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22 novembro 2011

Chevron

A empresa de petróleo Chevron derramou petróleo na costa do Brasil. Pelas notícias preliminares, tudo leva a crer que a empresa cometeu erros. A consequência é um problema ambiental, onde a empresa deveria indenizar os efeitos. Em outras palavras, isto deveria afetar o passivo da empresa, com efeitos sobre o resultado futuro da empresa.

Observe no gráfico abaixo a reação do mercado nos últimos dias. Obviamente a análise aqui não torna possível isolar o efeito do problema ambiental das outras notícias; mas é interessante notar que no dia 14 a ação estava cotada um pouco acima de $105 e na sexta chegava num patamar inferior a $100, seu valor mínimo nos últimos trinta dias.

Duas outras notícias: A empresa foi multada em R$50 milhões e este valor corresponde a 0,014% da receita.

Revisão da IFRS 9




A nova regra de instrumentos financeiros do IFRS vai mudar apenas dois anos depois de ser editada e antes mesmo de virar obrigatória, o que está previsto para 1º de janeiro de 2015.

O Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb, na sigla em inglês) votou de forma unânime, na semana passada, a favor de uma revisão no pronunciamento IFRS 9, que trata de classificação e mensuração dos instrumentos financeiros.

Apesar do consenso, quem tiver a oportunidade de assistir o vídeo da reunião, disponível na página do órgão na internet, vai notar que existe um certo desconforto com a decisão. A ordem é para que a revisão seja “limitada” e rápida.

A questão é que alguns países já estão adotando o IFRS 9 de forma antecipada e não pega bem, além de criar custos, rever uma regra depois de tão pouco tempo e tendo em conta toda discussão feita antes de sua edição.

Há dois motivos para a decisão, sendo que um parece ser mais fácil de entender – e de explicar – para os membros da diretoria do Iasb. O órgão está discutindo neste momento um pronunciamento para o setor de seguros e chegou à conclusão de que haveria um descasamento na forma de mensuração dos ativos e passivos das seguradoras se o IFRS 9 fosse mantido. Uma mudança poderia resolver o caso.

Mas outro ponto que está por trás da revisão é a intenção de aproximar o pronunciamento da regra que os EUA pretendem criar sobre o tema. Sem uma revisão da forma como o IFRS 9 está escrito hoje e diante do entendimento dos americanos sobre a questão, a chance de se chegar a uma convergência nas regras de instrumentos financeiros é praticamente nula.

Apesar de verem como positivo o alinhamento com os EUA, alguns membros do Iasb sugerem que isso não deve ser feito a qualquer preço. Eles rejeitam fazer mudanças que levem a regra nova a parecer com a atual, considerada mais complexa e que já deu problemas no passado. E também não querem adiar ainda mais a data obrigatória do novo pronunciamento – o que pode ocorrer se eles tiverem que refazer o trabalho todo ou esperar uma decisão americana.

“Vejo que vocês temem que a gente caia num processo sem fim, de rediscutir toda a norma. Mas deixamos bem claro que isso não deve acontecer. Precisamos ter a certeza de que somos os mestres da nossa própria agenda e do nosso ritmo de trabalho”, disse o presidente do Iasb, Hans Hoogervorst, ao fim da sessão.

Fonte: Fernando Torres, Valor Economico

Olympus 4

Autoridades japonesas dizem que pelo menos US$ 4,9 bilhões não foram contabilizados num escândalo financeiro na Olympus e estão investigando se boa parte desse dinheiro foi para companhias relacionadas ao crime organizado.


Num memorando preparado por investigadores que circulou numa reunião recente das autoridades da Comissão de Vigilância das Bolsas de Valores do Japão, o escritório da promotoria de Tóquio e o Departamento e Polícia Metropolitana de Tóquio, as autoridades dizem que estão tentando determinar se a Olympus trabalhou com sindicatos do crime organizado para ocultar bilhões de dólares em prejuízos passados com investimentos, e depois pagou-lhes uma soma exorbitante por seus serviços.


O memorando - do qual o New York Times obteve uma cópia de uma pessoa próxima das investigações oficiais - parece vincular pela primeira vez os prejuízos da Olympus a grupos do crime organizado.


Ele também sugere que os investigadores acreditam que os pagamentos ilícitos da Olympus foram muito além do cerca de US$ 1,4 bilhão em comissões de fusão e pagamentos de aquisição que ficaram sob recente escrutínio, fazendo do caso um dos maiores escândalos da história corporativa do Japão.


Investigação interna


A Olympus, fabricante de aparelhos médicos por imagens e de câmeras digitais, anunciou recentemente que uma investigação interna havia revelado que a companhia usou uma série de aquisições deficitárias para ocultar prejuízos com investimentos nos anos 90, mantendo esses prejuízos fora dos livros durante décadas. A Olympus disse a um painel de especialistas independentes que ainda está contabilizando os números das perdas.


A companhia disse que todas as transações foram para mascarar prejuízos. Ela negou rumores de que tentou contratar notórios sindicatos do crime organizado do Japão, conhecidos como Yakuza, para ajudá-la a orquestrar o encobrimento.


Mas, segundo o memorando dos investigadores, a Olympus fez pagamentos que ultrapassam muitas vezes os prejuízos que buscava ocultar, e os investigadores suspeitam que boa parte do dinheiro adicional foi para grupos criminosos.


A Olympus gastou um total de 481 bilhões de ienes, ou US$ 6,25 bilhões, em pagamentos de aquisições, investimentos e honorários de consultoria questionáveis de 2000 a 2009, segundo o memorando, mas somente 105 bilhões de ienes receberam baixa ou foram contabilizados de alguma outra forma em suas declarações financeiras. Isso deixa 376 bilhões de ienes, ou US$ 4,9 bilhões, não contabilizados, segundo o documento.


Crime organizado


O memorando diz ainda que os investigadores acreditam que mais da metade dessa quantia foi canalizada para sindicatos do crime organizado, incluindo o maior do país, o Yamaguchi Gumi. O documento não deixa claro se a Olympus sabia desses vínculos, mas se isso for confirmado, uma associação com o crime organizado poderá provocar a retirada das ações da Olympus da Bolsa de Valores de Tóquio, pelas regras da bolsa.


O memorando sugere que a Olympus pode ter sido coagida pelo crime organizado, que sabia das fraudes ou ajudou nos encobrimentos anteriores, canalizando quantias cada vez maiores para fora da empresa.


"A Olympus foi explorada sobre seus encobrimentos, totalizando perdas de 50 bilhões de ienes, e desde 2000, mais de 200 bilhões de ienes desapareceram na economia subterrânea", diz o memorando.


Dirigentes da Olympus disseram na quinta-feira que não tinham nada a comentar de imediato. Em 26 de outubro, quando perguntado sobre a possibilidade do envolvimento de "forças antissociais" no escândalo, um eufemismo para crime organizado, o presidente da Olympus, Shuichi Takayama, disse: "Eu não reconheço absolutamente isso". Até agora, três diretores da empresa foram dispensados ou se demitiram.


Os problemas com as aquisições da Olympus foram ventilados pela primeira vez em agosto na revista japonesa Facta. O escândalo se aprofundou em outubro, depois que a Olympus demitiu seu presidente executivo, Michael C. Woodford, que disse ter sido destituído após questionar o conselho da companhia sobre alguns pagamentos.

Olympus pode ter ligação com a máfia - Investigações sobre fraudes contábeis na companhia japonesa apontam para possíveis pagamentos ao crime organizado no Japão - Estado de S Paulo - 18 de novembro de 2011

Olympus 3

No centro da ação da Olympus está uma técnica que já foi comum no Japão para ocultar prejuízos, chamada tobashi, que os reguladores financeiros japoneses toleravam antes de coibi-la no fim dos anos 90.


O esquema permitia que as companhias ocultassem prejuízos sobre ativos podres vendendo esses ativos para outras empresas, para depois recomprá-los mediante pagamentos, com frequência disfarçados em honorários de consultoria ou outras transações, quando as condições de mercado ou de lucratividade melhorassem.


O memorando dos investigadores japoneses historia os esforços da Olympus para saldar seus prejuízos anteriores com pagamentos camuflados como aquisições e honorários de consultoria supostamente afins para comprar companhias que pareciam ter pouca relação com suas atividades principais.


O documento confirma algumas informações previamente noticiadas pelo New York Times, segundo as quais boa parte dos pagamentos dos negócios foi feiro por meio da empresa de consultoria de gestão Global Company, chefiada por NobumasaYokoo, um ex-banqueiro do banco de investimento Nomura.


Segundo novas reportagens, o memorando também ajudou a arranjar esses acordos a ITX, uma empresa adquirida pela Olympus em 2003 e anteriormente chefiada pelo irmão mais velho de Yokoo, Akinobu Yokoo.


Ele é presidente de uma empresa de peças e serviços de aviação, a Jalux, que informou na quinta-feira que Yokoo não estava acessível para comentar.


Os escritórios de Tóquio da Global Company foram desocupados no começo de outubro.


Em outra companhia pertencente a Yokoo, um homem que se identificou somente como "Yamamoto" disse que Yokoo não era visto "fazia algum tempo" e havia dado instruções "para não falar com estranhos" sobre a Olympus.


Ninguém atendeu a campainha em seu endereço pessoal registrado em Tóquio, uma mansão protegida por cercas e câmeras.

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK - Empresa tinha esquema para ocultar prejuízos - Estado de S Paulo

Olympus 2

A Olympus, fundada há 92 anos, tem a sua disposição caixa suficiente para continuar operando em meio às investigações sobre esquemas para ocultar perdas com investimentos, disse ontem o presidente da companhia, Shuichi Takayama.


"Continuamos concentrados em nosso trabalho e nossas responsabilidades. Nossa tesouraria vai cuidar das questões financeiras", escreveu Takayama na intranet da companhia, fornecendo depois uma cópia para a Bloomberg. Takayama disse que hospitais estão solicitando detalhes sobre o escândalo antes de se comprometerem com encomendas e que um hospital cancelou uma compra.


A fabricante japonesa de câmeras e maior produtora de endoscópios do mundo, que está sendo investigada por irregularidades contábeis por autoridades japonesas, britânicas e americanas, reuniu-se na quarta-feira com funcionários de instituições financeiras em Tóquio para pedir apoio a elas. Takayama escreveu que a Olympus "conseguiu a simpatia" de várias dezenas de instituições financeiras na reunião.


Os três maiores bancos do Japão tinham em 31 de março empréstimos combinados de longo prazo pendentes na Olympus de 235,2 bilhões de ienes (US$ 3,1 bilhões), segundo demonstrações financeiras divulgadas pela companhia de Tóquio em 29 de junho. Os empréstimos de longo prazo da Olympus cresceram para 527 bilhões de ienes nos últimos cinco anos, quando o ex-presidente do conselho de administração Tsuyoshi Kikukawa fez aquisições que incluíram a oferta hostil do Gyrus Group por US$ 2,1 bilhões.


Na semana passada, a Olympus disse que ocultou perdas com investimentos na década de 1990, usando comissões infladas pagas a consultores na aquisição da Gyrus - uma fabricante de equipamentos médicos - em 2008 e na compra de três outras companhias no Japão.


A Olympus informou ter contabilizado um lucro operacional inferior no primeiro semestre fiscal, comparativamente a igual período do ano passado. A retração se deveu à queda das vendas.


A empresa registrou um lucro operacional de 16,9 bilhões de ienes (US$ 220 milhões) no período de seis meses encerrado em 30 de setembro, comparativamente aos 19,8 bilhões de ienes do mesmo semestre do ano passado, segundo relatório encaminhado pela fabricante aos bancos credores na quarta-feira e divulgado ontem por meio da Bolsa de Tóquio.


A companhia isse que pretende divulgar seus resultados completos do segundo trimestre fiscal em 14 de dezembro, depois que o relatório for revisado pela auditoria.


Na semana passada, a empresa foi colocada sob observação para um possível cancelamento do registro pela Bolsa de Tóquio, depois de declarar que descumpriria o prazo para encaminhar os resultados. Durante o primeiro semestre fiscal, a companhia registrou 416 bilhões de ienes em vendas, comparativamente aos 419 bilhões de ienes do mesmo período do ano fiscal anterior, segundo o relatório.


A Nippon Life Insurance, maior acionista da Olympus, e sua subsidiária Nissay Asset Management reduziram a participação acionária conjunta na Olympus de 8,18% para 5,11%, segundo documento encaminhado ontem ao Ministério da Fazenda do Japão.


Para o diretor aposentado Koji Miyata, a Olympus deveria reconduzir Michael C. Woodford ao cargo de diretor para reconstituir a confiança perdida depois que a companhia reconheceu ter encoberto prejuízos.


Miyata, 70, instaurou o site "Olympus Grassroots" no dia 11 e tem atualmente pelo menos 356 pessoas registradas como adeptas da ideia, entre os quais alguns funcionários da ativa, disse ele. Miyata, que conhece Woodford há 25 anos, disse que não contatou o ex-principal executivo a respeito do site.


Woodford foi demitido como presidente e principal executivo em 14 de outubro, depois de ter entrado em confronto com o conselho de administração sobre pagamentos superdimensionados feitos aos prestadores de assessoria para a aquisição do Gyrus Group.


"Quero o apoio dos funcionários para que a direção possa reconduzir Woodford ao cargo", disse Miyata, que foi diretor da Olympus de 1995 a 2006, em entrevista concedida em Tóquio na quarta-feira. "Ele foi o único que agiu corretamente como diretor quando surgiram todas as denúncias."


A Olympus perdeu cerca de 70% de seu valor de mercado desde a demissão de Woodford. O Hospital da Universidade Okayama decidiu cancelar a compra de um endoscópio da Olympus, disse o doutor Yoshiro Kawahara, juntando-se à Southeastern Asset Management e a outros acionistas nas críticas à governança da empresa.


"Minha impressão é que a Olympus fez um giro de 180 graus", disse Kawahara em entrevista por telefone na quarta-feira. "Agora é uma empresa horrível para mim."


A Baillie Gifford e a Harris Associates estão entre os investidores que pedem a volta de Woodford. A Southeastern Asset, detentora de cerca de 5% do capital da Olympus, disse no dia 8 que os membros do conselho de administração da companhia deveriam pedir demissão imediatamente e que deveria ser convocada uma assembleia geral extraordinária dos acionistas.

Fonte: Valor Econômico - Olympus diz ter caixa para manter operação - Mariko Yasu, Takashi Amano e Chris Cooper | Bloomberg, de Tóquio ((Colaborou Kazuyo Sawa)

Olympus

tinha comentado anteriormente (postagem de 12 de novembro) o texto de Weil sobre os escândalos contábeis. Na sexta saiu o texto traduzido no Valor Econômico (18 nov 2011, via aqui), que apresento abaixo:

Se você por acaso adora acompanhar escândalos contábeis, então possivelmente nunca viu um período tão bom como os últimos meses, encerrado com chave de ouro pelos desdobramentos do desastre na Olympus. Por outro lado, se você trabalha como auditor numa grande firma de contabilidade, ficou muito mais difícil justificar que a sociedade deva valorizar os seus serviços.


O golpe praticado na Olympus era simples, ainda que os meios tenham sido, por vezes, exóticos. A fabricante japonesa de câmeras e endoscópios ocultou prejuízos tratando-os como ativos. Segundo a companhia, assim foi desde os anos 1990. Isso poderia ter permanecido em segredo, caso o executivo da Olympus, um britânico chamado Michael C Woodford, não tivesse feito pressão internamente para resolver o assunto, em resposta a uma reportagem de uma revista japonesa sobre alguns dos negócios menos ortodoxos da companhia. O conselho de administração da Olympus reagiu demitindo Woodford, apenas seis meses no cargo. Agora, vemos que suas advertências sobre as finanças da empresa estavam certas.


Onde estavam os auditores? Embora ainda não conheçamos a plena extensão do que eles sabiam e quando, basta ver quem eram os auditores externos para saborear o fascínio da história.


A auditoria da Olympus na década de 1990 era a afiliada japonesa da Arthur Andersen, à época uma das chamadas "Cinco Grandes" firmas de contabilidade. Depois que a Andersen entrou em colapso em 2002, a KPMG adquiriu sua operação no Japão, que atuava sob o nome de Asahi & Co, e assumiu a auditoria da Olympus. A KPMG permaneceu como auditora até 2009. A Olympus passou a usar os serviços da Ernst & Young no fim daquele ano.


Desse ângulo, parece que os fantasmas de Andersen ainda estão assombrando os corredores empresariais. A firma foi indiciada em 2002 devido a sua conduta como auditora da Enron, empresa americana de energia, no que equivaleu a sua sentença de morte. Na esteira desses acontecimentos, grandes fraudes contábeis vieram à tona em muitos dos ex-clientes da empresa - uma lista de nomes onde compareceram a WorldCom, Dynegy, Qwest, Freddie Mac e Refco. A Olympus parece estar a caminho de entrar para a mesma lista. Foi necessária apenas cerca de uma década a mais para os problemas emergirem.


O "Financial Times" informou no mês passado que a KPMG efetivamente levantou em determinado momento algum questionamento sobre a contabilidade da Olympus. Nenhuma divergência entre a KPMG e a Olympus foi divulgada publicamente, embora saiba-se agora que houve divergências, segundo um artigo, em 4 de novembro, no jornal britânico "Daily Telegraph".


A Ernst & Young também não levantou quaisquer problemas.


O mais recente relatório de auditoria da E&Y, firmado em 29 de junho, observou que a firma auditou as demonstrações financeiras da Olympus apenas para os anos fiscais de 2010 e 2011, e que os livros da empresa referentes a 2009 foram examinados "por outros auditores", que apresentaram um parecer sem ressalvas". Agora, tanto a Ernst & Young como a KPMG estão numa saia justa.


Podemos ouvir ecos de escândalos passados também no colapso da MF Global Holdings, construído em parte por meio de uma aquisição dos ativos da Refco em 2005, depois que a corretora de futuros faliu naquele mesmo ano. Os espectadores do escândalo Enron podem recordar, por exemplo, que os executivos da empresa de Houston não tinham como controlar a quantidade de dinheiro que a companhia tinha em determinado momento. Após as falências da Enron e da WorldCom, o Congresso aprovou em 2002 uma lei exigindo que os altos executivos certificassem a eficácia dos controles internos de suas empresas sobre seus relatórios financeiros. Relatórios de auditores sobre os controles internos tornaram-se também uma exigência.


A PricewaterhouseCoopers, auditoria externa da MF Global, disse em maio, que os controles MF estavam em ordem, e que tudo estava bem também com Jon Corzine, à época executivo-chefe da MF. Se essas afirmações estavam corretas é algo agora em questão. Mais de uma semana após a MF ter pedido concordata, há ainda cerca de US$ 600 milhões de clientes desaparecidos sem causa definida.


Então, no mês passado, houve a implosão do Dexia, gigantesco banco franco-belga que recebeu um socorro do governo para evitar seu colapso. Em março, o Dexia recebeu um parecer positivo da afiliada belga da Deloitte & Touche. O mercado finalmente percebeu que seu balanço era uma farsa.


São tantas as grandes companhias que sofreram colapsos após terem sua contabilidade aprovada pelas Quatro Grandes firmas de auditoria que muita gente considera seus pareceres uma piada. Afinal de contas, é o cliente quem paga as auditorias. (Opa, nenhum conflito nisso!) Há décadas as agências fiscalizadoras vêm tentado descobrir maneiras de contornar essa falha fundamental no modelo de negócios do setor, colocando em vigor todo tipo de regras exigindo que os auditores sejam "independentes", por mais tola que essa noção possa, por vezes, parecer. Apesar disso tudo, continuam assomando novas ondas de escândalos contábeis,.


No entanto, o próximo passo lógico - tirar da profissão contábil a sua galinha de ouro, tornando as auditorias voluntárias, em vez de obrigatórias, para as empresas de capital aberto -, sempre pareceu uma péssima ideia, porque seria praticamente um convite para mais fraudes. Nem há muito apetite para que terceiros, como governos nacionais, paguem pelas auditorias nas empresas. Os resultados provavelmente não seriam melhores.


Pelo menos, o público pode deleitar-se com o valor de entretenimento em todos esses escândalos. Pode não haver fiapos de otimismo quando tanta riqueza e tantas vidas são destruídas, mas é algo capaz de nos distrair da conclusão óbvia de que estamos atados, por ora, a um sistema que, muito frequentemente, não funciona.


O maior temor para o cartel das Quatro Grandes deve ser que os investidores um dia fiquem tão fartos, que exijam uma mudança total no status quo, por concluir que nada têm a perder. Ainda não chegamos a esse ponto, mas poderemos. Se as auditorias não conseguirem descobrir uma forma de reincutir valor em seu produto mais básico, até mesmo soluções horríveis poderão começar a parecer melhorias substanciais.

Judiciário

Um estudo realizado por dois economistas derruba a tese de que as decisões do Judiciário são mais favoráveis ao devedor. A pesquisa "Pró-devedor ou Pró-credor? Medindo o Viés dos Juízes Brasileiros" analisou 1.687 decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e mostra que em 53,6% dos casos os vencedores foram os credores. Em disputas contra empresas, por exemplo, as instituições financeiras saíram vitoriosas em 70% das decisões.


A pesquisa, dos economistas Luciana Luk-Tai Yueng e Paulo Furquim de Azevedo, avaliou decisões entre 1998 e 2008. Eles queriam verificar se realmente existiria uma tendência pró-devedor - apresentada sistematicamente como uma das causas dos spreads elevados no Brasil. Apesar de não haver esse favorecimento, outros dois problemas foram apontados como prejudiciais ao mercado de crédito: o tempo de tramitação do processo e as divergências de entendimentos entre as instâncias. Segundo a pesquisa, 54,3% das decisões foram reformadas total ou parcialmente pelo STJ. 


É interessante que a pesquisa concentrou na última instância, onde a atividade lobista talvez seja mais efetiva. Veja que as decisões contras as instituições financeiras representam 30% dos casos. Sabe-se que estas entidades possuem uma despesa significativa com bancas de advocacia de qualidade.