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16 setembro 2012

Brics, bricões e briquinhos

Brics, bricões e briquinhosMarcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.9.2012

Muitos analistas têm sublinhado a heterogeneidade dos países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com toda a razão, quando se trata do desempenho nas últimas décadas: enquanto o cerne do grupo, Índia e China, tem crescido a 8% ou 10% ao ano, as demais economias crescem a metade ou um terço disso. Fazer parte do Brics pode satisfazer a vaidade brasileira e alimentar esperanças quanto a articulações diplomáticas, mas é um erro tratar o grupo como homogêneo no que se refere aos temas essenciais.

Há, entretanto, lições úteis a extrair da comparação entre as experiências dos Brics e que explicam a heterogeneidade do seu desempenho. Nos quatro países, a estratégia econômica ao longo da história foi calcada em dois pilares fundamentais. De um lado, a ideia de que faria sentido reduzir a dependência do mundo exterior e dar prioridade à substituição de importações. De outro lado, a crença de que o Estado deveria jogar papel fundamental na economia não apenas como regulador, mas também como provedor de bens e serviços.

Na Rússia, a ênfase em autarquia e Estado precedeu a União Soviética. Já na Rússia czarista, a partir do final do século 19, o modelo econômico foi calcado em ação do Estado e substituição de importações. Depois de 1917, essa ênfase foi levada ao extremo. Na Índia, após período relativamente liberal entre a independência, em 1947, e a morte de Nehru, no início da década de 1960, o modelo enfatizou os mesmos alicerces até o fim dos anos 1980. Na China pré-1980, o modelo socialista ortodoxo combinava em versões extremas a intervenção do Estado e a autarquia. O isolamento da África do Sul sob o apartheid implicou que, antes de 1994, a estratégia econômica dependesse da minimização à exposição externa e de alto grau de interferência do Estado na atividade econômica.

No Brasil, a partir de meados do século 19, houve continuidade na estratégia econômica que combinava autarquia e intervenção estatal. Desde cedo no Império, as tarifas de importação eram muito altas, inicialmente justificadas por razões fiscais, mas depois claramente protecionistas. Na Primeira República, as políticas públicas deixaram de ter como alvo a correção de falhas de mercado em relação à atração de imigrantes e investimento direto estrangeiro e partiram para a administração dos preços de café, explorando o poder de mercado brasileiro. Com a grande depressão, somou-se o controle cambial à tarifa alta. Em 1944, na famosa controvérsia Gudin-Simonsen prevaleceu, na prática, a visão de Simonsen - a despeito de suas fragilidades analíticas - quanto à centralidade dos pilares calcados em autarquia e Estado.
Essa visão sobreviveu galhardamente ao golpe militar e começou a ser erodida na década de 1980 em meio de altíssima inflação combinada à estagnação. As reformas de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, baseadas em visão crítica da potencialidade de longo prazo dos pilares tradicionais, promoveram a abertura comercial e a privatização. Mas o que se tem visto desde 2003, e ainda mais desde 2011, é uma regressão às visões mais primitivas de estratégia econômica calcada em proteção alta e aumento do peso do Estado.

Nas economias mais dinâmicas do Brics - Índia e China -, o que se vê é exatamente o contrário da experiência brasileira no período recente. Na Índia, desde o final dos anos 1980, e na China, desde o final da década de 1970, houve verdadeiras revoluções quanto à abertura dos mercados, a expansão das exportações, atração de capitais estrangeiros e redução do peso do Estado na economia. Nos dois casos houve aumento significativo da formação bruta de capital fixo e, consequentemente, das taxas de expansão do PIB. A formação bruta de capital fixo na Índia tem sido da ordem de 35% do PIB, saindo de um patamar, nos anos 1980, apenas um pouco melhor do que os atuais míseros 17% do Brasil. Na China, o número estaria em torno de 45%, embora haja significativas distorções de medida provavelmente significativas. Mesmo nos membros do Brics menos bem-sucedidos, Rússia e África do Sul, nos quais a abertura das economias e a redução do peso do Estado mereceram ênfase bem menor, a formação bruta de capital fixo tem sido da ordem de 23%. Além disso, sempre é bom relembrar que a tara nacional com relação à manutenção de altos índices de conteúdo nacional nas compras feitas, diretas ou indiretamente, pelo governo faz com que aos baixos níveis de investimento corresponda expansão da capacidade ainda mais limitada, em vista do encarecimento dos bens de capital.

Impressiona a teimosia do Planalto em deixar de reconhecer que a atual estratégia brasileira de crescimento apenas assegura que a economia alterne voos de galinha com pousos forçados. A estratégia que poderia superar a mediocridade do desempenho econômico do País deveria, com o benefício das lições que podem ser extraídas das experiências da China e da Índia, ser baseada na retomada da abertura gradual do mercado brasileiro, na reversão da nova onda estatizante e no aumento da poupança doméstica. Só então seria possível pensar em deixarmos de ser briquinho.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio

Expansão das universidades privadas

A forte expansão das universidades privadas brasileiras tem beneficiado empresas e alunos, avalia a revista The Economist.

O semanário publicou uma reportagem segundo a qual “as universidades no Brasil há muito tempo têm sido para poucos privilegiados”, mas nos últimos anos “o explosivo crescimento de instituições de ensino superior privadas e com fins lucrativos está, afinal, ampliando (o acesso a) a educação superior” no País.

Um gráfico publicado na revista mostra que em 2010 houve 400 mil matrículas em universidades públicas, o dobro do registrado em 1997. Nas particulares, no entanto, o número mais que triplicou, passando de 400 mil em 1997 para 1,2 milhão em 2010 . Vale ressalvar que esse dado das universidades privadas inclui também as que não têm fins lucrativos, como fundações e católicas.

A reportagem considera que os grupos Anhaguera, Estácio de Sá e Kroton estão “bem capitalizados” e diz que “a formação em uma das melhores (universidades privadas) por dobrar o salário inicial de um jovem”.

Mas a revista reconhece que “nenhuma das faculdades com fins lucrativos tem o prestígio nem os recursos das melhores universidades públicas, como a USP, a estrela solitária da América Latina nos rankings internacionais” (o instituto QS a coloca em 139º lugar no ranking mundial).

Na opinião da Economist, o governo “reconhece” que o setor público não tem dinheiro para expandir sua rede de ensino superior na mesma velocidade que o privado. Um sinal disso é que oferece redução tributária para as faculdades que dão bolsa parcial ou integral para alunos pobres, atingindo 1 milhão de estudantes desde 2005.

A revista comentou as políticas de cotas em universidades. “O governo está buscando um caminho diferente de justiça social: cotas de admissão”. Para a Economist, o fato de que na Universidade de Brasília os alunos cotistas, que são 20%, não tiveram desempenho inferior aos demais não garante que uma ampliação do sistema (como as cotas de 50% nas Universidades Federais, sancionadas no mês passado pela presidente Dilma Rousseff) vá funcionar.

Sobre cotas, a reportagem publica o comentário de um especialista da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) Andreas Schleicher. Na opinião dele, essa política levará a 59 universidades federais alunos “menos preparados, que podem ter dificuldade”.

Schleicher coordenou um estudo segundo segundo o qual o Brasil é um dos países que mais investem verbas públicas em educação, mas ao mesmo tempo apontou que a relação de recursos por aluno, a precariedade do ensino superior e da pesquisa e a qualidade duvidosa evidenciam o atraso do País.

A reportagem observa, ainda, que um programa da Unicamp que oferece cursos a estudantes pobres por dois anos, com possibilidade de incluir na graduação os que se saírem bem, mobiliza uma grande quantidade de pessoas (assistentes sociais, professores assistentes, outros estudantes, profissionais de saúde) e ainda assim alguns alunos não conseguem acompanhar os demais.

O artigo termina com a conclusão óbvia de que para democratizar o acesso à educação superior seria necessário melhorar o ensino básico e o médio. Só não diz como.


Fonte: Radar Econômico

Nível de cola: especialista

Em uma das postagens sobre o que não foi ensinado na pós-graduação, ressalta-se que alunos colam. Na quarta-feira o professor David Albrecht publicou sobre o assunto:

E acrescentou:
“Não tenho certeza da mensagem que esta imagem quis passar. Quiçá que alguns trapaceiros são incontroláveis. Ou que uma cola de mestre é admirável. Talvez a mensagem seja que, por ser inevitável, não há problema em fazê-lo.”

15 setembro 2012

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC


Hoje uma postagem básica para os alunos de graduação que irão escrever o trabalho de conclusão de curso. Temos outras postagens no blog que tratam melhor cada ponto descrito aqui.

Vou utilizar como exemplo o artigo “O Tratamento dos Ativos Não Operacionais na Avaliação de Empresas: Teoria e Prática” de Luciana Miyuki Ikuno, Isabel Cristina Henriques Sales e César Augusto Tibúrcio Silva, publicado em 2011 no volume 6 da revista “Perspectivas Contemporâneas”.

- O seu trabalho, basicamente, terá uma “espinha de seções” assim:
1. Introdução
2. Referencial Teórico
3. Proceder Metodológico
4. Resultados e Análises
5. Considerações Finais

Você pode criar subseções de acordo com o seu estilo (desde que não seja apenas uma, por exemplo, a 2.1 sem haver uma 2.2).

Na “Introdução” você irá contextualizar a sua pesquisa, escrever o objetivo do trabalho, o problema de pesquisa e a justificativa. No “Referencial Teórico” você deve aprofundar o assunto que está sendo pesquisado. No “Proceder Metodológico” você escreverá o desenho do seu trabalho, como ele foi desenvolvido, quais foram as fases, a amostra, o espaço temporal, os outliers... Você deve escrever para me permitir entender cada passo da sua pesquisa de forma que eu possa reproduzi-la. Nos “Resultados e Análises” você irá apresentar os resultados da sua pesquisa e interpretá-los. Não adianta, por exemplo, colocar uma tabela e não fazer inferências do que está sendo apresentado. Se esforce! Nas considerações finais você vai concluir a sua pesquisa e sugerir novos trabalhos que podem ser desenvolvidos com base no seu. Não se empolgue na tentativa de valorizar a sua pesquisa e escreva na conclusão assuntos que não foram tratados no seu trabalho.

Mais ainda, saibam que o que vocês escrevem tem que ser acompanhado das devidas referências. Não é como na escola, quando a professora te pedia para escrever um trabalho sobre, digamos, rinocerontes, e você saia copiando enciclopédias, livros, redigindo um texto sem autores no corpo do trabalho, mas, no momento de listar as referências bibliográficas, saia escrevendo o nome de várias fontes distintas para mostrar que utilizou diversos materiais. Não, não é mais assim.

- Você só cita no referencial o que citou no corpo do trabalho. Isso implica que: para citar nas referências, você deve ter citado a fonte na pesquisa.

Por exemplo:

De acordo com Hitchner (2003), ativos não operacionais são aqueles ativos que não são necessários para as operações em andamento da empresa. Entre os principais ativos que podem ser considerados como não operacionais estão o caixa e equivalentes de caixa; investimentos em ações e títulos de outras empresas; investimentos em outras entidades e; ativos que não geram fluxos de caixa, mas que podem conter valores significativos (DAMODARAN, 2005).

Note que escrevemos citando, de forma indireta, dois autores. Nas referências deverão constar os dois trabalhos (em ordem alfabética), assim:

DAMODARAN, Aswath. Dealing with cash, cross holdings and other non-operating assets: approaches and implications. Social Science Research Network, set. 2005. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2011.

HITCHNER, James R. Financial valuation: Applications and Models. Nova York: John Wiley & Sons, 2003.

Para se sentir mais seguro, antes de escrever leia alguns artigos (procure no Scholar Google, por exemplo), converse com o seu orientador e com o professor de metodologia científica. Sua graduação está quase acabando e não deve ser encerrada com descaso. Além de absorver tudo o que te foi transmitido durante as aulas, é importante que você se esforce em deixar alguma retribuição científica.

Repito que: temos outras postagens no blog que tratam melhor cada ponto descrito aqui.

Dentre outros, consulte:

Rir é o melhor remédio



Fonte: Bizarro Comics

Teste da Semana

Eis um teste para o leitor atento ao que aconteceu na semana:

1 - Uma lista de pessoas influentes nacontabilidade mundial, que circulou esta semana, mostra uma grande presença de:


Britânicos
Homens
Não contadores

2 – Esta empresa tem uma contabilidade bastante discutida,em geral pelas manobras contábeis, em especial na estimativa da receita. Pararestaurar a confiança dos investidores, contratou um ex-partner da KPMG

Facebook
Google
Groupon

3 – O dono da revista pornográfica Hustler ofereceu umprêmio de 1 milhão para quem tivesse alguma informação sólida sobre os tributospagos por:

BarackObama
BillClinton
Mitt Romey

4 – Esta semana os defensores do rodízio de auditoriasofreram uma pesada derrota da

Comunidade Européia
Iasb
PCAOB

5 – Após cinco anos de aprovação do SPED uma pesquisa revelou que o percentual de contabilistas queNUNCA fizeram um curso de capacitação sobre o tema é de

23%
44%
76%

6 – O CFC está estudando, em conjunto com a Fenacon, aaplicação da lei 12683, que trata:

Da prática de lavagem de dinheiro
Das normas de contabilidade para pequenas empresas
Das normas internacionais de contabilidade

7 – Este blog descobriu uma propaganda que dizia: “Contabilidade era minha vida até que eu descobri “

Administração
Futebol
Smirnoff

8 – Após a adoção das normas internacionais, observa-se queas demonstrações contábeis das empresas estão:

Do mesmo tamanho
Maiores
Menores

9 – Uma pesquisa da PwC indicou que os investidores estãopreocupados com:

A agressividade contábil das empresas
A falta de conhecimento dos auditores
O conversadorismo contábil

10 – Um relatório do Cato Institute pesquisou 57experiências de hiperinflação. O conceito de hiperinflação adotado correspondea

100% em três anos
1000% num ano
50% em um mês

Fato da Semana


Fato da Semana: A Renovação das concessões das Empresas Elétricas

Qual a importância disto? Trata-se de um assunto que interessa de perto acontabilidade pela aplicabilidade na área de regulação. Os contratos deconcessão do setor elétrico foram elaborados com um determinado prazo devalidade. Ao final deste prazo, o governo pode (a) renovar os contratos daforma como está; (b) renovar os contratos, com mudanças nas condições dosatuais contratos; ou (c) contratar uma nova empresa para explorar o serviço. Emqualquer um dos casos, é necessário discutir o valor que o governo irá pagarpelos investimentos que ainda estão “no balanço”, ou seja, que não foramamortizados. Isto envolve valores de bilhões de reais e o centro da discussãoserá a mensuração contábil.

Positivo ou negativo – Positivo. A contabilidade de setoresregulados é bastante complexa. A antecipação da renovação das concessões irágerar uma discussão em torno destas normas que pode ser útil para osprofissionais da área.

Desdobramentos – os órgãos reguladores terão um grandetrabalho na discussão com as empresas. A Aneel terá que conduzir a discussõesem torno do ressarcimento devido para as elétricas. Não descarte apossibilidade de processos judiciais contra o governo.