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17 outubro 2011

Provisão


O texto a seguir comenta sobre a constituição de provisão para liquidação de créditos duvidosos, que o texto chama de "calote", nos dois tipos de instituição financeira:

Dados do Banco Central mostram que, no último trimestre, bancos particulares separaram R$ 1 em provisão para cada R$ 9,10 emprestados. Já os públicos reservaram R$ 1 para cada R$ 34,90 em novos financiamentos.


Bancos públicos e privados chegam ao atual estágio da crise - considerado o mais grave até agora - com estratégias bem diferentes para se preparar contra uma eventual piora da saúde financeira dos clientes. Desde o início do ano, instituições privadas têm aumentado as provisões em ritmo mais forte que as operações de crédito. Nos públicos, acontece exatamente o contrário: empréstimos crescem mais que as provisões contra calote.


Enquanto as operações de crédito dos bancos particulares cresceram 3,6% de junho a agosto, a provisão aumentou 6,5%. No mesmo período, empréstimos em instituições como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES avançaram 5,8%, ritmo mais forte que a alta de 3,7% da reserva contra a inadimplência. A diferença se repete em outras comparações desde o início de 2011. (...)


Essa mudança, porém, ainda não provoca desconforto no mercado. Analistas que acompanham o setor bancário dizem que o fenômeno pode ser explicado pela natureza dos empréstimos. Bancos privados podem ter ficado mais conservadores graças ao aumento de empréstimos considerados mais "arriscados", como cartões de crédito e financiamento de veículos.


Nos públicos, por sua vez, a necessidade de provisão pode ter caído porque ganharam peso financiamentos mais seguros, como o crédito imobiliário (?) e o financiamento a grandes empresas. Realmente, instituições como a Caixa e BNDES atuaram agressivamente para ganhar mercado nesses segmentos. (...)

Bancos públicos ignoram efeitos da crise e reduzem reservas contra calote - Fernando Nakagawa, de O Estado de S.Paulo. (Imagem: The Guardian)

A redução da provisão nos bancos públicos pode ser em:

a) decorrência do perfil de empréstimo diferenciado - entretanto isto não justifica completamente, já que o risco sistêmico é maior;
b) em razão da maior utilização da conta de provisão nas instituição privadas como uma forma de gerenciamento de resultado; ou
c) em decorrência do não uso da conta de provisão nas instituições públicas, como uma maneira de continuar garantindo crédito na economia. Neste caso, os problemas de inadimplência irão aparecer no futuro, nas próximas gestões destas instituições. 

Provisão 2

Os bancos públicos argumentam que o perfil dos empréstimos realizados por essas instituições é diferente do observado nos concorrentes privados.


Por isso, explicam, a provisão dessas casas pode ser, proporcionalmente, menor que nos particulares. As instituições afirmam que têm monitorado os calotes e, se preciso, estão prontas para reagir.

Tudo parece lógico, mas vejam a seguinte afirmação:

O diretor de crédito do Banco do Brasil, Walter Malieni, diz que é preciso observar a carteira de cada banco para relativizar o nível de provisão. Cada operação, explica, gera necessidade diferente de reserva contra eventual inadimplência.


"Enquanto empréstimos mais curtos podem exigir mais, operações longas requerem menos. Além disso, a provisão para financiamento de veículo é diferente de um consignado", diz. Malieni argumenta que, no caso do Banco do Brasil, o banco é beneficiado por ser forte em empréstimos considerados seguros, como o consignado.

Dois aspectos prejudicam o raciocínio de Malieni. Em primeiro lugar, operações de curto prazo deveria exigir menos provisão que operações de longo prazo, pois apresentam um risco menor. Esta é uma lógica da teoria de finanças, já que uma dívida de curto prazo teria mais chance de ser paga que uma dívida de longo prazo. Em segundo lugar, e não menos importante, o risco sistêmico aumento para todas as operações, inclusive consignado.

Mas parece que o tema não preocupa os bancos estatais:

No BNDES, prevalece o entendimento de que a situação atual não gera "preocupação relevante" com a inadimplência. Por isso, a o tema é encarado com "normalidade e tranquilidade" no banco.


Um dos argumentos é que o banco é bastante focado em projetos de grandes empresas, clientes com menor risco. Além disso, financiamentos oferecidos aos pequenos e médios empresários são feitos via bancos "repassadores". Nessas operações, o risco de calote fica com a instituição financeira parceira.

O argumento do BNDES tem um problema: a concentração desta instituição é maior, dependendo da saúde financeira dos grandes tomadores de empréstimos (frigoríficos, por exemplo, que foram beneficiados com linhas de crédito elevadas e onde o risco, hoje, não é baixo).


Perfil de empréstimos é diferente, dizem bancos - Estado de S Paulo - 16 out 2011

Contabilidade e Economia

Veja que interessante a relação entre contabilidade e economia. Ao tentar argumentar que o crescimento chinês está com problemas (Crescimento Chinês começa a ter rachaduras, Claudia Trevisan, Estado de S Paulo, 16 out 2011) um artigo de um jornal afirma

Os sinais de esgotamento são a inflação e o quase certo aumento no volume de créditos irrecuperáveis no balanço dos bancos, que precisarão passar por um nova onda de recapitalização, afirma [Patrick Chovanec, professor da Universidade Tsinghua]


No gráfico, a taxa de crescimento da economia de 1961 até hoje.

Você e o horário de verão 2011




E lá vamos nós mais uma vez: ontem começou o horário de verão no DF e em 11 estados [neste ano a Bahia também entrou na “economia”]. Com isso, há impactos no nosso corpo, relógio biológico descompassado, os dias rendem menos até nos acostumarmos. Ao menos para alguns de nós [leia-se: para mim]. Quando eu tenho que acordar uma hora mais cedo que o normal, meu raciocínio fica super lento pela manhã! E quem está na pós-graduação sabe que não há muito tempo para se permitir certas regalias, tipo: dormir um pouco mais [ou mais cedo].

Mas tenhamos paciência! A ciência diz que nesses primeiros dias é normal estarmos irritadiços e mal humorados. Também ficamos mais cansaço e sonolentos. A boa notícia é que em média isso se altera com uma semana. E a partir daí só há espaço para melhorias. Serão 133 dias com o ajuste no relógio. Quando o desânimo estiver intenso, lembrem-se ao menos como será maravilhoso quando esse horário acabar e pudermos ficar uma hora a mais dormindo! [Suspiro!]

Algumas dicas:

Segundo o médico Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas, o melhor sono ocorre duas a três horas depois de escurecer e por conta da alteração do horário, o hormônio regulador do sono "melatonina", acionado pela falta de luz, é alterado.

"Para se adaptar ao novo horário, o ideal é evitar situações estimulantes no final da tarde ou na parte da noite", afirma, explicando que quanto mais estímulo maior a dificuldade do organismo em relaxar. Ele observa que outros hormônios, como o cortisol e o hormônio do crescimento, também sofrem variações durante o dia.

Evitar o consumo de café ou chá preto é uma das dicas dadas pelo médico do HC. "Exercícios físicos muito extenuantes também devem ser evitados", observa, citando ainda outras atitudes que podem prejudicar o descanso, tais como se alimentar demais no jantar, ir dormir sem comer, tomar banho muito frio ou muito quente, e ler livros ou ver filmes muito estimulantes nas horas que antecedem o sono.

Segundo o médico, outra dúvida comum é em relação aos horários das medicações. "A orientação é seguir o horário do relógio", diz. E complementa com outra dica: "aproveite o final de tarde e início de noite mais claros para fazer atividades prazerosas e caminhadas".

Leia também:

Horário de verão
O horário de verão representa uma economia de custo?

Petrobras


Sobre a relação entre o preço do petróleo interno e o preço praticado no Brasil:

A Petrobras deixou de ganhar R$ 9 bilhões nos últimos oito anos por causa da defasagem dos preços da gasolina e do diesel em relação às cotações do mercado internacional, conforme cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "Quando o preço do petróleo sobe muito, a Petrobras subsidia o custo no mercado interno; quando cai, quem subsidia é o consumidor e o acionista", afirma o diretor do CBIE, Adriano Pires.

Esta é uma afirmação estranha: o correto é que quando o preço do petróleo sobe muito, o acionista subsidia; quando cai, o consumidor subsidia o acionista. Assim, uma notícia de aumento externo do preço do petróleo deveria fazer com que as ações da Petrobras perdessem valor. Entretanto, vejam este gráfico:

Este é o comportamento do preço da ação da empresa nos últimos dez anos. Compare com este:
Trata-se do comportamento do preço do petróleo também nos últimos dez anos. A princípio os dois gráficos guardam uma elevada relação, indicando que quando o preço do insumo aumenta a cotação da ação da empresa também aumenta.
Imagem: aqui

16 outubro 2011

Rir é o melhor remédio

Quatro imbecis e um brilhante engenheiro

A história não oficial da contabilidade no Brasil - 2

Ontem comentei que uma de minhas postagens preferidas fala sobre a história não oficial da contabilidade no Brasil. (Infelizmente não posso dizer que o livro de Jorge Caldeira é, também, um de meus preferidos, pois vergonhosamente ainda não o li. Ou adquiri.).

Pois bem. A postagem escrita pelo professor César fala sobre o controverso livro “História do Brasil com Empreendedores” (Jorge Caldeira, ed. Mamuleco). Controverso? Sim! Por isso a postagem foi intitulada como “A História Não Oficial da Contabilidade no Brasil”!

Mona Dorf explica a polêmica: “[...] os livros de história sempre ensinaram que a economia colonial era baseada no latifúndio que exportava a riqueza para fora do país. Caldeira, no entanto, traz novos dados para mostrar que a economia era tão dinâmica, que bem antes da chegada da Corte, em 1800, era bem maior do que a de Portugal, graças à figura do empreendedor”.

O professor César acrescenta: “Sabe-se que antes da criação de escolas formais de contabilidade, a mesma era ensinada nas famílias. E no Brasil, como isso ocorreu? Talvez fosse necessário alguém investigar a história não oficial da contabilidade para descobrir a frequência que isto ocorria [Alguém sentiu um cheirinho de tese de livre docência por aí? A gente torce, né?!]. O livro de Caldeira já é relevante por revelar outra visão da história brasileira: existia um intenso mercado interno no Brasil colônia, a economia não dependia da exportação e os trabalhadores eram em sua maioria pessoas livres.”.

A Lisandra Gehrke, que acompanha o blog, acrescentou um comentário super pertinente, que merece ser destacado:

Estou lendo o livro do jornalista Jorge Caldeira - Mauá Empresário do Império [Companhia das Letras], que conta a saga do menino Irineu Evangelista de Sousa, que por meio da contabilidade se transformou no grande Visconde de Mauá. O pequeno Irineu, aos nove anos de idade iniciou sua vida como caixeiro, e, depois de muito esforço, oportunidade e dedicação aos estudos, chegou ao posto de guarda-livros chefe. Uma leitura maravilhosa para nós contadores. Uma narrativa clara da história do Brasil e da contabilidade no Brasil.”.

Você já leu algum desses livros? Duas dicas de leitura pra rechear a sua semana! Que tal?




Leia também:

História


A história da economia