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15 março 2012

Entrevista com Nicholas Lardy


Nicholas R. Lardy é um dos maiores especialistas em economia chinesa e, recentemente, lançou um livro sobre a sustantabilidade do crescimento econômico chinês após a crise financeira de 2008.Dois capítulos estão disponíveis aqui. Na entrevista abaixo, o economista norte-americano considera que as principais distorções econômicas na China são: juros negativos pagos nos depósitos bancários, alta taxa de poupança, baixo consumo e câmbio subvalorizado. Eis alguns trechos interessantes:


O crescimento da China corre o risco de sofrer uma lenta e prolongada desaceleração, alerta o pesquisador Nicholas Lardy. As taxas de expansão, hoje na casa dos 9% ou 10% ao ano, podem cair à metade, com severas consequências para várias partes do mundo, incluindo o Brasil.

Valor: O programa de estímulo feito pela China durante a crise financeira de 2008 criou novos desequilíbrios na economia?

Lardy: O programa de estímulo teve características positivas, mas também fragilidades e desvantagens. É preciso reconhecer que, sem ele, o crescimento chinês poderia ter caído muito. O crescimento já estava se desacelerando no terceiro trimestre de 2008 e, sem o programa de estímulo, a China teria vários trimestres de baixo crescimento, talvez ao redor de 4% ou 5%. O pacote não foi perfeito, mas, ainda assim, foi muito melhor do que a alternativa de deixar a economia desacelerar.

Valor: Mas o estímulo não contribuiu para criar uma bolha no mercado imobiliário?

Lardy: Uma das grandes lições do Ocidente, nos últimos anos, especialmente nos Estados Unidos, é que, se você tiver uma distorção financeira, há uma tendência para acumular posições insustentáveis no lado dos ativos. O mesmo princípio se aplica na China. Os juros reais dos depósitos bancários têm sido, na média, negativos nos últimos oito anos. A taxa de câmbio se mantém subvalorizada, menos agora do que quatro anos atrás, mas ainda assim subvalorizada. Essas são as duas maiores distorções na China. Elas levaram a investimentos em excesso na indústria, já que a taxa de câmbio subvalorizada torna as manufaturas mais lucrativas, às custas dos serviços. Os juros negativos nos depósitos levaram as famílias a investir grande parte de suas economias em imóveis. Os setores imobiliário e industrial se tornaram inflados. Em algum momento haverá uma correção. Não diria que necessariamente será o estouro de uma bolha, mas pode ser uma correção que levará muitos anos.

Valor: Governos locais tomaram grandes empréstimos para investir em infraestrutura. Poderá haver uma crise fiscal?

Lardy: O uso de companhias de investimento dos governos locais criou um problema, mas não creio em crise fiscal. O retorno econômico de muitos desses projetos de investimento deverá ser razoavelmente alto. O problema é que foram financiados com dinheiro de curto prazo, e muitos terão retorno financeiro apenas no longo prazo. Esses projetos deveriam ser financiados por empréstimos de longo prazo ou pelo orçamento. Agora, o governo está dizendo para os bancos rolarem esses empréstimos. Outro problema é que, em muitos casos, as tarifas cobradas por esses projetos de infraestrutura são muito baixas. Os sistemas de metrô estão perdendo dinheiro, assim como os serviços de saneamento básico. É preciso reformar o sistema de tarifas, para refletirem os verdadeiros custos e para serem subsidiadas pelo orçamento dos governos.

Valor: Projetos gigantescos, como a rede de trens de alta velocidade, são sustentáveis?

Lardy: O sistema de trens de alta velocidade será muito bom para a China no longo prazo. Mas o retorno desses projetos deve aparecer daqui a pelo menos uma década, quando uma parte maior do sistema ferroviário estiver construída. Esse é mais um projeto que tem retorno de longo prazo, mas o prazo médio do seu financiamento é de cerca de dois anos.


Valor: Por que os chineses poupam tanto?

Lardy: A taxa de poupança tem sido alta por décadas, mas aumentou ainda mais a partir de 2004, quando os juros em depósitos bancários se tornaram negativos. Os chineses não têm sistemas adequados de seguro-saúde e social. Por isso, tendem a poupar para terem um auto-seguro. Conforme as taxas de juros se tornaram negativas, os chineses intensificaram essa tendência. Essa é também uma das razões por que o consumo na China é tão baixo.

Valor: Por que os juros caíram ao território negativo?

Lardy: A China não tinha taxas de juros tão baixas antes de 2003. O governo adotou a estratégia de subvalorizar o câmbio, e o Banco Central teve que se engajar em intervenções maciças no mercado de câmbio. Para manter a inflação sob controle, foi preciso fazer operações de esterilização. Eles mantiveram os juros baixos como forma de minimizar os custos dessas operações de esterilização. Outra preocupação é evitar que, com os juros altos, fluxos de capitais sejam atraídos. Eles têm controles de capitais, mas controles não são perfeitos, e investidores querem colocar dinheiro na China por causa da expectativa de apreciação cambial. Há ainda a preocupação de manter o sistema bancário lucrativo, para absorver a inadimplência nos empréstimos. Em 2002 e 2003, o governo teve que recapitalizar os maiores bancos estatais, incluindo o uso maciço de dinheiro público para se livrar de empréstimos inadimplentes. O governo decidiu manter uma grande margem entre os custos de captação dos bancos e os juros cobrados nos empréstimos, e por isso criaram um sistema com um teto para os juros pagos nos depósitos bancários e um piso nos juros dos empréstimos.

Valor: O superávit em conta corrente da China diminuiu em 2011, e a taxa de câmbio vem se apreciando. A China está finalmente reequilibrando seu setor externo?
Lardy: O superávit em conta corrente foi de 2,8% do PIB no ano passado, uma redução bastante substancial em relação ao pico de 2007, quando chegou a 10,8% do PIB. A taxa de câmbio ponderada pelas trocas comerciais vem se apreciando de forma significativa desde 2005. Além disso, o crescimento de muitos dos parceiros comerciais da China se desacelerou bastante. O crescimento da China se desacelerou um pouco, mas a diferença entre o crescimento da China e de seus maiores parceiros comerciais se tornou maior. Isso reduziu a demanda por produtos exportados pela China, em comparação com a demanda por produtos importados.

Valor: Parece haver algum consenso sobre o que fazer para reequilibrar a economia chinesa. Mas há vontade política para tanto?
Lardy: Os obstáculos de política econômica são substanciais. A taxa de câmbio permanece subvalorizada há pelo menos oito anos. Ela beneficiou o setor manufatureiro, tornando-o mais lucrativo. Os juros negativos nos depósitos deram um tremendo empurrão no setor imobiliário, que se tornou muito maior e mais poderoso. O tipo de distorção que surgiu na economia chinesa gerou benefícios para algumas regiões geográficas e setores econômicos às custas de outros. Os setores que ganharam estão bem representados no governo e vão se opor a mudanças. As famílias são as grandes perdedoras, porque o rendimento que receberam do setor financeiro é bem mais baixo do que deveria ser. Mas elas não têm representação no sistema político e não estão organizadas. Então, as reformas devem levar um longo tempo para ser implementadas.

14 março 2012

Rir é o melhor remédio



Agradecemos a indicação de Ednilto Júnior.
Fonte desconhecida.

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Ebitda

Definição – O EBITDA é a sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Corresponde a uma forma de calcular um lucro, obtido a partir da demonstração do resultado, sem levar em consideração estes itens.

Fórmula – Ebitda = Lucro Operacional Antes do Imposto de Renda e Despesa Financeira + Depreciação + Amortização

Sendo

Lucro Operacional – corresponde ao resultado operacional da empresa, antes do cálculo do imposto de renda. Ou seja, corresponde ao resultado proveniente dos ativos da empresa. Isto deveria incluir as receitas financeiras, assim como o resultado com investimentos realizados em outras empresas e outros tipos de receitas. Como nós calculamos o lucro operacional correto antes da despesa financeira, não é necessário incluir a despesa financeira no cálculo.

Depreciação e Amortização – refere-se a parcela destas despesas, que podem estar nas despesas operacionais ou no custo dos produtos industrializados pela empresa que foram vendidos no período.

Unidade de Medida – O Ebitda está expresso em reais.

Intervalo da medida – A rigor, pode variar de um número negativo até um número positivo. Entretanto como não considera as despesas financeiras, os impostos e a depreciação e amortização, o Ebitda tende a ser positivo. A história deste índice mostra que ele foi divulgado exatamente por transformar resultados operacionais negativos em Ebitda positivo. Ou seja, é um índice que foi criado para ser positivo.

Como calcular – A CVM tem uma instrução própria mostrando como as empresas devem calcular o Ebitda para fins de divulgação. Esta instrução foi criada em razão das diversas formas que estavam sendo usadas no mercado para obter este valor. Ela é válida para empresas de capital aberto.

Iremos mostrar como se deve fazer o cálculo para qualquer tipo de empresa. A figura a seguir mostra a demonstração do resultado da Gerdau S/A obtida no seguinte endereço.

Com a figura acima é possível calcular o lucro operacional antes das despesas financeiras.

Lucro Operacional = Resultado antes dos Tributos sobre o Lucro + Despesas Financeiras =1 981 661 + 298 451 = 2 280 112 mil reais

Observe que a despesa financeira é somada uma vez que não entra no cálculo do lucro operacional.

É necessário obter a informação da depreciação e amortização. Em geral este valor é obtido na Demonstração dos Fluxos de Caixa. Veja o extrato desta demonstração para Gerdau S/A a seguir

Lembrando que

Ebitda = Lucro Operacional + Amortização e Depreciações
Ebitda = 2 280 112 + 128 383 = 2 408 495 mil reais.

Ou seja, o Ebitda da Gerdau S/A foi de 2,4 bilhões de reais em 2011.

Grau de utilidade – Regular. Alguns investidores usam o Ebitda para empresas novas, tentando projetar o seu grau de viabilidade. Em algumas empresas o Ebitda é usado para fins de remuneração.

Controvérsia de Medida – Muita. O Ebitda tem sido considerado um substituto do fluxo de caixa por alguns analistas. Não é. O Ebitda tem sido usado como uma aproximação da agregação de valor de uma empresa. Não existe nenhuma vinculação comprovada entre o Ebitda e o valor da empresa, na teoria e na prática. O Ebitda tem sido usado por empreendimentos recentes, em buscas de novos investidores. Durante a bolha da internet e nos períodos de crescimento da bolsa, cresceu o uso deste índice. Desconfie de uma empresa que enfatiza o resultado pelo Ebitda, mas não pelo índices mais conservadores.

Observações Adicionais
a) O Ebitda também tem sido usado em certos índices, seja no numerador ou no denominador. Assim, é possível encontrar “ebitda sobre vendas” ou “valor do empreendimento sobre ebitda”.

b) Em geral o resultado do Ebitda é mais favorável para empresa que o lucro operacional. Por este motivo, as empresas com prejuízo operacional preferem destacar o Ebitda, que tende a apresentar um resultado melhor para empresa.

c) O Ebitda é muito controverso. O famoso investidor Warren Buffett, numa de suas cartas anuais para os acionistas de sua empresa, criticou esta medida.

Leia mais:

Iguaçu

A Companhia Iguaçu de Café Solúvel, uma das três maiores exportadoras de café do País, informou que está investigando irregularidades contábeis em seus balanços. A empresa, vice-líder no Brasil no segmento de café solúvel, é controlada pelo grupo japonês Marubeni. De acordo com fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa informa que foram encontradas "inconsistência nos custos dos estoques" e que contratou um consultoria especializada para apurar os desvios e descobrir os responsáveis.

A irregularidades devem ter reflexos sobre os resultados do do exercício encerrado em 31 de dezembro de 2011, divulgou a companhia, que resolveu adiar o pagamento aos seus acionistas de juros sobre o capital.


Fonte: Aqui

Desigualdade de renda nos EUA

Segundo o economista Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia, durante a depressão de 2007 a 2009,o rendimento médio real por família norte-americana caiu drasticamente em 17,4%; a maior queda em dois anos desde a Grande Depressão. O rendimento médio real para o percentil superior -ou seja, indivíduos que obtiveram renda superior a 352 mil dólares, também denominados de os 1% de maior renda- caiu ainda mais rápido (36,3 por cento de queda), o que levou a uma diminuição na participação na renda total do país, de 23,5% para 18,1%. A renda média real para os 99% inferiores também caiu acentuadamente em 11,6%, de longe o maior declínio em dois anos, desde a Grande Depressão.

O gráfico abaixo apresenta a participação na renda total do país, de cada grupo indicado na legenda. Antes de 2008, os 1% tinham renda semelhante com o mesmo grupo antes da crise de 1929. Posteriormente, com o advento das crises , a renda de ambos os grupos caiu substancialmente em ambos os períodos. Não obstante, em 2010, a renda dos 1% de maior renda já era semelhante e um pouco superior ao do mesmo grupo pós-29. Assim, nas palavras de Saez, conclui-se que " a crise de 2008 só irá reduzir a renda dos mais ricos de forma temporária e não irá desfazer o aumento substancial que vem ococorrendo desde 1970. Além disso, excluindo os ganhos capital realizados dos mais ricos, em 2010, a participação do decil superior era de 46,3%, mais alta que em 2007."


Em outro estudo denominado "The Evolution of Top Incomes in an Egalitarian Society", os autores compararam a participação dos 1% de maior renda em 7 países, no período de 1900 a 2004. É interessante observar que os EUA e a Suécia, países com sistemas muito diferentes de distribuição de renda, juntamente com o Reino Unido e o Canadá apresentam o maior aumento na participação dos 1%, na renda nacional nos útlimos 100 anos. Não é tão simples indicar os motivos da crescente desigualdade de renda nos EUA, pois o tema ainda é controverso. Todavia, economistas acreditam que a demanda por mão de obra cada vez mais especializada e técnica, decorrentes de desenvolvimento tecnológico e crescimento do comércio internacional, talvez explique a crescente desigualdade de renda.



















Nos EUA, as causas para a desigualdade apontadas pelos 99% - indíviduos com renda inferior aos 1% - são atribuídas a politicas públicas que privilegiam os mais ricos. Todavia, é temerário culpar o sistema capitalista e o governo por fracassos individuais. Observe que os protestos em Wall Street atacam os banqueiros, lobistas e grandes corporações multinacionais, no entanto, artistas, esportistas, músicos e outros profissinais bem sucedidos, que fazem parte dos 1% de maior renda, raramente são alvos de protesto. Muitos dos que protestam tomaram decisões individuais incorretas no passado - como por exemplo, comprar imóveis com financiamentos elevados - e agora querem culpar os outros por suas derrotas. É claro que muitos cidadãos, por situações alheias às suas vontades, dependem da ajuda do governo.