilidade da empresa, no entanto, constava o valor integral da venda. Outro malabarismo acontecia na relação com os grandes varejistas e atacadistas.

Para convencê-los a fazer novos pedidos, mesmo quando seus estoques estavam cheios, a equipe da Master Blenders aumentava em até 50% a verba promocional paga à rede. Esse tipo de verba é usado para inclusão de seus produtos em tabloides ou para garantir uma posição privilegiada na gôndola, uma prática comum no mercado.

Ocorre que, em alguns meses, a Master Blenders não teria lançado no balanço o pagamento dessa verba como despesa, mas como “contas a receber” — por exemplo, vendia 1 milhão de reais para um varejista, mas ele pagava apenas 800 000 reais porque cobrava 200 000 reais de verba promocional. Como o dinheiro nunca voltava, isso virou uma bola de neve no balanço.

Para uma empresa do tamanho da Master Blenders, que fatura o equivalente a 7 bilhões de reais, um erro de 200 milhões de reais nas contas não chega a ser uma catástrofe — segundo dados da consultoria KPMG, empresas brasileiras e americanas perdem o equivalente a 5% do PIB em fraudes a cada ano. O maior problema está na crise de confiança que esse tipo de notícia gera.

Do balanço apresentado aos investidores na época da venda das ações, o lucro dos últimos três anos e meio ficou 37 milhões de euros menor. Por causa da revisão das informações, a associação de investidores holandeses passou a exigir uma compensação da companhia e de quem assinou seu prospecto de entrada na bolsa — no caso, a auditoria Price e o banco ABN Amro.

Oficialmente, a Master Blenders afirma que “a investigação interna já foi praticamente concluída e não revelou novas descobertas ou impactos financeiros adicionais” na operação brasileira. Mas a investigação iniciada por Ernst & Young e Kroll, que começou em julho, está programada para terminar em outubro. Ou seja, mais detalhes podem ser revelados — e não se descarta que novas perdas tenham de ser contabilizadas no balanço da empresa que é líder em vendas de café no país.

Fraude de mais de R$ 200 milhões com Café Pilão - 17 de Setembro de 2012 - Revista Exame - Ana Luiza Leal

Recadastramento

O CFC publicou, no DOU (Diário Oficial da União) do dia 10 de setembro de 2012, a norma que estabelece o recadastramento nacional dos Profissionais da Contabilidade.

De acordo com a Resolução CFC nº 1.404, é obrigatório o recadastramento nacional do Profissional da Contabilidade com registro ativo no CRC de seu registro originário, transferido ou provisório. A exigência tem por finalidade atualizar os dados existentes, mantendo-se os números de registros e a jurisdição de cada Conselho Regional. (...)

O recadastramento será feito por etapa, de acordo com escala estabelecida por cada CRC. Uma senha exclusiva será remetida ao profissional ao endereço eletrônico constante no cadastro do respectivo CRC, para acesso ao programa informatizado e a realização do recadastramento.

O período para a atualização dos dados cadastrais começa no dia 1º de outubro e vai até 31 de dezembro de 2012.


Fonte: CFC (via Informação Contábil)

CVM

A revista Exame fez uma entrevista com o novo presidente da CVM. Uma questão interessante foi feita para ele:

O senhor estava sendo investigado pela CVM por não ter prestado as informações aos investidores de acordo com as regras da entidade, como executivo da Gol. Em julho, concordou em pagar 200000 reais para encerrar o caso. Por quê?

Assinei um termo de compromisso com a CVM, o que não quer dizer que sou culpado e quis burlar as regras de forma internacional. Escolhi encerrar o assunto. Ocorreu o seguinte: quando o preço do petróleo disparou, no ano passado, revisamos nossas projeções de resultados e publicamos um comunicado ao mercado 11a internet, mas a CVM exigiu um fato relevante, publicado num jornal de grande circulação. Depois, descumpri o prazo de preenchimento de um formulário de referência sobre esse assunto. Além disso, a CVM pediu que a Gol divulgasse previsões trimestrais, não só anuais. Resolvemos tudo.

Contabilidade

Da Revolução Industrial, no século XVIII, até os dias de hoje, as profissões braçais e intelectuais sempre precisaram se adaptar às novas demandas do mercado. E o contador, cujo dia é celebrado em 22 de setembro, não foge à regra, como temos acompanhado nos últimos anos, tanto com a uniformização das normas contábeis até a recente implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED).

Peça fundamental para o sucesso das empresas, o contador tem a característica de se adaptar facilmente às dificuldades, mas há de se registrar a preocupação quanto às constantes alterações nas legislações tributárias, trabalhistas e previdenciárias, além das obrigações acessórias. Estes processos obrigam-no a gastar muito tempo para atender essas exigências, quando, em verdade, poderiam realizar atividades voltadas à gestão dos negócios dos clientes.

Nesta Era do Conhecimento, o profissional que melhor se atualizar e preparar certamente conquistará o mercado, pois seu valor será medido pela experiência, criatividade e aprendizado técnico. Ao contrário, será obrigado a trabalhar com clientes que necessitam de poucos serviços, geralmente ligados à geração e pagamento envolvendo notas fiscais eletrônicas, DARF e GPS.

Não creio naquela máxima que fala em profissional do futuro, mas sim, em profissional do presente, pois por meio dele que as empresas vivem e fazem negócios. É o agora que importa, pois automaticamente ele assegurará o futuro. Na Era Digital, conhecimento é poder, e a contabilidade está se reinventando diariamente para ocupar seu devido lugar.

É verdade também que milhares de reais estão sendo investidos pelas empresas contábeis na busca do conhecimento contínuo por meio de treinamentos especializados. Claro que ainda falta muito, mas o caminho está aberto e efetivamente trará muitos ganhos aos contadores e às empresas.

Se até algumas décadas atrás a informação era totalmente dependente de um meio físico, como o papel ou o disquete, hoje ela está disponível em algum lugar na web, como a recente tecnologia de cloud computing (computação em nuvem), que trouxe mais agilidade no armazenamento e acesso a informações, em qualquer parte do mundo.

Em pleno início, o século XXI já está transformando a dinâmica do gerenciamento das empresas e dos negócios, fazendo surgir uma nova contabilidade, baseada no conhecimento e na rapidez para atender às mais variadas demandas do cliente.



Foto: Máquina de Contabilidade Burrows.

Carlos Meni – é CEO da Prosoft Tecnologia.
Fonte: Portal Administradores.com

UBS

A história de Adoboli (foto), um ex-funcionário do banco UBS, mostra a relevância dos controles internos numa organização. Nascido em Gana, mas vivendo na Inglaterra desde os onze anos de idade, começou a trabalhar no UBS em 2006. Em setembro de 2011, há um ano, Adoboli foi acusado de fraude e esconder seu desempenho. O prejuízo do ex-funcionário para o UBS deve ter ultrapassado a 2 bilhões de dólares.

Conforme noticiado pelo The Telegraph (UBS trader Kweku Adoboli lost thousands on spread bets prior to arrest, 17 set 2012, Jonathan Russell), Adoboli é acusado pela promotoria de fraude e de falsa contabilidade. A investigação mostrou que Adoboli perdeu dinheiro com apostas no mercado financeiro, mas mesmo assim continuou transacionando com o dinheiro do UBS.

A promotoria alega Sr. Adoboli contas deliberadamente falsificados e escondeu os negócios de seus chefes, a fim de encobrir suas ações.

Pesquisa de pesquisa

Recebi a seguinte dúvida de um leitor:

(...) sou acadêmico da terceira série do curso de Ciências Contábeis da UNIOESTE campus de Marechal Cândido Rondon - Paraná.

Acompanho o seu blog, Contabilidade Financeira, quase diariamente. Confesso que é viciante!

Dentre as postagens feitas, gosto em especial daquelas que fazem referências a pesquisas estrangeiras.

Bom, como tenho interesse em seguir na carreira acadêmica, gostaria de expandir meus conhecimentos sobre pesquisas na área contábil. Assim, venho lhe pedir um favor: o senhor pode me indicar alguns sites americanos, ingleses etc. onde posso baixar artigos acadêmicos sobre pesquisas na área contábil, em especial, no idioma inglês?

Desde já agradeço.

Respeitosamente


Minha resposta:

Na sua universidade tem o Proquest? Trata de uma base de artigos de diversos periódicos estrangeiros. Lá realmente existem bons artigos de periódicos internacionais. Uma alternativa disponível é usar o Proquest associado a um leitor de RSS, como o Reader do Google. Uso sempre o Reader, que é o instrumento básico para construção dos textos do blog. Com isto, toda vez que sair um artigo com o termo que você cadastrou, o Reader será avisado e você terá informação sobre o texto. Você pode cadastrar os endereços dos periódicos estrangeiros no Reader também.

Um endereço interessante é o SSRN, sigla de Social Science Research Network. Aqui geralmente estão as pesquisas que ainda não foram publicadas. A qualidade do SSRN é bastante variável: você pode achar excelentes pesquisas ao lado de pesquisas regulares. A vantagem é que muitas pesquisas ainda em fase de "acabamento" estão disponibilizadas aqui e você antecipa o tema que está sendo discutido. Você também pode cadastrar o SSRN para receber os avisos através do Reader.

Sempre dou uma olhada no NBER. Apesar de ser um endereço mais para pesquisas de economia, vez por outra encontra algo que interessa a contabilidade. Geralmente atualizam as pesquisas a cada quinze dias. Também são pesquisas em fase de acabamento, mas geralmente são publicadas nos principais periódicos da área de estudos sociais aplicados.

Leia ainda:

Como melhorar o seu referencial teórico

Ferramentas de pesquisa

Oxitocina

"Você deve agradecer ao estoque de oxitocina do seu cérebro, um hormônio que ajuda a permitir várias ações bondosas e gentis, do tipo que permite a nossa sobrevivência como sociedade. Cientistas já sabem há muito tempo que este hormônio tem um papel fisiológico essencial durante o nascimento e a lactação, e estudos indicam que a oxitocina pode influenciar o comportamento animal também.

Agora, estudos mostram que o hormônio está intimamente ligado aos pilares da vida civilizada, a nossa capacidade de empatia e confiança. Uma pesquisa publicada neste mês mostra que diferenças genéticas estão ligadas ao efeito da oxitocina na capacidade de entender expressões faciais, compreender as emoções de outras pessoas e de se sentir mal pela dificuldade de outras pessoas. “Entrei nesta pesquisa com muito ceticismo, mas os resultados me surpreenderam”, afirma Sarina M. Rodrigues, da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos.

Além destas descobertas. Agora acredita-se que a oxitocina pode também funcionar como uma espécie de ferramenta para o capitalismo. Em uma série de estudos, Ernst Fehr, diretor do Instituto de Pesquisas em Economia da Universidade de Zurique, na Suíça, demonstrou que o hormônio tem um papel importante para que as pessoas confiem o próprio dinheiro a estranhos. Em uma das pesquisas realizadas por Fehr e colegas, um teste foi feito com 58 estudantes, que receberam um esguicho nasal de oxitocina ou de um placebo. Após 50 minutos, eles foram instruídos a jogar o “Jogo da Confiança”, utilizando unidades monetárias que eles poderiam investir ou guardar.

Os pesquisadores descobriram que os participantes que receberam a oxitocina tiveram muito mais propensão a confiar nos parceiros, com 45% deles investindo o máximo de dinheiro possível. No grupo de controle, só 21% das pessoas tiveram o mesmo comportamento. Além disso, quando as pessoas sabiam que estavam jogando contra computadores, e não pessoas, a confiança continuava inabalável.

Ainda assim, os especialistas lembram que a oxitocina não muda o comportamento da pessoa para que ela vire um otário. A pesquisadora Simone Shamay-Tsory, da Universidade de Haifa, em Israel, percebeu que, quando participantes do estudo recebiam a oxitocina e jogavam contra pessoas que consideravam arrogantes, elas ficavam mais felizes quando os outros perdiam. Quando os “arrogantes” ganhavam o jogo, o sentimento de inveja aumentava consideravelmente.

A oxitocina no nascimento e na economia

O hormônio serve como uma forma de mandar um sinal de confiança a mães, que têm a oxitocina liberada logo após o nascimento dos filhos. Sue Carter, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, é uma pioneira no estudo do hormônio, mas afirma que ele não recebia atenção quando era ligado ao nascimento, mas que agora que é ligado ao mundo da economia e das finanças, se tornou assunto recorrente.

A oxitocina viaja pela corrente sanguínea e afeta órgãos muito distantes do cérebro, e age como uma espécie de neurotrasmissor, permitindo que as células cerebrais se comuniquem. Porém, diferente de muitos outros neurotransmissores, a oxitocina tem apenas um receptor, designado a reconhecer a sua forma e reagir a ela. Outros transmissores, como a dopamina e a serotonina, têm cinco ou mais receptores ligados ao seu reconhecimento.

Por este motivo, um estudo realizado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisou como duas variantes no código genético de uma pessoa pode influenciar a sua capacidade de empatia, baseado em um questionário e um teste de comportamento. Neste segundo exame, os participantes analisaram a expressão facial de 36 fotografias de pessoas em preto-e-branco e descreveram a expressão com uma palavra, que deveria ser ligada ao humor ou sentimento passado pela imagem.

Este teste, feito com 192 pessoas de ambos os sexos, mostrou que aquelas que têm a versão A do receptor para oxitocina – que é ligada ao autismo e pouca habilidade paterna – tiveram pontuações muito mais baixas que as pessoas com a variação G do receptor. 'Somos todos diferentes, e isso é bom', afirma Sarina Rodrigues. 'Se todos fossem amorosos e bonzinhos, o mundo seria muito mais chato', brinca." [NY Times]