Fazer mestrado é difícil. Não posso falar do doutorado – ainda – mas o mestrado exige garra, determinação, bom humor. Ele espera que você seja inteligente, criativo e atento, mas, mais que nada, que haja resiliência. No meu Programa o curso dura, em média, dois anos. Eu tive que terminar antes para poder defender com o meu orientador na banca, já que ele iria (e foi) fazer um pós doutorado na Europa. Assim, para mim, foram 17 meses de curso.
Eu não posso reclamar da minha criação. Ou dos meus pais. Não tive maiores desafios, como o demonstrado em “
Venha Competir no Programa Multi”. O que me assombra? Saúde. Ou a falta dela.
Acho que todos que acompanham o blog regularmente sabem o quanto considerei a pós graduação uma jornada gratificante. Os que me conhecem um pouco mais sabem que a caminhada foi árdua e que se não fossem as várias pessoas claramente listadas nos agradecimentos da minha dissertação, assim como os pequenos anjos que encontrei por aí, eu não teria terminado.
Meus parentes alimentam um relacionamento muito forte. Minha família materna é portuguesa, com direito a almoços dominicais, vinho, bacalhoada, vizinhos portugueses acompanhando. É tão natural que acho engraçado quando algum amigo frequenta a casa pela primeira vez e comenta o sotaque, pois, com raras exceções, me passa imperceptível.
Há exatamente um ano eu perdi o meu avô - para quem dediquei a minha dissertação. Isso foi no auge da minha pesquisa. Eu estava na biblioteca, polindo o referencial teórico, me preparando para mexer com a análise de resultados, quando o meu pai me ligou. Eu sabia que a ficha iria demorar um pouco a cair então eu mandei um e-mail para o meu orientador, outro para a minha turma avisando, guardei as minhas coisas, fui para o carro e desabei. Foi a primeira pessoa próxima e amada que perdi. Eu sofri e ainda choro muito quando penso nele - de orgulho e agradecimento, de saudade. Com o apoio dos meus amigos, com o suporte ao meu redor, voltei ao trabalho em mais ou menos quinze dias. Se não fosse a cobrança e a paciência do meu orientador...
Eu me lembro de que quando eu era pequena falava que seria professora e meu avô sorria orgulhoso. Ele não chegou a me ver dar aulas na Universidade de Brasília, ou me ver com o título de mestre. A defesa foi no dia seguinte ao que seria o aniversário de 95 anos dele. Foi a minha forma agradecer e homenagear: unindo a minha energia ao ciclo do meu avô. Foi triste e lindo ao mesmo tempo. Senti-me vitoriosa e em paz naquele dia.
Eu conheço muitos mestrandos que estão começando agora a jornada. Sei como é difícil dormir tentando estar preparado para os debates, querer não passar vergonha, achar motivação nas épocas de bloqueio quando temos que entregar páginas e páginas de pesquisa para o nosso orientador. Sei como dói seguir em frente, com a cabeça erguida, mesmo com o coração encharcado de lágrimas.
Ano passado foi um dos mais difíceis que tive. Foi o ano em que fui titulada. E valorizo: a conquista do meu sonho. Nem todos têm a chance ou a vontade de agir e realmente perseguir um sonho. Eu consegui. Foi difícil, mas deu certo. Tornou-se uma paixão.
Perguntam-me frequentemente o que é mais importante para se preparar para um mestrado, como agir na entrevista, o que fazer. A minha resposta: perseverança. É isso o que mais importanta. Não é o seu inglês, ou os seus certificados, nem mesmo os seus artigos publicados. De nada vale isso a não ser que você saiba claramente a resposta para esta pergunta: Quando os sinais parecem dizer para você desistir, o que você faz?