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15 setembro 2012

Luz, gasolina e embromação

Editorial O Estado de S.Paulo, 11 de setembro de 2012 | 3h 0

O governo faz uma enorme e perigosa confusão ao misturar combate à inflação, corte das tarifas de eletricidade, aumento do preço dos combustíveis e política de juros. Como disse um pensador petista, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas essa obviedade parece inacessível aos formuladores da política econômica. As autoridades podem frear a evolução dos indicadores de preços, no próximo ano, se tornarem mais barata a energia elétrica. Mas a inflação retomará seu curso, em pouco tempo, se as condições propícias à elevação geral de preços continuarem presentes. Para isso, bastará a conjunção de crédito farto, gasto público excessivo e demanda suficiente para sancionar aumentos de preços. A confusão se completa quando a contenção de um índice - evento temporário - é apontada como oportunidade para arrumar as contas da Petrobrás e até para manter os juros baixos.

O governo acertará quando reduzir o peso fiscal sobre as contas de eletricidade e baratear o uso da energia tanto para empresas como para as famílias. A produção brasileira ficará um pouco mais competitiva e, ao mesmo tempo, os consumidores ganharão uma pequena folga no orçamento. Essa decisão contribuirá para o desenvolvimento do setor produtivo, para a preservação de empregos, ou até para sua criação, e para o aumento do bem-estar dos brasileiros. Não será, no entanto, exceto por um equívoco notável, parte de uma política anti-inflacionária.

O governo acertará, também, se deixar a Petrobrás adotar uma política de preços realista e compatível com suas necessidades econômicas e financeiras. Se for necessário um aumento de preços de combustíveis, será esse o procedimento correto. Manter o subsídio ao consumo apenas servirá para disfarçar a inflação, causará desajustes nos preços relativos (prejudicando, por exemplo, a produção de etanol) e privará a Petrobrás de recursos importantes para seus investimentos. Mais do que nunca, a empresa precisa de uma forte geração de caixa, para elevar a produção no curto prazo e avançar na caríssima e complexa exploração das reservas do pré-sal.
O prejuízo da empresa no último trimestre, seus indisfarçáveis problemas de produção e os erros cometidos em seus planos de investimento evidenciam os males de uma administração subordinada a interesses políticos dos governantes, de seus partidos e de seus aliados nacionais e estrangeiros. A correção desses erros, adiada por muito tempo, é agora urgentíssima e sua oportunidade independe do corte de tarifas da energia elétrica.

Mesmo quando acerta, o governo se mostra incapaz de formular com clareza uma boa estratégia de crescimento, com uma ampla e bem articulada bateria de medidas para tornar a economia nacional mais produtiva, menos sujeita a desajustes e mais preparada para a competição global. As novas iniciativas acabam prejudicadas pela confusão de objetivos e pela vocação do governo para as políticas de remendos. Sem disposição para reformar seriamente o sistema tributário, as autoridades preferem remendá-lo. Essa preferência é explicável tanto pelas dificuldades políticas de uma reforma genuína quanto pela incapacidade de cortar despesas e de racionalizar a administração.

A confusão de objetivos acaba resvalando para a mistificação. Disfarçar a inflação é politicamente mais lucrativo e muito menos trabalhoso do que executar uma séria política anti-inflacionária. Com uma política séria, é possível atenuar os efeitos de choques de preços, limitando sua transmissão e, em certos casos, intervindo no mercado com a venda de estoques de segurança. Atenuar, no entanto, é muito diferente de disfarçar.

Uma política honesta e competente cuidará de baixar as contas de eletricidade, de ajustar os preços dos combustíveis e de controlar a inflação sem misturar os objetivos próprios e os processos de cada linha de ação. Se cada parte for bem executada, o resultado geral será uma economia mais eficiente, mais próspera e mais compatível com o bem-estar. Discutir como ficará o índice oficial de inflação, no fim do próximo ano, se houver este ou aquele corte nas tarifas de energia elétrica, é mais que um equívoco. É uma vergonhosa embromação.

Não posso evitar

Nós frequentemente comentamos sobre o blogueiro Rodolfo Araújo, especialmente sobre o “Não Posso Evitar”. Mas vale lembrar que ele ainda escreve em outros blogs:

Pharmacoaching: A evolução do Não Posso Evitar.

O Líder Acidental: “
Nem todo mundo recebe o treinamento e preparo adequados para assumir uma posição de chefia. Grandes empresas têm programas de trainee bem estruturados e processos de sucessão bem definidos. Mas a maioria das companhias por aí não têm nem uma coisa, nem outra. Por este motivo, algumas promoções acontecem do dia para a noite. Você dorme analista e acorda gerente. E agora, o que fazer? Como devo me comportar agora que meu chefe é meu par? E com meus antigos colegas, que agora são meus subordinados? O Líder Acidental pretende responder algumas destas perguntas. Não todas, porque algumas delas você terá que aprender sozinho - o que certamente você conseguirá, afinal, é por isso que foi promovido.”

Auto-Atrapalha: “(...) a autoajuda até tem a sua utilidade, que é reforçar o seu desejo de conseguir algo na vida (se você não quer nada na vida, o que está fazendo aqui?). O problema deste discurso é que ele não te leva à ação, necessariamente.

Vale a pena acompanhar. (Mas claro, concomitantemente ao Contabilidade Financeira.) ^.^

14 setembro 2012

Descadastramento de cursos pelo MEC


Hoje um amigo leu um relatório do MEC com o assunto: “Reconhecimento dos programas de pós-graduação stricto sensu reconhecidos pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) da CAPES, referente à Avaliação Trienal de 2010”. No Anexo II consta um curso de mestrado e doutorado em ciências contábeis da Universidade de Brasília a ser descadastrado.

O Correio Braziliense "leu" o mesmo relatório. E o drama começou.

Segundo o jornal, foi publicado no Diário Oficial do dia 13 de setembro que alguns cursos da UnB estavam descredenciados, dentre eles o de contabilidade. A justificativa? Notas baixas.

Por sorte a blogueira desesperada aqui conversou com o professor Edilson Paulo que observou o problema: na verdade, de acordo com a avaliação do MEC estava ocorrendo o descadastramento do antigo Programa Multi-Institucional e Inter-Regional que incluía a Universidade Federal de Pernambuco. Hoje ela já não faz mais parte da pós-graduação registrada na UnB. A formação é: Universidade de Brasília, Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Rio Grande do Norte.



O leitor e mestre já conhecido por aqui, Glauber Barbosa, ligou na redação do Correio para que corrigissem o problema. Clique aqui para a reportagem atualizada.

E todos viveram felizes para sempre... ao menos até o próximo fora jornalístico.

Irônias da vida: essa postagem tem muito a ver com o "Rir é o Melhor Remédio" de hoje.

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Atualização do Glauber: "Minha ligação não surtiu muito efeito de cara não... na verdade eles nem deram muita ideia. Acho que só mudaram depois que o Ivan (coordenador) entrou em contato. O fora jornalístico foi tão grande, que eles já atualizaram a reportagem mais uma vez, agora foi o curso de psicologia. Os jornalistas ficam a procura de pautas interessantes e bater na UnB é sempre uma boa notícia. Olhando por alto, os sete cursos da UnB que foram descredenciados, são casos semelhantes ao da contabilidade, normalmente mudança de nome do curso."

Rir é o melhor remédio



Fonte: Aqui

Tok & Stock

Segundo noticiado ontem, o fundo de investimento Carlyle comprou a empresa Tok & Stok (Fundo Carlyle compra Tok & Stok, Cátia Luz e David Friedlander, Estado de S Paulo, 13 de setembro de 2012, p. B19). O valor do negócio, conforme informações não oficiais, foi de 700 milhões de reais por 60% da empresa. O texto apresenta mais informações sobre a empresa:

Líder do setor, a Tok & Stok tem 35 lojas e faturou pouco mais de R$ 1 bilhão no ano passado. O plano agora é dobrar as vendas da empresa nos próximos cinco anos. Um dos focos é crescer nas regiões Sul e sobretudo, Nordeste – onde a empresa tem hoje a maior concentração de vendas por metro quadrado, mas apenas três lojas para atender essa demanda.

A família Dubrule vendeu o controle da Tok&Stok por duas razões: queria um sócio para investir no crescimento da operação e resolver de uma vez a sucessão familiar. A venda também libera a o patrimônio de Régis, Gislaine e seus cinco filhos, quase todo aplicado na empresa. "Em aproximadamente dois anos, teremos um profissional do mercado no comando e a família estará no conselho", diz Régis. Os Dubrule tentaram abrir o capital da Tok & Stok anos atrás, mas o plano foi atropelado pela crise de 2008.

Neste setor é comum usar como múltiplo para fins de negociação:

No varejo, costuma-se usar como uma referencia para o cálculo do valor de uma rede a metade de seu faturamento anual, mas a formula é jogada por terra por especialistas em aquisições (Luciano Szafir compra a paulista Dominó, Claudia Facchini, Valor)

Usando este múltiplo, o valor da empresa deveria ser de 500 milhões. 60% deste montante representa 300 milhões. Entretanto dois aspectos importantes fazem com que a expressão do múltiplo deva ser vista com ressalva neste caso:

a) Está-se vendendo o controle da empresa; nestes casos, é usual pagar um prêmio;
b) A empresa possui uma parcela significativa do mercado.

Hiperinflação 2

Sobre a postagem de ontem sobre hiperinflação, o Pedro Correia tem o seguinte comentário:

A definição usada por Salomon é a mesma do Mankiw, no entanto, este afirma que "a hiperinflação é, muitas vezes, definida como a inflação que ultrapassa 50% ao mês." Há várias definições como destacado na postagem. Ele usa o termo democracias genuínas, mas também não define o que é. Entendo que democracia genuína é aquela que os representantes são escolhidos por voto direto. Partindo dessa premissa, o raciocínio de Felix , em parte, está correto . O primeiro presidente eleito democraticamente por voto direto na Argentina foi Raúl Alfonsín e no seu governo inciou-se o processo de hiperinflação. Portanto, a meu ver, a hiperinflação em democracias "genuínas", provavelmente só ocorreu na Argentina, no Peru e em Weimar.

Dois leitores do Felix comentaram sobre o caso do Brasil, da definição do IASB, da Argetina e da República de Weimar.

Notas de Risco para os governos

O governo federal vai passar a calcular um "rating" da situação fiscal de Estados e municípios. A classificação, que funciona como uma espécie de nota da capacidade de pagamento, servirá de base para subsidiar a concessão de aval da União nos empréstimos dos governos regionais no Brasil e no exterior. A metodologia antiga levava em consideração o resultado primário (receitas menos despesas para pagamento da dívida), que deixa de ser preponderante na análise do crédito. (...)

Num modelo muito parecido com o que é adotado pelos bancos e até mesmo pelas agências de classificação de risco, as notas vão variar de A+ (nos casos em que situação fiscal é excelente e o risco de crédito quase nulo) até D- (quando há um quadro de desequilíbrio fiscal). Só terá aval da União o Estado e os municípios que receberem de A+ a B- (casos em que a situação fiscal é boa e o risco de crédito é médio).

A análise do crédito será feita pela equipe técnica do Tesouro com base numa complexa metodologia, com várias fórmulas matemáticas, publicadas ontem no Diário Oficial da União. (...)


É uma boa notícia. Mas o ideal é que isto fosse realizado por especialistas ou por terceiros, isentos do processo.