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17 julho 2012

Batman x Homem Aranha

A diferença entre Batman (lado esquerdo) e homem aranha (direito) no pagamento de impostos. Veja o restante aqui

Aposta errada

A aposta errada do governo
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, 11/07/2012


O governo continua apostando no mercado interno para enfrentar a crise global, mas até agora a aposta deu pouco ou nenhum resultado. As políticas de estímulo resultaram quase exclusivamente no aumento do consumo, do endividamento, da insolvência e das importações. Jornais publicam longas matérias sobre os altos níveis de calote, em geral involuntário, e sobre como evitar as armadilhas do crédito. O problema é importante, mas é apenas um dos muitos sintomas de um desarranjo muito mais amplo. Por nove semanas o mercado financeiro reduziu as projeções de crescimento econômico. O último número é 2,01%, mediana das previsões coletadas pelo Banco Central (BC) para o Boletim Focus. O próprio BC já havia, em junho, baixado sua estimativa de 3,5% para 2,5%.

A economia brasileira teria crescido muito mais no ano passado e continuaria a expandir-se com folga, neste ano, se o aumento do produto interno bruto (PIB) fosse mais dependente do consumo privado e do custeio do setor público. Foi essa, no entanto, a terapia básica adotada pelo governo. Teria dado resultados melhores, provavelmente, se os grandes problemas da produção nacional fossem conjunturais. Não são, mas os formuladores da política oficial têm agido como se a maior ameaça econômica viesse de fora, isto é, das grandes potências em crise. Com essa interpretação, tão irrealista quanto confortável, o governo se dispensa de cuidar mais seriamente dos problemas reais, todos made in Brazil.
Gastança pública e estímulo ao consumo são bons para fazer a economia pegar no tranco, em tempos de desemprego e muita capacidade ociosa. A longo prazo, o crescimento depende mesmo é da taxa de investimento e da eficiência do capital investido. Entre janeiro e março deste ano, o Brasil investiu o equivalente a 18,7% do PIB. Além de baixa, essa proporção foi inferior à do primeiro trimestre do ano passado (19,5%) e à de igual período de 2010 (19,2%). Mesmo para esse resultado abaixo de medíocre foi necessária a participação externa, porque a taxa de poupança, naqueles três meses, ficou em 15,7% do PIB (17% em 2011). O governo, como já foi comprovado muitas vezes, é o mais importante moedor de recursos e tem-se dedicado com empenho à despoupança.

O Ministério da Fazenda reduziu de 20,8% para 20,4% sua projeção da taxa de investimento. A nova estimativa apareceu em abril, no último boletim da série Economia Brasileira em Perspectiva. Esse tipo de correção tem sido frequente. O setor privado investe menos do que poderia, se enfrentasse menos entraves, e o governo, bem menos do que promete, por incapacidade gerencial. Neste ano, o governo federal acelerou os empenhos e desembolsos, num esforço para se antecipar às limitações do período eleitoral. Mesmo assim, os resultados foram ruins.
De janeiro a junho, o Tesouro aplicou R$ 18,9 bilhões, 2,1% mais que em igual período de 2011, descontada a inflação, mas 13,7% menos que no primeiro semestre de 2010. Além disso, o total desembolsado correspondeu a apenas 21% do valor previsto para 2012 no Orçamento Geral da União. Como sempre, restos a pagar, R$ 14,1 bilhões, compuseram a maior parte dos desembolsos.

A realização do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, continua deficiente e os números divulgados pelo governo são enfeitados. No primeiro semestre, 52,6% dos desembolsos foram financiamentos destinados aos programas habitacionais, como indica tabela divulgada pela organização Contas Abertas. A maior parte do PAC é executada mais lentamente. Também é ruim a execução dos projetos dependentes das estatais. Mesmo a mais eficiente, a Petrobrás, tem sido incapaz de entregar os resultados prometidos, como deixou claro a nova presidente, Graça Foster, em suas primeiras declarações depois de assumir o posto.

O baixo investimento seria compensado, em parte, se a produtividade do capital investido fosse mais alta. Não se pode, no entanto, contar com isso. No setor privado, é normal o esforço para extrair o máximo de cada real investido, mas a aplicação do dinheiro no setor público segue outros critérios. Queimam-se recursos com emendas parlamentares de alcance paroquial. Montanhas de dinheiro são perdidas em projetos mal preparados, em contratos com empreiteiras malandras, em convênios com organizações delinquentes e em negócios com fornecedores despreparados. O escândalo do petroleiro João Cândido, lançado ao mar com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e só entregue dois anos depois, é um exemplo especialmente pitoresco de como investir mal.

Tudo isso se reflete na balança comercial. Até a primeira semana de julho, as exportações foram 1,4% menores que as de um ano antes, as importações, 4% maiores e o superávit, 44,6% inferior. O sistema produtivo está emperrado e só o governo insiste em desconhecer esse fato.

16 julho 2012

Rir é o melhor remédio

Abaixo, Mario Balotelli, jogador da Itália, durante a última Eurocopa:
A seguir, o mesmo Balotelli num  parque de diversão:

Ducha de Água Fria na Convergência


A SEC, entidade que regula o mercado acionário dos Estados Unidos, soltou na última sexta-feira um relatório de sua assessoria sobre a convergência internacional. Sob a denominação de Work Plan for the Consideration of IncorporatingInternational Financial Reporting Standards intothe Financial Reporting System for U.S. Issuers este relatório era bastante aguardado pelo mercado (veja aqui a cópia do relatório).

Como é sabido, as normas internacionais de contabilidade, elaboradas e aprovadas pelo Iasb, são aceitas, totalmente ou parcialmente, em dezenas de países. Entretanto, em alguns países a adoção precisa avançar mais. A maior economia do planeta, os Estados Unidos, permite que empresas estrangeiras possam usar as normas internacionais, denominadas IFRS. Mas as empresas locais não podem usar estas normas: é obrigatório o uso das normas dos Estados Unidos, elaboradas pelo Fasb.

Em razão disto, a adoção das normas internacionais por empresas dos Estados Unidos tem sido aguardada com ansiedade. O relatório, divulgado na sexta, é uma das etapas neste processo. O relatório serve de base para discussão, muito embora não signifique que exista uma decisão de incorporar as normas  internacionais, conforme destaca a nota introdutória do  relatório. Pelo contrário. As notícias não são boas para os defensores da IFRS. 

Segundo Sean Lager, um especialista consultado pelo Journal of Accountancy , a decisão da SEC não será tomada em 2012. Entretanto, existe uma grande pressão para que as empresas abertas sejam obrigadas a usar as normas internacionais.

Para o Iasb, a adoção das normas pelos Estados Unidos é crucial. Conforme comentou o seu ex-presidente, Sir David Tweedie, a demora pode atrapalhar os esforços realizados até o momento em torno da convergência internacional. Isto poderia gerar “variações regionais” da IFRS.

Um estudo da SEC, de 2011, mostrou que as demonstrações contábeis com as normas internacionais possuem muitas divergências, o que contraria seu objetivo de promover comparabilidade. Além disto, existe sempre a preocupação com o custo da adoção das normas internacionais. Isto pode ter influenciado bastante a mudança de rumo, em  relação ao otimismo de quatro anos atrás, sobre  a convergência. 

A indefinição dos Estados Unidos quanto a adoção das normas pode reduzir sua influência sobre as normas internacionais. Dois membros dos Estados Unidos, que participam do Iasb, terão seu mandato finalizado em 2012, com a possibilidade de outros países indicarem os substitutos, conforme ameaçou David Tweedie recentemente. 

Mas Dena Aubin, da Reuters, lembra que o relatório indica que existe pouco apoio para adoção em grande escala das normas internacionais, tanto das empresas quanto dos investidores. Apesar do relatório não ter nenhuma recomendação, a listagem de desvantagens da IFRS é grande. Conforme lembra Aubin, o texto não trouxe surpresas. Já se sabia que a SEC será muito conservadora na adoção das normas e que não se sente confortável com a convergência. Entretanto, como se trata de um relatório do staff, os comissários da SEC podem tomar uma decisão diferente. Neste caso, os comissários estariam, de certa forma, ignorando o relatório. De qualquer forma, o relatório defende um papel ativo para o FASB.

É interessante notar que o relatório saiu depois que o contador chefe da SEC, James Kroeker, deixou a entidade. Kroeker era, pretensamente, um defensor das normas internacionais. Floyd Norris, do New York Times, destaca que o  relatório foi preparado durante a gestão de Kroeker. 

Outro aspecto importante é que o relatório, de 127 páginas, não se preocupa com estabelecer prazos. Apesar de destacar a qualidade das normas internacionais, o texto informa que existem áreas subdesenvolvidas, que inclui seguros e setores regulados. Com respeito a questão do financiamento: apesar de ser adotado em mais de 100 países, a fundação IFRS é financiada por menos de 30 países. (Na América do Sul somente o Brasil participa deste esforço financeiro).

Em resumo, o relatório representa uma ducha de água fria para a adoção das normas internacionais nos Estados Unidos. 

Ensinando Débito e Crédito


Escrevi, há anos, um texto introdutório de contabilidade. Minhas opções pedagógicas foram baseadas no que estava sendo ensinado em outros países, principalmente os Estados Unidos. A razão disto era que os livros brasileiros de então estavam defasados em termos de metodologia e conteúdo. Durante os anos seguintes, quando usei o livro Contabilidade Básica em sala de aula, esta impressão foi cada vez mais reforçada: somos responsáveis pelo ódio que as pessoas possuem da contabilidade por termos uma abordagem de ensino defasada e inapropriada. Os estudantes acham a contabilidade complicada demais, sem sentido com as coisas práticas, baseadas em regras sem fundamento, entre outros aspectos negativos.

O método de ensino das partidas dobradas deveria ser escolhido a partir de experiências realizadas nas instituições de ensino. Situações típicas relacionadas à forma de ensinar (como: devemos mostrar os efeitos na equação contábil dos lançamentos; as primeiras transações contábeis devem incluir os efeitos sobre o resultado e como isto deveria ser mostrado) têm sido objeto de pesquisa. Geralmente os pesquisadores confrontam duas possibilidades, com aplicação de verificação de aprendizagem aos grupos de estudantes que tiveram acesso aos métodos distintos. O resultado dos testes é determinante para a escolha de qual método é melhor para fazer com que os conhecimentos contábeis sejam absorvidos pelos alunos.

Isto é muito diferente do que ocorre no Brasil, onde os professores escolhem as obras didáticas pelo fato de terem estudados naqueles livros. Nunca pelo fato de serem os melhores livros para ensinar contabilidade.

Leia mais em:
PHILLIPS, F; HEISER, L. A Field Experiment Examining the Effects of Accounting Equation Emphasis and Transaction Scope on Students Learning to Journalize. Issues in Accounting Education. Vol. 26, n. 4, 2011, p. 681-699.

CVM

Sobre a gestão de Maria Helena Santana, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM):

Segundo ele, mais do que ter ajudado a aumentar o número de investidores, ela conseguiu enfrentar os empecilhos que surgiram durante sua gestão. “Um deles, sem sombra de dúvidas, foi dar ao País um padrão de contabilidade internacional,” afirmou, sobre o IFRS (sigla em inglês para International Financial Reporting Standards). “Ainda que não seja uma realidade, melhorou muito em agilidade às ofertas públicas,” completou.

Cruzeiro do Sul

O Cruzeiro do Sul tem um rombo de pelo menos R$ 2,5 bilhões - o dobro do que o Banco Central (BC) imaginava quando decretou intervenção na instituição, no dia 4 de junho. A conta pode aumentar porque a apuração do buraco ainda não terminou. O trabalho está sendo feito pelo próprio BC, pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e pela empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers.

Essa situação pode inviabilizar uma solução de mercado para o Cruzeiro do Sul. A intenção do BC e do FGC é recuperar o banco e achar um comprador para evitar a liquidação. A expectativa era de que, encerrado o pente-fino nas contas do banco, o buraco chegasse a R$ 1,8 bilhão. Inicialmente, o BC estimou o rombo em R$ 1,25 bilhão, resultado da descoberta de fraudes contábeis concentradas em empréstimos consignados falsos.

O BC tinha detectado 300 mil operações como essas. O número cresceu e a conta já alcança cerca de R$ 1,6 bilhão. Os R$ 900 milhões restantes (para totalizar os R$ 2,5 bilhões) são consequência de ativos super avaliados, passivos tributários e provisões contra perdas de crédito inferiores às regras do BC, entre outros problemas.


Fonte: Aqui